A COMISSÃO EUROPEIA PREOCUPADA COM PORTUGAL E ESPANHA POR ULTRAPASSAREM O DÉFICE DE 3% + Europa a mais…

A Europa dividida mantem a ameaça de sanções até Outubro

António Justo

Como previa a imprensa internacional, a Comissão europeia adiou, talvez para outubro, a possível decisão sobre a aplicação de sanções a Portugal e Espanha, por terem transgredido as regras europeias ao ultrapassarem a marca de défice dos 3% do produto nacional e que atingiu os 4,4% em Portugal e os 5,1% em Espanha. Este período de observação do comportamento dos governos nas suas medidas relevantes para o desenvolvimento da economia revela-se mais oportuno para todos.

O que mais tem afligido a Comissão europeia foi o facto de o Governo de António Costa mudar de estratégia e tomar medidas mais consumidoras e menos produtivas: a redução do horário dos funcionários do Estado para 35 horas, além dos problemas bancários portugueses e da ideia do BE de se fazer um referendo em Portugal.

Comissários da UE, entre eles, Oettinger e Valdis Dombrovskis queriam já sanções contra Portugal e Espanha.

O conservador Jean-Claude Juncker, preocupado com a integração dos membros da EU, e outros que são pelo enfraquecimento do Euro, não estava de acordo com uma aplicação automática de sanções por parte da Comissão contra Espanha e Portugal. Em Portugal joga-se na opinião pública um jogo do rato e do gato entre facções políticas, um jogo do empurra de responsabilidades, à margem de uma discussão tendente a resolver problemas.

Até hoje nunca um país membro foi punido com multas. Para se chegar a tal teriam de todos os comissários da UE aprovar tal medida. A UE está demasiadamente dividida para poder chegar a tal.

Importante seria fazer um levantamento do que a Comissão europeia faz de mal e o que os Estados fazem de mal em questões de regulamento dos orçamentos de estado; depois fazer-se uma avaliação dos interesses da UE contra os interesses nacionais e vice-versa e partir-se daí para a discussão pública; doutro modo cada posição fica prisioneira de interesses nacionalistas ou de interesses europeístas; o resto reduz-se a conversa fiada de partidos e pessoas beneficiadas por um ou por outro grupo e por isso todas elas interessadas em possuir a razão ou em desviar a bola para canto e ir-se prolongando o jogo na esperança da solução estar na sorte dos penaltis.

 

EUROPA A MAIS OU EUROPA A MENOS?

De momento, a bússola europeia deixou de apontar para Bruxelas para passar a oscilar entre os países membros e a UE.

Uns falam da desmontagem da democracia em favor de lóbis presentes em Bruxelas outros falam do não funcionamento da democracia se os países com reduzida população e deficitária produção económica tiverem direito a voz no concerto da União Europeia. Tudo berra e tudo se afirma na esperança de o factor grande não ser decisivo na luta!

O problema da UE é controverso e por vezes contraditório! Dá motivos tanto a progressistas como a conservadores para se arreliarem: os progressistas estão descontentes com a política económica de direita da UE e os conservadores estão descontentes com a política cultural da esquerda da UE que ataca muitos dos valores culturais nacionais e europeus.

Na Europa reina o caos; por isso se discutem os mais diversos cenários para resolver os seus problemas. Há países membros que “se comprometeriam com resoluções comuns e que formariam um núcleo europeu que então funcionaria como núcleo magnético e não como “clube exclusivo”, advoga Gunther Krichbaum, outros querem a realização da união EUE, outros ainda querem voltar às soberanias nacionais.

Por enquanto, as nações grandes querem mais competências e mais poder para as instituições da EU como defendem S. Gabriel (SPD) e M. Schulz (SPD). Facto é que, mesmo em caso de grande movimento, os países fortes arranjam sempre um parque de estacionamento para as suas máquinas.

A Europa é mais que o seu núcleo Zona Euro ou a UE. O que se precisa é de uma Europa de instituições  para as pessoas.

A crença na Europa tem garantido a paz e a liberdade. A erosão política, a desmontagem da autonomia nacional e da cultura aliados a um liberalismo económico desmedido da UE desestabilizam uma Europa que se sentia já como um oásis sem conflitos de maior no mundo. Os britânicos queixavam-se de que 68% das leis nacionais vinham de Bruxelas e que não queriam receber tudo mastigado pela burocracia de Bruxelas. Também a ideia da fundação dos EUE (como defende a comissária europeia Viviane Reding) atemoriza especialmente uma nação com uma tradição histórica de grande continuidade.

Nota-se uma luta entre os países pagadores líquidos da UE e os outros. Agora sem a Grã-Bretanha os outros países constituem a maioria e aqueles não querem ver-se reduzidos a minoria em questões que exigem votos. Os estados fortes, como a Alemanha, têm medo de virem a ter de pagar ainda mais para os bancos doentes. A situação torna-se tão complicada que muitos já desejariam ver a UE reduzida à velha Comunidade Económica Europeia.

Efeito do Brexit – O Acordo Comercial Ceta passará pelos parlamentos nacionais

A Comissão Europeia tinha declarado através do seu chefe Jean-Claude Juncker que o acordo comercial (acordo de comércio livre) Ceta não era da competência dos Estados-Membros mas sim da UE e como tal não era objecto do acordo dos parlamentos dos Estados membros. Perante a nova situação da UE o SPD alemão e outros políticos nacionais e internacionais declararam-se contra o anunciado por Juncker e a Comissão Europeia reagiu contradizendo o chefe afirmando agora que os parlamentos nacionais podem votar sobre o acordo. Ficou-se com um pouco mais de democracia, quanto ao resto será difícil de entender. Com esta medida enfraqueceu o poder do Parlamento Europeu e do Conselho Europeu. Isto vem ferir os interesses das grandes potências europeias.

Bulgária e Roménia só querem assinar o contrato Ceta com o Canadá na condição do Canadá cancelar os vistos para romenos e búlgaros.

António da Cunha Duarte Justo

 

DA CULPA PURIFICADA PELA INOCÊNCIA POLÍTICA

Na crítica pública e partidária, sobre os interesses do país, parece só ser conhecida a lógica exclusivista de que a culpa está no outro! A esquerda culpa a direita, a direita culpa a esquerda pelos males do país que conjuntamente criaram.

Seria incorrecto ou mesmo injusto falar-se aqui de culpados, (de autocratas, de carneiros e de ovelhas, de mediocridade e de excelência) num país onde a orientação é a manjedoura e a roupa domingueira em moda é a camisola do clube/partido!

A culpa não é da esquerda nem da direita, não é de governos nem de governados e menos ainda de corruptos e de danados. A culpa será de Portugal que tudo gerou e justifica. Num Estado virginal, coberto de violadores, só a culpa não tem dono, a culpa acabou por “morreu solteira”só deixando filhos de ninguém. Tudo vive bem encurralado. É caso para estarmos atentos ao problema do encurralamento do espírito crítico num ou noutro curral onde o próprio cheiro se torna afrodisíaco.

António da Cunha Duarte Justo

PARA QUANDO A REABERTURA DO CONSULADO-GERAL DE PORTUGAL EM FRANKFURT?

Frankfurt – O Centro financeiro da União Europeia – Emigrantes seriam os melhores Diplomatas com um Lóbi consciente e eficiente a apoiá-los

Por António Justo

No caso de se efectuar o Brexit, Frankfurt passa a ter ainda mais peso europeu e internacional; é de facto o ponto nevrálgico da Europa e o centro económico da UE. É chegada a hora de o Governo português, voltar a instalar um Consulado em Frankfurt.

A reabertura é justificada não só pelos interesses dos portugueses na região como também pela importância de Frankfurt (1) em relação a outras regiões alemãs; aqui se cruzam homens de negócio e diplomatas do mundo inteiro.

Na era das tecnologias digitais e da UE, precisa-se de um consulado criado não apenas para representar ou resolver questões burocráticas mas sobretudo para interferir activamente como lobista na criação de relações e fomento de ligações de investidores a nível nacional e internacional e também no meio das comunidades dos portugueses. Seria decisiva uma política fomentadora das associações portuguesas de modo a estas estabelecerem a ponte entre a sociedade e as associações portuguesas e alemãs. Missões, associações e escola têm de motivar a inserção dos jovens portugueses a inscreverem-se nas instituições de influência pública. Deseja-se uma política in loco que, à semelhança da estratégia turca, fomente de maneira eminente a presença portuguesa na comunidade alemã, seja através da sua presença nos partidos, em iniciativas civis ou em órgãos do Estado. Peritos dos postos consulares e de outras instituições portuguesas não deveriam ficar reduzidos a meros escravos da burocracia; seria lógico que estivessem mais atentos à comunidade e suas organizações (culturais e económicas) para poderem perscrutar e fomentar valores e a consciência da lusofonia na comunidade de inserção.  

Frankfurt é uma região da Alemanha com uma densidade de consulados muito grande. Já em 2009 Frankfurt era sede de 102 representações diplomáticas; o maior consulado de Frankfurt era o dos USA com 900 empregados.

A decisão do encerramento obedeceu mais a interesses de mordomias do pessoal de carreira diplomática (e sindical) que assim se via motivado a optar pela extinção de vice-consulados e pela conservação de outros consulados (2). Assiste-se, por vezes a uma luta de interesses pessoais e corporativos contra os interesses da razão e dos portugueses.

Se o impedimento para tal projecto fosse de razões económicas, então outros Consulados poderiam ser reduzidos à categoria de vice-consulados; estes realizam propriamente o mesmo trabalho que os consulados e não necessitam de figuras do corpo diplomático altamente caros ao erário público.

Actualmente, devido à importância de Frankfurt tornam-se necessárias deslocações do Cônsul de Estugarda e do Embaixador a Frankfurt. O Consulado poderia ser criado, sem o aumento de custos para Portugal, se se procedesse à racionalização e reestruturação de outras representações diplomáticas na Alemanha. Naturalmente tal operação não se torna fácil atendendo à divergência de interesses e à desigualdade de força entre os interesses dos contraentes implicados em tais medidas. Outros argumentos já apresentados podem ler-se no discurso feito na Manifestação de 5.11.2011 contra o encerramento que depois se efectuou: https://antonio-justo.eu/?p=1995

A vida é um jogo e só mete golos quem se atreve a jogar também na avançada. Muitos dos nossos avançados da política, têm ventres demasiado pesados e pernas anafadas e consequentemente quem sofre os golos é o povo. Uma sociedade civil só consegue ter bons avançados se os produzir e treinar nos campos de futebol do povo, em diferentes iniciativas, associações e grupos; confiar só nos partidos que jogam na liga reduz-se à crença do adiamento, que só alimenta ilusões.

Como pudemos constatar do jogo Portugal-Croácia e do Portugal-Polónia, o que nos deu a vitória foi a nova estratégia de jogo. Num tempo de jogos, fintas, táticas e lobistas, estes têm mais influência que o cidadão. Em casos de excepção como no do Brexit o povo estraga-lhes o jogo obrigando-os a baralhar de novo as cartas. No fim, porém, quem mais proveito terá são os grandes, suposta uma camada média forte e influente.

Contra a vontade da comunidade, em 2011 foi extinto e consulado (3). Os Emigrantes seriam os melhores Diplomatas se tivessem um lóbi consciente e eficiente a operar a partir das repartições consulares, das Missões católicas, núcleos universitários  e de todos os outros multiplicadores.

 

António da Cunha Duarte Justo

Ex-porta-voz do Conselho Consultivo do Vice-consulado de Frankfurt

Pegadas do Tempo

PORTUGAL NAS MEIAS-FINAIS DEPOIS DE TER ELIMINADO A POLÓNIA

Ronaldo, Renato Sanches, Moutinho, Quaresma marcaram os golos e a defesa do guarda-redes Rui Patrício marcou a diferença.

A equipa portuguesa teve como adversária não só a boa equipa polaca mas também o árbitro Felix Brych que, pelo que observei, deixou passar duas grandes penalidades dos polacos.

O comentador da ARD analisava o jogo com grande arrogância e com observações depreciativas sobretudo em relação à equipa portuguesa. No mesmo encaixe se pode enquadrar os comentários de Mehmet Scholl, um dos comentadores depois  da partida. O resultado de um jogo muito trabalhado deixa esquecer estas e outras falhas que, doutro modo, deixariam um mau sabor.

Renato Sanches é o jogador mais jovem de todos os tempos com um golo em torneios do género. Com 18 anos vai para o FC Bayern München.

Finalmente Portugal encontrou o seu estilo de equipa. Que continue assim!

O Futebol continua a ser aquele sector em que o português se sente à vontade e se pode espelhar. O Estádio é o lugar da fuga contra a frustração e contra a desilusão. Na economia só sofre golos na política sempre em fora de jogo e nas bancadasum país reduzido ao papel de comentador.

No jogo contra a Polónia 3-5 para Portugal %, depois do empate 1-1 seguido das grandes penalidades.

Parabéns à selecção e muita esperança até às desejadas finais!

Uma observação minha:

Os comentadores alemães foram muito injustos em relação aos juízos que fizeram sobre a nossa equipa.Na realidade a sua atitude hipercrítica é já conhecida. (Os alemães são em geral hipercríticos, também em relação a si mesmos; consideram o positivo como normal. Geralmente só criticam não sabem louvar. Mas fazem o mesmo em relação aos jogadores alemães. Um exemplo: Depois da Alemanha ter conquistado o título mundial, no último campeonato mundial, um comentador alemão, no fim do jogo, também interrogou um dos jogadores sobre as faltas cometidas no jogo final. O jogador alemão respondeu-lhe: ganhamos o campeonato.

 

 

 

A RESPEITO DO JOGO PORTUGAL CROÁCIA

 

PORTUGAL GANHOU – UMA ACTUAÇÃO TÁTICA DE MESTRIA – SUGIRO O TREINADOR FERNANDO SANTOS PARA PRIMEIRO-MINISTRO

Portugal 1 Croácia 0

Portugal mostrou que não só tem bons jogadores mas que também tem uma boa comunidade de jogadores.
O grande arquitecto da partida de hoje foi o treinador Fernando Santos. `Portugal ganhou o jogo devido à sua nova tática de jogo que desorientou jogadores croatas.

Precisamos de um Fernando Santos; com a nova tática mereceria ser primeiro-ministro. Então Portugal estaria em forma.

António da Cunha Duarte Justo

KAFKA E A BONECA – PARA ONDE VAI O AMOR QUE SE PERDE?

O AMOR VOLTA MAS DE FORMA DIFERENTE

“Um ano antes de morrer Franz Kafka viveu uma experiência singular. Passeando pelo parque de Steglitz, em Berlim, encontrou uma menina a chorar por ter perdido a boneca.

Kafka ofereceu a sua ajuda para procurar da boneca e combinou um encontro com a menina no dia seguinte e no mesmo lugar. Incapaz de encontrar a boneca, escreveu uma carta como se fosse dela e, quando se encontraram, leu-a à menina. «Por favor, não chores por mim, parti em viagem para ver o mundo.» Esta foi a primeira de muitas cartas que, durante três semanas, Kafka entregou pontualmente à pequena, narrando as peripécias da boneca em todos os cantos do mundo: Londres, Paris, Madagáscar… Tudo para que a miúda conseguisse apagar a grande tristeza que a atormentava!

Esta história foi contada a alguns jornais e inspirou um livro de Jordi Sierra i Fabra (Kafka e a Boneca Viajante), onde o escritor imagina como teriam sido as conversas e o conteúdo das cartas de Kafka. No fim, Kafka presenteou a menina com uma outra boneca, obviamente diversa da original. Uma carta anexa explicava: «As minhas viagens transformaram-me…» Anos depois, a petiza, agora crescida, encontrou uma carta enfiada numa abertura escondida da boneca substituta. Em resumo, o bilhete dizia: «Tudo o que você ama irá eventualmente perder, mas, no fim, o amor regressará de uma forma diferente». “
May Benatar, “Kafka and the Doll: The Pervasiveness of Loss”, publicado no Huffington Post.

Esta história brilhante precisa de uma abordagem que tento esclarecer aqui.

A amiga de Kafka, Dora Diamant foi testemunha do encontro de Kafka com a menina. Como ela também era escritora transmitiu para a posteridade a verdadeira história. Kafka contou à sua amiga Dora o que ele escreveu nas cartas inventadas por ele para consolar a menina. Isto é a única coisa histórica que sabemos sobre ” Kafka e a boneca”.

 Kafka não deu boneca nenhuma à menina. O fim foi diferente: na última carta dele, na qualidade de boneca, ele escreveu à menina que a boneca se tinha casado e não podia voltar mas que a amava.

Depois da segunda guerra mundial nos jornais alemães houve um apelo dirigido à menina que tinha recebido as cartas da boneca (Kafka) para que se apresentasse ou  as publicasse. Infelizmente ninguém respondeu ao apelo e estas cartas perderam-se.

Como não sabemos o conteúdo exacto das cartas, alguns escritores inventaram o que poderia  ter sido o conteúdo dessas cartas. Verdade, porém, é apenas o que se encontra na narração de Dora Diamant: http://www.franzkafka.de/franzkafka/fundstueck_archiv/fundstueck/457439

Através da aventura da boneca que Kafka escreveu à menina, (nas cartas que lhe entregava em nome da boneca), Kafka queria consolar a menina e curá-la da sua tristeza por causa da separação sofrida. De facto uma perda, uma separação, uma morte, um divórcio ou um distanciamento provoca sempre dor. O importante para o caso é o estabelecimento de relação para poder haver abrandamento da dor ou cura. Então o amor volta embora de forma diferente.

António da  Cunha Duarte Justo

Pegadas do Tempo