Quatro Milhões de Mulheres violadas pelo Exército Vermelho na Segunda Guerra Mundial


Requinte alemão nos seus Bordeis para Soldados e para Prisioneiros

António Justo

Segundo o jurista e publicista Heinz Nawratil, quatro milhões de mulheres e jovens foram ” vítimas de crimes sexuais praticados pelo Exército Vermelho e seus aliados”. Só em Budapest calcula-se terem sido violadas 50.000 mulheres. Nos territórios libertados dos nazis, os soldados do exército vermelho comportavam-se como bárbaros, tal como faziam nos Estados Bálticos, e nos Balcãs.

Fazia lembrar a crueldade das antigas hordas mongóis, como refere o historiador Jörg Friedrich. Roubavam, violavam, massacravam e expulsavam. (16,5 milhões de alemães foram expulsos da Europa Oriental, tendo sido mortos cerca de dois milhões).

Mulheres e crianças eram violadas por grupos de soldados a ponto duma mesma jovem/mulher ser violada no mesmo dia por vários soldados. Isto não constituía excepção. Em quase todas as famílias dos refugiados e das famílias da zona de administração russa se regista, pelo menos, uma vítima de violação por família (“Die Rote Armee” von Liddell Hart). Também Hannelore Kohl, a falecida mulher do ex-chanceler alemão Helmut Kohl, foi violada, aos doze anos, por soldados russos.

O povo russo sofreu imensamente sob as abomináveis atrocidades dos exércitos alemães. (Segundo a Wikipedia,  5,7 milhões de soldados do Exercito Vermelho foram aprisionados pelos exércitos alemães, 3,3 milhões dos prisioneiros não sobreviveram. Dos 3,15 milhões de soldados alemães sob custódia russa não sobreviveram 1,11 milhões). Estaline não olhava a meios, como demonstra o seu comando n° 0428 de 17 de Novembro de 1941. Nesta instrução ordena aos partisanos russos que se vistam de uniforme alemão e incendeiem e liquidem a população russa civil “40 a 60 km atrás da linha principal de combate”. Incentivava assim o ódio contra os alemães invasores sacrificando o próprio povo para fins propagandísticos. Isto para se ter uma ideia da barbaridade dum lado e do outro. Se num povo governava o diabo no outro governava o Belzebu.

O ultrajo e a dor infringidos às mulheres durante as guerras são considerados, muitas vezes, como prejuízos colaterais das guerras e como tal de menor menção. Interesses políticos nas relações bilaterais internacionais (os tabus políticos) e a vergonha das mulheres estão, também, na base do silêncio do crime de violação. Para a mentalidade de então uma pessoa violada era pessoa desonrada. Nas Televisões alemãs não há dia sem um filme num canal a documentar as atrocidades dos alemães na guerra. Sobre o sofrimento de inocentes alemães só há poucos anos se começou timidamente a tematizar o problema das violações das mulheres alemãs.

Nas investigações de Bárbara Johr em “Befreier und Befreite” são mencionadas dois milhões de mulheres e meninas alemãs violadas por soldados do Exército Vermelho. Estes dois milhões de vítimas distribuem-se por 1,4 milhões de mulheres/jovens nos territórios da Prússia Oriental, Pomerânia Oriental, Brandenburg e Silésia, 500.000 na zona de ocupação soviética e 100.000 mulheres em Berlim. 10% das violadas terão sido assassinadas de seguida.

Este agir barbárico ainda assume maior gravidade pelo facto de ser usado e apoiado pela oficialidade. O genocídio dos alemães contra os judeus também assume uma gravidade acrescida na história pelo facto do holocausto aos judeus ter sido ordenado e organizado sistematicamente pelo Estado (Hitler). (De referir que Hitler para tornar o seu aparelho facínora mais eficiente, se serviu também de estudos sobre a maneira eficaz como a Turquia tinha efectuado o genocídio a cerca de dois milhões de arménios, em 1915).

Aos soldados alemães era proibida a violação e a prostituição incontrolada. Também se registaram violações por soldados alemães mas devido à diferente estratégia seguida não pode ser comparada no mínimo ao comportamento russo. Soldados alemães, tal como americanos violadores eram julgados e condenados. Isto não desculpa nem um bloco nem o outro atendendo à desumanidade subjacente aos dois sistemas e que espreita em cada ser humano colocado em determinadas situações. Nas zonas ocupadas pelos alemães, em 1942 havia na França e na Europa do Leste mais de 500 bordéis das Forças armadas alemãs.

Bordeis das Forças armadas alemãs foram regulados por decreto de 9 de Setembro de 1939 que apelava à autodisciplina dos soldados em questões sexuais (especialmente aos casados) e criava bordeis para soldados, insurgindo-se contra a prostituição selvagem que provocava doenças nos soldados. Estes estavam sob o controlo da inspecção sanitária das forças armadas. Estas controlavam as mulheres que trabalhavam nos bordéis e os soldados. Eram recrutadas prostitutas que se candidatavam. Num relatório do médico comandante da zona francesa ocupada de Angers, de Novembro de 1940 constata-se: “Os bordéis foram visitados em 14 dias por 8.948 soldados, dos quais 2.467 tiveram relações sexuais” (Vikipedia). (Tenho um vizinho que no tempo de soldado, como paramédico, tinha o trabalho de pincelar o pénis dos soldados com desinfectante em bordéis para se evitar a transmissão de doenças.) Prostitutas e soldados eram examinados por médicos tendo muitos dos soldados de receber uma injecção antes do acto sexual. Para se ter uma ideia da dimensão daquele empreendimento basta dizer que só em França, num terço da zona francesa ocupada pelos alemães havia mais de 143 bordéis onde trabalhavam 1.166 mulheres para satisfação dos soldados. Na Rússia, era difícil recrutar mulheres para os bordéis militares porque lá não havia prostituição oficial. Com estas medidas o exército satisfazia as necessidades dos soldados, evitava doenças e impedia que eles ganhassem amizades com mulheres das zonas ocupadas que poderiam influenciar politicamente os soldados.

Mais tarde foram também criados oficialmente Bordeis para prisioneiros nos maiores campos de concentração. Esta medida tinha a finalidade de motivar os prisioneiros a maior produtividade laboral. Junta-se a exploração sexual da mulher à do Homem. Prisioneiros com maior desempenho laboral tinham como maior prémio a permissão de ir ao bordel, no máximo, uma vez por semana, durante 15 minutos. Está provado que em  10 bordeis  se encontravam encarceradas 190 mulheres em serviço (Robert Sommer in “Das KZ-Bordell”).  Eram mulheres alemãs “a-sociais” primeiramente recrutadas com aliciamentos, mulheres prisioneiras polacas, ucranianas, russas, e “ciganas”. Muitos prisioneiros repudiavam os bordéis por razões morais considerando-os também obra do cinismo. Era proibido frequentar os bordéis a prisioneiros judeus e russos. Entre 1940 e 1942 terão sido forçadas ao trabalho sexual, pelos nazistas, cerca de 35 000 mulheres (Cf. Helga Amesberger, Katrin Auer, Brigitte Halbmayr: «Sexualisierte Gewalt. Weibliche Erfahrungen in NS-Konzentrationslagern»).

Muita gente procura cavalgar na culpa dos outros

Esta era uma guerra ideológica (aniquilação de raças, bolchevismo e fascismo) ainda mais perversa que outras guerras.

Não é legítimo cavalgar em cima da culpa alemã nem em cima da culpa russa para, assim, poder lavar a própria fachada e esconder atrás dela uma satisfação de bonzinhos na lavagem de agires menos dignos do dia-a-dia. Assim evitamos assumir responsabilidade pelos crimes que acontecem hoje no mundo. Em nome de culturas e de interesses económicos ou ideológicos ataca-se geralmente uma parte para, como Pilatos, se lavarem as mãos sujas da própria culpa. É fácil, a quem tem a graça ou desgraça de viver hoje, condenar os de ontem tal como os que terão a graça de viver amanhã terão a oportunidade de nos condenar a nós pelo que fizemos e deixamos de fazer. Isto não pode justificar a miopia que acompanha a contemporaneidade na sua necessidade ingénua de branquear o seu presente.

Hoje cortam-se os clitóris a meninas, apedrejam-se mulheres infiéis e o politicamente oportuno leva-nos a aceitar isso como sendo um bem cultural a respeitar, até no meio da nossa cultura. Suportamos a exploração da mulher maometana e até criamos nichos onde o patriarcalismo possa ser respeitado. Suportamos famílias com ordenados de misérias e energúmenos com riquezas mastodônticas fruto da especulação. Usamos dois pesos e duas medidas em nome duma democracia açucarada e duma política aberta à exploração. É fácil a quem tem a graça ou desgraça de viver hoje condenar os de ontem tal como os que terão a graça de viver amanhã terão a oportunidade de nos condenar a nós pelo que fizemos e deixamos de fazer. Isto não justifica porém a miopia que acompanha a contemporaneidade e a sua necessidade ingénua de se branquear. As pessoas fracas precisam da culpa dos outros para melhor anestesiarem uma consciência que não deve ver o que se passa agora.

Mentalidades massificadas de ontem, personalizadas em grupos e em pessoas mascaradas de soldados abusaram das pessoas indefesas. Hoje pessoas fardadas de opinião oportuna condenam povos e grupos sob a apóstrofe de alemães, russos, comunistas, conservadores ou progressistas. Há sempre uma responsabilidade individual e colectiva. A lavagem cerebral feita ao povo e aos indivíduos facilita a prontidão para a subjugação e para o agir irresponsável. Para onde quer que se olhe, depara-se com gente uniformizada com uma maneira de pensar e julgar igual, não diferenciada e correspondente à mentalidade apregoada e tida por bem na opinião publicada. É assustador o pensamento em massa e em blocos hoje em voga. A pobreza é tanta que, por vezes, basta saber o jornal ou revista da leitura do interlocutor para conhecermos o seu pensar. O pior disto é que atrás duma opinião massificada se encontra uma trincheira. Naturalmente cada um escreve e pensa segundo a própria ciência e consciência…

Quem se orienta pelo seu julgamento segundo o prisma da simpatia ou da antipatia sentida ou pelo simples afirmar ou negar de factos segue um mau conselheiro e prepara a guerra.

Não se pode bagatelizar nem compensar os crimes e a dor dum lado com os crimes e a dor do outro. Este erro de lógica perpetua a injustiça e a maldade. Só quando as nossas lágrimas correrem sobre a nossa culpa e sobre a culpa dos outros nos poderemos compreender a nós e aos outros. O sangue dos nossos antepassados grita mas só o grito da nossa consciência poderá interromper a avalanche da violência e da injustiça de agora.

Cada guerra, como cada ideologia, procura tirar o melhor de cada pessoa para si e o pior para os outros. O mesmo se diga da escrita da História que pressupõe sempre um historiador com uma ideia dela.

A barbaridade, a violência não é um acto específico dum povo, raça ou pessoa, ela repousa na sombra de cada pessoa e de cada grupo. A violência não se torna melhor nem mais justificada se exercida pela direita ou pela esquerda. Seria cinismo com o sofrimento de pessoas querer glorificar a própria ideologia.

O tribunal de Haia constitui hoje um aviso para o respeito que se deve às vítimas e como tal um primeiro passo em direito internacional para se diminuírem os crimes e os incendiários económicos, religiosos ideológicos e intelectuais.

Em tudo isto se vê como o pobre povo sofre e ao mesmo tempo é usado para fazer outros sofrer.
A guerra ainda não acabou. Em nome da paz continua a faz-se a guerra, em nome da paz vive-se da guerra.

O respeito deve-se às vítimas!

António da Cunha Duarte Justo

antoniocunhajusto@googlemail.com

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Sentido duma “Vida sem Sentido”

Tudo funciona em Termos de Fim

António Justo

Nietzsche dizia „quem tem um porquê para viver, suporta quase cada como”. O problema está para quem não tem porquê nem como. Sim, até porque a vida é mestra e a História obriga.

Na luta da vida, uns ganham, outros perdem e outros nascem perdidos. De premeio fica a perspectiva individual, numa atmosfera social mais ou menos intoxicada, diria eu.

Nos primórdios da humanidade, os nossos antepassados caçadores-colectores esfalfavam-se em manada atrás da caça e da fruta. Levavam uma vida nómada e na luta pela subsistência viam-se obrigados a viver na manada.

Na sequência dos hábitos ancestrais de caçadores-colectores, pratica-se também hoje a caça e a colecta nos centros comerciais (“Shoppings”). Escarmentados das fadigas invernais sentimos cada vez mais o prazer no ter do que no ser. Surge o prestígio e este baseia-se já não na necessidade directa mas na ideia (necessidade construída). A satisfação e o prestígio de ter passam a impor-se ao do ser. A massa já não segue em direcção à caça, mas o sentido da ideia dela.

As pessoas perdem a individualidade pensando e vivendo cada vez mais em termos de manada. Do tédio da monotonia redil surge a necessidade de se diferenciar numa corrida ao prestígio baseado na ideia do sucesso económico. A animalidade individual, agora encarcerada numa cultura domesticadora procura os seus tubos de escape numa ideia de distinção e de liberdade apregoada pelo mercado. Os pobres de cima e os pobres de baixo, tudo em fuga, vivem da futilidade dum ter mais que o outro e duma distinção que se revela no poder de compra. Cada um quer levar o mundo às costas, querem tudo na sua mochila. Na luta contra o caos afirmam-se as forças da animalidade violenta de uns contra os outros. De momento, grande parte das elites financeiras manifesta-se como extremista e sem um conceito ordenado de sociedade. A brutalidade de oligarquias torna-se exemplar para as bases que a sustêm levando-as primeiramente à desorientação e depois à anarquia.

Uma sociedade que não canalize a brutalidade dos seus membros está irremediavelmente perdida. Para o poder necessitará de ideais e metas metafísicas. As estruturas precisarão de homens bons e a contrabalançar os seguidores da oportunidade. Doutro modo, sob o impulso de canalizar a animalidade, continuarão a esconder-se, por trás dos bastidores, os interesses individualistas, nacionalistas e ideológicos. Estes só querem indivíduos e não pessoas, querem apenas clientes e crentes. Neste sistema, quem não pertencente ao rebanho, não orienta a inteligência em benefício próprio. Uma sociedade sem consciência pessoal e comunitária transcendente e que engendra para cada qual um deus indiferente que tudo permite deixa a bestialidade humana governar.

A natureza, para não estagnar, não quer harmonia. Ela tem, além dum sentido imediato, um sentido telelógico, virado para uma meta, um objectivo sempre mais distante do que a mira da nossa caçadeira alcança. Quem não descobrir essa meta será condenado, como Sísifo a empurrar repetidamente uma pedra (a sua vida) até ao lugar mais alto da montanha para a ver rolar de novo para o fundo dela.

Depois de cada caçada, de cada compra, de cada vitória fica a depressão do desconsolo duma caçadeira descarregada, de vida vazia. Resta a sensação de um caçador cansado, a subir a encosta, à semelhança de Sísifo no mito.

Sísifo quer-nos alertar para uma vida digna de viver e para a necessidade de intervir no destino. Primeiro procura-se o que dá alegria: um trabalho, uma casa, uma criança; depois vem a insatisfação, da falta duma tarefa, da falta de realização.

No caso de desemprego inutilizam-se as próprias capacidades e conhecimentos. Pior ainda; a sociedade só exige e não louva, o que diminui a satisfação. O horizonte reduz-se, cada vez mais, ao panorama dos próprios problemas. Por fim o cenário pode reduzir-se a si mesmo. Sem a perspectiva do outro não haverá realização.

Uma existência sem metas é vida desperdiçada e perdida

Uma vida sem metas é como um carro com motor em ponto morto, só gasta e desgasta ou anda à roda como os carrinhos eléctricos das feiras.

Desde a natureza à lógica e ao sentimento, tudo funciona em termos de fim. O ciclo da trajectória duma semente não é terminar nela; contra isto fala a evolução e a ânsia de sentido no mais profundo de cada coração. O sentido encontra-se não só em nós, no todo mas também fora dele. Tudo se encontra a caminho, a natureza inteira, cada povo e cada pessoa. O seu ser não se reduz ao caminho como apregoam os barateiros do mercado.

Sentido é algo subjectivo mas um consolo apenas subjectivista (individualista) encerraria o ser num labirinto. O sentido experimenta-se na relação entre o eu e o nós, numa relação de diálogo binário e trinário dum receber e dar para mais criar. A natureza orienta-nos para o futuro, muito embora o futuro não seja o seu fim.

É verdade que o sol nasce todos os dias. Ele parece resumir o sentido que a semente sente numa continuidade repetitiva a caminho dum chamamento imanente e transcendente. Aquele chamamento vem dum fora dentro a que o próprio Sol obedece no reconhecimento dum sentido maior.

A vida individual, familiar, social e nacional ocidental encontra-se ameaçada pelo facto de não reconhecer algo que a transcenda, não conhecer uma meta mais abrangente que não seja o ciclo das estações do ano. Tudo circula então em torno do próprio umbigo como se cada um fosse o umbigo do mundo. Uma multidão sem necessidade de dar à luz. Um mundo assim concebido já não precisa de heróis nem de santos, acomoda-se ao destino duma rota de exploradores e explorados.

Prometeu, protótipo do homem grego, foi herói ao conseguir roubar o fogo dos deuses para o dar ao humano. Este, ao desistir do fogo dos deuses será reduzido à condição de prisioneiro e acorrentado à própria arrogância e entregue, pelos deuses, à voragem das águias que se alimentarão do seu fígado. Ao acomodar-se à fuga do medo não chega a experimentar a satisfação de que a rebeldia por fim lhe trará consolação.

Equivoca-se a política ao reduzir a vida pública a uma mera luta de interesses entre grupos. Erra a psicologia que se fixa no ego, encurtando o horizonte da pessoa a ela mesma e a vida a uma mera estratégia de sobrevivência individual, dando receitas que não passam de anestesiantes para um ego que sofre de miopia. Por isso, a sociedade, cada vez produz mais doentes e a frustração individual está cada vez mais patente.

Geralmente procura-se a solução para os problemas onde ela não pode estar. Coloca-se a bola da vida nas mãos dos donos de matraquilhos ignorando que eles, consciente ou inconsciente, pretendem levar a bola ao seu buraco. Uns e outros parecem adiar a vida em trips de egos. Por falta de panorama limitam-se a ajudar Sísifo a subir a montanha para de novo cair a seus pés. Uma solução que se contenta com a satisfação do eu, só em si, não satisfaz porque empobrece a pessoa, reduzindo-a à condição de Sísifo. A concentração no ego possibilita a masturbação mas não a criatividade, realiza-se à margem da evolução.

No mercado da praça pública encontramos muitos profetas do ego. Até parecem que têm a vida para dar ao oferecerem mais sexo, mais droga, mais liberdade, como se fossem os donos disto. Eles fixam o bem-estar a um hedonismo que reduz a felicidade ao acto de striptees, ao acto do momento, como se o dia não tivesse um nascer e um pôr-do-sol, como se o dia completo não contivesse também a noite. Para que a realidade da noite não seja consciencializada têm como solução a bebedeira. Muita da psicoterapia, dos curandeiros, dos espíritas e muito outra boa gente só ajudam as pessoas a adiar a vida, sempre à cata dum raio de sol fútil. O pior é que ainda pagam para isso!… Uma vida com sentido é entrega, é oferecer consciente que no dar se entra em comunicação com o outro e nele com o próprio profundo. Doutro modo, o sentido duma vida sem sentido será alimentar os parasitas da vida. Uns como outros correm o perigo de se encontram virados apenas para si reduzindo o seu sentido ao alimentar dos vermes do cemitério. Naturalmente que a paciência do verde da roseira se premeia nas rosas da roseira também na vida humana não haverá alegria sem sofrer.

A felicidade dá-se no nós, na relação; o eu encontra, ao mesmo tempo, o seu limite e a sua complementação no outro. A sociedade ocidental estressou a pessoa reduzindo-a a indivíduo à disposição do seu mercado: Reduz a praça social a grupos de vendedores concorrentes entre si sem um sentido individual nem colectivo. Para isso quer uma sociedade aberta sem biótopos, quer apenas indivíduos indefesos estando, por isso, interessada em destruir a pessoa (a pessoa, ao contrário do indivíduo, encontra-se embutida numa paisagem, numa região, num país, numa cultura, numa família; a ideologia, pelo contrário só conhece uma cor, as cores do arco-íris de que a pessoa seria portadora constituiria um impedimento a qualquer ideologia seja ela económica ou do pensamento). Por isso se vê cada vez mais a afirmação da ideologia do indivíduo contra a pessoa. O turbo-capitalismo, o socialismo materialista e os déspotas querem indivíduos despojados de ideias próprias, despojados de família e de nação.  Uma sociedade como a nossa, já a caminho do pôr-do-sol, infecta outras sociedades emergentes e ensombra a vida com valores já não de esperança mas de desilusão. Privilegia a força da entropia só tendo em conta o ego, sem a consciência de que este faz parte dum biótopo cultural empenhado na construção dum ecossistema espiritual universal.

O horizonte do nosso ego encontra-se numa relação complementar à intimidade do nós. Somos o cruzamento duma panorâmica com vários horizontes, todos eles enquadrados na nossa pessoa e a serem considerados no trilho da sociedade. Como o Sol tem uma missão em relação à Terra assim o humano tem uma missão de seguir e criar sentido. Quem cria e dá sentido sente sentido na vida, realizando-se e expandindo-se na alegria dos raios sociais que irradia. Então as sombras da vida já não adoentam, passam a ser canais por onde passa a luz, por onde passa a vida. Daí surge a satisfação de tornar a humanidade e o mundo num lugar digno, onde a vida é equacionada e mantida sob o ponto de vista da pessoa, do universo e do divino.

A futilidade dum viver numa democracia de cidadãos vencedores e perdedores, de realização individual, sem uma órbitra que transcenda o eu, só poderá conduzir à frustração do cidadão que constata nas órbitras das instituições do Estado e da humanidade a repetição da própria órbitra egocêntrica, apenas um pouco mais alargada.

Falta a consciência duma órbitra universal cujo trajecto se origina no nós e tende para o nós numa dinâmica complementar. Uma teoria e uma praxis na perspectiva do nós (comunidade e não mera sociedade) interromperia a continuidade histórica de exploração (a relação de caçador e presa) para, na História da humanidade, se introduzir a sustentabilidade do seu desenvolvimento. Isto para não reduzirmos o trajecto histórico a um movimento rotativo de explorados e exploradores.

Doutro modo a nossa vida dará sustentabilidade à reiteração da exploração e da lamentação, continuando a História ordenada em dois acampamentos: dum lado os mais solidários, do outro os mais egoístas, os privilegiados.

Marx pensava poder mudar a humanidade e a natureza humana, se se acabasse com a propriedade privada. O seu erro foi querer reduzir tudo ao ciclo da matéria e querer sacrificar as diferentes esperanças da humanidade à sua esperança, não contando que a realidade consta de erros complementares que possibilitam o alívio do mal. Há muitos caminhos na tentativa de superar o mal e de melhorar a sociedade. Será tarefa de todos fazer desembocar o seu caminho na comunidade e no respeito da diferença. Uma só solução é engano. Até hoje, as revoluções criam novas classes dominantes que se legitimam com novas ideias impostas ao povo e aos vencidos. A ilusão voa mas o sofrimento provocado pelo ser humano é continuado sob o sol de novas explicações e dominações.

A tarefa apontará no sentido de se agir a partir do ponto de vista do nós. Para isso ajuda um princípio duma ética universal digna: não faças ao outro o que não queres que te façam a ti. A ética superior das bem-aventuranças poderá ficar para uma segunda fase da evolução da humanidade. Por enquanto continuamos a ser crianças contentando-nos com o jogo das escondidas.

Cada sistema de valores corresponde a um ecossistema cultural aferido à geografia, às necessidades e desejos de cada biótopo. Destruí-los em nome doutras grandezas seria crime. Há que disponibilizar o sol para todos. A óptica divina apela à consciência duma perspectiva universal num mundo a ter de se recriar: um mundo de todos para todos.

António da Cunha Duarte Justo

antoniocunhajusto@googlemail.com

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ACORDO ORTOGRÁFICO SEGUE A VIA POPULAR

Um acordo de empobrecimento da língua e de interesses geoestratégicos

António Justo

O assunto não é fácil, atendendo às diferentes grafias (europeia, brasileira e africana) e aos interesses políticos, económicos e culturais a elas subjacentes. O Acordo ortográfico vem beneficiar a grafia brasileira em relação à grafia luso-africana da língua portuguesa. Na sua forma possibilita assim uma maior concorrência, salvaguardando sobretudo interesses geopolíticos e económicos do Brasil.

 

O maior problema na génese e no processo do acordo, encontra-se, a meu ver, num espírito simplicista e vulgar, em via desde há décadas, na política cultural ocidental.

 

O maior problema manifesta-se na acentuação e na supressão das chamadas consoantes “mudas”, acabando-se assim com uma diferenciação etimológica insubstituível para a boa compreensão das palavras.

Para se perceber um pouco o fundamento dos que questionam o acordo e para se ter uma ideia da riqueza da exactidão das palavras, apresento a etimologia das diferentes palavras portuguesas: facto, fato, fado e feito. As palavras portuguesas facto e feito vêm da palavra latina factu (do verbo facere=fazer); a palavra portuguesa fado vem da palavra latina latim fatu. A palavra portuguesa fato (roupa exterior do homem) virá do germânico fat. A palavra facto (realidade, verdade) é usada em todos os países lusófonos excepto no brasil que usa a palavra fato para designar facto e fato. Deu-se assim um empobrecimento da língua muito embora em benefício do povo com menos formação. (Apresento no final do artigo o exemplo de palavras provenientes do mesmo étimo latino para melhor se compreender a presença dum c ou dum p mudo na palavra, que levam à pronunciação aberta da vogal precedente). (Infelizmente em muitos dicionários virtuais já se abdica da diferenciação. Forças de interesse e ideologias procuram apagar os vestígios que os não servem. Isto acontece também no que respeita à disponibilidade de termos e de sinónimos no léxico).

Angola e Moçambique ainda não ratificaram o Acordo Ortográfico e naturalmente têm razões muito válidas para o não fazerem tal como os brasileiros e outros terão as suas para o fazerem. O “Jornal de Angola” ao lamentar o empobrecimento etimológico dum acordo ortográfico que se orienta pelo português falado ou pronunciado, mostra o busílis dum acordo que se orienta por um simplicismo redutor, traiçoeiro e mercantilista. Aqui os Angolanos manifestam-se contra a corrente entrópica ao exigir que “os que sabem mais têm o dever sagrado de passar a sua sabedoria para os que sabem menos” para não baixarem o seu nível.

 

O problema acentuou-se pelo facto de muitas objecções não terem sido resolvidos já na génese que prepararia o acordo ortográfico. Comete um grande erro quem parte para um acordo com base apenas no português falado. De lamentar seria naturalmente se não houvesse um acordo em defesa da língua. Por muitos erros que se cometam é melhor um acordo que nenhum; a não ser que se defenda a hegemonia do inglês.

O acordo ortográfico beneficia os que falam pior a língua. Por outro lado a língua não se mantem dependente de quem a melhor pode falar: padres, juristas, linguistas e médicos pelo facto de saberem a língua mãe, o latim.

O acordo é necessário para possibilitar a afirmação do idioma português no contexto internacional sem se atraiçoar a alma dos diferentes povos a veicular num português de afirmação global.

Os peritos que elaboram os acordos ortográficos deveriam dominar bem o latim e o grego; especialmente o latim.

O português é uma das línguas chamadas românicas, com a sua origem no latim, sendo uma evolução deste. O latim na sua expressão clássica manifesta um alto nível intelectual e na sua expressão popular (língua falada pelo povo: sermo vulgaris, cotidianus, plebeius, rusticus), com a sua riqueza fonética e morfológica, cria termos novos para expressar vocábulos por ele desconhecidos do latim erudito.  Deste modo enriquece a língua, tal como hoje acontece com o português vulgar (provincianismos, e outras formas de formação, entre elas, os neologismos…).

A língua latina suplantou as línguas dos povos vencidos relegando, muitas vezes, as destes para dialectos. Na península ibérica, só o basco lhe resistiu. A língua latina abandonada a si mesma no povo, sem disciplina gramatical, na sua evolução, deu lugar a diferentes falares ou falas que depois deram origem a línguas. Um desses falares foi o galaico-português (também língua dos poetas) que, devido a circunstâncias políticas, deu origem aos idiomas, galego e português. A evolução do português já se pode documentar em monumentos e documentos notariais a partir do séc. VII num latim bárbaro (língua falada pelo povo). A partir do séc. XII os poetas apoderaram-se desse falar (galaico-português) que no séc. XVI se estabilizou no português e no galego. A partir de então temos o português moderno como podemos ver em Camões.

O latim afirmou-se por todo o lado. Na nossa língua, encontram-se também com certa frequência, termos de povos invasores  (cerca de 600 palavras usuais germânicas e cerca de 600 palavras usuais árabes).

O vocabulário da língua portuguesa formou-se principalmente através do latim vulgar que se vai modificando através da fonética e da derivação de termos populares; uma outra forma de formação da língua foi a via erudita que de proveniência latina e grega se manteve mais próxima do padrão original latim e grego. O português tem uma fase arcaica que vai do séc. XII ao seculo XVI e uma fase moderna começada no séc. XVI (Camões).

Para melhor se poder compreender as divergências no que respeita ao acordo ortográfico e apelar ao respeito pela etimologia da língua, passo a dar exemplos da formação de termos em que o mesmo étimo latino origina duas palavras diversas. O Acordo Ortográfico nas suas coordenadas gerais deixa-se orientar mais pela via popular ou vulgar. De notar que, hoje como ontem, as pessoas mais simples têm tendência para não mastigar as palavras, ao contrário do que acontece no falar das pessoas mais eruditas.  A maior traição ao português e à alma do falante dá-se porém na redução das pessoas verbais (eu tu ele (ela,você), nós vós, eles (vocês). A língua em vez de evoluir e de se diferenciar embrutece seguindo o princípio da inércia, ao eliminar o vós e ao evitar até o tu na linguagem falada (como já adverti noutros textos). Assistimos a um empobrecimento geral em questões culturais. A ignorância não nota o que perde, ganha sempre!

A palavra latina factum deu origem à palavra portuguesa facto por via erudita e à palavra feito por via popular.

Simplificando: do latim focum originou-se foco por via erudita e fogo por via popular

do latim legalem originou-se legal por via erudita e à palavra leal por via popular

do latim matrem originou-se madre por via erudita e à palavra mãe por via popular

do latim Hispaniam originou-se Hispania por via erudita e à palavra  Espanha por via popular.

do latim jactum originou-se jacto por via erudita e à palavra jeito por via popular

do latim alienare originou-se alienar por via erudita e à palavra alhear por via popular

do latim plenam originou-se plena por via erudita e às palavras cheia, prenha por via popular

do latim oculum originou-se óculo por via erudita e à palavra olho por via popular

do latim grandem originou-se grande por via erudita e à palavra grão por via popular

do latim angelum originou-se Ângelo por via erudita e à palavra anjo por via popular

do latim aream originou-se área por via erudita e à palavra eira por via popular

do latim arenam originou-se arena por via erudita e à palavra areia por via popular

do latim atrium originou-se átrio por via erudita e à palavra adro por via popular

do latim catedram originou-se cátedra por via erudita e à palavra cadeira por via popular

do latim conceptionem originou-se concepção  por via erudita e à palavra conceição por via popular

do latim delicatum originou-se delicado por via erudita e à palavra delgado por via popular

do latim digitum originou-se dígito por via erudita e à palavra dedo por via popular

do latim dolores originou-se Dolores por via erudita e à palavra dores por via popular

do latim directum originou-se directo por via erudita e à palavra direito por via popular.

Desta observação podemos concluir que o povo simples simplifica (via popular) e os eruditos preferem a clareza.

Com acordo ou sem ele, cada pessoa deve ter a liberdade de escrever na grafia que aprendeu.

António da Cunha Duarte Justo

(Com diploma para latim e grego)

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Segredo do Made in Germany

Formação profissional na Alemanha exemplar a nível mundial

António Justo
A Alemanha é, depois da China, o país de maior exportação mundial. É o centro do comércio internacional, plataforma giratória para o tráfego rodoviário aéreo e marinho. No ano 2011 fez exportações no valor de 1,06 trilhões de Euros (1.060.000.000.000 euros) e importações no valor de 902 bilhões (902.000.000.000 euros).

 

Os produtos alemães impõem-se no mercado mundial devido à sua qualidade e inovação. O aumento da produção globalmente competitiva, a moderação salarial de sindicatos e empregados, constituem a mistura que possibilita o milagre alemão. De referir no entanto, que os produtos alimentares e de necessidades básicas, são mais baratos na Alemanha do que nos países vizinhos.

 

O segredo da qualidade dos produtos feitos na Alemanha vem do sistema dual (1)de ensino profissional baseado na colaboração entre escola e oficinas patronais de cada região. As empresas têm um grande componente familiar e continuam na tradição das (guildas) associações profissionais medievais (2) . Na Alemanha, ainda hoje são as câmaras do comércio e da indústria que examinam os aprendizes e passam os diplomas profissionais.
Segundo uma investigação da OECD sobre o ensino profissional em 17 países, a Alemanha recebe a qualificação de muito bom. Países de grande relevância para o futuro, como é o caso do Brasil e países emergentes deveriam orientar-se pela Alemanha.

 

O ensino está todo ele orientado para a aquisição qualificada duma profissão média, até mestre e para uma especialização no ensino superior técnico e universitário.
A minha experiência, quer a nível superior quer a nível de escolas do secundário levou-me a gostar dum sistema que antes questionava com o receio de ser demasiado selectivo.

 

Durante o ensino obrigatório, os alunos são obrigados a interromper a escola por algumas semanas (geralmente no oitavo ou nono ano) para fazerem um estágio em firmas liberais, industriais ou do comércio. As firmas colaboram com a escola e estão enquadradas legalmente para o fazer. Há sempre professores encarregados da relação aluno-oficina-escola. O aluno tem de passar por todas as secções da firma e no fim fará um relatório avaliativo do que fez e viu fazer. O relatório será depois analisado e qualificado em aula na escola. Deste intercâmbio aproveita o aluno em termos de orientação escolar e profissional e aproveita a empresa integrada no meio ambiente.

 

Um dos segredos do “made in Germany” está na interligação de ensino teórico e prático já nos verdes anos da vida. Unem de forma excelente a teoria à práxis, além de contribuírem para a integração das famílias, das escolas e das firmas na aldeia/vila/cidade. Muitos dos alunos que fizeram o estágio nas firmas deixam vestígios nelas que lhes podem facilitar a sua integração profissional, uma vez acabada a formação.

 

O aluno alemão que escolhe o currículo profissional médio, para tirar um curso de pedreiro, electricista, padeiro, serralheiro, etc., depois do 9°/10° de ensino obrigatório tem de frequentar a escola profissional durante três anos num sistema de ensino dual. Isto é, passa, semanalmente, três dias na oficina/escritório e dois dias na escola profissional do seu ramo. Depois de três anos adquire a qualificação profissional com o grau de oficial (Geselle), podendo depois doutros três anos de profissão adquirir o grau de mestre, grau este que o habilita a poder fundar firma do ramo. Os exames são feitos perante a Câmara do Comércio e da Indústria. Estas é que estão habilitadas a passar os diplomas de oficial e de mestre. Há também a possibilidade de, uma vez terminada a escola profissional, frequentar escolas técnicas superiores.

 

Todos os jovens em formação e jovens trabalhadores entre os 16 e os 25 anos têm direito, além das férias normais, a 5 dias de formação político social por ano.

 

Um país que queira seguir as pegadas de sucesso alemão deveria entrar em diálogo com as câmaras de comércio e indústria das representações alemãs no respectivo país. As firmas alemãs radicadas no estrangeiro ofereceriam uma oportunidade ideal para o fomento dum tal ensino dado possuírem a experiência que trazem da Alemanha.

 

Os chineses estão a manifestar grande interesse pelo sistema de ensino profissional dual, enviando delegações a escolas profissionais alemãs.

 

A capital da economia brasileira é S. Paulo. A Câmara do Comércio e da Indústria de S. Paulo já está muito activa neste sentido. O Brasil estaria bem aconselhado se privilegiasse a Alemanha como modelo de formação profissional por todo o lado. A filosofia das empresas alemãs ainda não se encontra contaminada pela filosofia utilitarista doutras firmas só interessadas no produto e no lucro. Com o tempo, ao abrir-se aos accionistas mundiais poderão dar-se transformações. O alemão é trabalhador, sério e com vontade de ajudar ajudando-se também.

 

O Equador tem um plano para introdução do sistema dual. O Equador poderá com este sistema dar resposta às tradições benéficas em favor dos autóctones que os jesuítas iniciaram nos começos da colonização para os defender da especulação dos comerciantes espanhóis. Estes para poderem explorar melhor os nativos conseguiram da coroa espanhola a expulsão dos jesuítas.

 

Portugal depois do 25 de Abril, deslumbrado pela ideologia, acabou com um sistema de formação profissional de boa qualidade, então existente, para favorecer a formação abstracta como se fosse possível transformar a nação numa escola de candidatos a doutores. De referir que Portugal já tem algum projecto de profissionalização em hotelaria em colaboração com alemães.

 

Pelo que observo, a reforma universitária a nível europeu fica muito atrás do modelo alemão. A Alemanha viu-se obrigada a reduzir o estudo do secundário de 13 para 12 anos para não ser prejudicada na concorrência internacional, porque, doutro modo os seus alunos entravam na universidade um ano mais tarde que nas outras nações.

 

Sindicatos alemães mais responsáveis que os seus parceiros noutros países

 

Se observarmos as lutas sindicais na Alemanha e em países do sul constata-se uma atitude destes diametralmente oposta perante o Estado e perante o patronato. Enquanto no sul, em geral, os sindicatos se comportam como rivais na Alemanha comportam-se como parceiros. Os do sul são orientados pela ideologia enquanto os sindicatos alemães se orientam pela realidade social e económica concreta. Os sindicatos alemães reconhecem que o segredo do desenvolvimento do sucesso da Alemanha assenta na inovação, produtividade e flexibilidade. São pragmáticos e por isso mesmo interessados em não estragar a economia nacional e não abusando do Estado em nome da ideologia. Entram em concorrência com o patronato mas sem perder os interesses da nação e do bem-comum. Em vez da inveja domina a ideia de pertença e esta assenta na família e nação.

 

São, naturalmente, questionados por um precariado que não encontra trabalho ou se ocupa em actividades a tempo parcial e que vê cada vez mais nos sindicatos uma força de interesses grupais.

 

Em 1990, 35% dos trabalhadores eram membros dum sindicato; hoje são-no apenas 20%. Encontram-se um pouco desorientados pelo facto de os serviços terciários terem aumentado e pelo facto do turbo-capitalismo internacional impor também na Alemanha mais desigualdade entre as partes.

 

(1) Ensino dual porque é adquirido ao mesmo tempo na escola e na oficina

(2)Guildas eram associações medievais de profissionais artesanais (eram corporações artesanais que, dentro da cidade, defendiam os seus interesses de classe e segredos profissionais, vivendo em ruas próprias, como testemunha também a rua dos Correeiros em Lisboa, entre outras) foram os antecessores das escolas profissionais e dos sindicatos.

 

Na Alemanha esta tradição foi continuada nas Câmaras do Comércio e da indústria e nos sindicatos. As Câmaras ainda hoje mantêm a sua independência perante o Estado sendo elas a passar os diplomas profissionais, depois dos exames feitos perante elas embora no júri de exame se encontrem também professores representantes da escola oficial. Esta tradição contribuiu imenso para que o trabalho manual seja considerado em grande estima. O contrário do acontece nos países do sul, onde a formação livresca oprime a profissional. Quando vim estudar para a Alemanha fiquei muito impressionado com a simplicidade no porte e no trajo dos professores de universidade. Faltava-lhes aquela aura que o pó do trabalho prático destrói. Os mestres profissionais das oficinas na Alemanha têm tanta estima e reputação como um doutor em Portugal. Unem a cabeça aos braços enquanto nos países do sul a cabeça despreza os braços. Esta é a diferença entre o sul e o norte, aquilo que também explica a difereça na qualidade de vida.

 

António da Cunha Duarte Justo
antoniocunhajusto@googlemail.com
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Capitulação da Nato no Afeganistão – Mais uma Guerra estúpida perdida – Cabul é uma cidade de muros intra muros

Depois da Guerra pior que antes da Guerra – veja-se Iraque

António Justo
O colonialismo moderno apenas acrescenta ao antigo a qualidade do seu cinismo. Não faz guerra, encontra-se simplesmente em “missão”. Intervém, não em nome do petróleo e das matérias-primas mas em nome da democracia, dos direitos humanos, da defesa de grupos ameaçados, em prol da estabilização. “Arranja” até aliados dentro das sociedades islâmicas que lhe pedem ajuda. Assim, o zé-povinho continua consolado nas suas quintas a queixar-se do colonialismo de antanho e distraído do colonialismo moderno de que vive também. Para branquear o próprio rosto, no Afeganistão e no Norte de África, fala de conversações com talibans moderados, com islamitas mitigados e quejandas, como se houvesse moderação e esta fosse possível num sistema político-religioso déspota.

Os 28 ministros da defesa dos 28 países da aliança, na sua reunião de 3.02.12 em Bruxelas, persistiram em continuar a guerra, que apelidam de “missão”, até 2014. Os falcões da guerra gostariam de ver a permanência da Nato no Afeganistão ainda por mais tempo. Agora trata-se de ver quais os países que abandonam primeiro o Afeganistão, para não ficarem todos na História como renitentes do fracasso. Falam de já terem entregado 21 das 34 províncias às forças de segurança afegãs mas na realidade isso só se concretizou em 8.

Durante e depois das guerras só ganha a indústria da guerra e seus adjuntos. Facto é que a Nato perde todas as guerras em terrenos muçulmanos. A ganância do petróleo turba-lhe a razão.

Quando se encontram encurralados pelo sistema muçulmano, então falam de guerras e guerrilhas tribais, de Talibans e de terroristas. Esquecem que o sistema muçulmano é, na sua essência, um sistema político e social de guerrilha ad intra e ad extra perpetuado pela religião.

Em dez anos de intervenção a Nato não conseguiu sequer criar alternativas ao cultivo da droga no país. O Afeganistão continua a produzir 90% do ópio para o consumo a nível mundial.

Depois de 10 anos capitula a Nato como capitulou a Rússia. Quem se mete com os muçulmanos apanha. Não precisam de guerra, basta-lhes a guerrilha. Os nossos antepassados lusitanos usavam a mesma estratégia contra os Romanos e estes só depois de 200 anos de luta conseguiram dominar os guerrilheiros de Viriato mas só depois de ajudados pela traição.

As direcções da Nato admiram-se das forças de segurança afegãs que formaram terem no seu meio homens bomba que repetidamente assassinam os colegas ocidentais à margem das áreas de batalha. Falta-lhes a fé!…
A derrota da Nato no Afeganistão é mais uma depois da do Iraque. O problema é que depois da guerra o Ocidente continuará a despender como continuam a pagar caro a “paz muçulmana” no Kosovo.
Actualmente encontram-se 130.000 soldados estacionados e desesperados no Afeganistão. Quebram-se a cabeça não compreendendo como é que tanto poder militar não consegue ter a força para dominar o terrorismo. Equivocam-se ao pensar que este, é o fruto de algumas cabeças desorientadas e não a flor da seara muçulmana, como nos mostra a história contemporânea e a história da sua origem.

Em 2014 os soldados da Nato retirar-se-ão mas para não darem a impressão de capitulação continuarão a pagar quotas elevadas de “reparação”. A sociedade civil herda os encargos de “reparação” além das famílias de soldados destrocadas pela dor e pelas mortes.

Cabul é uma cidade de muros intra muros
O Negócio dos islamistas é assassinar e meter medo

Em Cabul, até os hotéis, onde vivem estrangeiros, fazem lembrar prisões. Encontram-se cercados por arame farpado para que os jornalistas, que vivem da informação guerreira, possam, em paz, mandar mensagens optimistas para a opinião publicada nos países da Nato.

Quem não trabalha para o estrangeiro não precisa de muros, dizia, há dias, um jornalista afegão numa reportagem sobre o Afeganistão no ZEIT. Apesar de tudo, a pobreza e a ideologia vivem mais recolhidas em Cabul.

A sociedade islâmica, geralmente, prescinde duma ordem que não seja assegurada pelo poder das mesquitas ou que não se encontre nelas. Por isso uma ordem civil forte com polícia e militares submetidos a um governo neutro é combatida por um sistema que se quer revolucionário islâmico com expressão política às sextas-feiras depois das orações nas mesquitas.

Os militares ocidentais não patrulham a cidade para que a cor das suas fardas não provoque o sentir islâmico. Os soldados ocupantes são tolerados pela população para lhe possibilitarem a segurança nas visitas aos familiares que vivem a 30 Km de Cabul, para localidades mais longe torna-se impossível a protecção.

Grande parte do Afeganistão é inacessível devido ao perigo de ataques. É mais cómodo para os soldados viverem no gueto e deslocarem-se de avião ou de helicóptero. Cada soldado ocidental morto constitui um perigo porque um acumular-se de tais notícias poderia acordar o povo e este poderia começar a perguntar-se sobre as razoes da presença estrangeira no Afeganistão. Isto contrariaria a estabilidade da opinião pública a manter pelo sistema dos países da Nato. Por isso a melhor informação é não haver informação, como acontece relativamente ao Kosovo. Para evitar mais mortos as forças militares estrangeiras limitam-se a viver em guetos dentro do grande gueto. Um compromisso de sistemas no grande sistema.

Naturalmente que o negócio dos islamitas é assassinar e meter medo às pessoas. O caos e os atentados (guerra civil) são o húmus que permite aos mais fortes o domínio da natureza e da cultura. Por isso odeiam como a peste qualquer tentativa de organização estatal que não assente nem assegure a defesa dos mais fortes. A renúncia ao direito de defesa e de vingança individual em benefício duma supra-estrutura Estado, como acontece nas sociedades ocidentais constitui um absurdo.

Também é verdade que o Afeganistão, antes da invasão ocidental só conhecia a ilegalidade, a pobreza e a guerra. Agora tem uma organização policial mas o Estado não funciona. A constante é a guerrilha cultivada à sombra das mesquitas. Desde 1996, aquando da conquista do Afeganistão pelos talibans, vive-se em guerra civil.

A intervenção da Nato teve a vantagem de dar a provar os benefícios da paz a alguns. Uma geração de crianças, que cresce agora à margem da guerrilha, aprende a gostar da paz. Isto é positivo muito embora o medo continue uma ameaça contínua.

Os povos muçulmanos ainda têm uma grande caminhada a fazer em direcção à sociedade civil. Esta porém só poderá ser fomentada através dum sistema militar ditador como aconteceu na Turquia. Todas as outras estratégias têm-se revelado como perda de tempo. Para isso teria uma classe militar laica de constituir uma sociedade económica forte. A longo prazo talvez conseguissem criar biótopos sociais desejosos duma liberdade não açamada à religião. (O exemplo da Turquia já se encontra em perigo).

O Ocidente, que só percebe da sua ideologia, não aprende e por isso estará condenado a seguir apenas os seus meros interesses económicos e estratégicos dando uma no cravo e outra na ferradura.

De resto, o Ocidente continuará a lançar trigo nos moinhos do islamismo em troca de petróleo e de matérias primas. Este só pode ser reformado com uma força interna que opere à altura e com os mesmos meios da estratégica muçulmana.

António da Cunha Duarte Justo
antoniocunhajusto@googlemail.com
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