Antes do Abril roubado aos calendários,
eu já bebia a liberdade nos rios —
aquela que não se verga a relógios de senhores,
nem se vende em parlamentos vazios.
O que Abril trouxe foi o dente do tempo
a roer tanto as grades como as mãos:
fez-se luz nos cárceres, sim,
mas também sombra nos corações.
Eu quero o Abril que não cabe em feriados,
o que incendeia sem pedir licença,
onde a chuva lava os nomes dos Estados
e a liberdade é raiz, não cerca.
Sol para o justo e o velhaco,
terra sem dono, céu sem rédea —
que a verdadeira revolução
começa quando um homem se ergue
e descobre que nunca precisou de soberano.
Liberdade é o canto que nasce
quando um homem se lembra
que traz o céu no próprio sangue.
António da Cunha Duarte Justo
Pegadas do Tempo