O QUE NÃO SE FALA NÃO EXISTE!

Pois é, meus caros, que bela notícia!

Afinal de contas, a injustiça e a pobreza já são problemas ultrapassados, resolvemos não falar mais deles, e, como bem se sabe, o que não se fala não existe.

Agora, o verdadeiro progresso está em rearmar a Europa! Que alívio saber que os 800 mil milhões de euros que a UE planeia gastar em defesa nos próximos anos vão certamente tornar-nos todos mais seguros… principalmente contra a ameaça terrível de idosos sobreviverem com 250 euros por mês ou pensionistas portugueses que ousam receber pensões de até 500 euros. Em Portugal em 2024 havia 1,4 milhões de pensionistas que  recebiam uma pensão de velhice de até 500 euros, o que representava quase metade dos pensionistas da Segurança Social.

É claro que faz todo o sentido que Portugal gaste 6.256 milhões de euros em defesa até 2029, afinal, quem precisa de reformas decentes, serviços públicos que funcionem ou apoio social quando podemos ter mísseis mais modernos e tanques reluzentes?

O importante é manter as prioridades em ordem: primeiro, enchemos os arsenais; depois, talvez, se sobrar algum trocado, lembramos que há pessoas a viver na miséria.

Mas calma, não sejamos dramáticos! Afinal, o que é a pobreza perante a grandiosa estratégia geopolítica europeia?

Sigam em frente e não se esqueçam de apertar o cinto… mas só até 2029. Em compensação, sentimo-nos bem-comportados e esforçados em cumprir as estratégias de Trump em relação à NATO! Isso dá mais honra e lustro aos nossos engravatados quando se passeiam em Bruxelas!

António da Cunha Duarte Justo

Pegadas do Tempo

A ENCRUZILHADA DO OCIDENTE ENTRE EMOTIVIDADE PODER E A CRISE AXIAL DA HISTÓRIA

A Eurásia é o palco crucial que servirá de ponte entre Oriente e Ocidente

Vivemos um daqueles raros momentos da história em que a ordem mundial não se limita a adaptar-se, mas sofre uma transformação fundamental. Trata-se de uma crise de eixo – um ponto de viragem épico, no qual as estruturas de poder, os modelos económicos e as grandes narrativas civilizacionais são abalados. O Ocidente, outrora arquiteto incontestado da ordem global, permanece hoje numa espécie de paralisia emocional e estratégica – e, com isso, promove involuntariamente exatamente o mundo multipolar que procura impedir.

A Ascensão da Irracionalidade e a Falência das Elites

O mal-estar ocidental não é apenas de natureza económica ou geopolítica; é, acima de tudo, uma crise da razão e da cultura. As elites dominantes, alienadas do povo e do desenvolvimento orgânico e qualitativo do indivíduo e da sociedade, abandonaram os padrões da razão, da ponderação crítica e do espírito de cooperação e complementaridade. A liderança sóbria foi substituída por uma emocionalização perigosa e tóxica da comunidade.

Esta estratégia, que recorre a instintos sociais baixos, é um sintoma de pânico. As elites, movidas pelo medo de perderem o controlo da narrativa e o seu lugar privilegiado, intoxicam o espaço público. Isso resulta numa sociedade hipersensível e depressiva, incapaz de compreender as causas profundas da sua miséria e que se contenta em lamentar as suas consequências. O caso alemão é paradigmático: enquanto se desviam verbas incomensuráveis para a guerra e se acumula dívida nacional, as desigualdades sociais que atingem brutalmente idosos e jovens são ignoradas. O discurso público, em vez de tematizar estas opções, prefere o conforto da emoção.

O Palco Geopolítico: A Revolução Multipolar

Esta convulsão interna coincide com uma mudança histórica de proporções épicas. Talvez seja comparável à transição do feudalismo para o capitalismo nos séculos XV e XVI.

O capitalismo, fruto da revolução industrial, foi durante muito tempo um projeto exclusivamente ocidental. Hoje, porém, o Sul Global despertou do seu «sono medieval». Os países do BRICS – Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul e outros – estão a reformular as suas economias, sob o signo do capitalismo estatal. Este modelo, apesar das suas contradições, prova-se formidável na concorrência com o capitalismo ocidental de carácter fundamentalmente privado e financeirizado. O subsídio ocidental ao capitalismo liberal turbo não só enfraquece a espinha dorsal de uma classe média saudável, como também favorece formas artificiais de empresas, cujo único fundamento é o próprio capital. Nesta situação paradoxal, as elites destroem a sua própria base para satisfazer as exigências do sistema que elas mesmas criaram noutras paragens. Nesta situação as nossas elites autodestroem-se para conseguirem dar resposta ao sistema que impuseram ao submundo.

Perante este desafio, a resposta anglo-saxónica (EUA/UK) e europeia, canalizada através da NATO, não é de adaptação, mas de renitência e confronto. Em vez de reconhecerem os sinais dos tempos e buscarem uma colaboração Norte-Sul, agarram-se a velhas doutrinas belicosas da Guerra Fria. A insistência em ver o mundo através da lógica do “amigo-inimigo” e a camuflagem de interesses imperialistas sob o pretexto de “defesa de valores” só consegue uma coisa: fomentar a afirmação do mundo rival em termos de rivalidade, e não de colaboração.

A Esquerda Europeia: Perdida entre o Verde e a Guerra

A esquerda europeia, outrora garantidora de uma política social e humanista, perdeu a sua bússola; o centro político tem receio de revelar as suas próprias raízes. O caso do SPD alemão é sintomático: a sua associação à ideologização verde prejudicou a sua imagem de partido anchor da justiça social.

O movimento ecológico, originalmente com raízes locais e pacifista, também foi cooptado e transformado numa força moralmente belicista da geopolítica. Esta «ecologização» da política, longe de salvar a natureza, tornou-se um instrumento de emocionalização que cega ainda mais a sociedade. A esquerda, dependente desta agenda, tornou-se num parceiro involuntário de políticas que negam o seu próprio projecto de justiça social e paz.

A direita, por sua vez, perdeu a sua firmeza ao abandonar os seus fundamentos culturais. Seduzida pelas tentações da globalização liberal, escolheu o caminho da agressão em vez da cooperação entre os povos.

A União Europeia faz parte da Eurásia e se considerarmos o tempo em épocas, e não em períodos eleitorais de quatro anos, teremos que concluir que a Eurásia é o palco crucial que servirá de ponte entre Oriente e Ocidente.

A Única Saída é a Razão e a Colaboração

O surgimento de figuras como Trump nos EUA não é a causa, mas sim um sintoma deste processo histórico em curso acelerado. São as dores de uma transição inevitável para um mundo multipolar.

O Ocidente tem apenas uma saída: afastar-se da mera emocionalidade e voltar à razão e ao senso comum político:

– Reconhecer a nova constelação de poder e negociar com o Sul Global de igual para igual.

– Abandonar a doutrina do confronto da NATO em favor da diplomacia e da cooperação económica.

– Reafirmar um discurso público objectivo, onde os media e os partidos priorizem o bom senso sobre a histeria.

– Reencontrar uma esquerda que volte a tematizar as causas da desigualdade sem abandonar o humanismo cristão, em vez de se limitar a gerir as suas consequências da desigualdade com emotividade.

A crise do eixo não marca um fim, mas sim um doloroso recomeço. O Ocidente pode revelar-se um obstáculo obstinado e, assim, acelerar o seu próprio declínio – ou pode redescobrir a razão e encontrar o seu lugar num mundo que já não é exclusivamente seu, mas que pode ser mais justo e equilibrado para todos. A depressão das sociedades ocidentais é o reflexo da doença das suas elites. A cura começa com a coragem de pensar com clareza.

A União Europeia faz parte da Eurásia. E se não medirmos o tempo em mandatos eleitorais de quatro anos, mas em épocas, então temos de concluir: a Eurásia é o palco decisivo que se torna a ponte entre o Oriente e o Ocidente.

 

António da Cunha Duarte Justo

Pegadas do Tempo

A VILA E O OCEANO: UM BRAMIDO NOS AREAIS (Conto filosófico)

Numa pequena vila de pescadores, três amigos discutiam à beira-mar.

Pedro, o Poeta, olhando o horizonte:

– Para mim, o mar é tudo. O mar é os peixes, as ondas e até a areia molhada. Se tudo é mar, então tudo é divino. Isso é o panteísmo: não há fora, só há mar.

Joana, a Céptica, balançou a cabeça:

– Mas se o mar é tudo, até o peixe podre seria divino. Isso não pode ser certo.

António, o Velho Pescador, sorriu e respondeu:

– Eu penso diferente. O peixe vive no mar, mas não é o mar. O mar é maior que ele. O peixe está no mar, o mar está no peixe, mas o mar não se reduz ao peixe. Isso é o panenteísmo: tudo está em Deus, mas Deus é mais que tudo.

Joana arregalou os olhos:

– Então o mar envolve e sustenta, mas não se confunde com os peixes?

Pedro repensou:

– E nós, onde ficamos?

O silêncio dos três era uma concha que ampliava o rugir do mar, e naquele som das vagas mergulharam numa epifania muda de que Deus é o mar, mas é também o além-mar; um oceano sem margens onde todos os significados se dissolvem e renascem. A noite, encimada por uma lua solene, tecia claros e escuros não apenas na paisagem, mas nos recônditos dos três corações, ainda assombrados pelo bramido que confundia a criação com o Criador, deixando-os a balancear os seus espíritos entre o divino no mundo e o mundo no divino. E, ainda que o diálogo lhes houvesse trazido alguma claridade, Pedro sentiu naquela noite uma maré de ideias em redemoinho, que arrebatou consigo o seu sono.

No dia seguinte, à tardinha, os amigos voltaram a conversar.

Pedro, insistiu:

– Mas se o mar é Deus, eu sou só uma gota sem importância.

António, sorriu e respondeu:

– Não, Pedro. Para nós cristãos o mar verdadeiro é trinitário. Ele não é solidão sem forma, mas comunhão viva. O Pai é como a fonte que gera as correntes, o Filho é o rio que mergulha no mar e nos leva de volta, e o Espírito é a água que circula em todos os peixes e ondas.

Joana, refletiu:

– Então cada um de nós é peixe vivo nesse mar, único, mas ligado aos outros. O mar envolve-nos, mas não apaga a nossa forma. Não somos gotas perdidas, mas pessoas chamadas pelo nome.

António concluiu:

– Exato. Se a Joana fosse apenas gota dissolvida, não haveria amor, nem responsabilidade. Mas porque é pessoa em inter-relação, tem valor e dever. O oceano trinitário não apaga quem és, faz de ti parte de uma dança maior, sem perderes a tua voz.

Os três calaram- se diante das ondas.

Já não era apenas um mar (1).

Era um mistério de amor que os chamava pelo nome e os envolvia, sem jamais os apagar.

António da Cunha Duarte Justo

 

Pegadas do Tempo

(1) Assim, o panenteísmo cristão mostra-se como uma visão do mundo em que Deus está em tudo, mas tudo é chamado a viver em comunhão pessoal com Ele. Diferente do panteísmo, que apaga a pessoa na totalidade, o panenteísmo trinitário preserva a liberdade, a dignidade e a responsabilidade humana diante do cosmos. O mistério trinitário pode ser visto como a chave de leitura da existência: uma “fórmula da realidade” que sustenta o mundo, valoriza a pessoa e orienta a história para a plenitude em Cristo. Para os cristãos, Cristo é como a ponte: Ele mergulha no mar connosco e leva-nos para o coração do oceano infinito. E o Espírito é como a água que circula em cada peixe, mantendo-o vivo.

Ver artigo sobre o assunto: O OCEANO EM NÓS em Pegadas do Tempo: https://antonio-justo.eu/?p=10306

O MAL-ESTAR DA MODERNIDADE: DA SOLIDÃO EXISTENCIAL AO “CANCRO SOCIAL”

A Revolta das Partes contra o Todo orgânico

Vivemos na era da híper-conexão, dos fluxos de informação infinitos e de um progresso material sem precedentes. No entanto, um paradoxo angustiante define os nossos tempos: nunca estivemos tão conectados e, simultaneamente, tão divididos e profundamente sós. Esta solidão não é apenas a carência de companhia; é uma solidão de si mesmo, um divórcio interno do ser humano face à sua própria essência.

Este fenómeno não é um acidente, mas sim o sintoma de um processo de despersonalização em marcha, cujas raízes se aprofundam no solo do século XX. A combinação de forças anónimas, mercados globais, algoritmos omnipresentes, burocracias impessoais, com um desvio filosófico que, em algumas das suas correntes, abraçou o niilismo, esvaziou o indivíduo de uma identidade sólida. Sem uma identidade individual claramente definida e valorizada, torna-se impossível construir uma identidade social ou cultural coesa. A sociedade arrisca-se a transformar-se num amontoado de elementos desconexos, sem uma ordem intrínseca que os ligue organicamente e lhes dê um rosto coletivo.

As instituições tradicionais (a família alargada, a comunidade local, as associações de solidariedade) que outrora forneciam enquadramento, significado e pertença, veem o seu valor e significado em processo rápido de erosão. Por seu lado, o indivíduo é cada vez mais atomizado, reduzido à sua circunstância imediata e a um individualismo estéril. Esta solidão hiperbólica manifesta-se mesmo no meio da multidão, mascarada pelo ruído ensurdecedor das ofertas da sociedade de consumo, que promete preencher um vazio que, paradoxalmente, ajuda a minar.

O sofrimento e o desencanto coletivos aumentam a um ponto crítico, onde a sociedade em si se torna clinicamente doente. A este propósito, torna-se oportuna uma metáfora de doença individual e da doença psíquica social: o aparecimento do cancro como «solução e desculpa». O cancro é, na sua essência biológica, uma mutação genética resultante de um descontrolo celular, uma revolta das partes contra o todo orgânico. Não será esta uma imagem perfeita do que acontece a nível de consciência social? As mutações individuais e sociais, a perda de valores partilhados, a desagregação do laço social, resultam de uma consciência individual e coletiva descontrolada, que, focada apenas no eu imediato e no prazer funcional, conduz à autodestruição do organismo social. Cada época tem, de facto, as suas doenças e os seus estados de alma, e a nossa tem a da patologia da desconexão (desligação individual e social que cede o lugar a uma conexão exterior virtual que tudo amarra).

Os sintomas desta doença são estranhos e reveladores. A solidão leva a que o afecto seja canalizado para substitutos, como o «casamento» com animais de estimação, relação que, sendo genuína no afecto, é funcionalmente imune às complexidades do compromisso humano. Na política, o oportunismo segue agendas exteriores ou ditadas por sondagens e estatísticas sociológicas, e não por princípios ou visões de futuro, num ajustamento virtual às massas, e não uma liderança baseada na relação humana autêntica nem numa sociedade consciente do seu sentido.

O caso extremo, mas sintomático, dos mais de 4.000 «casamentos tecnológicos» no Japão, onde pessoas casam com personagens de realidade virtual, é o indício mais claro deste devir. Não é uma excentricidade, mas um sinal de alarme: o ajustamento das relações humanas está a ser substituído por um ajustamento virtual, baseado em satisfações imediatas, controláveis e de essência meramente funcional.

Perante este diagnóstico sombrio, somos chamados a uma reflexão urgente. Não se trata de um regresso romântico a um passado idealizado, mas de uma pausa consciente para repensar a pessoa e a sociedade. Há que resgatar e reavaliar os «ensinamentos perenes» que o desenvolvimento humano nos foi proporcionando ao longo de milénios: a dignidade da pessoa, a importância da comunidade, o valor do sacrifício pelo outro, a busca de significado que transcende o material, a força do amor e da vulnerabilidade partilhada.

O desenvolvimento do poder tecnológico e virtual não é inerentemente mau; é uma ferramenta poderosa e útil. No entanto, ameaça destruir o humano se for este a servir a tecnologia, e não o contrário. O risco final é que o humano perca aquilo que o define: a personalidade, a razão, que se torna mero cálculo, e o sentimento, que se torna mera emoção superficial.

A pergunta que se coloca à nossa sociedade, chamada a ser cada vez mais humana e feliz, é crua: teremos a coragem de desligar o ruído, de nos reencontrarmos connosco próprios e, a partir desse centro repensado, reconstruir relações autênticas que curem a nossa solidão existencial? Ou continuaremos a preferir o matrimónio silencioso com as máquinas, confortáveis e previsíveis, mas incapazes de nos devolver o rosto que estamos a perder?

A cura começa com o diagnóstico e com a recusa coletiva em aceitar a autodestruição como preço inevitável do progresso.

António da Cunha Duarte Justo

Teólogo e pedagogo

QUEIXA EXISTÊNCIAL DE UMA SOCIEDADE INCERTA

(Parto do Abismo nas Sombras do Modernismo)

 

Não é o grito agudo, claro, definido,

É um quebrar de ânforas no silêncio,

Um tumulto surdo, um ruído

De um mundo grávido de um tempo sem senso.

 

A sociedade, uma madre em contrações desencontradas,

Arqueja sob a pressão de um feto de névoa,

Não pare um futuro, mas dores emprestadas,

Um parto de sombras que a si mesma nega.

 

Qual é a queixa da alma coletiva, sem causa aparente?

É a náusea do vazio, o luto por um Deus que não morreu,

Mas que se perdeu na torrente

De um amanhã que se prometeu… e não nasceu.

 

São dores de parto de um ser ainda informe,

Uma gestação de ferro, fogo e algoritmo,

O útero do tempo à beira de um deforme

Nascido que não é neto, nem é legítimo.

 

A placenta é de écran, o cordão é de fibra ótica,

A luz que nos guia é um fluxo de ansiedade.

A nova maneira de ser, criança caótica,

Não traz o leite quente da humanidade.

 

Traz o frio do silício, a promessa de um paraíso estéril,

O abraço de um algoritmo, vasto e distante.

É um parto criativo, sim, mas de um ser tão sério

Que confunde a sua alma com um software errante.

 

Por isso a queixa ecoa, cega e obstinada,

Não contra a fome ou a guerra, males de outrora,

Mas contra esta angústia mal desenhada,

Este vazio que à mesa se senta e devora.

 

É o luto pelo Homem que fomos, a agonia

Do rosto que se dissolve no pão da existência.

A nova maneira de estar não é um novo dia,

É a noite iluminada pela própria ausência.

 

E no entanto… há a centelha, a dor que é génese,

Neste abortar de mundos, há um verbo ténue a crescer.

A própria sombra que nos cobre talvez nos revele

Que só criando o abismo o podemos vencer.

 

A queixa é o primeiro hino deste estranho nascimento,

O útero do caos é criativo, ainda que cruel.

Talvez da noite do não-sentido, brilhe um firmamento

Onde a alma, finalmente, encontre o seu papel.

António da Cunha Duarte Justo

Pegadas do Tempo