O JOGO DE XADREZ DA UCRÂNIA NO TABULEIRO DO MUNDO

Zelenski demitiu o ministro da Defesa Oleksii Reznikov e nomeou Rustem Umerov

O ministro da Defesa Oleksii Reznikov, envolvido em escândalos, era uma amostra exposta da corrupção vigente na Ucrânia. Zelenski propôs o muçulmano da minoria tártara da Crimeia, Rustem Umerov, para ministro da Defesa, que terá ainda de ser confirmado pelo Parlamento.

Deste modo Zelenski quer mostrar vontade de enfrentar a corrupção no país e ao mesmo tempo dar um sinal de querer aplainar a entrada da Ucrânia na União Europeia.

Na mesma direcção aponta o aprisionamento do oligarca Kolomoyskyj, que no passado tinha apoiado e feito campanha nas eleições por Zelenski com o seu influente canal de TV. Ihor Kolomoiskyi é acusado de fraude bancária e lavagem de dinheiro.

Isso não representa um ponto de viragem na luta contra o crime de colarinho branco devido aos meandros da justiça ucraniana. As investigações estão a ser realizadas pelo serviço secreto da SBU dependente do Presidente Zelenski e não pelas autoridades independentes anticorrupção da Ucrânia.

A nomeação do muçulmano da minoria tártara da Crimeia Rustem Umerov, para Ministro da Defesa cria um maior vínculo com o “Mundo Turco” na Eurásia (cerca de 180 a 200 milhões de turcomanos) e na política interna pressupõe um maior apoio a Kiev pelos tártaros da Crimeia; ao mesmo tempo é um sinal de que a Ucrânia não quer abdicar do regresso à Crimeia.  

A guerra na Ucrânia oferece uma grande oportunidade para o fortalecimento da ideia do império turcomano que significa ao mesmo tempo uma ameaça real à integridade da Rússia. Putin encontra-se em maus lençóis e tudo leva a crer que a guerra irá assumir maiores dimensões, também pelo que ela significa para os EUA e para a Federação russa. Por outro lado, a posição crescente do presidente da Turquia no conflito a realizar-se na Ucrânia apressará a União Europeia a abrir as suas portas à Turquia passando por cima de condições de caracter democrático. Razões de poder mandam mais alto.

Muitos povos turcos vivem dispersos na região do Volga (Búlgaros do Volga, Bashkirs, Tártaros, Chuvash), na Crimeia (Tártaros da Crimeia) e na região do Cáucaso (Nogaians, Kumyks, Karachaians, Balkars).

Umerov, o tártaro da Crimeia, tinha sido contra a anexação da península da Crimeia, aquando da sua anexação pela Rússia em março de 2014.

270.000 tártaros representam 16% da população da Crimeia. Os tártaros da Crimeia boicotaram o referendo da Crimeia como forma de protesto.

No conflito da Ucrânia os interesses em jogo são de tal ordem (económicos e geopolíticos) que despertam e conglomeram desejos contraditórios escondidos que levarão à criação de um mundo multifacetado e multipolar em que surgirão novas constelações de rivalidades no tabuleiro de xadrez de povos e civilizações.

António CD Justo

Pegadas do Tempo

UM EXEMPLO ORIGINAL DA MANEIRA COMO RESOLVER CONFLITOS

Na vida dos salesianos de Dom Bosco é conhecido o facto do jovem Domingos Sávio que se deparou com dois colegas que se preparavam para fazer um duelo à pedrada.  Como bem relata o Pe A. Gonçalves, eles já tinham medido os passos de distância e então o Jovem Domingos, com bons modos, colocou-se no meio deles, dizendo: atirai as pedras contra mim.

Domingos evitou o conflito sem culpar ninguém!

António CD Justo

Pegadas do Tempo

O SONHO DA EURÁSIA MORREU NA UCRÂNIA

O sonho da Eurásia morreu e o da Europa também! A Europa, que no mapa geográfico mais parece ser uma península asiática vê o seu destino nas próximas gerações ligado à sorte da OTAN na Ucrânia.

A Europa encontra-se traumatizada e em estado depressivo por se tornar refém do acaso (ao trauma europeu veio juntar-se o trauma dos países do antigo Bloco de Leste!).  Com as duas grandes guerras na Europa, os estados europeus foram obrigados a abdicar do seu estatuto mundial de grandes imperialistas para o cederem aos Estados Unidos da América e se submeterem aos seus interesses. A Alemanha ficou subordinada aos Estados Unidos da América e com uma Alemanha aliada, toda a Europa ficou subordinada aos EUA e deste modo definitivamente impossibilitada de criar a própria história e de assumir papel mais relevante na geopolítica.

A Alemanha, devido ao vínculo do “Tratado Dois-Mais-Quatro” respeitante às condições para a sua reunificação, ficou sujeita ao condicionamento dos quatro vencedores e sobretudo aos Estados Unidos da América que têm na Alemanha 20 bases militares que funcionam quase como um Estado dentro do Estado alemão e que perpetuam o domínio americano na Europa (No caso de um conflito atómico a Alemanha seria a primeira a ser atingida).

Daí a política do partido de Willy Brandt e do partido de Ângela Merkel de aproximação discreta da Alemanha à Rússia e de aproximação da Rússia à União Europeia ter sido um projecto de cunho europeu, mas contrariado pelos EUA.

A ex-chanceler Ângela Merkel ainda iniciou uma política com a Rússia que contemplava interesses alemães, russos e europeus, mas os EUA com a ajuda de alguns estados europeus rivais bloquearam e sancionaram uma política europeia de visões largas de um dia poder vir a construir a grande “casa europeia” de Lisboa a Moscovo.

Com o exemplo de um Reino Unido virado só para ele e para os EUA (Brexit)  e uma Polónia a querer substituir a Alemanha nas relações EUA-Europa, a Alemanha (teoricamente livre mas de facto ocupada por não poder agir sem o aval dos EUA) viu-se obrigada a fazer uma virada política de tipo militarista (Zeitenwende) deixando de pensar em termos europeus (como Willy Brandt-Kohl-Merkel)  para pensar em termos militares de OTAN: um passo dúbio mas fatal contra a possível Casa Europeia. O irmão grande (EUA) pensa em termos de poder e não desvinculará a Alemanha do tratado Dois-Mais-Quatro (ver nota em https://antonio-justo.eu/?p=8718).

Por outro lado, com a imigração descontrolada muçulmana ressurge no povo europeu o trauma e os medos antigos dos corsários norte-africanos na Europa. De acordo com Robert Davis, entre os séculos XVI e XIX, foram capturados por piratas bárbaros (corsários otomanos, berberes) entre 1 milhão e 1,25 milhões de europeus e vendidos como escravos no mundo árabe. Os piratas só levavam os jovens e aqueles que apresentavam boa forma física. Todos os que ofereciam resistência eram mortos, e os mais velhos eram colocados dentro de uma igreja que depois era queimada (1).

Os povos da Europa sabem, no seu subconsciente que a política que os orienta é política de autossabotagem ao criar obstáculos à realização de metas e objetivos próprios que estariam no interesse da Europa.

Depois da queda da União Soviética e da união das Alemanhas e com o início da União Europeia teria chegado a hora de se construir uma nova Europa que ajudasse a superar os extremos do socialismo e do capitalismo. Uma Europa, penitenciada dos seus erros passados, poderia tornar-se na medianeira e fomentadora de uma relação mais justa entre os povos.

A Europa, ao identificar-se com a OTAN, descarta-se do jogo geopolítico multipolar para se reduzir a província americana onde conflitos internacionais fervilharão no seio da sua sociedade.

Valha-nos Deus e o sonho!

António CD Justo

Pegadas do Tempo

(1) A partir do século XVI   corsários bárbaros, ou corsários otomanos escravos usados como remadores em galé Escravidão branca refere-se à escravidão de brancos europeus por norte-africanos ou muçulmanos da região do Magrebe. Os piratas da Barbária e dos comerciantes de escravos, que representavam uma ameaça constante para as embarcações comerciais e inclusivamente as cidades costeiras do Mediterrâneo Os piratas bárbaros (berberes) eram piratas e corsários que operavam desde o Norte de África https://pt.wikipedia.org/wiki/%C3%89poca_Dourada_da_Pirataria

CIMEIRA EUA-COREIA DO SUL E JAPÃO

A situação crítica na Ucrânia e em Taiwan leva países de interesses comuns a cooperarem entre si criando novas medidas de defesa no sentido de reforçarem a presença do Ocidente na Ásia.

Para Antony Blinken, secretário de Estado americano a cimeira (18/08/2023) significa uma nova era na cooperação trilateral”.

Neste sentido deu-se a cimeira precisamente em Camp David entre EUA, Japão e Coreia do Sul para ser expandida a cooperação nas áreas da economia e segurança. Superam-se assim o contencioso entre Japão e Coreia do Sul, um grande trunfo para os EUA na região.

A cimeira é ao mesmo tempo uma mensagem e um aviso à China e à Coreia do Norte.

Pelo que se observa, atualmente, o mundo encontra-se em especial movimento.

António CD Justo

Pegadas do Tempo

(1) Veja mais em https://www.bol.uol.com.br/noticias/2023/08/18/biden-quer-reforcar-lacos-de-seguranca-com-toquio-e-seul-em-mensagem-clara-para-pequim.htm?cmpid=copiaecola

XI PRESIDENTE DA CHINA E PUTIN PRESIDENTE DA RÚSSIA NÃO PARTICIPARÃO NA CIMEIRA DO G20 NA ÍNDIA

Xi não participará na cimeira G20 no próximo fim de semana em Nova Delhi, fazendo-se representar pelo primeiro-ministro Li Qiang; também Putin será representado pelo Ministro dos Negócios Estrangeiros, Sergey Lavrov.

O presidente dos EUA, Biden, ficou desapontado com o cancelamento e o chanceler alemão Olaf Scholz lamentou tal decisão.

É a primeira vez que um chefe de Estado chinês cancela uma reunião do G20, o que pode ser interpretado como uma bofetada no anfitrião Narendra Modi, primeiro-ministro da Índia. Rivalidades fronteiriças entre China e Índia poderão estar na base do cancelamento e ao mesmo tempo pode-se interpretar a ausência do presidente como um apoio indireto a Putin. Deste modo impossibilitam-se encontros de líderes mundiais à margem da cimeira na Índia, em 9 e 10 de novembro.

O Grupo dos Vinte (G20) reúne os chefes de estado e de governo dos 20 principais países industrializados e emergentes (19 países: Argentina, Austrália, Brasil, Canadá, China, França, Alemanha, Índia, Indonésia, Itália, Japão, República da Coreia, México, Rússia, Arábia Saudita, África do Sul, Turquia, Reino Unido e Estados Unidos) e a União Europeia.

António CD Justo

Pegadas do Tempo