O Discurso sobre Refugiados parece esgotar-se no “a Favor” e “no Contra” a sua Admissão
António Justo
A Europa é um continente aberto às culturas, à mudança e até à improvisação. Perante a imigração em curso, os excessivos desejos e pretensões de muitos refugiados colidem com o medo popular; muitos detalhes passam à margem dos feitores da opinião pública que, com a tesoura na cabeça a nível de apresentação dos factos, procuram evitar que surja no povo mais medo e uma atitude contra estranhos. Os políticos e as autoridades religiosas cristãs e de outras confissões assumem, publicamente e na prática uma atitude de defesa e empenho pelos refugiados. Nos meios sociais mais “livres” e nos comentários particulares da internet depara-se, por toda a parte, com uma opinião pública determinada mas indiferenciada: de um lado os bonzinhos desprendidos que têm tudo para dar e do outro os mauzinhos sempre prontos a defenderem os direitos adquiridos e o que julgam seu. Explicações simples, como “capitalismo desumano” e “islão agressor”, encontram-se subjacentes a muitas opiniões.
De resto, no que toca ao tema refugiados confrontamo-nos com o medo domado e com uma sociedade desorientada e sobrecarregada que se sente castigada por “invasão„ tal que só parece poder ter explicação nalgum pecado algures cometido ou por outrem perpetrado.
Alemanha – um País privilegiado por e para Refugiados
É confortador constatar como a sociedade alemã, a imprensa, as instituições religiosas e políticas reagem tão positivamente à nova imigração. A nível popular observam-se imensas iniciativas de ajuda e a nível de autoridades todas as comunas se empenham imensamente no sentido de receberem os hóspedes com dignidade humana. Nota-se a preocupação de reagendar dinheiros públicos e de se criarem enquadramentos que sirvam e ao mesmo tempo comprometam os hóspedes com os valores desta sociedade que motivou a sua escolha como centro da sua vida.
Para o fenómeno não há respostas simples. A difícil situação dos refugiados vem acrescentar-se à pobreza de muitos cidadãos e ao medo suposto ou real da perda de identidade.
Na Alemanha esperava-se, no princípio do ano, a entrada de 400.00 refugiados, depois corrigiu-se a perspectiva para 800.000 e agora, a realidade leva membros do governo a prever a entrada de um milhão durante 2015.
O governo federal, os estados federados e os municípios já começaram a reestruturar o seu orçamento de milhares de milhões de euros no sentido de elaborar programas de construção de casas, de criação de novos lugares na administração, professores, assistentes sociais, tradutores, educadores de infância, etc. Além dos desafios que os recém-chegados colocam a nível de aprendizagem da língua, de mercado de trabalho e de integração vêm os problemas culturais e de mentalidade. A sociedade alemã é minuciosa e pensa em pormenor: consciente de que a Europa, ao contrário dos “árabes”, tem uma orientação individualista, emancipadora e de igualdade entre os sexos, já se preocupa também com a criação de cursos de formação para imigrantes masculinos para que estes adquiram competência neste sector, doutro modo não aceitarão instruções de mulheres chefes no seu lugar de trabalho. Um grande problema para a administração está também nas exigências de muitos refugiados que só querem ser albergados nas grandes cidades e por terem reivindicações irreais incutidas por traficantes em relação à sociedade acolhedora, o que os pode desencorajar dado a realidade que encontram não corresponder aos seus sonhos.
A Europa precisa de gente nova para equilibrar o seu défice de nascimentos mas devido à maioria de emigrantes masculinos está a criar-se uma desproporção e um excesso masculino, observam alguns. Por outro lado os recém-chegados não poderão preencher o buraco demográfico da sociedade que terá de lhes dar formação profissional e trabalho, pensam as autoridades. A Alemanha precisa de trabalhadores especializados e em especial artesãos, pensam os industriais. Os recém-chegados vêm de países não industrializados e por isso não podem solucionar, para já o problema do emprego, é preciso primeiro formá-los, pensam políticos.
Na Alemanha, muitas das pessoas no desemprego (quota de desemprego 6,7% e de pobres 15,5%) ou com fraca qualificação profissional e aqueles que têm o emprego em perigo e os que ocupam os lugares do “resto” temem a chegada dos novos imigrantes que serão os seus directos concorrentes no mercado de trabalho. Por isso o sindicato apela para que não haja uma concorrência desleal entre pessoas alemãs e estrangeiras em situação precária e para que o salário mínimo bruto à hora passe de 8,5 € para 10 €.
O comércio, advogados, médicos, assistentes sociais, professores e educadores alegram-se com a chegada dos novos clientes.
Pessoas talvez mais levadas pelo pensamento que pelo sentimento perguntam-se do porquê de, países islâmicos ricos como a Arábia Saudita, Oman e kuweit, não abrirem as portas aos refugiados. Outros, talvez mais levados pelo sentimento do que pelo pensamento advertem no sentido do Daily Mail que cita um islâmico da mesquita de Jerusalém: “o líder islâmico pede aos migrantes sírios que “aproveitem” a oportunidade para “procriar”. Sheikh Muhammad Ayed diz: “Nós dar-lhe-emos a fertilidade. Procriem com eles e nós conquistaremos os seus países, como sempre foi a vontade de Alá”. Como se vê híper-reacções de pessoas complexadas e de uma sociedade doente que não encontra solução para os seus cidadãos apesar das riquezas naturais que possui. Se não fosse o militantismo islâmico, a imigração em via seria menos controversa e um grande bem para a Europa que envelhece a olhos vistos (com os inerentes problemas anexos à produtividade para pagar as reformas); só a Alemanha para contrariar o défice de natalidade teria de ter uma imigração de 600.000 estrangeiros por ano, segundo as contas feitas por especialistas. A Alemanha do pós-guerra com grande deficiência de homens conseguiu integrar 11 milhões de deslocados alemães que tinham a mesma cultura e a possibilidade imediata de trabalho dado a Alemanha precisar de ser totalmente reconstruída.
Outros questionam-se pelo facto de ainda não ter sido possível integrar a massa dos trabalhadores migrantes vindos a partir dos anos 60 e que vivem aqui já na terceira geração; para estes, o máximo que se poderá alcançar e já não será mau, é uma coexistência pacífica de uns ao lado dos outros, pensam muitos. Mutos receiam que se formem sociedades paralelas ou zonas em que a polícia já não entre, como já se vai observando em grandes cidades; outros fazem comparação com a antiga Alemanha socialista que já custou um trilhão de euros e continua a custar muito dinheiro para vie a conseguir atingir o nível da Alemanha capitalista. Outros têm medo dos guerreiros islâmicos do Estado Islâmico que poderão remodelar a democracia em seu favor.
Outros questionam-se sobre o que acontecerá quando as receitas fiscais diminuírem. Quem pagará os benefícios sociais de que dependem. Outros ainda reconhecem os refugiados como consequência da má política europeia como no caso da Síria e do Iraque mas não estão de acordo em receber refugiados doutras zonas africanas e dos Balcãs.
O mais importante é que os que encontram acolhimento na Europa se devem comprometer com a Constituição e com os princípios que orientam as regras de vida europeias. Todo o receio de uns e outros seria descabido se hospedeiros e hóspedes se deixassem orientar por princípios humanitários. Vítimas de fome, guerras e ideologias chegam até nós na procura de felicidade e nós que de maneira mais ténue nos guerreamos ditando sentenças que substituem as antigas armas, já não em nome de Deus mas dos nossos interesses, dos nossos enfraquecidos valores e da nossa opinião/verdade.
Muitos têm medo do islão mas creio que exageram nas suas prognoses porque a História do futuro não seguirá os mesmos critérios da do passado que se afirmava pela violência, pela espada. O bem-estar adquirido e a formação cultural das pessoas provocarão uma nova consciência e uma nova forma de convívio e de estar que levará as pessoas a ser menos influenciáveis por ideologias sejam elas de caracter religioso ou político.
Mais provável é o que diz o cientista muçulmano Hamed Abdel Samad que prognostica, no livro “Der Untergang der islamischen Welt”, a queda do mundo islâmico e vê nas reacções exasperadas do mundo islâmico o sintoma de uma sociedade a disparar os últimos cartuxos antes de ruir. De facto o que não serve o Homem está condenado a desaparecer e por outro lado a formação ajudará o cidadão a integrar fé e razão e a respeitar a opinião individual de cada qual. O mesmo autor já tinha “profetizado” o êxodo massivo de povos muçulmanos para a Europa.
Haja o que houver, ao sol da economia e da ponderação, o povo tudo solucionará. Vivemos em tempos em que o pensar realista se torna cada vez mais difícil, atendendo à informação pública publicada. Uma Europa ateia e sistematicamente crítica em relação ao cristianismo, com o surgir do islão na Europa, verá reduzida a sua posição secularista em relação às forças religiosas. Poder-se-á dar como que uma vingança da História: um secularismo militante, filho da cristandade, verá diminuída a sua influência por não compreender o fenómeno religioso e os espíritos subjacentes que este fomenta e devido à sua adversidade religiosa em relação ao cristianismo. As sociedades encontram-se doentes e continuam atadas aos males do passado que se renovam no mundo islâmico e aos males da modernidade que culminou, sob a perspectiva europeia, nos socialismos de Estaline e Hitler e num capitalismo avassalador. A sociedade e o ser humano trazem o bem e o mal em si mas vai evoluindo, pouco a pouco. O sol deita-se todas as tardes mas também se levanta todas as manhãs para dar continuidade à vida!
António da Cunha Duarte Justo
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