Criar uma nova Sagres do Espaço lusófono
António Justo
A consciência social, na sua dinâmica de desenvolvimento foi evoluindo da organização de tribo para a estrutura de estado/nação, encontrando-se hoje, no seu flanco mais avançado, na era pós-nacional. Nesta era de mudanças globais rápidas, a nível de supra-estruturas no sentido dum tecto comum, criam-se problemas de aferimentos de identidades culturais não chegando, para os resolver, uma ideologia apelativa ao progresso, ao dinheiro e relações de mercado, como se estes possibilitassem a formação duma plataforma metafísica de identificação comum. A velocidade do desenvolvimento é tão rápida que torna inseguras pessoas, nações e culturas com outro ritmo ou estado de desenvolvimento. Para corrigir o curso geral da sociedade global a caminho da entropia, o espaço lusófono unido teria de tomar medidas de fomento duma consciência de pertença a uma biosfera natural e cultural comum, formada por “ecossistemas” étnicos de convergência numa relação de complementaridade. O biossistema necessita do Sol tal como o “biossistema” lusófono precisará dum ideário/vivência comum. Não é razoável a implementação dum sistema artificial de conexões baseadas no mero intercâmbio mercantil sem se ter em conta o substrato humano de relacionamento alicerçado na dignidade da pessoa humana e consequente comunidade.
Neste sentido, seria óbvio que os países do espaço lusófono (CPLP) se unissem na definição dos pilares dum tecto metafísico comum e para isso começassem por criar um modelo de universidades de expressão conjunta que se tornassem em oficinas mentais de todo o espaço lusófono. Os países da CPLP poderiam criar uma nova escola de Sagres, para si e para o mundo, na continuação do espírito do Infante D. Henriques.
Encontramo-nos num momento histórico de acentuada erosão do sentido de solidariedade, de comunidade e de dignidade humana. A sociedade do mercantilismo liberalista global impõe-se de maneira tão vigorosa que as nações não podem resistir à sua força, sendo levadas na sua avalancha. Isto só serve o grupo restrito dos mais fortes. Com a crise da civilização ocidental – civilização motora da História global desde os descobrimentos portugueses – todo o mundo se encontra em crise. A crise é uma oportunidade, uma situação de gravidez que prepara o momento de dar à luz um novo ser. Trata-se de reconhecer não só os sinais dos tempos mas também as leis da evolução da História.
A mundivisão árabe é dominada sobretudo pelo princípio da subjugação e do medo, o mundo asiático pelo fado individualista/ funcionalista, o mundo cristão, que constituiria a mundivisão mais integral, aberta e humanista, encontra-se numa fase de desnudação da pessoa no sentido do indivíduo, a caminho dum tipo de homem chinês. O significado de pessoa e de comunidade são desvirtuados no sentido do indivíduo e do colectivo. Neste sentido convergem o comunismo materialista, o capitalismo liberal, o islão e uma certa filosofia tradicional asiática. (De referir que capitalismo e comunismo são filhos do cristianismo!)
A China e a Índia, se não se perderem em lutas intestinas, parecem preparar-se para determinar o destino da humanidade. Isto significará uma acentuação da degradação da pessoa para mero indivíduo (cliente e súbdito). Esta era, dum politeísmo oportuno, tem tanta força que ameaça arrastar, no seu movimento, não só nações, mas até uma civilização que pretendia compatibilizar monoteísmo e politeísmo, pessoa e sociedade.
Neste contexto seria a hora de o espaço lusófono tentar salvaguardar o genuíno espírito humanista e social que até a Europa e a América põem em perigo. Num mundo sem tecto metafísico chove por todo o lado, em casa e na sociedade.
O espaço cristão inclui uma visão optimista do mundo, precisando naturalmente duma clivagem como demonstra a sua crise. Os princípios da crise que dele surgiu contêm neles as forças para a sua solução.
Os países lusófonos têm já dado alguns passos no sentido duma maior interligação e co-responsabilização. Uma solução de perspectiva nacional não proporciona uma iniciativa à altura da exigência da época; esta precisa da complementação dum valor maior, um ideal comum a realizar. O Brasil criou a Universidade Federal da Integração Luso-Afro-Brasileira (Unilab) voltada para os países da África. O próximo passo seria a criação duma Universidade Aberta da Lusofonia para todo o espaço lusófono. Esta teria o fim de integração cultural, social, política, económica sob a bandeira da língua e duma mundivisão cristã aberta. O seu sentido seria fomentar uma cultura com uma identidade comum, partido de sinergias já existentes nos países da CPLP mas a ser alargadas a uma nova filosofia e consequente estratégia.
A parceria solidária basear-se-ia no princípio da complementaridade (convénios de cooperação e intercâmbio científico e de pessoal entre universidades, conhecimento e aperfeiçoamento das línguas e culturas locais, aperfeiçoamento artístico e iniciativas no sentido de celebração e vivência da festa comum).
Uma Maneira diferente de estar no Mundo implica uma nova Estratégia ligada a uma Pedagogia diferente
Um projecto político-pedagógico do espaço lusófono terá sempre como ponto fulcral fomentar sinergias integradoras de polos extremos (masculinidade e feminidade). A língua portuguesa / lusofonia é o ponto de ligações e relações cruzadas de indivíduos, tribos, raças, civilizações, culturas e valores reunidos numa atitude diferente perante si e o mundo e numa maneira própria de estar e de ser a nível individual e social no e com o mundo. Neste sentido, ao repensar-se a lusofonia, no âmbito da CPLP, contribuir-se-ia para uma maneira diferente de estar no mundo; aquela maneira de ser que a alma lusa realizou antes nas descobertas e continua hoje a realizar na emigração colaborando para a emancipação integral. Esta maneira der estar diferente (em sociedade e no mundo) interpretá-la-ia deste modo: uma maneira de ser relacional, cum grano salis (com humor).
A religião, a ciência, a política, a economia e a ideologia querem-se na sociedade e na vida apenas como partes complementares e encaradas com espírito de humor. O mesmo se diga quanto à energia masculina e feminina. A acentuação exagerada das forças masculinas (virilidade) na sociedade e na pessoa conduziu-nos ao empasse em que nos encontramos momentaneamente. Seria interessante, neste contexto ocupar-nos, um pouco, com o espírito luso, um espírito mais mãe que pai e que por isso se antecipou nas descobertas e se encontra espalhado em migração pelo mundo. Aquela atitude de alma escondida no coração dos marinheiros portugueses e que seguia nas naus/caravelas para novas paragens, realizava-se na admiração e mistura com as mulheres das novas paragens. Aqueles homens entregavam-se de coração e alma, sem preconceito, nos braços delas, para nelas se perderem, e ressurgirem de novo mais acrescentados no mestiço. Assim não só o Estado cumpria a missão civilizacional de dar novos mundos ao mundo mas também a alma lusa, a nível individual, cumpria o seu destino de se rever criando e dando novos mundos ao mundo, nas novas raças, nas novas maneiras de estar. A alma lusa, um estado hibrido de homem e mulher, reconhece-se bem no mestiço. Nela se junta o indivíduo e o colectivo e nela se esvaem os limites circundantes. A alma lusa não se deixa reduzir à definição. Não faz a distinção clara entre poesia e prosa sabendo-se reunida na prosa poética. Sim, a alma lusa é prosa poética num acontecer de prosa a deslizar na poesia.
A componente civilizacional lusa terá que comportar sempre os diferentes pilares civilizacionais. Ultrapassa barreiras étnicas, culturais e continentais. Em vez de cultivar um ressentimento contra os seus invasores, sabe assimilar o saber das civilizações invasoras guardando delas, na memória colectiva, o saber e tecnologias (dos fenícios, egípcios, gregos, romanos, germanos, mouros…) que lhe passaram pelo território. Por outro lado soube chamar a Sagres, os melhores especialistas da altura em questões de navegação e astronomia. Dos seus antepassados, as tribos lusitanas, soube guardar o mito de que eram pacíficas, mas valentes e bons guerrilheiros quando atacados. Este espírito esteve na base do desenvolvimento do processo de miscigenação rácica e cultural concretizado no milagre brasileiro da miscigenação. Esta componente civilizacional é hoje continuada especialmente por portugueses e brasileiros espalhados pelo mundo. Onde chegam integram-se como outrora os nossos antepassados integraram o que lhe parecia estranho. Daí a sua experiência: “À terra onde fores ter faz como vires fazer”. Assim, sem se imporem, levaram ao mundo, com espírito templário simbolizado nas velas das suas caravelas (“cruz de goles”), a missionação que foi o seu contributo civilizacional europeu para o mundo. Portugal foi precoce ao assumir, outrora, a pesquisa científica e tecnológico como política de Estado. Soube reunir o espírito cristão (convergência da fé de Israel, filosofia grega e jurisprudência romana) ao saber tecnológico colocado como tarefa e missão de Estado. Já no início da lusitanidade, a corte atraia a si os sábios e técnicos do mundo, dando-lhes trabalho; Esta tradição tem exemplo já no próprio D. Dinis que se rodeava de literatos doutras regiões. Por outro lado, a tolerância portuguesa atraia também cientistas judeus perseguidos na Espanha. Numa estratégia de afirmação complementar soube integrar o espírito tribal lusitano, godo, judaico latino e árabe, tornando-o património do português e da nação, não se afirmando pela diferença mas pela integração. Esta via constituiu a diferença lusa na sua maneira de estar no mundo. Quem hoje teria melhores condições para liderar um tal projecto de lusofonia seria, certamente, o Brasil.
Universidade da Lusofonia para a Integração do Espaço lusófono
Uma Universidade da Lusofonia para a Integração lusófona tornar-se-ia na Interface das diferentes culturas dos países da CPLP.
Nesta universidade deveriam privilegiar-se cursos de mais-valia na promoção duma identidade do espaço lusófono. Promoção do estudo da história e da sociologia/antropologia dos diferentes biótopos culturais sob um ponto de vista hermenêutico e fenomenológico (sinopses comparativas e sinergéticas). Os cursos a ministrar deveriam abranger áreas de interesse mútuo e direccionados para o fomento duma consciência comum: gestão, Administração (formação de quadros), Economia, História, Literatura, Arte, Teologia, Educação, Cultura, Relações Exteriores e Espaço lusófono, fenomenologia das suas mitologias, arqueologia, etc.
Um curso de hermenêutica das diferentes culturas e subculturas seria muito importante para se cristalizarem constantes de identificação. Curso sobre os mitos base das nossas culturas e estudo comparativo entre elas sobre modelos, atitudes e níveis de valores morais.
Isto promoveria, no espaço lusófono, o espírito positivo e o sentido de pertença e de vida como povo; sem sentido de vida, não se pode ter auto-estima, nem verdadeira autonomia nem rumo. O sentimento de inferioridade e o medo são a doença que leva a construir muros fortes mas que extinguem a liberdade, da qual surge o espírito criativo. Como exemplo de consistência (não de vida) podemos ter o mundo islâmico que se define não pelo específico das nações mas pelo código religioso e moral. (Naturalmente que este é um exemplo de prática antagónico ao espírito luso que se define a partir da base e da terra e não a partir de cima, como são, exemplo extremo, o sistema muçulmano e o sistema comunista da Coreia do Norte e da China. Deles só podemos aprender que a união faz a força.)
Uma Universidade Virtual da Lusofonia
Uma outra via passaria pela criação duma Universidade Virtual da Lusofonia em parceria (da CPLP) onde professores das diferentes universidades do mundo lusófono, através da internet, poderiam começar por ministrar disciplinas gratuitamente (“por amor à camisola”, como se diz no mundo do futebol) ou orientassem cursos. Criar-se-ia uma espécie de universidade popular de alto nível onde professores e estudantes online frequentassem, intercomunicassem e se pudesse credenciar os estudos feitos. Isto seria tecnicamente possível e concorreria para a democratização dum ensino de alto nível (um tipo de ensino mais maternal e menos masculino). Como exemplo de funcionamento, a nível de professores e de alunos, a Universidade Virtual da Lusofonia poderia orientar-se pela iniciativa do Professor Dr. Sebastian Thrun, um projecto fantástico, que se serve de Vídeo-conferências, foros, chat, etc.
O nosso caminho faz-se a caminhar, no espírito da orto-praxia da velha escola de Sagres. O caminho feito pode tornar-se num impulso para melhor se descobrir a própria singularidade e para, no sentido da lusitanidade, cheguemos onde chegarmos, realizarmos a missão individual e comum de transformar o “Cabo das tormentas” em “Cabo da boa esperança”.
António da Cunha Duarte Justo
antoniocunhajusto@googlemail.com
WWW.antonio-justo.eu
PS. Este artigo foi feito na continuação de artigos concebidos sob o tema “Repensar Portugal / Recriar o Ocidente – Activar a Lusofonia”. Tenciono elaborar outros e publicá-los todos numa monografia em livro.
Brasil – País em Ascensão assume Modelos decadentes
Facilitismo ocidental é mau Exemplo para Países no Vigor da sua Juventude
António Justo
“É proibido proibir”,” tudo é relativo!”, “quem manda nos substratos inferiores é a opinião”! Defendem os novos profetas da política, da psicologia e da sociologia, oriundos de povos desenvolvidos mas já virados para o pôr-do-sol da civilização. Nações jovens deixam-se combalir por ideias e práticas de declínio, válidas talvez para civilizações decadentes mas não para nações ou culturas ascendentes à tribuna do desenvolvimento…
Uma rede de elites, a nível internacional, une-se para, do alto do seu mirante, ditar as suas sentenças e impedir o desenvolvimento dos biótopos culturais, tal como fez, na paisagem, uma economia que devastou as florestas naturais. Ao colonialismo económico parece seguir-se o colonialismo cultural. Este parte de areais cerebrais aparentemente anónimos e ávidos de poder! As nações abdicam de si mesmas para estarem atentas aos deuses do Olimpo no seu arrastar das cadeiras. Aqui troveja o deus da sociologia, acolá pontifica o deus da moda, mais além ribomba um deus da universidade com outros deuses da jerarquia. E ao povo, mesmo culto, resta-lhes levantar a cabeça e cacarejar como habitantes dum galinheiro.
Enquanto nações culturalmente conscientes se preocupam em fomentar a qualidade do ensino, observa-se, em certas nações, a tentação de educar para o facilitismo. Em nome duma socialização do ensino, baixam-se os critérios de qualidade e as exigências na maioria dos estabelecimentos de ensino estatal. Por outro lado as classes dominantes, conscientes da importância da qualidade do ensino ministrado inscrevem seus filhos em escolas de qualidade (longe das favelas) ou no ensino privado, vocacionado para a qualidade.
Uma ideologia da igualdade momentânea exige: todo o aluno tem de passar de ano automaticamente, num sistema de ensino indiferenciado. Isto é fraude às classes sociais precárias e menos atentas. Estas só descobrem o dolo e o tempo perdido ao chegarem ao mercado de trabalho.
A Divisão do País começa com a Divisão da Língua!
O MEC (Ministério da Educação e Cultura do Brasil) distribuiu um livro por 4.236 escolas para quase meio milhão de alunos que estabiliza barbaridades do discurso popular falado, como estas: “Os livro ilustrado mais interessante estão emprestado”, “Você pode estar se perguntando: “Mas eu posso falar os livro?”, “nós vai”. Naturalmente que é dever da escola pegar no aluno, com respeito por ele, no estádio onde se encontra, independentemente do nível da linguagem, mais ou menos adequada, por ele usada. É natural que na perspectiva do meio popular a criança ao dizer “nós vai „não comete erro porque seguia o padrão social ambiental. Onde não há ciência não se pode culpar a consciência.
Apesar dos reparos ao livro distribuído, por cientistas da língua, para o MEC, ele corresponde aos PCNs (Parâmetros Curriculares Nacionais) –normas a serem seguidas por todas as escolas e livros didácticos. O MEC argumenta: “A escola precisa livrar-se de alguns mitos: o de que existe uma única forma ‘certa’ de falar, a que parece com a escrita; e o de que a escrita é o espelho da fala”, afirma o texto dos PCNs.
O MEC parece considerar o ensino um acto colonizador sentindo-se mais propenso a incrementar um analfabetismo funcional. A eterna questão entre educar e instruir!
A escola não pode querer a bagunça da língua nem pode esgotar-se no combate ao “preconceito linguístico”. A vida social, com as injustiças sociais a ela inerentes, só se melhora ajudando os alunos a estarem preparados para enfrentarem a vida social e profissional com dignidade. A fonte do “preconceito” está na injustiça da desigualdade de oportunidades e esta começa pela língua. Quem vai para a escola acredita na ascensão social. Também é natural que qualquer variedade da língua se adequa a uma situação. O aluno deve ser especialmente preparado para se desembaraçar nas situações mais exigentes. A má consciência duma sociedade que discrimina à nascença não remedia a situação recorrendo apenas a eufemismos de linguagem. Apenas se desobriga sociológica e psicologicamente. Facto é que o emprego duma linguagem inadequada pode constituir um erro para a vida pretendida.
Sem esforço não se avança. A água não sobe pelos rios. Para subir tem de se “espiritualizar” em vapor. O mesmo se diga duma pessoa, dum povo ou duma cultura. Criar a impressão que o progresso se alcança sem disciplina (regras gerais), sem vontade de subir, sem liberdade criativa é discriminar pela negativa. Para baixo anda a chuva! Pensar faz doer, o ensino pressupõe uma pedagogia desadaptada da sociedade dominante. Doutro modo como aprenderão os alunos, em tempo útil, a “levar a água ao seu moinho”?
Para andarmos na estrada precisamos de regras (código ou regras de trânsito); para circularmos na sociedade precisamos de conhecer as regras da língua (a gramática). Doutro modo passaremos a vida a andar por carreiros ou por estradas camarárias sem termos a possibilidade de entrar nas auto-estradas da vida social.
As elites hodiernas, sem conteúdos nem ideias humanos, optam pelo simplismo. Para oferecerem aos distraídos da vida têm sexo, diversão e opinião! Isto é de graça para todos; o poder e o melhor pão, esses são para os que se empenharam na sua formação.
No mundo da opinião toda a gente tem razão. Só que a língua é anterior à filosofia e para se” ter razão” não chega a opinião, é precisa a razão que advém da sua fundamentação. No mundo do dogma da verdade da opinião preparam-se as pessoas a ter opinião sem razão e assim a aceitarem a opinião sem destrinça. Nisto está interessado um globalismo que pretende reservar para poucos a capacidade de pensar e vê na formação séria da maioria um impedimento às suas arbitrariedades. Manter um povo na incapacidade de se expressar é o melhor pressuposto para uma ditadura consistente e para impedir a concorrência de possíveis competidores treinados.
A defesa e empenhamento pelo proletariado não podem abdicar da qualidade; não chega o „para quem é, bacalhau basta”.
O Homem define-se e desenvolve-se pela Língua
Na capacidade de diferenciações dentro duma língua, podemos observar a maior ou menor capacidade de expressão dum povo. Ela é como que a sua matriz e dá testemunho do seu maior ou menor grau de desenvolvimento intelectual.
A língua é ao mesmo tempo a minha casa e a minha Ágora. Ela é não só abrigo mas também expressão de relação. Para se abrigar, tanto chega uma palhota, uma favela, como um palácio. Como vivemos num mundo do “homo homini lupus” temos porém que preparar o aluno/a com instrumentos adequados. Antigamente dizia-se: “pela aragem se vê quem vai na carruagem”.
Um espírito decadente e uma proletarização da cultura estão cada vez mais na moda.
Quem defende a proletarização da língua, ao orientar-se por um padrão minimalista e miserabilista, atraiçoa o interesse do proletariado. Este tem de exercitar o seu intelecto e aprender formas mais complicadas de entender uma realidade complexa. A cúpula da pirâmide não desce à base proletária; esta é que tem de se preparar e consciencializar da subida. “Para cima só os anjos ajudam; para baixo todos os diabos empurram!”
Em geral reconhece-se que a matemática e o latim são grandes meios auxiliares de estruturação do cérebro e do pensamento.
O ensino sério duma gramática coerente é certamente o primeiro instrumento de organização e ordenação mental que não deve ser recusado ao povo, seja ele o mais pobre e alheio à cultura oficial! Regras não inibem a criatividade. São pelo contrário o seu pressuposto. A criatividade ordena o caos. Pressupõe inteligência e esforço!
Países que ainda não atingiram o apogeu do seu desenvolvimento não se devem deixar orientar pelo relativismo decadente vigente nos povos ocidentais interessados em não caírem sozinhos.
Um país como o Brasil, para assumir a liderança do continente sul-americano tem que arrogar-se responsabilidade apostando sobretudo na formação do povo. O relativismo decadente assumido em política de língua pode ser um sinal de que o Brasil não se quer preparar para assumir tal posição! O país não se pode perder em repetir experiências de povos decadentes. Deve ter a coragem de errar por si para aprender; tem de crer para poder!
Resta muito por fazer. Desenvolver a criatividade no sentido da lusofonia.
” Mesmo o mais corajoso entre nós só raramente tem coragem para aquilo que ele realmente conhece”, Nietzsche (citado em JORNAL DE OLEIROS).
Boa noite Brasil!
António da Cunha Duarte Justo
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