ANIVERSÁRIO DA QUEDA DO MURO DE BERLIM


O Botão da Liberdade brotará sempre de novo
António Justo
Faz 20 anos que o muro da vergonha, que separava a Alemanha Ocidental (BRD) da Alemanha Oriental (DDR), caiu. Depois de várias odisseias e tragédias com os cidadãos da DDR, a 9 de Novembro de 1989 o Comité político do Regime Socialista da DDR, exausto, anunciou a abertura da fronteira. A tampa comunista, que tapava a caldeira do sistema, rebenta, iniciando-se ondas de reacções em catadupa. A resistência que se tinha formado em torno das igrejas e apoiada pela BRD vence finalmente sob o slogan “Alemanha Pátria Unida”. Na Alemanha Federal o objectivo da união tinha-se mantido de forma declarada nos partidos cristãos CDU E CSU.

Um sistema de pobres para pobres não pode aguentar o desenvolvimento do cidadão. Finalmente este ganha: “Nós somos a Alemanha!”

A partir da abertura da fronteira as demonstrações escalam de tal maneira que, em pouco tempo, provocam a união das duas Alemanhas na Alemanha Federal Alemã. Mais precisamente: a Alemanha Ocidental absorve a Alemanha oriental que se tinha tornado seu filho pródigo. A democracia social vence o socialismo!

A 18 de Março de 1990 dão-se as primeiras eleições livres na Alemanha socialista. Nelas vence o partido da CDU (União de Cristãos Democratas). A 1 de Julho dá-se a união monetária passando a haver apenas o Marco Alemão da Alemanha Ocidental. A 23 de Agosto de 1990 a Câmara Popular da Alemanha Oriental decidiu a adesão à Alemanha Federal. A 31 de Agosto é assinado o tratado da união entre os políticos dos dois Estados. A 1 de Outubro os países aliados da NATO reconhecem a soberania alemã.

As datas e os acontecimentos sucedem-se como que em competição. Helmut Kohl, “o chanceler da unidade” esteve à altura da diplomacia necessária para tão grande obra. Isto só de alemães!

Estes, para tornarem a unidade efectiva criaram um imposto suplementar novo, o “imposto da solidariedade” que corresponde a 5% dos impostos que cada cidadão paga e é transferido para investimentos nas regiões correspondentes à Alemanha de Leste. Esta, apesar dos biliões que continuamente se transferem, ainda não conseguiu atingir o nível económico da antiga Alemanha Ocidental. O buraco socialista não só se faz sentir no buraco económico como no buraco moral trazido. Isto apesar do sistema de jardins infantis, de escolas e de saúde da extinta DDR terem atingido alto nível no sistema socialista! A região actual correspondente à antiga Alemanha de Leste (DDR) ainda se encontra cerca de 20% em atraso em relação à do Ocidente (RFA).

Uma sociedade de cidadãos alemães sofreu muito sob a imoralidade institucional dum Estado injusto. Na antiga DDR (Alemanha democrática), aquando da divisão, foram extintos os tribunais administrativos, não precisando as decisões administrativas de ser fundamentadas; a justiça fora politicamente instrumentalizada e partidizada como é boa prática socialista: o Poder tem sempre prioridade perante o Direito. Como é costume em ditaduras e também em democracias, as massas não pensam, subjugando-se normalmente ao Poder. Por isso se compreende que apenas se tenha manifestado resistência pública a 17 de Junho de 1953 e finalmente em 1989. Parte do povo não sente os aguilhões do Estado, tal como nas sociedades democráticas. O cão que se mantém dentro da casota ou que dorme não sente a corrente que o prende!

A Alemanha apesar de unida ainda não conseguiu superar o trauma da sua divisão. Actualmente, também em consequência do turbo-capitalismo, a esquerda radical sente uma certa brisa a seu favor, o que se registou especialmente na parte da república correspondente à antiga DDR. Não é irrelevante o facto de alguns votantes de centro-direita usarem o voto socialista como chicote, numa tentativa de levar o boi do capitalismo ao rego da democracia social e cristã.

Apesar da consciência vigente na Alemanha de que o antigo sistema da DDR era um “Estado injusto” manifesta-se em alguns cidadãos uma espécie de nostalgia branqueadora do passado. Muitos contribuintes alemães da parte ocidental não conseguem engolir tal atitude, depois de terem dispendido tanto e continuarem a contribuir tanta para os alemães do outro lado!

Entretanto, o que para uns é um Estado injusto pode para outros ser um Estado desejável. Não há uma opinião verdadeira e outra falsa! O direito de avaliar é livre.

Na verdade não há critérios seguros de avaliação que possibilitem uma comparação da injustiça praticada num Estado de Direito com a injustiça praticada num Estado ditatorial, porque neste a injustiça não pode ser atenuada pela opinião púbica, visto neste não haver liberdade de imprensa. Por outro lado, nos Estado de Direito publicam-se todos os males existentes, o que pode levar os cidadãos das ditaduras a pensar que nos seus estados há menos violência. Na Alemanha socialista não eram publicadas as condenações à morte do sistema, os assassínios sexuais e muitos outras faltas menos exemplares que o aparelho político censurava, o que poderá levar antigos cidadãos desta a julgar a Alemanha Ocidental injustamente por se fixarem apenas nos seus males, atendendo a uma informação demasiadamente fixada no negativo. Cada sistema tem os seus vícios mas o democrático é o menos injusto de todos, pelo que se pode confirmar pela experiência e pelos valores defendidos. Não pode haver comparações aproximadas entre sistemas de carácter qualitativo tão diferentes. As injustiças, intimidações e os medos e a quantidade de pessoas espias ao serviço da DDR reduzem uma PIDE portuguesa à insignificância! Todos os regimes são inclinados ao contolo exagerado de seus cidadãos. Isto pressupõe um cidadão sempre atento e crítico!

A Dignidade humana é um valor maior a defender por todo o Estado justo. Na república socialista o Estado está acima do indivíduo sendo este apenas seu instrumento e não o seu fim.

António da Cunha Duarte Justo
antoniocunhajusto@googlemail.com
http://antonio-justo.blogspot.com/

CAIM E ABEL – DUAS FACES DA MESMA REALIDADE

António Justo
Nasci berrando, cresci falando para morrer gritando. Pela palavra me torno e por ela me transformo!

Obrigado José! Obrigado Saramago, pela discussão que provocaste. Num mundo extremamente contraditório e dialéctico, por mais que se afirmem as teses e as antíteses nunca se chegará à síntese, ou não fôssemos nós seres humanos e não fosse a vida processo!

No meio da refrega constato um facto: quer ateus quer teistas precisam de Deus para se definirem.

Encontramo-nos todos sobre o mesmo tapete ao serviço da vida! Por vezes, alguns, em confronto com um mundo feito de injustiças, projectam as suas frustrações e desilusões num Deus mudo e inexistente enquanto que outros, irmãos na desilusão, não se conformam com a realidade do presente projectando-a numa realidade futura. Ambas as posições não se encontram à altura do pensar bíblico. Ambos fogem de si mesmos e da realidade envolvente! Em vez de encararmos a realidade e a transformarmos atiramos tiros para o ar e guerreamo-nos, tal como no caso de Caim.

Caim e Abel são duas faces da mesma medalha que é cada um de nós!

O problema é que ateus e teistas virem em militantes, dado seu credo se tornar parte da própria identidade expressa, sem a perspectiva do outro! Por outro lado quem cala não conta.

Infelizmente cada qual defende apenas o reino dos seus interesses não havendo espaço para uma cultura de pensar justo! A perspectiva de Caim terá de integrar nela a perspectiva de Abel e Abel terá de reconhecer nele a perspectiva de Caim. Querer ter a razão final é tornar-se só Caim.

Todos os crentes, quer creiam em Deus ou não, não conseguem abdicar da sua crença ateia ou religiosa em processo. Problema se tornaria se a uma tese apresentada por Saramago não fosse possível a antítese duma dialéctica construtiva interessada numa síntese muito embora passageira! Problema é também o facto do senhor Saramago ter apresentado a sua compreensão da Bíblia como se esta fosse a compreensão por excelência, atitude a que nem o Vaticano se atreve!

É natural que cristãos e judeus possam reagir e tentar explicar outras maneiras de compreender os 73 livros da Bíblia. Assim seria lógica e aceitável a tentativa destes por explicar outras leituras da Bíblia numa dialéctica que lhe é própria. Era necessário compreender que na Bíblia e especificamente na história de Caim e Abel, se encontra documentada a dialéctica entre a cultura pastoril e a cultura sedentária, entre a cultura do campo e a das cidades, que hoje como ontem é bem actual, tal como outrora em Caim e Abel. Como sempre, na luta entre a província e a cidade há interesses muito concretos a defender. Veja-se a afirmação macrocefálica da capital contra o regionalismo…

Saramago tal como Caim não aceita a mundivisão do seu irmão Abel. A imagem de Deus que Saramago ataca é naturalmente a sua. Querer reduzir a realidade bíblica a infantilismos e cai na contradição de negar Deus e ao mesmo tempo o responsabilizar pelo mal dando-lhe o atributo de “filho da puta”, como se vê em Saramago página 82 do seu livro.

Este mimo e outros queriam provocar relação, e naturalmente quem reage é logo apelidado de reaccionário. Quem ele quer atingir não será naturalmente Deus mas os filhos do tal “filho da p.” que, muito naturalmente, não serão melhores que o seu Deus a destruir!

Que em cada cultura, nos antagonismos que lhe são próprios e até benéficos, esteja presente Caim e Abel em disputa, é muito natural e benéfico, o problema é não nos darmos conta de que somos os dois na mesma pessoa e não notarmos o papel que representamos em cada momento em que falamos ou agimos (Caim ou Abel)! Quem mata Abel torna-se assino de si mesmo tal como quem mata Caim, dado os dois serem o reverso de si mesmo e das sociedades.

Naturalmente que quem vai à missa de Saramago não goste de outras missas e vice-versa. Desumano seria se não nos respeitássemos uns aos outros, conscientes de que todos andamos encostados a algo que não queremos reconhecer… É a nossa liberdade de escravos, mas esta escravidão pode tornar-se libertadora!

Ao fogo do inferno sucede-se o fogo das palavras e dos próprios interesses. A agressão é também uma maneira de libertar a consciência, como nos ensina Caim! A continuarmos assim não haverá infernos para uns e paraísos para outros, mas sim, democraticamente, inferno para todos! Salvem-se os nossos maiorais, os nossos Belzebuses, porque esses gozam de imunidade!

Quem faz a guerra não pode lavar-se nas águas da inocência.

Naturalmente que Saramago sabia muito bem que quem ataca não é vingativo, vingativo tornam-se os outros. A divindade Nobel ofendida exige o louvor aos seus devotos. No fim há muita beatice ateia e crente ao serviço dos respectivos dogmatismos e da própria seriedade.

Um outro facto: A grandeza dos que se distinguem precisa da pequenez dos que os fazem!…

De lamentar seria que se formassem grupos incompatíveis, dum lado súbditos ateístas, e, do outro, súbditos teístas: uns contra os outros na defesa da própria devoção.

Quem diz o que quer ouve o que não quer…. Importante é que todos são pessoas honradas, muito embora assumindo umas vezes o papel de Caim outras o de Abel!

António da Cunha Duarte Justo
antoniocunhajusto@googlemail.com

José Saramago: Um Fundamentalista?

Modo de Pensar em Curto-circuito

António justo
Definimo-nos pela fala, por isso não nos podemos calar! Pela fala nos tornamos na procura dum tu que nos leva a nós. Pela fala nos formamos e pela fala queremos provar a nossa existência. Diria mesmo, somos conversa; por vezes conversa fiada. Nesta deixamos de nos tornar veículo e conteúdo para nos reduzirmos a veículo apenas!

Na sequência dum artigo que escrevi sobre Saramago, entre outros e-mails que recebi, um dizia: “Gostei de ver Camões como bombeiro deste fogo da maldade! Afinal o fogo do amor camoniano a combater o outro! Não escreva mais sobre este “gajo” que os suecos usaram como os franceses usaram Linda de Suza, para estigmatizarem Portugal e os Portugueses em flashes imagéticos opostos ao que nós somos! Está ao nível da Maitê Proença.” Fim da citação.

Como dizia a princípio, embora em contexto, definimo-nos pelo texto e através dele nos desenvolvemos. É fácil perder-se no contexto sem chegar ao texto. Se não fosse o texto bíblico e as suas afirmações e contradições não nos encontraríamos tão adiantados civilizacionalmente. Somos veículo e veiculados do mesmo mistério que a Bíblia procura abordar. Por isso escrevo mais sobre o assunto. Se não fossem as discussões e a vontade de encontrar a verdade, que tem sempre, além da face oculta, a tua e a minha versão, então não passaríamos da cepa torta; permaneceríamos de rosto voltado para a sombra. A controvérsia, se for honesta e sincera leva à luz daqueles que ainda se encontram de pé, a caminho, e ainda não morreram para si e para a vida, ao contrário daqueles que permanecem pelo caminho na sombra da rotina e dum progresso balofo, enquistados na auto-suficiência e no dogma da própria opinião.

Naturalmente que Portugal é universal e tem lugar para todos os antagonismos e a discussão pode gerar a luz. O problema está na tesoura que se traz na cabeça e censura tudo o que não corresponda à própria opinião e aos próprios interesses.

A falta de formação e de vontade de saber simplificam o trabalho incendiário de quem abusa da ingenuidade. Saramago, na sua maneira como interpreta a Bíblia dá a impressão de ser um fundamentalista. O fundamentalismo religioso e ideológico alimenta-se da mesma manjedoura dos adamastores do medo, do infantilismo e do interesse abusivo. Ele desconhece que a Bíblia também é a biografia dum povo e duma pessoa, descritas com as melhores metáforas e imagens protótipos do Homem e da sociedade.

Camões em Os Lusíadas descreve a acção e a herança cultural do povo lusitano. Os autores bíblicos, à luz de Deus, descrevem, no Antigo Testamento, a acção do Homem em relação com o Outro, com Deus que lhe dá forma.

A “Ilha dos Amores” de Os Lusíadas certamente que não será aproveitada por Saramago para difamar os portugueses como imorais. Nas descrições Bíblicas encontra-se a vontade do povo mais relevante de toda a História, o povo judeu, que na discussão com o seu Deus consegue afirmar a sua identidade como povo contra o tribalismo circundante, contribuindo, de forma eminente para o desenvolvimento da humanidade. Nos seus mitos e na imagem do seu Deus se revela a sua grande personalidade e vontade de ser. Com o seu Deus, que lhe dá identidade, “o povo eleito” não submergirá na História como outros submergiram.

Quem faz guerra”dá e leva”. José Saramago sabe bem atear fogos. A melhor resposta ao fogo da maldade será o esclarecimento, a formação cultural. Na escuridão da desinformação, da ignorância e do egoísmo, até os pirilampos se tornam grandes luzeiros. Precisamos é de mais promotores do amor, do amor jesuino e do amor camoniano. Só este fogo purifica e desenvolve! Então todos nós nos transformaremos em pirilampos a iluminar a terra e não a viver da treva!

Então deixaremos de ser os “cruzados” de hoje que vão ao caixote das mazelas da História buscar o fogo para novos incêndios. As achas colocadas nas fogueiras por aí ateadas são da mesma natureza das fogueiras medievais: as achas da ignorância e das ideologias.

O autodidacta Saramago revela grandes défices culturais a nível de saber científico. Não deixa porém de ter a sua importância em certos aspectos literários e de ocupar um papel relevante de identificação para os seus fiéis correligionários e para pessoal miúdo que necessita de vedetas para se galardoar e sentir grande. Cada um tem direito à felicidade à sua medida e no seu biotopo próprio. O conjunto dos diversos biotopos é que tornará belo o “jardim à beira mar plantado.” Saramago parece ser beneficiado pelas tágides das letras mas, apesar da sua idade, o espírito da sabedoria parece ser recalcado pelo espírito adolescente!

Ao afirmar que a Bíblia é “um manual de maus costumes” queria reduzi-la a um livro de ética justificadora da sua ideologia! Saramago usa a guerra tal como o povo judaico se serviu da dialéctica na procura da sua identidade como pessoa e como povo. Ele quer afirmar a vulgata marxista materialista à custa da vulgata judaico -cristã. Procura fora o que deveria encontrar dentro.

A Bíblia é um universo de mundos, encontrando-se nela lugar para as diferentes constelações e concepções de vida. Na Bíblia se encontra a base da filosofia e da cultura que produziu esta realidade que é a civilização ocidental. Quem não entendeu isto desconhece o valor da religião e da filosofia que são nosso berço e mãe. Saramago comunga da douta ignorância oportuna posta ao serviço dum socialismo e republicanismo ultrapassados que, apesar de tudo, mereceriam muito mais qualidade e seriedade, na estratégia da sua promoção! O seu internacionalismo não pode afirmar-se à custa da difamação e de malentendidos sobre o nosso legado cultural, a não ser que nos tenhamos tornado masoquistas e interessados na decadência e queda da nossa civilização! Não há que destruir, mas sim renovar e remodelar! O legado judaico – cristão sintetiizou nele o saber doutras culturas e levou o Homem a não mais andar curvado à obediência do conveniente e possibilitou o levantar-se mesmo contra um deus da subserviência. O Deus biblico é libertador, como se pode ver no seu fruto, a civilização ocidental, que apesar das suas contradições mantem, por baixo do borralho das suas cinzas, o fogo do amor, a lei das leis! Infelizmente um certo meio ideológico só parece comprazer-se nos odores do esterco da História da Igreja católica, como se esta só constasse da casa de banho! Torna-se suspeito quem caça moscas com tais odores!… Precisa-se é da vontade de saber , de formação humana e de crítica construtiva que viva bem com a farinha do seu moinho sem desviar nem sujar a água dos moinhos dos outros!

A discussão é necessária porque muitos não usam a própria cabeça para pensar e se instruir, preferindo encostar-se a um pequeno ídolo nobilitado pelo prémio Nobel ou a uma opinião indiscutível. Os seus ataques desqualificados revelam a arrogância do poder instalado consciente de que “para quem é bacalhau basta”! Naturalmente que todos nós temos em nós algo da natureza saramago, independentemente de nos chamarmos Saramagos ou Antónios!

O saber bíblico é personalizador, apostando na dignidade humana e nos direitos dos humanos e dos seres em geral, apelando consequentemente para a desobediência à banalidade do meramente factual e do pensar correcto, rebelando-se contra autoridades meramente exteriores, não favorecendo, por isso, as ideias peregrinas dos santuários das autoridades e das ideologias. Se para alguns parece ser suficiente e consolador o cheiro das ideologias para outros, para os conscientes da História e da Humanidade não!

Cada época tem a sua luz e as suas sombras. Cada argumentação também. Hoje procura reduzir-se tudo a mercado e submeter-se tudo às leis da concorrência. O nosso pensar de hoje, forjado pelo modelo económico é tão precário como o modelo de pensamento de épocas passadas que arrogantemente criticamos. Tornamo-nos prisioneiros do próprio discurso no labirinto da dialéctica. O pensar bíblico ajudar-nos-ia a complementá-lo e a deixar de viver em curto-circuito. Este novo pensar em termos cristãos poderíamos dominá-lo de pensar trinitário que é na sua essência complementar integral e não antagónico como o binário (dialético) seguido do certo e errado, um pensar em contínuo curto-circuito! Naturalmente que a aguilhada da dialética se revela como uma boa estratégia de desenvolvimento, pelo menos à tona da realidade!

Deus é mais que o que possamos dizer dele pela positiva e pela negativa e a religião é mais que o milagre. A bíblia é mais que poesia e que um livro de moral. Ela é vivência, é caminho e vida.

Deus não submete o povo a provações nem exige fidelidade e obediência externa. Ele é o mais interior do Homem, a sua ipseidade, o seu selbst, a sua própria possibilidade. De resto o nosso falar de Deus não passa dum falar do Homem e de nós mesmos.
© António da Cunha Duarte Justo
antoniocunhajusto@googlemail.com