Dos Senhores Livres com Trela democrática
A Democracia é um processo em desenvolvimento nunca acabado num Estado onde grupos de interesses se unem e combatem. Estes servem-se do sistema democrático que em nome do povo os legitima. Nele, os políticos acham-se com razão em servir-se do povo por este precisar deles. A crença pode muito e serve muitos! O socialismo chama-lhe ópio, hoje será partido, será governo, também é socialismo!
A Democracia pressupõe uma consciência adulta, uma relação equilibrada entre Estado e Povo, entre dirigentes e dirigidos e das classes sociais entre si.
A doença individualista lusitana é republicanamente crónica! Não tem lugar para o outro. O Povo não conhece o Estado nem este conhece o Povo. Todos se servem ou procuram servir-se. Um Nação de necessitados e comprometidos onde todos andam armados em carapaus de corrida. Só vale a opinião, a revolução parece ter prescindido da lógica e ter inaugurado a era do pós-fático.
O individualismo é de tal modo míope que só chega a atingir o alcance dos próprios passos, ou, quando muito, os da “família”. Não existe a colectividade! Dado toda a nação sofrer do mesmo mal, tem-se grande compreensão pelos oportunos governantes. Também estes são filhos envergonhados duma mãe povo, a quem consideram prostituta. Cada uma se safa como pode. Quem se safa com o colchão ao lado da estrada, ou com o colchão do Estado tem um destino comum e comunga do mesmo espírito: a oportunidade!
De facto, há eleições mas não há diferença na governação. Os eleitos procuram aproveitar o tempo do seu estado de graça para se servirem e ajudarem alguns amigos, também eles à cuca duma oportunidade. Trabalho sério, bem preparado e programado não é moderno e destoa na música do progresso. O óbvio é o fácil e leve, o rentável imediato.
A administração continua a empatar a Nação e a fazer perder tempo a quem quer trabalhar ou quem deseja cumprir as leis. Anacrónica mas convencida sente-se omnisciente; para sobreviver basta-lhe saber “o chefe disse” e… pronto!
A grande pobreza do País está na deficiência cultural, de que uns poucos vivem bem; o grande contra democrático é a carência do Estado-Direito.
Despachos e decretos criam subsídios de milhões. Porém, quando o inocente cidadão concorre ao subsídio já não há verba. Depois sabe-se, ela foi aplicada na totalidade no apoio dum beneficiado do ministério. Os moinhos da burocracia, geralmente morosos, então funcionam rapidamente, mas não a bem da nação e menos ainda a bem do povo. Há despachos a mais para despachar e legalizar ilegalidades ou compadrios…
Todos se queixam. Queixam-se os políticos dum povo estúpido e indiferente; queixam-se os ministros e secretários de Estado de publicarem Decretos a sua administração arcaica não os cumprir. Viram-se então para as novas tecnologias mas estas são feitas para um povo ainda a criar. Refugiam-se no fomento dum mundo virtual que prima pelo modernismo e pela satisfação das estatísticas altas no uso de aparelhos mais sofisticados. Ninguém se preocupa que a gente não compreenda as indicações técnicas nem a letra miúda. O governo decreta progresso e toca a flauta do modernismo; a massa embora desafinada e fora de ritmo canta e dança. Progresso é movimento e movimento é progresso, o resto é conversa! Viva a democracia e os seus tocadores! Aproveitemo-nos da festa da democracia enquanto ela dura; depois Deus dará! Resta a consolação. Casa em que falta o pão todos se queixam e ninguém tem razão, dizem os acomodados no canto com o seu naco de pão!
Um País Adiado
O País encontra-se em situação de adiado. Se vais ao Hospital e tens lá alguém conhecido és atendido; doutro modo vais para a bicha sem fim.
Se tens um conhecido na Câmara Municipal é resolvido o teu problema ou és lá metido. A instituição ainda não conhece o cidadão. Conhece sobretudo compadres, amigos e filiados no partido.
Vai-se à Caixa Geral de Aposentações e, mesmo antes de se expor o problema, logo a senhora no guiché 8 te fala de impossibilidades como se te conhecessem e tivessem a lei e o governo na barriga.
Portugal é um país avançado; tem leis avançadas e até livros de reclamações. Esqueceu-se porém de criar estruturas sociais e cívicas que possibilitem ao povo a capacidade de os usar. Portugal pretende ser Lisboa, para inglês ver, o resto, verbo-de-encher!
Faz-se um requerimento ao secretário de Estado pedindo fundamentação jurídica pelo não cumprimento duma lei por parte da Tutela e logo se recebe resposta cabal: “o senhor secretário indeferiu através de despacho” e pronto!… Assim se despacham a lei e as pessoas neste país virtual!
Neste país de telenovelas e de futebol, também na vida particular não se está muito disposto a ouvir o outro. Se se ouve um pouco é para o interromper e logo o abafar.
Será que o mundo está na mão de oportunistas. Isto está mesmo mal para muita gente; antigamente ainda se podia dizer “valha-nos Deus”; hoje só o Diabo parece ter crédito.
Entre os ricos e os pobres que temos e somos, somos pobres com pobres à frente das freguesias, das Câmaras, dos Parlamentos e dos Governos.
Pobreza cria pobreza! Para que serve a riqueza no criticar? Os cínicos já servidos e que bem entendem dirão: para ajudar a enganar!
Valerá ainda a pena mexer as ideias e as pessoas?
Do pouco que ouvi ao PM Sócrates, nas férias que acabo de passar em Portugal, fiquei com a impressão de que ele é o ópio do povo. Neste país o dom da palavra é tudo. O sonho e a ilusão ainda acalmam. Há que mentir mas com convicção. Se se mentir com voz firme e grossa o povo aceita. Ai da verdade que tenha voz fraca e não decidida! O povo não a entende!
Da Oposição também não há nada a esperar. Sofre dos males dos da governação e pode dar-se ao luxo de impedir-se a si mesma. Assim se cria lugar para oportunistas grandes e pequenos da pobre situação (Nação).
Que nos resta? A Virgem Maria e o futebol?… Talvez a esperança se não fora a coleira do hábito.
António da Cunha Duarte Justo