Não veio do trono nem da lei,
nem da voz da praça em claridade.
Veio do centro onde ninguém
assina pactos com a cidade.
Não tem estandarte nem sinal,
não conta tempos nem razões.
Arde em silêncio original,
sem pedir forma às instituições.
A fé passa, não se vê,
por entre datas e poderes.
Quem nela mora aprende a ser
mais do que o mundo quer dizer.
É o lugar que não admite
posse, voto ou majestade. (É luz que não se decreta)
Por isso os tronos têm temor
da luz sem rosto e sem medida.
Quem guarda o fogo interior
pode perder tempo e visão.
Mas leva intacto o seu senhor:
um reino já fora da nação.
António da Cunha Duarte Justo
Pegadas do Tempo
(Poema desabafo feito como grito de alerta durante o “governo” Covid-19)