ELEIÇÕES EUROPEIAS REVELAM O RESSURGIR DOS NACIONALISMOS EUROPEUS

Fobias de extremos de Direita e de Esquerda como estabilizadores do Sistema

António Justo
Tudo fala do problema das novas forças de direita e esquerda que irão desestabilizar a União Europeia (EU) quando grande parte dos problemas virá do eixo Alemanha-França. A verdadeira ameaça da UE encontra-se nos problemas não resolvidos entre Alemanha, França e Inglaterra e na debilidade de países do sul.

Os egoísmos nacionais manifestam-se no rejuvenescer do nacionalismo que uma opinião pública controlada tenta vender como catástrofe de extremismos de Direita ou de Esquerda. Até às eleições a opinião pública via o risco da UE nos países de economia fraca; agora querem-no ver nas forças anti UE de esquerda e de direita. O que vem à tona é a desestabilização de uma Europa com a crescente fragmentação partidária e consequente insegurança dos tradicionais partidos do poder que se têm de orientar de novo para se manterem no poder. A sua má política provocou o descontentamento geral e manifestou-se nos eleitores contestadores.

Seria natural que o fenómeno do nacionalismo acontecesse no sul, em países com forte crise económica. Mas o maior indicador do problema europeu revela-se no facto de o nacionalismo se acentuar mais ainda nos países de economias fortes. O nacionalismo cresce nos países de economia fraca (Portugal honrosa excepção) porque se vêm expostos à exploração internacional e também aumenta nos países fortes porque as populações querem manter o seu alto nível de vida jogando à defesa e à custa dos mais fracos.

As eleições francesas questionam o eixo da UE: Alemanha-França

O Problema da UE é de cabeça e estômago. Se tivermos em conta o liberalismo económico adoptado pela EU na sequência da ideologia globalista, a Alemanha adaptou a sua política ao globalismo enquanto a política francesa, embora seja a segunda economia da Europa, não se adaptou às novas leis que determinam o mercado.

Na Alemanha o mercado e a política afirmam-se como dois parceiros em pé de igualdade, na França a política é mais dirigista reservando para ela o poder de dominar o mercado e a produção. A dicotomia que se observa na França entre economia e política repete-se entre política e sindicatos; a política tem medo dos sindicatos, não reagindo adequadamente à economia globalista. Daí a grande crise económica e estrutural da França.

Na França como nos países do sul continua a acreditar-se na independência e no poder todo-poderoso da política esquecendo que se esta não for bem controlada, as forças económicas facilmente compram os políticos passando a viver descansadamente com políticos e sem o incómodo de terem de estar atentos a políticas económicas nacionais.

A Alemanha é o melhor exemplo dos piores defeitos e das melhores virtudes de governação

O historiador Ralf Jaksch, afirma no HNA que a economia francesa é marcadamente mercantilista e como tal precisa da legitimação política o que a torna mais constante mas a incapacita de reagir tão atempadamente às forças do mercado. a economia francesa é uma influência duradoura mercantilista.

A política e os sindicatos alemães, mais flexíveis à competição económica, prepararam-se para a batalha da globalização, já nos finais dos anos 90, princípios de 2000; neste sentido uniu-se governo, oposição, sindicatos e patronato para organizarem compromissos a nível nacional para fazerem as necessárias reformas relativas ao mercado de trabalho e poderem manter-se na primeira liga da exportação. Deste modo, a Alemanha reagiu como povo e não só os grupos de interesse dentro dela, como acontece principalmente nas nações do sul. Assim a Alemanha tranou-se ainda mais competitiva e com produtos tecnológicos de maior qualidade, podendo assim manter preços estáveis de exportação porque não tem a concorrência de outros países, a esse nível. Devido a esta política alemã os seus custos unitários de trabalho só subiram 10% enquanto na França subiram 30%. Isto é muito relevante em termos de preços competitivos de exportação. A mercadoria mercantilista francesa não se adaptou à política económica liberal determinada pela UE e por isso o eleitorado castiga os partidos estabelecidos de maneira catastrófica. A França do Euro não pode recorrer à desvalorização da moeda como fazia antes com o Franco para regular a concorrência no mercado dos produtos. Mais ainda, um euro forte torna-se, num impedimento para economias europeias mais fracas que se encontram mais expostas à concorrência de mercados e produtos de fora da Europa. A arma da capacidade de concorrência através da desvalorização da moeda só poderia ser compensada com a desvalorização do euro o que implicaria uma guerra mais declarada entre as economias fortes e menos à custa das economias menos concorrentes. A guerra que antigamente se dava nos campos de batalha acontece agora nos bancos centrais e nas bolsas.

Os defensores da globalização apresentam como meio de solução, para os problemas económicos da França e dos países do Sul, a flexibilidade do mercado de trabalho e a diminuição das cobranças e dos encargos das empresas. Isto implicaria menos dinheiro na bolsa do trabalhador e do que vive da assistência social. Esta estratégia apenas empurra os custos da concorrência estrangeira para as camadas socias mais carenciadas e transpõe a guerra dos preços dos produtos, entre as empresas fortes, para a concorrência entre as camadas carentes das nações fora da Europa e as da Europa.
A Eleições para o PE da UE ainda vão fazer correr muita tinta.
António da Cunha Duarte Justo
www.antonio-justo.eu

Rússia e China – O Eixo da Política do Séc. XXI?

UCRÂNIA ENTRE IMPERIALISMO RUSSO E OCIDENTAL

António Justo
A Ucrânia, tal comos a região das Balcãs, na primeira grande guerra mundial, dá ocasião ao surgir de uma nova configuração política das potências determinadoras do futuro no séc. XXI.

A Rússia, ao ser contrariada pelos interesses da EU/NATO na Ucrânia, demostra ostensivamente a sua reivindicação ao direito de ser reconhecida como potência mundial; para tal vira-se para a China e para a América Latina em oposição à política dos países da NATO. Utiliza uma estratégia própria na combinação oportuna de “ vendas de armas, instalações militares e grandes projetos econômicos, de infra-estrutura e de energia”. A nova estratégia de parceria com a China pode mudar o eixo axial da política no séc. XXI. O negócio entre a Rússia e a China da construção da conduta para fornecimento de gás à China e a construção de um canal transoceânico da Nicarágua como alternativa ao canal do Panamá, são passos que indicam determinação no sentido de as duas potências se unirem num projecto comum.

Ao avanço da presença do Ocidente ao longo das fronteiras da Rússia e na Ucrânia, a Rússia contrapõe a sua presença, como potência mundial, na América Latina.
A presença política arrasta consigo o negócio. Então, países como a Alemanha aceitarão o desenrolar natural dos acontecimentos e orientar-se-ão pelo brilho do negócio. Esta ofensiva económico-estratégica revela-se tão desesperada que pode determinar a divisão da Ucrânia.

Piora o clima entre as potências mundiais logo surgem centros ciclónicos devastadores das mais belas paisagens e dos mais belos biótopos culturais. Por trás das ventanias que arrasam florestas e destroem a bonomia do clima entre amigos e familiares, encontram-se interesses políticos, económicos e estratégicos. Quem aspira a mais organiza-se em grupos de interesse porque sabe que no governo ou na oposição sempre se recebe mais do que no seio do povo.

Os grupos da Ucrânia, agora divididos e guiados pelas forças de ventos invisíveis, a modo das árvores no vendaval, batem-se uns contra os outros à mercê dos centros ciclónicos do poder. Os que se querem orientar pela Europa e os que preferem seguir a Rússia. Em nome da soberania popular dá-se a redistribuição de poderes e influências.

A Ucrânia, o maior país da Europa, tem 44,6 milhões de habitantes sendo 77,8% de etnia ucraniana e 17%, de russos e romenos está em perigo de ser dividida. O povo ucraniano já foi vítima do genocídio provocado por Estaline que vitimou milhões de ucranianos e da ocupação nazi que matou muitos milhões de pessoas, sofre as consequências de se encontrar como fronteira de dois imperialismos: o russo e o ocidental.

Quem pensa em termos humanos e de povo é contra a intromissão estrangeira; quem pensa em termos estratégicos e de poder compreende a luta das potências: uns a favor dos russos, outros a favor do ocidente.

Um país sobrano deveria ter a possibilidade à autodeterminação.

Uma Alemanha interessada em acordos de comércio com o leste, uma EU interessada num acordo de associação, e uma federação russa amedrontada, não são indícios de bons resultados para a Ucrânia; a Rússia sente-se ameaçada economicamente pela EU, militarmente pela Nato e socialmente pelos valores ocidentais de liberdade e democracia. A UE defende os seus interesses económicos e estratégicos na Ucrânia argumentado hipocritamente de pretender a salvaguarda dos direitos humanos e de um Estado de Direito. Infelizmente não usou da diplomacia para saber antepor-se aos combates armados entre a população ucraniana nem teve em conta uma Rússia traumatizada pela queda da União Soviética. A Rússia tem os mesmos interesses na Crimeia e nas zonas orientais da Ucrânia como os ingleses no Gibraltar e nas ilhas Malvinas…

Uma Ucrânia endividada até à garganta com a dívida do gás e quase na bancarrota. Deve à Rússia 2,6 mil milhões de Euros pelo que Putin tenciona, a partir de Junho, só fornecer gás à Ucrânia a pronto pagamento. Até à ocupação da Crimeia vendia o gás à Ucrânia 30% mais barato, devido à Ucrânia permitir lá a base russa.

A Ucrânia, depois das eleições de 25 de Maio, irá ter de compreender amargamente a frase de Bismark: “Estados não têm amigos, apenas têm interesses”.

As missões de observação eleitoral da OSZE julgarão sobre o decorrer das eleições. Depois delas surgirá a discussão sobre quem as reconhece e quem não. As eleições não conseguirão o problema da Ucrânia que nela resume o conflito entre a Rússia e o Ocidente e entre população pro-Rússia e pró-EU.

A Rússia é o maior país do mundo mas nas suas infraestruturas, é de facto, em grande parte, um país de terceiro mundo.

O futuro irá aproximar ainda mais a Rússia e a China até por razões de afinidade na defesa da integridade territorial e devido à sua extensão e aos povos separatistas.

No séc. XIX combatiam-se os estados, no séc. XX as ideologias e no século XXI combater-se-ão as culturas. Com a queda da União Soviética (1998) acaba-se o mundo bipolar para se iniciar a multipolaridade. Das guerras passar-se-á às guerrilhas; na formação de novas constelações, a guerrilha muçulmana tem-se mostrado a única arma estratégica eficiente contra a prepotência da guerra económica. Livre-nos Deus desta perspectiva real para o futuro.
António da Cunha Duarte Justo
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Origem do Português e do Galego

A Língua portuguesa é a Irmã gémea do Galego

António Justo
A Academia Brasileira de Letras fez um levantamento sobre a língua portuguesa e verificou que esta tem atualmente cerca de 356 mil unidades lexicais.

A grande riqueza do português provém na sua maioria do latim e do grego e das línguas das tribos ibéricas: galaicos, lusitanos (marcas de origem indo-europeia e miscigenação com os celtas, anterior às invasões romanas), etc. e dos invasores germânicos do séc. V (cerca de 600 palavras de origem germânica) e dos ocupantes mouros (berberes e árabes do séc. VIII que enriqueceram o português com 600 até mil palavras); com os Descobrimentos o português continuou a enriquecer-se integrando palavras dos novos povos no seu léxico; actualmente a preponderância da cultura anglo-saxónica favorece a integração de palavras inglesas. De notar que o português não só recebeu palavras das culturas com que contactou mas também deixou crioulos e palavras noutras línguas (O japonês também tem cerca de 600 palavras de origem portuguesa).

O galaico-português era o idioma falado nas regiões de Portugal e da Galiza, no Reino de Leão, que devido à divisão política do mesmo espaço geográfico, posteriormente começou a diversificar-se nas línguas portuguesa e galega. A partir do séc. XII a literatura apoderou-se do galaico-português de modo, a o português se diferenciar no século XVI da língua galega, sua irmã gémea.

A língua portuguesa é a evolução do latim que, como língua veicular literária e cultural, se expressava de duas formas: a maneira de falar intelectual (erudita) e a popular; assim, na formação do Português, encontramos a forma clássica – a língua do Lácio falada até uma certa altura e depois mantida pelos eclesiásticos, poetas e prosadores, como veículo da cultura intelectual e por outro lado a forma do latim vulgar que era falada pelo povo e que abandonada a si mesma se ia modificando mais e mais, com um certo acompanhamento do linguajar erudito. O mesmo se dá hoje: distingue-se a maneira de expressar (especialmente na escrita) de uma pessoa sem grande formação e uma pessoa formada. Os próprios escritores latinos, que utilizavam a forma clássica, referem também o falar do latim vulgar do povo; os escritores romanos referem-se ao falar do povo com os termos “sermo vulgaris”, “cotidianus”, “plebeius”, “rusticus”, etc.

Estas divergências encontram-se ainda hoje nas formas populares e de escrita de qualquer língua a nível fonético, morfológico e por vezes até sintático. A população não consumidora de “alta cultura” usa menos palavras para se exprimir metendo por vezes numa só palavra outros sentidos ou conotações, enquanto a pessoa mais culta recorre, para tal efeito, a maior diferenciação e consequentemente a uma maior gama de palavras.
No território que hoje constitui Portugal e Espanha, já se falavam várias línguas, antes dos invasores latinos chegarem. Entre elas a mais falda era a céltica. O Vasco conseguiu resistir ao latim.

De resto, pelos fins do séc. IV a língua vulgar falada por toda a península era a forma vulgar do latim, o “romanço”. Com as invasões dos alanos, suevos e godos e depois dos árabes, o romanço foi enriquecido com palavras novas dos falares dos invasores. A língua, naqueles tempos abandonada a si mesma, sem disciplina gramatical que lhe desse formato evolutivo, decaiu modificando-se segundo as regiões, pois já não havia a administração romana para lhe dar sustentabilidade nem uma regulamentação da língua, a nível suprarregional. Entre os falares surgiu o galego-português que se modificou algo, devido à independência de Portugal alcançada por D. Afonso Henriques e à obrigação do uso do português então “arcaico” ordenado por D. Dinis para os documentos escritos em vez do latim. Assim, temos hoje o idioma português e o galego; a maior diferenciação do galego deu-se a partir do séc. XVI. Embora se possa provar a existência do galego-português no séc. VII (e o português proto-histórico – um latim bárbaro) só a partir do séc. XII surgem textos completos em português notando-se então a influência da literatura sobre ele.

Numa missão civilizadora, os trovadores que cultivavam a poesia e a música por gosto, contribuíram muito como estabilizadores e fomentadores da língua. Ao irem de castelo em castelo espalhavam também ideais e a dignidade da mulher. Os segréis faziam da arte de trovar uma profissão. Os jograis tocavam vários instrumentos e cantavam versos alheios (artistas da boémia). Muito do legado antigo encontra-se nos Cancioneiros Primitivos.
O lirismo galego-português é do mais genuíno e documenta-se como uma poesia de romaria a Santiago de Compostela e nas romarias aos santos. Segundo Celso Ferreira da Cunha deve “considerar-se como obra de síntese de diversas influências, sobretudo da poesia popular e da poesia latino-eclesiástica”. Tinha duas correntes poéticas: a cantiga de amor que denuncia influência estrangeira, e a cantiga de amigo de caracter popular tradicional. Esta é a primeira manifestação genuína do lirismo peninsular.

Um documento importante do português Arcaico é o Testamento de D. Afonso II (1214) que começa assim:” En nome de Deus. Eu rei Don Afonso, pela gracia de Deus, rei de Portugal, sendo sano e saluo, temete o dia da mia morte, a saúde de mia alma e a proe de mia molier, raina Dona Orraca, e de meus filios e de meus uasssalos…”

No português histórico temos a fase arcaica do séc. XII, XIII e XIV (as terminações arcaicas em “om” deram origem às terminações modernas em “ão” e “am”); segue-se a fase de transição do séc. XV e finalmente a fase moderna, com início no séc. XVI até hoje. No séc. XIV e XV introduziram-se na língua muitas palavras do latim erudito e do grego; o séc. XV foi muito profícuo em mestres da língua (Garcia de Resende, Fernão Lopes, Eanes de Zurara, Rui de Pina, Frei João Alves); a língua passa a ter o seu eixo já não em Santiago de Compostela mas em Lisboa; o séc. XVI produziu grandes mestres da língua como Gil Vicente, João de Barros, António Ferreira, mas o maior de todos eles, o grande mestre do português moderno foi Luís de Camões com “Os Lusíadas”. Camões é um grande entre os maiores da literatura mundial, como afirmava já o grande Friedrich von Schiller, grande poeta, filósofo e historiador alemão que trocaria a sua obra pela glória dos Lusíadas de Camões.

No séc. XVI dá-se a grande diferenciação do português em relação ao galego.

António da Cunha Duarte Justo
www.antonio.justo.eu

Aniversário da Independência de Timor-Leste

António Justo
Hoje é o aniversário da Independência de Timor-Leste efectuada a 20 de Maio de 2012.
Apresento alguns textos que em 1996 enviei para os Media e que testemunham a coragem de um povo oprimido na resistência contra a ocupação indonésia.

Timor-Leste – a ilha esquecida

Em Outubro 1996, o bispo timorense Carlos Ximenes Belo e o representante no exterior da Resistência timorense, José Ramos Horta, também ele timorense, receberam o prémio Nobel da Paz. Até aí, Timor tinha sido uma ilha esquecida do mundo. Poucos souberam do genocídio que aí aconteceu ou não queriam saber! Portugal foi uma excepção: tentou chamar a atenção para os acontecimentos em Timor-Leste desde que a Indonésia invadiu a antiga colónia portuguesa. Até hoje a brutalidade e a repressão indonésia já provocou a morte a mais de 200 000 timorenses, numa tentativa de esmagar a voz dum povo que há 20 anos luta pelo direito à autodeterminação.
Timor-Leste pertenceu a Portugal desde o século XVI até 1975 Os timorenses não se sentiram oprimidos pelos colonialistas. Muitos converteram-se desde já muito cedo ao catolicismo. Na mitologia dos timorenses, os portugueses aparecem como irmãos.
O fim do colonialismo português

Depois do 25 de Abril, Portugal deu a liberdade à sua colónia no oceano índico bem como à maioria das outras colónias. Então, em Timor Leste surgiram dois partidos: a UDT (União Democrática de Timor), que defendia uma federação com Portugal e a FRETILIN (Fronte Revolucionária de Timor Leste Independente) que aspirava à independência depois de 5 anos de transição. Um partido chamado APODETI (Associação Popular Democrática de Timor) que queria a unificação com a Indonésia, não teve ressonância no povo.

Porém a Indonésia reclamou para si o direito à posse da ilha. No fim do tempo do colonialismo, Timor Leste era um país pouco desenvolvido embora seja rico em cobre, petróleo, carvão e madeira de sândalo. Só a FRETILIN conseguiu apresentar um programa para o desenvolvimento político e social de Timor. No dia 28 de Novembro de 1975 proclamou a “República Democrática de Timor Leste” para se opor a uma invasão da Indonésia. A Tanzânia, a Argélia, Angola e Moçambique reconheceram o novo estado. A ONU exigiu a retirada dos indonésios de Timor Leste mas sem resultado.
A invasão pelos indonésios e as suas consequências

Esta proclamação não conseguiu bloquear o mecanismo de guerra indonésio. No dia 7 de Dezembro de 1975, a Indonésia invadiu Timor Leste e começou um grande genocídio que continua até hoje. Os militares mataram homens, mulheres e crianças. Isolaram a ilha do resto do mundo, destruíram as colheitas e proibiram o cultivo dos campos, para vencerem a resistência do povo através da fome. Duma população constituída por 700.000 habitantes morreram já nos primeiros meses entre 60.000 e 100.000 timorenses.
Uma grande parte da população fugiu para o interior montanhoso da ilha. Em 1979 as autoridades indonésias prometeram uma amnistia para aqueles que capitulassem. Muitos deixaram o seu esconderijo devido à fome e ao desespero, mas os ocupantes mataram 10.000 civis e membros da FRETILIN, que tinham seguido a promessa de amnistia.
Em 1979 grassava grande fome. 80 % dos sobreviventes sofriam de malária, hepatite e tuberculose e quase todos sofriam de subalimentação. O governo da Indonésia elaborou um programa para a esterilização à força do povo de Timor Leste.
Apesar de todas estas crueldades o governo indonésio não conseguiu vencer a resistência do povo. Em Março de 1983 o governo acordou um armistício com a FRETILIN, mas já em Agosto do mesmo ano a ilha foi atacada por 35.000 soldados indonésios. As obras de assistência foram expulsas e raramente era permitido a visitantes estrangeiros visitar a ilha.
A responsabilidade internacional

A chave para a solução do problema em Timor Leste está nas mãos dos grandes países ocidentais que apoiam a Indonésia, política, económica e militarmente. A Alemanha é o segundo fornecedor de armas para a Indonésia! Jornalistas australianos documentaram couraças de Mercedes em acção em Díli, a capital de Timor Leste. Até oficiais militares e da polícia da Indonésia são formados pela Bundeswehr. Na ONU, a Alemanha abstém-se do voto no que respeita a Timor Leste. Até hoje nunca tentou influenciar o governo indonésio em direcção ao direito à autodeterminação timorense. A mesma coisa fazem os Estados Unidos que são o fornecedor mais importante de armas para a Indonésia. A Austrália e os países da Europa de Leste também se calam. Jovens timorenses que “ocuparam” embaixadas estrangeiras (quer dizer eles saltaram por cima dos muros e desenrolaram transparentes com as suas reclamações), estes jovens foram entregues à polícia indonésia pelas embaixadas da Alemanha e da França. Outras embaixadas mandavam-nos para Portugal, onde recebiam asilo. Portugal, as antigas colónias portuguesas africanas e outros países do Terceiro Mundo defendem Timor Leste. Por iniciativa da Alemanha Federal, em 1986 Timor Leste foi tirado da “lista negra” da Comissão dos Direitos de Homem da ONU.
Depois da atribuição do Prémio Nobel da Paz respectivamente ao bispo de Díli, Ximenes Belo e ao representante da resistência timorense no exterior, Ramos Horta, em Outubro 1996, o único comentário do governo alemão foi de que “respeitava” a decisão da Academia Sueca.
No dia 28 de Outubro 96, Kohl visitou o seu amigo Suharto. O público esperou de Kohl a coragem de defender os direitos do povo timorense. Depois do encontro só disse a cerca de Timor-Leste, que ele tinha uma opinião diferente da de Suharto quanto aos direitos humanos. É sintomático que o bispo Belo, um homem desejoso de harmonia se tenha recusado ao convite do Kohl. Belo sabe que o interesse do Ocidente é apenas económico, até ao ponto de negar a própria cultura.
Só se os países poderosos do mundo deixarem de apoiar a Indonésia e obrigarem o governo indonésio a resolver este problema duma maneira humana e pacífica, o sofrimento e a opressão de Timor Leste poderá acabar.
Razões da Indiferença Alemã perante o Genocídio do Povo Timorense

A Indonésia com uma população de 210 milhões de habitantes, distribuídos por 9.000 ilhas, é um mercado muito atractivo para o Ocidente. Em 1945 tornou-se independente. Outrora havia no país 61 povos, 360 etnias e 250 Línguas. Para efeitos de identidade foi criada artificialmente a língua indonésia e estendida a todo o país. A unidade do povo é forçada através de repressão e da incrementação do islão como religião de identificação nacional. O governo indonésio tem mesmo um Ministério para a Transmigração que põe em prática a política de colonização interna para desintegrar etnias tal como fez em 1975 aquando da ocupação de Timor, enviando colonos muçulmanos para lá com o fim de desestabilizar uma região com uma certa influência cristã; na altura 35% dos habitantes eram católicos que conviviam com as religiões autóctones.
Durante a guerra fria fez parte da estratégia política do Ocidente criar na Ásia do sudeste um contrapeso contra a China. A Indonésia, anticomunista, torna-se membro dos países neutros (Bloco Livre). Assim pôde intervir brutalmente, sem ser incomodada por outras nações, contra vários povos no país e desde 1975 praticar em Timor Loro Sae das maiores barbaridades deste século criando lá o maior desemprego (70%) e a maior mortalidade do mundo. Como membro dos estados ASIAN renuncia ao armamento atómico sendo um „pequeno tigre“ da região com o maior aumento de armas e com grande aumento militar embora não tenha inimigos naturais.
A Indonésia é um forte parceiro comercial da Alemanha (em 1997 a exportação da Alemanha para lá atingiu 5,2 biliões de Marcos). Exporta principalmente armas: Submarinos, navios-tanque, carros-blindados, etc. Um relatório da BRD em 1996 relativo ao fornecimento de armamento à Indonésia refere 600 fornecimentos nos últimos dez anos, sendo a Alemanha, depois dos USA, o segundo fornecedor de armas da Indonésia. Os alemães estão também muito integrados nas indústrias principais do país: indústria metalúrgica (Preusak), indústria automóvel (Ford alemã), construção de aviões, etc.
Por iniciativa do Governo Federal Alemão a Indonésia, apesar do genocídio contínuo em Timor, foi riscada da „Lista Negra“ da Comissão da ONU para os Direitos Humanos. A ONU, porém, não reconheceu a anexação de Timor-Leste pela Indonésia. No que respeitava a Timor Leste a Alemanha abstinha-se sempre do voto, na ONU. Jovens timorenses que “ocuparam” embaixadas estrangeiras na Indonésia (isto é, que saltaram por cima dos muros da embaixada e desenrolaram transparentes em que manifestavam as suas exigências no que respeita aos direitos humanos e à independência), foram entregues à polícia indonésia pelas embaixadas da Alemanha e da França. Outras embaixadas mandavam-nos para Portugal onde recebiam asilo político.
No que respeita ao exporte de armamento a Indonésia é equiparada à NATO, sendo tão fácil exportar para lá armamento como para a França. Carros-blindados alemães da Mercedes foram usados pelos militares indonésios em massacres contra a população civil de Timor (cfr. Documentação de jornalistas australianos). Agentes da polícia e oficiais indonésios são formados na Alemanha (último exemplar importante foi o genro de Suharto). Em Setembro de 1998 tornou-se público que o exército federal ambiciona fazer do exército indonésio uma forte armada.
Do Movimento para a Paz na Alemanha não se pode esperar nada, ele está paralisado. Falta-lhe vida, convicção e parece burocratizar-se, dando a entender que a sua estratégia será organizar-se como mediador entre parceiros em litígio. O seu destino e ideais parecem andar ligados aos dos Verdes.
Um outro aspecto que explica o desinteresse nos massacres em Timor, é a ideologia do Movimento 68 que via no islão a religião dos oprimidos e no cristianismo a religião dos colonializadores-opressores.
Por um lado, os Média alemães de vocação popular são consensuais, informam normalmente sob uma perspectiva economicista nacional, na base de uma moral utilitarista. Por outro lado, o Governo, aspira assumir mais responsabilidades a nível mundial, prisioneiro porém da mesma mundivisão, não se decide a tempo, hesita na ajuda a prestar, vendo-se obrigado a marcar presença desatempadamente, correndo atrás dos acontecimentos. Este agir está em contradição com a posição que a Alemanha quer assumir internacionalmente. O assumir de responsabilidade exige capacidade e vontade de empenho numa perspectiva que transponha a Alemanha.
No meio de tudo isto a Indonésia usa a ambiguidade como estratégia política: para o exterior fala de „Unidade na Pluralidade“ e internamente pratica a repressão e a descriminação das etnias, especialmente dos „sem Deus“ que no sentido islâmico são os que não pertencem a uma religião do livro. A extinção de etnias, a repressão de religiões e o fomento do islão como factor de identificação do país fazem parte da sua política maquiavélica. Por razões óbvias o Ocidente não está interessado em observar o que se passa e quer mesmo acreditar nas declarações falaciosas da Indonésia.
A dupla-moral da Alemanha e dos Média no tratamento histérico do Kosovo e no ignorar de Timor mostra claramente que o que está em jogo não são questões humanitárias mas puramente económicas. Sintomático foi o facto, de, a princípio, o ministro dos negócios estrangeiros (Fischer) se mostrar muito preocupado com o problema da „desestabilização da Indonésia“… A opinião de que se deve renunciar a uma política exterior „moralizadora“, tendo em conta os interesses económicos, é míope, desumana e autodestruidora. Ou será que o sangue dos outros terá de ser a energia básica para o prosperar da nossa economia? Uma economia que fecha os olhos aos atropelos contra os Direitos Humanos e a ditadura atraiçoa a própria cultura e significa a desagregação da mesma, não podendo reclamar para si o respeito de valores humanistas nem assumir responsabilidades de caracter universal.
Ao concedermos à intolerância o direito a ser tolerada destruímos a tolerância e o estado de direito tal como aconteceu na Weimarer Republik.

TIMOR-LESTE: UM TESTEMUNHO A PESAR NA
CONSCIÊNCIA DO MUNDO

Prémio Nobel da Paz 1996

Em Outubro de 1996 foi atribuído o prémio Nobel da Paz, a D. Carlos Filipe Ximenes Belo, salesiano, bispo de Dili e a José Ramos Horta, também ele timorense, representante no exterior da Resistência timorense.
Até aí, Timor era uma ilha esquecida do mundo. Poucos souberam do genocídio que aí aconteceu ou não quiseram saber! Portugal, apesar duma política de descolonização irresponsável, foi uma excepção: tentou chamar a atenção do mundo para os acontecimentos em Timor-Leste desde que a Indonésia invadiu a antiga colónia portuguesa.

Uma história de opressão

Desde 1975 a brutalidade e a repressão indonésia já provocou a morte a mais de 200 000 timorenses, numa tentativa de esmagar a voz dum povo que há 20 anos luta pelo direito à autodeterminação.
Timor Leste compreende a parte oriental da ilha, bem como a ilha de Ataúro, o ilhéu de Jaco e o enclave de Oc-Cusse num total de 19.000 Kms quadrados, tendo em 1975 uma população de 700.000 habitantes. No mar entre Timor Leste e a Austrália há uma das grandes reservas petrolíferas do mundo.
Timor-Leste pertenceu a Portugal desde o século XVI até 1975. Os timorenses não se sentiram, duma maneira geral, oprimidos no tempo da colonização portuguesa. Esta é resultado duma política de assimilação baseada no facto dos recursos humanos, militares, económicos e culturais de Portugal serem muito limitados. Portugal, país de brandos costumes exportara para Timor um regime feudal baseado numa autoridade central colaboradora ora mais com uns régulos locais ora mais com outros beneficiando também ela do colonialismo interno dos régulos e suas influências. Muitos timorenses converteram-se desde muito cedo ao catolicismo; em 1975 a população era constituída por 35% de católicos subindo em pouco tempo, após a invasão indonésia para 90% da população. Este fenómeno mostra bem a necessidade deste povo em apresentar o cristianismo como expressão/factor da sua identificação e sinal da sua vontade de autodeterminação esperando exasperadamente da Igreja, como instituição, aquilo que as outras instituições humanas não querem reconhecer: o direito a serem diferentes, a serem eles mesmos.
Na mitologia dos timorenses, os portugueses aparecem como irmãos.

O fim do colonialismo português

Depois do 25 de Abril, Portugal deu a liberdade à sua colónia no oceano índico bem como à maioria das outras colónias. Então, em Timor Leste surgiram dois partidos: a UDT (União Democrática de Timor), que defendia uma federação com Portugal e a FRETILIN (Fronte Revolucionária de Timor Leste Independente) que aspirava à independência depois de 5 anos de transição. Um partido chamado APODETI (Associação Popular Democrática de Timor) que queria a unificação com a Indonésia, não teve ressonância no povo.
A Indonésia reclama para si o direito à posse da ilha. No fim do tempo do colonialismo, Timor Leste era um país pouco desenvolvido embora fosse rico em cobre, petróleo, carvão e madeira de sândalo. Só a FRETILIN conseguiu apresentar um programa para o desenvolvimento político e social de Timor. No dia 28 de Novembro de 1975 proclamou a “República – Democrática de Timor Leste” para se opor a uma invasão da Indonésia, dado não poder esperar apoio de Portugal nem da Austrália, pelo que só lhe restava a única hipótese de se proclamar independente para assim poder levantar a sua voz autorizada na ONU e tentar através da Nações Unidas impedir a invasão. A Tanzânia, a Argélia, Angola e Moçambique reconheceram o novo estado. A ONU exigiu a retirada dos indonésios de Timor Leste mas sem resultado. A proclamação da independência não conseguiu bloquear o mecanismo de guerra indonésio.

A invasão pelos indonésios e as suas consequências

No dia 7 de Dezembro de 1975, a Indonésia invadiu Timor Leste e começou um grande genocídio que continua até hoje. Os militares mataram homens, mulheres e crianças. Isolaram a ilha do resto do mundo, destruíram as colheitas e proibiram o cultivo dos campos para vencerem a resistência do povo através da fome. Duma população constituída por 700.000 habitantes morreram já nos primeiros meses entre 60.000 e 100.000 timorenses.
Uma grande parte da população fugiu para o interior montanhoso da ilha. As FALINTIL (Forças Armadas de Libertação Nacional de Timor Leste) na sua luta armada, apoiadas pela população, difamadas por colaboradores indonésios como um punhado de “rebeldes”, são a expressão talvez desesperada e o grito dum povo que se sente lesado no seu direito e nas suas aspirações a ser País. Em Setembro de 1978 no massacre de Fatumaca os soldados indonésios mataram ca. de 5.000 pessoas depois de terem violado as mulheres à vista das suas famílias. Em 1979 as autoridades indonésias prometeram uma amnistia para aqueles que capitulassem. Muitos deixaram o seu esconderijo devido à fome e ao desespero, mas os ocupantes mataram 10.000 civis e membros da FRETILIN, que tinham seguido a promessa de amnistia. Naturalmente que também houve aqueles que atentos à oportunidade da situação acederam e se tornaram colaboradores do regime de Jacarta obtendo privilégios à custa dos interesses da causa timorense e aqueles que tiveram mesmo que resignar devido à força das circunstâncias. Xana Gusmão, chefe da resistência armada, símbolo do povo amordaçado encontra-se prisioneiro nas masmorras indonésias.
Como resultado da política da fome seguida pela Indonésia, em 1979 grassava grande fome. 80 % dos sobreviventes sofriam de malária, hepatite e tuberculose e quase todos sofriam de subalimentação. O governo da Indonésia elaborou um programa para esterilização forçada no povo de Timor-Leste.
Apesar de todas estas crueldades e repressão e do esforço indonésio na construção de estradas para os militares mais facilmente poderem atingir o interior, o governo indonésio não conseguiu vencer a resistência do povo maubere. Em Março de 1983 o governo acordou um armistício com a FRETILIN, mas já em Agosto do mesmo ano a ilha foi atacada por 35.000 soldados indonésios. As obras de assistência foram expulsas e a visitantes estrangeiros raras vezes lhes foi permitido visitar a ilha. Uma paz dos cemitérios adquirida à base duma política de pacificação compulsiva adquirida à custa da morte, desterro, tortura, massacres, violação de mulheres, desaparecidos e de colaboradores mesmo cristãos que por interesses pessoais ou para não terem de recear vinganças ou a perda de certos privilégios se vêem na necessidade de repudiar publicamente o movimento timorense.
O bispo Ximenes Belo está empenhado na defesa dos direitos humanos e na formação escolar e académica do povo. Belo, timorense de 48 anos, desde 1983 bispo de Díli capital de Timor-Leste afirma o seguinte: “A soldadesca indonésia que nos rouba a nossa liberdade e destrói a nossa cultura trata-nos como cães sarnosos. Justiça é para eles um termo estranho. Os indonésios mantêm-nos como escravos…em Timor há uma paz aparente apenas à superfície…de facto na ilha reina o pânico, por toda a ilha se encontram soldados e polícias indonésios… eles fazem prisões arbitrárias tanto de dia como de noite …eles podem torturar e matar porque sabem que nada será conhecido no exterior… todos os dias ouvimos falar de novos desaparecidos não se sabendo o que acontece com eles…vive-se numa insegurança contínua…se na ilha há paz, como afirmam as autoridades indonésias, porque é que não deixam jornalistas estrangeiros visitar Timor-Leste?…nós esperamos uma solução humana pacífica e democrática para o problema de Timor-Leste”. Para se ter uma imagem da brutalidade indonésia em Timor basta recordar que em 1991 no dia em que timorenses se juntaram para protestar pacificamente e rezar no cemitério de Santa Cruz em Díli por dois timorenses assassinados pelos soldados indonésios, estes, então, dispararam sobre a multidão matando 500 timorenses.

A RESPONSABILIDADE INTERNACIONAL

Um povo massacrado e o mundo fecham os olhos
A chave para a solução do problema em Timor-Leste está nas mãos dos grandes países ocidentais que apoiam a Indonésia, política, económica e militarmente. A Indonésia com os seus 200 milhões de habitantes é um mercado muito atrativo para o Ocidente. A Alemanha é o segundo fornecedor de armas para a Indonésia. Jornalistas australianos documentaram couraças de Mercedes em acção em Díli, a capital de Timor Leste. Até oficiais militares e da polícia da Indonésia foram formados pela Bundeswehr (Exército alemão – interesses estratégicos de economia). Na ONU, a Alemanha abstêm-se do voto no que respeita a Timor Leste. Até hoje nunca tentou influenciar o governo indonésio no sentido da defesa do direito do povo timorense à autodeterminação. A mesma coisa fazem os Estados Unidos que são o fornecedor mais importante de armas para a Indonésia. A Austrália interessada na mão de obra barata da Indonésia e em alcançar dividendos na partilha (entre ela e a Indonésia) dos direitos às reservas de petróleo existentes entre Timor Leste e a a Austrália também se cala. Jovens timorenses que “ocuparam” embaixadas estrangeiras na Indonésia (isto é, que saltaram por cima dos muros da embaixada e desenrolaram transparentes em que manifestavam as suas exigências no que respeita aos direitos humanos e à independência), foram entregues à polícia indonésia pelas embaixadas da Alemanha e da França. Outras embaixadas mandam-nos para Portugal onde recebem asilo político. É um escândalo que por iniciativa da Alemanha Federal, em 1986 Timor Leste tenha sido tirado da “lista negra” da Comissão dos Direitos do Homem da ONU, embora a ONU não reconheça a anexação de Timor-Leste pela Indonésia e a invasão lese direitos internacionais. Apenas Portugal, as antigas colónias portuguesas africanas e outros países do Terceiro Mundo defendem Timor Leste.

A atitude do governo alemão (: protótipo do agir do Ocidente)

Depois da atribuição do Prémio Nobel da Paz respectivamente ao Bispo de Díli D. Carlos Ximenes Belo, e ao representante da resistência timorense no exterior, Ramos Horta, em Outubro de 1996, o único comentário do governo alemão foi de que “respeitava” a decisão da Academia Sueca.
No dia 28 de Outubro de 96, Kohl visitou o seu amigo Suharto em Jacarta. Depois do encontro só disse acerca de Timor-Leste, que tinha uma opinião diferente da de Suharto no que respeita aos direitos humanos.
É sintomático que o bispo Belo, um homem desejoso de harmonia e paz tenha recusado o convite de Kohl. O corajoso Bispo deu uma lição ao mundo ocidental ao não aceitar encontrar-se com o chanceler Kohl na Indonésia. Carlos Belo foi meu colega nos Salesianos em Portugal. Por isso penso interpretar bem a sua atitude. Ao basear a sua recusa por motivos pastorais, ele contrabalança o valor da vida cultural dum povo à hegemonia do económico. Ele sabe bem que o que preocupa Kohl não é a defesa do povo ameaçado e da cultura ameaçada de Timor-Leste mas sim meros interesses económicos. Além disso, se Belo tivesse aceitado o convite reconheceria indirectamente o domínio da Indonésia sobre Timor-Leste. A declaração de Kohl de que ele era por uma “solução pacífica” do problema em Timor não deixa transparecer grande convicção e dá a impressão de ser apenas uma frase devida à espectativa da opinião público que esperava uma tomada de posição pelo chanceler alemão. Entretanto, no fim de Outubro o bispo Belo pediu ao chanceler alemão Kohl a realização de um encontro entre os dois em Bona, aquando da sua deslocação a Oslo…

Política à margem da moral

Ximenes Belo não pode aceitar que o mundo assista inactivo a tanta repressão e ao facto da Indonésia através duma política sistemática de envio de colonos muçulmanos indonésios para a região, pretender, a longo prazo, ameaçar a identidade étnico-cultural dos timorenses de Leste podendo, com o tempo, vir a reduzi-los a uma minoria no próprio país.
Os timorenses têm razão para se sentirem esquecidos e atraiçoados pela comunidade internacional. A desilusão ainda se acentua mais pelo facto dos timorenses de Leste serem portadores duma tradição de quase 500 anos de Cristianismo – portanto a sua cultura ter raízes ocidentais.
Esta tradição é agora aniquilada com o consentimento tácito e até com a ajuda do mundo ocidental, à maneira de Judas, apesar do sentir comum dos timorenses com o ocidente.
A opinião corrente de que se deve renunciar a uma política exterior moralizante porque os interesses nacionais das nações fortes do Ocidente são de caracter económico é míope desumana e redutora. Não tem sentido que o ocidente chegue a ponto de trocar a sua cultura por um prato de lentilhas (tal como a figura bíblica de Esaú que entrega ao irmão Jacob os seus direitos e o seu futuro a troco dum prato de lentilhas). Se em nome da defesa do bem estar económico ocidental e da defesa dos lugares de trabalho se está disposto a pagar um tão alto preço incluindo a destruição e infelicidade de um povo irmão, não se poderá reclamar para si o respeito valores éticos de humanismo e de responsabilidade universais.
Uma economia de legitimação democrática que fecha os olhos à violação dos direitos humanos e à ditadura é uma traição à própria cultura e traz em si mesma o germe da própria desagregação e da autodestruição, é uma sociedade decadente.
A partir de Janeiro de 1997 Portugal passará a ter assento no Conselho de Segurança da ONU. Esperemos que daí Portugal não perca a oportunidade para mover a comunidade internacional no sentido da causa timorense. O parlamento belga ao pronunciar-se, em Novembro p.p., pela causa do povo timorense é já um indicativo duma certa sensibilização e abertura para o problema.
De esperar seria que, os portugueses migrantes, seguissem o grande exemplo do povo português na defesa de Timor e surgisse alguma iniciativa para apoiar este povo. Também a escola e as associações não deveriam ser alheias a esta responsabilidade. Os alunos portugueses, bem documentados, poderão ser veículo de informação, nas escolas que frequentam, apresentando temas nas semana-projecto e exposições nas aulas. De não desprezar seria o envio de cartas às fracções partidárias dos parlamentos chamando-as à atenção do que se passa e pedindo-lhes o respectivo empenhamento.
1.12. 1996

António da Cunha Duarte Justo
www.antonio-justo.eu

Festival da Eurovisão Cavalo troiano ou Chance de Aproximação

Emissor turco boicota o Festival da Canção
Conchita Wurst  encarna a Luta cultural da Actualidade

António Justo
Conchita Wurst (Thomas Neuwirth), vencedor do Festival da Canção (Eurovision Song Contest) divide públicos e culturas em trincheiras intransponíveis. O emissor estatal turco não emitiu o festival por questões de moral e de decência e a Rússia constata a decadência ocidental.

Enquanto no Ocidente se vive num clima de guerra cultural de progressistas contra conservadores, nos campos de interculturas e civilizações vive-se na luta do modernismo ocidental contra a ética de rigor cristão e contra o tradicionalismo russo e islâmico. Esta guerra passa desapercebida a uma maioria perdida em lutas de perspectivas de moda (Zeitgeist). É uma realidade incontestável que os progressistas, como em Copenhaga, se encontram a favor do vento e ganham, uma a uma, as batalhas culturais na Europa. Isto exaspera as pessoas mais conservadoras.

A Rússia e a República de Bielorrússia, depois da vitória de Conchita “Salsicha”, pensam em organizar um Festival da Cancão próprio. O chefe do partido comunista russo disse que depois do resultado de Copenhaga “a paciência encontra-se esgotada”; o presidente de Bielorrússia diz que o resultado do Festival está simbolicamente para “ o colapso completo dos valores morais na EU”; a Turquia não transmite o festival mas já se tinha afastado em 2012. O amigo de Putin, Vladimir Jakunin, chefe das ferrovias russas, uma das personalidades mais influentes na Rússia, vê em Conchita a expressão da arrogância ocidental porque quem não aplaude “a mulher barbuda” é colocado no rol dos não-democratas e acrescenta “o etno-fascismo vulgar tornou-se novamente parte da nossa vida”. Defende a lei russa contra a homossexualidade afirmando que 4% das crianças russas com um gene defeituoso nascem homossexuais e que isto foi provado pela medicina. Só acredita na igualdade de casamento entre heterossexuais e homossexuais “quando vir um homem grávido”.

É pena, tanto para um lado como para o outro, até porque temos muito a aprender uns dos outros! Este foi um evento que seria inocente se não nos encontrássemos numa luta cultural entre uma visão mais secular progressista e uma visão mais conservadora da sociedade, numa luta franca pela apropriação da moral.

Quanto a mim, gostei da música e da encenação. O Ruído em torno da Couraça de Conchita Salsicha encobriu a Música do festival. Não gostei da utilização da ribalta pública para, com aparentes argumentos de tolerância, se encenar, à maneira do Corão, uma ideologia em que o próprio credo se apresenta como sendo obrigação e a solução universal. Triste é o facto de as duas partes (tradicionalistas e progressistas) falarem com o rei na barriga, na conquista de uma grande parte de público inocente que bebe a libertinagem intencional modernista tal como medievais bebiam a mortificação, como meio de alcançar a felicidade.

Na verdade, os contrastes que Conchita sintetiza com a sua apresentação – o encontro da feminidade e da masculinidade – seria realmente ideal, se por detrás disso estivesse a defesa da integração das potencialidades da feminilidade e da masculinidade, tanto no homem como na mulher e se o episódio não fosse movido por um movimento agressivo masculino, demasiado fixo no sexo, e na reivindicação do direito da modernidade a ter sempre razão contra a tradição.

Conchita Salsicha (uma alusão ao sexo da mulher e do homem) é um homem em corpo de mulher que, ao apresentar o seu rosto com barba, sobrevaloriza a masculinidade. Querem-no como protótipo do Homem: um Jesus de aspecto feminino mas de rosto barbudo.

Na sua pose messiânica depois de ter ganhado o festival, Conchita disse: “este é um sinal importante para o mundo…“ „Esta tarde é dedicada a todos os que acreditam no futuro de paz e liberdade. Nós somos uma unidade e não há quem nos pare”. Estas palavras constituiriam programa se não focalizassem a salvação no sexo, se fossem bem-intencionadas, para poderem ser tomadas a sério por tradicionalistas e progressistas e não como uma declaração de guerra. O resultado da eleição testemunha a tolerância dos eleitores que vêem no evento um apelo à tolerância e a uma liberdade de expressão que desafia representações ideais e morais.

Não é a primeira vez que um trasvesti ganha o 1° lugar do Festival da Cancão. O marketing ideológico em torno do sexo e o contexto político em torno da Ucrânia com os posicionamentos russo e da Nato deram mais relevo ao evento. O problema da Europa, não parece ser de desemprego ou de carência, mas de luta de ideias e de poder…

O festival da Eurovisão deixou de ser um evento cultural em que se apresentava a riqueza das diferenças culturais dos países participantes e que reunia em torno da TV toda a família, para se tornar num evento de caracter mais igualitário híbrido promotor de políticas e de tecnologias.
O vice-primeiro-ministro russo Dmitry Rogozin declarou que “a Eurovisão mostrou aos europeus a sua perspetiva da Europa – uma mulher de barba”. Sem querer questionar a propensão decadente da Europa, seria também de perguntar qual seria a caricatura que a arte oriental teria a apresentar em relação ao futuro da Rússia e da UE!

Reduzir a atitude russa a homofobia seria colocar-se no outro extremo; no da homofilia também ele sem lugar para a diferença e para a liberdade da direcção a tomar na autodeterminação. O autoritarismo russo com a correspondente propaganda é tão obtuso como o autoritarismo da opinião ocidental com a sua propaganda categórica do politicamente correcto. O facto de a Rússia ter proibido por lei, em Junho de 2013, a promoção de hábitos sexuais “não tradicionais” entre menores de 18 anos, não justifica a propaganda ocidental agressiva contra a Rússia; esta não proibiu a homossexualidade em geral. Se a Rússia e a sociedade islâmica abusam no seu purismo sexual, o Ocidente secular abusa com a sua libertinagem em certas medidas tomadas em relação à cultura, à educação sexual nas creches e nas escolas e, não menos, com a sua intenção de educar o povo numa direcção secularista. A sociedade parece só apostar num desenvolvimento de caracter polar. Quem pretender ser anti-nada fica mal na massa dos anti-outro. Urge que a Europa saia da luta cultural polarizadora para construir uma consciência integral.

Já não temos os mouros ao pé da porta que justifiquem cruzadas contra outras opiniões ou culturas. A discussão e variedade de opiniões são salutares; só na aceitação da diversidade se exercita a tolerância. “Não há judeu nem grego, escravo nem livre, homem nem mulher; pois todos são um em Cristo Jesus (Gálatas 3:27-28). A força emancipadora deve vir de dentro numa discussão respeitosa dos pontos de vista e da integridade humana. Fora de questão deve estar a defesa da dignidade humana e da integridade e liberdade da pessoa. É discutível se a participação austríaca ganhou devido à cancão ou se venceu Conchita pelo facto de “o diferente” ser politicamente correcto. “Quem com ferros mata com ferros morre”! A promiscuidade de política e religião não se revela salutar, mas não é melhor a promiscuidade de arte e política. Urge criar laços de responsabilidade entre as facções e recuperar a dignidade humana, sem ter de abandalhar a sociedade nem de reprimir a individualidade de cada um. A tolerância é uma estrada de dois sentidos tanto de direita como de esquerda. Nem é boa a festa desenfreada nem um tango demasiado travado!
António da Cunha Duarte Justo
www.antonio-justo.eu