O homem passa a vida a cavar a sua campa,
cova forrada de conceitos, teias de aranha
e ali deposita, em ânsia cega e vã,
a própria alma, antes que o corpo desça à terra.
Ah, quantas vezes, perdido em carreiros da mente,
se esquece da luz, do vento, da folha que dança,
e trilha veredas estreitas, labirinto de espinhos,
sem ver que a vida, em surdina, lhe beija a face!
Cego ao sol que desfia ouro nos trigais,
surdo ao rio que canta histórias às margens,
enterra-se em palavras vazias, números frios,
enquanto o mundo, em flor, lhe escapa das mãos.
Oh, cavador, ergue os olhos do chão!
Não te contentes com a sombra que fabricas.
Antes que a morte te cubra com seu manto,
rasga a prisão das ideias mortas,
e deixa que a alma respire
o ar puro do sonho que não tem muros.
Não vês que Deus, quando sonhou o mundo,
não o fez por dever ou cálculo,
mas por puro arrebatamento
e em teu peito, esse mesmo sonho ainda pulsa,
ainda te chama, ainda te espera
para além de todos os mapas da razão.
António da Cunha Duarte Justo
Pegadas do Tempo
Mau tormento de pensar que a cova donde me ia enterrar foi feita por mim.
Vítor Lopes, é realmente assustador perceber como as nossas próprias escolhas nos podem levar a lugares sombrios. Mas também é nessa consciência que a gente encontra a chance de mudar o caminho. Às vezes, cavamos buracos sem perceber, mas o importante é que é sempre tempo de se poder escolher sair deles e que ninguém fique preso no próprio buraco para sempre. O que acaba de dizer faz-me lembrar Fernando Pessoa que creio dizer: “É realmente doloroso quando a gente vê que foi o próprio arquiteto da própria armadilha. Mas a boa notícia é que dá pra reconstruir.”
António Cunha Duarte Justo, eu vi o buraco do burro a ser enterrado e quanto mais enterravam o burro mais ele subia até ficar vivo.
Vítor Lopes , o burro fez como a rã caída ao vaso de leite e que não desistiu de crer na vida, e esse desejo prolongou-lhe a energia de maneira a ter podido transformar o leite em manteiga e deste modo ter ainda suporte para saltar para fora do vaso que a tornava cativa. O que valeu ao burro não ter a sorte do burro foi a sua esperança ou sonho.
António Cunha Duarte Justo, não. Foi um acaso dos homens! que valeu ó burro viver
Vítor Lopes , o problema é que ele tem de ter sempre algo a que se agarrar!
Lindo ! Boa noite amigo !
“Solta as asas que tens cativas”
Manuela Silva, aí é que começa o busilis da questão!