Não há trilho traçado,
sou eu que sou o trilho,
na vereda daquele que disse:
“Sou o caminho e a vida.”
Sou criatura, sou figura
do cosmos e da gente,
o verbo que se move
num tempo sem guarida.
Não pares, segue firme,
o chão espera o teu passo.
O mundo nasce em ti
quando caminhas nele.
Debaixo dos teus pés
desenha-se o mistério:
o chão que parecia
vazio, agora és tu.
Olha o monte nevado,
sem rasto nem direção,
à espera do teu vestígio,
da tua história impregnada.
A neve, que antes era intacta,
agora já tem memória.
És tu quem lhe dá rumo,
és tu quem faz a história.
No fim, não há coroa,
mas um cântico manso,
um Deo gratias bendito
sussurrado no cansaço.
Pois foste conduzido
por força sem medida,
por mão que não se vê
a chamar-te à subida.
António CD Justo
Pegadas do Tempo