Agências Rating Standard & Poor’s e Moody’s no Fogo da Crítica

No Pelourinho a Europa defende-se

António Justo


As Agências Rating, com a sua favorável avaliação da Grécia, contribuíram, inicialmente, para que esta se endividasse. De seguida lançaram alarme, pondo óleo no fogo, e os bancos credores reagiram subindo os juros. Agora que só lhe deixaram os ossos, todo o mundo grita pelos bombeiros.

O poder e influência das Agências Rating são enormes, também porque os governos tomam decisões depois de as consultar ficando assim em xeque-mate.

Os seus métodos de avaliação das economias nacionais não são transparentes. Além disso são praticamente monopolistas do mercado, como conclui “manager magazin” 9/2011: “Os dois gigantes americanos atingiram receitas de 4.ooomilhoes de dólares e repartem entre si 80% das receitas de negócio das agências Rating mundiais… As US-Rating são consideradas em Bruxelas como aceleradoras do fogo”. A Comissão europeia que não cuidou de criar uma Agência Rating europeia planeia, para breve, uma regulamentação da EU com regras precisas para as Agências Rating que queiram ser acreditadas na Europa.

Independentemente do interesse político em jogo, as agências Rating, muito embora usem métodos menos nobres para o seu negócio, são parte do problema e ao mesmo tempo o termómetro que indica o grau da doença.

O problema maior está no poder que têm sobre a política e no facto de se encontrarem ao serviço do grande capital internacional.

Antes da crise financeira as Agências Rating avaliaram os Bancos muito favoravelmente e depois dos países se endividaram para salvarem os Bancos, colocaram no pelourinho as economias doentes.

O que as agências Rating não fazem é a avaliação da seriedade dos Bancos no serviço do bem-comum. Seria de avaliar também se o agir dos bancos é socialmente aceitável. Deste modo o cliente poder-se-ia decidir pelo Banco que provoque menores danos colaterais.

As conquistas da economia social europeia encontram-se à disposição. A União Europeia, cada vez se torna mais igual aos USA.

António da Cunha Duarte Justo

antoniocunhajusto@googlemail.com

O Norte da Europa não se quer responsabilizar pela Carência do Sul


Europa – Entre o Fundo de Resgate Euro e a Criação de Títulos-Euro

António Justo

O pacote de resgate é uma medida provisória para salvar, do risco da bancarrota, economias fracas da zona euro. Países, como a Finlândia, que não querem ver o seu empréstimo reduzido a fundo perdido, exigem garantias para o seu próximo empréstimos de emergência à Grécia. Torpedeia assim as intenções dos parceiros europeus. Estes não têm tido coragem para enfrentar os problemas inerentes à criação do Euro. Têm-se limitado a circundar o problema como o gato à volta do leite quente.

Também a ampliação do fundo de resgate (EFSF/ESM), agora em negociação, não é mais que a tentativa de adiar soluções, além de se revelar ineficiente para os próximos candidatos (Espanha e Itália).

Títulos do tesouro da EU serão a melhor maneira de se criar um instrumento equilibrador de diferentes economias e, ao mesmo tempo, fomentador de regiões com estruturas deficitárias. Isto terá como consequência maior inflação e o enfraquecimento do Euro, o que não agrada às economias fortes interessadas num Euro forte e estável. Com a criação de títulos EU (Euro) toda a Comunidade seria chamada a contas. Os países mais ricos passariam a ser os credores (assumindo o risco) e ao mesmo tempo co-financiadores dos juros dos países com défices estruturais. Isto impediria os especuladores globais de levarem os países endividados à ruina com juros astronómicos e obrigaria os países fortes a deslocar empresas para a periferia. Os países fortes receiam que os países devedores, com a introdução de Títulos a nível de EU, deixariam de ter pressão para evitar fazer dívidas.

O preço da EU e do Euro traz consigo a solidariedade dos mais ricos para com os mais pobres exigindo aqueles, em contrapartida, mais disciplina destes. As tácticas dilatórias de países nórdicos, como a Alemanha, só serão compreendidas em sociedades disciplinadas e habituadas à estabilidade económica e social; tal não se dá nas sociedades latinas, o que explica animosidades entre as nações latinas e as nórdicas. Aqui não se poderá esperar justiça equitativa. Quem trabalha e tem mais produtividade terá que pagar mais!

Para se salvar a EU e o Euro, os países fortes não têm outra alternativa senão aceitar Títulos-Euro ou fazer transferência de dinheiro e bens para os países da periferia. Quem suporta a maior carga são e serão os alemães. Se quiserem estabilidade na EU terão que a pagar ou optar por adequarem os seus costumes aos latinos, o que corresponderia a um empobrecimento da Europa.

A distribuição da carga na união monetária traz consigo mais centralismo e mais dirigismo dado que quem paga quer receber algo em troca. O Sul terá mais dinheiro na algibeira mas mais presença nórdica na orientação dos destinos da EU. A situação é tão complicada e as economias do norte e do sul são tão diferentes que, neste processo, numa primeira fase, só poderá haver descontentes dum lado e do outro. O maior problema estará na perda de independência nacional e na destruição dos diferentes biótopos culturais europeus. Tudo cada vez mais igual, tudo em serviço de Mamon.

O descontentamento já chegou aos andares superiores dos Estados

Ontem, o presidente da RFA, Christian Wulff, homem reservado, criticou o Banco Central Europeu (EZB) por ter comprado títulos (bonds) de alguns Estados. O Artigo 123 do tratado sobre o modo de trabalhar da EU proíbe, para assegurar a independência do Banco Central, o EZB de comprar títulos de dívidas. Wulff critica também a política dos governos: “O pecado contra a geração jovem tem que acabar”. O desenvolvimento faz lembrar um jogo de dominó: “Primeiro  os bancos salvaram outros bancos e depois os Estados salvaram os bancos, depois uma comunidade de Estados salva alguns Estados. Quem salva no fim os salvadores?” A política não se deve deixar “conduzir (como puxados) na argola do seu nariz, por gerentes de bancos, por agências Rating ou por Media voláteis”. A política tem actuado como um acossado. De facto não tem defendido as aquisições da economia social de mercado, como protectora da necessária solidariedade, nem impede a ganância anti-social dos jogadores globais.

Todas as iniciativas, como o plano de resgate do euro para tornar a zona euro resistente às especulações tem deixado todos descontentes. A Europa e os europeus encontram-se a saque.

A repartição da dívida por todos os Estados da zona euro através de obrigações-euro constitui um sapo difícil de engolir especialmente para a Alemanha. A queda do euro ou a exclusão de países da zona euro teriam consequências sociais irreparáveis para a estabilidade europeia. Será óbvia a cooperação na política económica e fiscal. Para defender o espaço económico europeu não chega defender o Euro, é urgente uma política de transferência de riqueza para os países pobres ou através de Euro-Bonds (títulos) assumir a responsabilidade das dívidas dos países mais carentes. Doutro modo estes serão impossibilitados de equilibrar os seus orçamentos estatais, por terem de pagar juros usurários a especuladores sem escrúpulos.

Todos terão de participar na solidariedade: países, bancos, credores, contribuintes e não contribuintes. A situação é demasiado problemática para nos fecharmos em nacionalismos ou em receitas simplistas.

António da Cunha Duarte Justo

antoniocunhajusto@googlemail.com



LÍBIA NAS PEGADAS DO IRAQUE


Vitória da Rebeldia mas não da Democracia

António Justo

A coligação rebelde – uma aliança paramilitar de 40 grupos díspares habituados a disparar para o ar (como as imagens têm mostrado) – acaba com um regime para instalar outro. É verdade que a rebeldia norte-africana unida apenas ao islão traz ventos novos mas não os ventos da democracia e dos direitos humanos como demonstram o Irão, o Iraque, o Kosovo/Albânia, o Afeganistão e outras sociedades onde a violência se espelha nos rostos e nos gestos da praça pública.


Para quem esteve atento, aos Meios de Comunicação Social ocidentais, estes, nos últimos sete meses, só apresentaram, imagens e entrevistas com os rebeldes; a voz dos fiéis a Kadhafi foi oprimida independentemente da maioria querer ou não a revolta. Amplia-se a voz de quem fala mais alto, a voz de quem serve os “nossos” interesses. O Ocidente manipula e determina assim, através dos Média, a opinião dos seus súbditos obrigando-os a ter a impressão que só está na ordem do dia a voz dos rebeldes. Encontramo-nos perante um sistema de lavagem cerebral refinada e o povo até pensa que tem uma opinião bem formada, pelo facto de viver em democracia. A má intenção, aliada à ingenuidade e à ignorância, pode muito.


Direitos humanos, liberdade e democracia são produtos sociais ocidentais ainda muito enfezados no próprio Ocidente. A sua concretização precisou de muitos séculos para se ir tornando realidade numa sociedade europeia de história muito conflituosa. O Ocidente não faculta aos árabes a sua luta paulatina pela conquista das suas liberdades. Interesses económicos, que não humanos, apoiam, conforme o estado do tempo, alternadamente, regimes que impedem a colonização interna do país em benefício dum colonialismo suave exterior. O preço são povos continuamente prostrados e violentados em nome de humanismo e democracia. Continuam, a ser povos subjugados por uma cultura prisão, que os põe ao serviço dos interesses mesquinhos de poucos.


Depois de 42 anos de domínio de Maomé al-Kadhafi, o seu poder corre pelas ruas. O seu paradeiro é a “tenda”, três dos seus filhos acham-se nas mãos dos rebeldes e o preço do petróleo baixa.


A Líbia parece juntar-se aos rebeldes sob a orientação do presidente do Conselho Nacional Provisório (Governo Provisório) Mustafa Abbdul Dschalil (antigo ministro do regime de Kadhafi).


Que será depois do ditador Kadhafi? Um lugar da anarquia, um alfobre de islamismos?


Anseios duma liberdade não realizada projectam-se sobre uma sociedade de grupos rebeldes unidos apenas pela mão forte e violenta dum Corão imprevisível. Liberdade e democracia não fazem parte da sua filosofia. Democracia é um produto ocidental, não oriental, tido como parte da colonização.


A América e a Europa ou são cegas ou querem enganar os seus cidadãos ao atestarem vontade democrática ao povo líbio, quando este luta por outras realidades, e o Ocidente, o que pretende é petróleo, querendo, para adquirir estabilidade para o negócio, impor ao mundo árabe um sistema de valores a este alheio.


Sociedades, sem partidos, sempre confiantes em caudilhos ou no poder militar, ainda não chegaram ao Renascimento europeu e menos ainda às lutas entre forças religiosas e forças seculares.

Os nossos políticos certamente que não têm conselheiros isentos em assunto de antropologia, de sociologia árabe nem de islão.

Por isso o Ocidente perdeu a guerra do Iraque sendo a emenda pior que o soneto; também sairá vencido da guerra do Afeganistão e terá que pagar bem caro, económica e culturalmente, as palhaçadas que se permite na África do Norte.


A Líbia encontra-se numa situação pior que o Egipto ou a Tunísia. Sem um exército e com uma sociedade tribal unida apenas pelo islão, a Líbia propõe-se mais à desmoronarão.


Profecias de al-Kadhafi

Kadhafi, como berbere, confessa: “Eu sou um combatente, um revolucionário a partir duma tenda… vivo no coração de milhões… morte, vitória é igual, nós não desistimos… Estas pessoas (os líbios) chegarão um dia à posição de levar esta luta à Europa e as vossas casas, escritórios e famílias tornar-se-ão alvos – legítimos alvos militares – tal como vós usastes as nossas casas como alvos…”. (extractos de citações do HNA, 23.8.11).


Um “eu” no nós, um nós no eu, constituem a força duma civilização que parece incompreensível ao ocidente. Esta confissão revela uma estratégia islâmica que só conhece vencedores e, no caso de fracasso, se alegra com o martírio, o último valor que esperam os guerreiros do Deus/Alá.


É muito cedo para se poder prever o caminho líbio. O deserto é grande e propício às mais diversas tendas. Uma sociedade com muitos canteiros de obras só com o cimento do Corão e da Sharia, mitigada por ideias e interesses contraditórios de berberes e migrantes, não constitui fundamento para esperanças aleatórias de liberdade e democracia. Pior ainda quando democracias ocidentais mitigadas pela corrupção se armam em exemplo para uma sociedade de corrupção estrutural?


O futuro próximo da Líbia não se adivinha melhor que antes, tal como aconteceu com o Iraque. A embriaguez do petróleo impede o Ocidente de ver e de pensar com clareza, prejudicando irremediavelmente o seu desenvolvimento bem como o desenvolvimento social dos árabes.


Restará à América e à Europa aguentar com os riscos e com os custos do estacionamento (“construtivo”!…) de militares da Nato na Líbia. Em nome da comunidade internacional e de “medidas humanitárias” enganadoras, a política justificar-se-á, abdicando do bom senso.


O Ocidente oferece aqui mais uma oportunidade à estratégia de al-Qaida na sua guerra contra a economia ocidental.


O papel da Europa e dos USA é deprimente. Na sua arrogância não tomam o islão a sério nem os seus representantes. Confundem o desejável com o praticável. A mudança não é possível com coacção. Nos Media usa-se a palavra-chave democratização como capa da corrupção, da censura e da violência.


A distância da Líbia à democracia está na proporção da distância do Corão aos direitos humanos.

António da Cunha Duarte Justo

antoniocunhajusto@googlemail.com

VISITA DO PAPA A ESPANHA


Crenças ao Desafio


António Justo

O Papa reúne-se em Madrid com a juventude do mundo para dialogar sobre os problemas que flagelam a humanidade de hoje, enquanto a rapaziada, lá fora, briga sobre os custos da sua viagem, sobre as faltas da Igreja na Idade Média, negando-lhe até a liberdade de ter opiniões diferentes das suas.


Uma maneira fina de desviar para canto problemas que a todos toca. Falar do folclore é mais fácil que de conteúdos. Perturbar o desenvolvimento de celebrações, como a Jornada Mundial da Juventude, torna-se uma maneira fácil de chamar a atenção a si e de ocupar os Media sedentos de actos superficiais polémicos. Assim, se consegue que a mensagem passe desapercebida.


“Num mundo da violência e do consumismo… famintos de justiça, misericordiosos, de coração puro, pacíficos”, os jovens, declaram querer “ser embaixadores da paz no mundo”.


Bento XVI apela aos professores das universitários afirmando que as Universidades, para lá das ideologias, são o lugar ideal para “procurar a verdade real acerca do Homem”. Um discurso diferente do dos governos!…


Em Madrid, o papa também apelou à juventude para que dê “uma resposta radical a uma espécie de Deus eclipsado”.


A “Jornada Mundial da Juventude“ (16-21 de Agosto) pretende visibilizar uma face diferente da de casas a arder em Londres, autos incendiados em Berlim.

Dum lado uns apostam num amor aparentemente ingénuo, do outro, outros apostam numa razão exacerbada e provocante. Se todos querem um mundo melhor, porque se atacam? Tudo em guerra em pretexto da defesa da sua paz.


Parece haver muitos incomodados por verem manifesta publicamente uma fé que querem ver praticada apenas nas traseiras da sociedade.


A mera presença do chefe de mais de mil milhões de católicos põe em pé de guerra as ideologias. Eternos descontentes não concedem aos católicos o direito de receberem o seu irmão mais velho na fé. Parecem colocar na balança da sua sentença apenas o valor económico sem considerarem, além de outros, o aspecto turístico, a promoção mediática da nação nem os valores morais e sociais. Nesta perspectiva ter-se-ia de acabar com campos de futebol, visitas de Estado e de Dalai Lamas, protecção policial para pessoas em perigo, etc.; no seu argumentar, tudo isto causa despesas públicas que poderiam ser disponibilizadas para os pobres. Usam-se argumentos como armas de ataque ou escudo de defesa. Quem hoje chora os gastos com a viagem do Papa não estará longe de amanhã chorar os gastos com os pobres, doentes e velhinhos. A razão quando é forte cega! Ou será que querem a praça pública só para si. Se hoje é o dia dos crentes religiosos amanhã também haverá um dia para os crentes do laicismo.


É desconsiderado o bem que a Igreja faz no mundo com projectos sociais com apoios de milhares de milhões de euros a desprotegidos. Críticos do catolicismo regateiam  o dinheiro que se gasta na viagem do Papa argumentando que indirectamente também a financiam através dos impostos e acrescentando a necessidade dos pobres. Como se a realidade social não fosse complexa e se pudesse reduzir a credos sociais ou políticos e como se os católicos também não financiassem a sua ideologia custeando abortos, e, em comum, guerras através dos seus impostos. Somos todos cúmplices. Cada um de nós tem a sua quota-parte no bem e no mal da sociedade. Quando o meu dedo indicador aponta o mal dos outros, os outros quatro apontam para mim!


“Não só de pão vive o Homem.” A presença do Papa, embora para muitos contraditória, não deixa de ser um testemunho de caridade, solidariedade e entrega ao bem, realizado pela maior instituição de caridade do mundo.

A Igreja incomoda o cidadão solicitando dele uma conduta espiritual elevada e este vinga-se dela não lhe querendo reconhecer a sua natureza humana pecadora.

Assim, exige-se uma Igreja sem erros como se ela fosse uma instituição de anjos e não de humanos.


Exige-se que a Igreja esteja calada, como se para ela não valesse a liberdade de expressão.


Exige-se que a razão e a verdade se reduzam à opinião como se esta fosse objectiva.


Exige-se que a Igreja se oriente por estatísticas demoscópicas e pelas verdades da praça sem se conhecer a sua filosofia e mística.


Exige-se uma tolerância à Igreja que se não tem para com ela.


Exige-se uma Igreja da mudança como se a mudança constituísse um valor em si e como se as verdades de hoje não constituíssem, em grande parte, as ficções/erros de amanhã.


Estes intolerantes da religião constituem o polo oposto dos intolerantes muçulmanos que não reconhecem a realidade de valores laicos vendo neles obra diabólica.


Quando a medida da tolerância é reduzida à própria opinião, a liberdade já se encontra a caminho do cativeiro. Só uma plataforma comum baseada na fraternidade e na complementaridade poderá levar à compreensão mútua.


Organizações de crentes laicos ou religiosos têm o mesmo direito de expressão na sua qualidade de pessoas individuais ou colectivas. A liberdade de expressão deve ser independente da devoção, seja ela laica ou religiosa.


Em nome da tolerância procura cimentar-se o ódio contra católicos. O preconceito dos perseguidores de bruxas de ontem, são continuados por arautos dum laicismo iluminado e militante. Estes queimam os adversários na fogueira da razão e enterram-nos na cerca da sua opinião. É fácil ser-se forte contra a vulnerabilidade. Repete-se o jogo do Lobo e do Cordeiro; quem suja sempre a água são os outros: “Se não foste tu, foram os teus antepassados”. Como se a água já não se encontrasse turva pelas nossas crenças e razões.


A intolerância camuflada justifica os novos inquisidores sob o pálio de palavras mágicas como laicismo, liberdade, progresso e democracia. Intolerantes da tolerância sentem-se os cães de guarda duma concepção de Estado dogmática própria, à sua imagem, e semelhança, que querem anti-religioso como se sociedade e Estado fossem a mesma coisa. Por trás da religião, da política e da opinião há muita desonestidade. Torna-se fácil e moderno atacar quem não se defende. Os corajosos críticos do Papa revelam-se cobardes perante os muçulmanos e perante a exploração institucionalizada. O medo pode muito e tem as suas razões!


Porquê tanto combate em nome da crença/opinião? Uns esperam na vinda do salvador e outros no mito de que a Ciência tudo virá a explicar. A realidade, como a verdade, é a-perspectiva pressupondo uma consciência de complementaridade e interdisciplinaridade na sua abordagem. Somos todos precisos. Mesmo as minhocas e as toupeiras beneficiam a terra embora à primeira vista pareça que não.


António da Cunha Duarte Justo

antoniocunhajusto@googlemail.com


Europa em Ebulição – Magmas Culturais e Económicos


Tumultos na Inglaterra – Erupções do Grau Cinco na Escala de Richter

António Justo

Por toda a Europa há sublevações nas camadas fracas da sociedade. Os arroteamentos levados a efeito pelos exploradores do planeta revelam-se destruidores de meio e ambiente, não tanto pela mudança climática originada mas pelo desequilíbrio provocado nos biótopos naturais, culturais e económicos.

Nos bairros pobres das cidades respira-se uma onda de insatisfação, na Bolsa garça a tempestade e na política a incapacidade. As irregularidades climáticas e sociais parecem fazer parte dum mesmo fenómeno: perturbação crónica de identidade na sociedade e no cidadão.

Depois dos tumultos surgidos na Inglaterra, o Primeiro-ministro David Cameron proclamou querer “reparar o colapso moral da sociedade partida”. Como se a tarefa dum povo inteiro pudesse ser resolvida por um governo ou partido!

Esta enxurrada de violência causou a morte a cinco pessoas, provocou prejuízo de milhões de Euros e deixou uma ânsia na sociedade, que se pergunta: onde e quando surgirá o próximo tumulto? Este é certo. Por toda a Europa há tensões, explodindo, aqui e acolá, os problemas sociais provocados por um capitalismo predatório e por uma política “multicultural” ingénua e alienatória.

Tudo consequência de sociedades partidas com posições contraditórias que se afirmam à custa do povo e das instituições dos Estados. Países, sem uma filosofia de Estado coerente e sem tecto metafísico, encontram-se a saque de elites cuja estratégia se reduz a um sistema de competição ideológica e de produtos: mercantilismo guiado por um pragmatismo altivo! A pilhagem torna-se ordem de acção; à disposição encontra-se o povo e a cultura nacional. Para as elites chegam as palavras mágicas, “democracia”, “trabalho”, “competição” e “opinião”. Para dar consistência a estas criam leis e impostos, como substitutos duma ética reguladora da vida. A desintegração progride.

Os exércitos do futuro receberão novas tarefas, como vanguarda da polícia. Esta passará a proteger apenas os interesses dos beneficiados do Estado. O inimigo deixou de estar fora das fronteiras, vivendo agora dentro delas!… O povo tornou-se suspeito para os governantes e já não se sente em casa na própria nação (O seu biótopo natural/cultural é sistematicamente destruído). Tem de estar sempre em estado de alerta como se fosse um apátrida ou um desertor. Os mercenários do turbo-capitalismo e seus acólitos apoderaram-se do seu tecto, não sente dores de consciência pela crescente sociedade precária.

Violência atrai violência

Todo o mundo parece chocado com a brutalidade das imagens que passam na TV e com a incapacidade do Estado para reagir adequadamente. Em vez disso, governo e oposição dão-se as culpas um ao outro, só para distrair o povo da procura de soluções.

À juventude (autóctone e migrante) são roubados o interesse e a vontade. Esta não tem oportunidades, só pode reagir, ao receber um ordenado que não lhe chega para viver ou ao bater às portas do Estado. Os serviços sociais são tão vantajosos como os empregos. A inteligência deu lugar à esperteza!

A integração foi negligenciada. A multicultura tem sido imposta de cima. A máquina de sociólogos e de peritos em criminologia procura descrever o caos em via. Limita-se a explicar o fenómeno porque uma diagnose exacta sobre as causas seria dolorosa para todos, além de exigir a coragem de se ir contra os credos propagados pelos detentores do poder e da opinião.

Na sociedade, domina, cada vez mais, um sentimento de impotência perante as multinacionais do petróleo, da energia e do gás, bem como perante a carga dos impostos impostos pelo Estado, carga esta que tende a asfixiar os trabalhadores e a destruir a classe média, cada vez mais reduzida aos funcionários superiores do Estado e seus detentores.

Um Estado sem competência nem perspectivas só pode fomentar o medo e violência. Os avisos claros duma sociedade doente e em ebulição são claros. Os passados tumultos de França, as revoltas anuais de Maio em Berlin e Hamburgo, e agora os tumultos na Inglaterra são o indício claro duma sociedade em franca autodestruição.

O rastilho já se encontra nas grandes metrópoles. Qualquer faísca os pode acender!

O trabalho de casa que as nações não fizerem hoje ficará para a sociedade de amanhã. Os nossos filhos e netos ver-se-ão obrigados a revoltar-se contra um Estado saqueado, um meio-ambiente destruído, lixo atómico e os destroços duma cultura desalmada.

António da Cunha Duarte Justo

antoniocunhajusto@googlemail.com