A União Europeia destruiu a Indústria tradicional portuguesa e agora pede-lhe Contas


O Negócio com as Dívidas dos Países sob Observação da Troica da EU

António Justo

A tragédia da Grécia arrasta-se, de maneira humilhante, sem que haja uma perspectiva honrosa para as partes. A crise financeira em que se encontram os países sob observação da Troika é consequência dum crise das instituições da EU e da desarmonia das suas economias.

Assistimos a um conflito macabro entre a Europa do Norte e a Europa do sul; fundamentalmente um conflito entre os países carentes e os países fortes.

Os países ricos querem vender /exportar para os países pobres, sem contrapartidas de investimento sério nestes países. Como macro-produtores colocam, os seus produtos a preço de concorrência com os produtos das empresas locais. Em Portugal, a União Europeia destruiu as indústrias do calçado, das pescas, dos têxteis e em parte a agricultura. A princípio, as multinacionais internacionais instalaram-se provisoriamente nos países da periferia para se aproveitarem dos fundo perdidos da EU. Depois de passar o prazo de compromisso assumido começaram a abandonar o país ou a reduzir a produção. Ficam redes de intermediários que passam a servir o mercado com produtos importados. Resultado: a fraca economia é ainda mais enfraquecida ao ver as pequenas e médias empresas desaparecerem.

Em Portugal pude observar isto na zona de S. João da Madeira. Uma empresa alemã, aproveitando-se do saber especializado da região em calçado, instalou, lá e noutras zonas, grandes fábricas de calçado. A sua concorrência levou muitas empresas pequenas e médias à falência. Depois a empresa fechou uma fábrica e racionalizou outras para se irem aproveitar doutras zonas mais baratas fora de Portugal. Para trás ficam os trabalhadores sem capacidade de compra. Estes servem-se dos produtos chineses baratos mas de má qualidade.

O turbo-capitalismo passa pelos países como um furacão arrastando tudo atrás dele. Deixam o país com maus hábitos explorando-os depois através dos abutres financeiros.

A Europa é um projecto político que está a ser destruído por interesses económicos turbo-capitalistas demolidores de nações. São de tal modo grandes que obrigam os países a pôr tudo à venda e a privatizar tudo no seu interesse.

Atendendo às diferentes tradições na economia não se pode chegar nunca a uma solução satisfatória, com agravante da moeda única. Como a política económica europeia é inconsequente, torna-se consequente a exigência da Chanceler alemã Merkel ao exigir que os bancos apoiem os países fracos. Os credores têm de renunciar a uma parte das suas exigências através dum acordo de dívida, para que Portugal e a Grécia se libertem de parte da sua dívida. Consequentemente alguns bancos entrariam em crise.

Só uma prorrogação dos períodos de reembolso para os títulos do governo e créditos de apoio com juros baixos poderão dar tempo ao país para reorganizar e disciplinar a sua economia. Só neste caso se poderia compreender a intervenção duma Troika controladora. Portugal para cumprir o memorando da Troika terá de renunciar à sua soberania e transformar os portuguesesem assalariados do grande capital, sem capacidade de se erguer com dignidade.

Temos uma EU com economias de diferentes tradições. O Norte, exportador e disciplinado está interessado num euro forte devido aos interesses financeiros mundiais e o Sul que não consegue produtividade concorrente e que pelo facto estaria interessado na desvalorização do Euro, para assim poder exportar os seus produtos mais baratos em relação a outras moedas. Como os países fortes não instalam empresas de grande alcance internacional nos países da periferia, estes, para manterem um nível alto de vida, recorrem à importação e ao crédito financeiro internacional. Assim passa um país inteiro a viver “com as calças na mão.” Terá de hipotecar também os esforços de estabilização não lhe restando fundo de meneio para investimentos próprios.

No caso de não haver na Europa uma distribuição equitativa das fontes de produção, o Norte Europeu terá de fazer grandes transferências de capitais (fundos de solidariedade) para os países pobres. Assistimos a um jogo de batoteiros em que uns têm os trunfos e os outros a “canalha”. A  Troika vela pelos interesses do grande capital! Os deuses europeus parecem agarrar-se à vaca da europa mas só enquanto ela dá leite.

Faltam os investimentos; os créditos de apoio financeiro estrangulam povos enações. Este apoio revela-se apenas em favor dos accionistas e dos países com economias fortes. Precisa-se uma política de investimento económico, de firmas alemãs e dos países criar fábricas e lugares de trabalho nos países da periferia. Doutro modo encontramo-nos numa divisão do mundo em países ricos produtores e em países pobres consumidores. Assiste-se, ao mesmo tempo, à concentração do saber especializado nas mãos de alguns e do saber proletarizado para a generalidade.

O programa de assistência financeira visa assegurar o pagamento aos credores internacionais. Estes vêm dos países fortes, que se vêem divididos entre a defesa dos seus bancos interessando-se por isso em facilitar os créditos para que os governos possam pagar os juros aos seus Bancos. Seguem assim uma política anti-contribuinte.

Um país como a Alemanha consegue créditos no mercado financeiro internacional a 3% para depois poder emprestá-lo a Portugal a 7% e à Grécia a 11%. Facto é que Portugal também disponibilizou dinheiro para a Grécia ganhando algum; não muito porque não tem o crédito/confiança internacional duma Alemanha. Este sistema só beneficia os especuladores bancários com os seus accionistas e promove a irresponsabilidade.

Na União Europeia não há honestidade.

António da Cunha Duarte Justo

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Alemanha à Frente da Revolução energética


Povo obriga a Política a abandonar a Energia atómica

António Justo

A Alemanha determinou abandonar gradualmente a produção de energia até 2022, de modo, a partir de aí ver encerradas todas as suas centrais de energia atómica. A política determina assim, de maneira unânime, um marco miliário na viragem da política atómica.

Depois da catástrofe de Fukushima, o povo alemão assustou de tal modo os diferentes partidos políticos que estes deram o seu aval à política antiatómica que os VERDES (partido ecológico) já há muito exigiam.

Com a decisão dos partidos da coligação governamental CDU/CSU (Cristãos Democratas/ Cristãos Sociais) e a cedência do FDP (Liberais), inicia-se não só o abandono da energia nuclear mas também, com ele, o abandono do FDP da arena política alemã na sua qualidade, até agora, de terceira força para possibilitar coligações. O FDP fazia alternadamente coligação com o SPD e com a CDU/CSU conforme as relações de maioria destes o permitiam. Os VERDES passarão a ser a terceira força partidária possibilitando coligações não só por razões aritméticas mas pelo facto da cor ecológica se encontrar cada vez mais forte também nos partidos conservadores. Até ao presente a política da energia atómica da CDU/CSU abria uma trincheira inultrapassável entre os conservadores e os VERDES que tornava impossível a sua coligação. A estreia duma coligação com os VERDES já se encontra à vista. O panorama político na Alemanha, a nível governamental mudar-se-á radicalmente.

Entretanto as bases dos VERDES, para não deixarem passar para a CDU/CSU a sua motivação principal, querem o abandono da energia nuclear já em 2017 e não querem que se reserve uma central de energia atómica em Stand-by (como tecnologia de ponte) para casos imprevistos no fornecimento de energia.


Os lobistas das finanças procuram fomentar tempestades contra o novo curso da CDU/CSU. A indústria de energia atómica iniciou um processo jurídico contra o Governo exigindo indemnização pelo facto da determinação do encerramento das centrais atómicas. Por seu lado os estados federados aprovaram o encerramento mas exigem ainda maior fomento da energia ecológica por parte do governo central.

A decisão tomada pelo governo e pelos partidos acarreta consigo também alguns riscos. Nos invernos podem surgir problemas de abastecimento energético na Alemanha, no caso de a França não fornecer energia por precisar dela para satisfazer as próprias necessidades de consumo. O abandona da energia nuclear pode pressupor a fomentação de centrais eléctricas de carvão e com isto o problema da poluição com o CO2. Por outro lado, o preço da energia é um factor importante para a manutenção da localização das empresas.

A Alemanha é um país com uma cultura de estabilidade e progresso tecnológico. Com a medida radical que tomou, contra a energia atómica, a Alemanha abre as portas ao fomento de novas tecnologias, em favor dum mundo mais ecológico. A Itália, naturalmente, influenciada pelas decisões tomadas na Alemanha, já se declarou, no último referendo, contra a energia atómica.

Naturalmente que em muitos países se levantarão os Velhos do Restelo, por razões financeiras, contra a política assumida pela Alemanha, principalmente aqueles que vêem a natureza e a humanidade como presa.

A voz do povo da Alemanha tornou possível o que a economia e alguns políticos viam como impossível. Quando há uma vontade encontra-se sempre um caminho. A lição alemã mostra que quando o povo acorda as coisas se mudam, tornando-se possível o que se apregoa como impossível. A natureza e os pobres sofrem mais porque por todo o lado o povo continua a dormir e descansado com os analgésicos que a opinião publicada lhes injecta.

António da Cunha Duarte Justo

antoniocunhajusto@googlemail.com

Entre o eu integral e o eu superficial


Problemas nas Relações são Momentos de Desenvolvimento

António Justo

Uma pessoa, tal como o seu carácter, é mais que a soma dos seus detalhes psicológicos. Ao dizermos ou sentirmos o nosso eu referimo-nos a algo definido como se fosse um produto, algo já acabado e não um processo na realização do ser. O meu eu inclui-me a mim e às minhas circunstâncias. Estas são eu, tu, o outro, o universo e o mistério. A nossa personalidade é formada por um eu profundo integral e por um eu superficial parcial, ou seja um eu luz e um eu treva. O ego é a sombra do eu integral; é como que a sua crusta, a parte opaca da transparência, a sombra duma realidade, mais ou menos oculta, a tudo conectada.

No ego predominam as forças centrípetas enquanto no eu integral reina a harmonia dum universo de forças ordenadas. A relação acontece na tensão entre um eu e um tu para se realizar no nós. No nosso trajecto vivemos a fugir da anonimidade duma massa despersonalizada para através do eu personalizado voltarmos à comunidade dum nós pessoal. É a luta das cores por se diferenciarem do verde da natura para poderem brotar na flor. Somos com e no universo, todo o mundo, a caminho, na procura do “Sol”, num mesmo sistema interligado pelas mesmas leis.

Ao sermos projectados do útero da mãe inicia-se o processo da individuação. No grito original iniciamos uma nova relação com órbitra própria a firmar-se numa nova constelação. Ao ser-nos cortado o cordão umbilical, abandonamos o paraíso na procura de identidade. Começa a marcha a caminho do eu no sentido de realizarmos a ipseidade no todo. Primeiro de gatas, depois amparado e por fim só. Quanto ao desenvolvimento psicológico esse torna-se mais demorado e complicado. Como na natureza nem toda a planta chega a dar flor, o que não torna o seu verde menos esplendoroso. Vale a pena o esforço de ver para lá dele.

O desenvolvimento pressupõe um processo dialéctico exterior numa realidade que ultrapassa a dialéctica (afirmação-contradição, tese-antítese ou a mera síntese). A afirmação da parte contra a parte e deste modo o reagir e a distanciação contra o todo provoca a dor insatisfeita. Doutro modo a fricção do eu no tu seria integrada no desenvolvimento não se cristalizando na dor (culpa, medo). O movimento de separação e aproximação, tal como as ondas e as marés, não são mais que o pulsar do coração com os seus impulsos e pausas, como a alegria e a tristeza, o entusiasmo e a frustração; são momentos duma mesma realidade que nos envolve, define e determina.

A separação que se dá no desenvolvimento cumula na razão, onde o mundo deixa de ser uno como antes (Árvore da sabedoria no paraíso!). Aqui surge o perigo de o intelecto se autonomizar e criar um mundo “ideal” à margem da realidade com forças que não se deixam reduzir a meras leis. Com a caminhada da razão, que agora se acentua, dá-se um processo de diferenciação, de distinção entre um eu e um tu; em função da individuação afirma-se um sujeito contra um objecto, que na realidade, é sujeito numa dinâmica de complementaridade; a dialéctica leva o outro a ser tornado provisoriamente casulo para, assim, o eu se tornar sujeito. O sujeito, ao atingir o seu verdadeiro desenvolvimento, deveria passar a ver o resto da realidade como sujeito e relacionar-se de maneira a reconhecer-lhe tal dignidade (como parte dela/e). (O espírito incarna na matéria e a matéria ganha asas próprias para voar, tal como procura demonstrar o mistério da incarnação e ressurreição  e a Trindade realiza). Ao encontrarmo-nos todos num processo de transformação já não tentaremos destruir ou modificar o outro: a minha mudança já provoca a mudança do outro porque a transformação pressupõe relação, relação pessoal mesmo com o mundo inadequadamente considerado “coisa”. Trata-se de superar um pensar unidimensional só com lugar para a parte geométrica da vida, de superar o jogo das escondidas no nicho do intelecto.

Os distúrbios, de que todos sofremos como adultos, provêm dum mundo do pensamento paralelo, criado à margem da realidade orgânica e aos “traumas” que acompanharam o nosso desenvolvimento desde a criança infantil até ao estado de infantil adulto. A princípio agarrados às saias da mãe esperamos dela o amor simbiótico que nos mantinha a ela unidos no seu ventre, o paraíso terreal (muitas vezes a luta posterior não passa duma tentativa por restabelecer o estado simbiótico original: é a luta errada por se satisfazer a “culpa” do “pecado” original). Tal união, porém, não permitiria o desenvolvimento da própria identidade passando, naturalmente, a acentuar-se as forças centrífugas para depois culminarem na ressaca das forças centrípetas (egocêntricas). Segue-se então um caminho de experiências mais ou menos agradáveis, mais ou menos traumáticas que nos levam a andar pelo próprio pé ou a andar agarrados às eternas muletas de situações irreflectidas. A experiência individual cria frustrações e gratificações que mais tarde se podem revelar em sentimento de culpa, em sentimento de inferioridade/superioridade que depois será reafirmado pela vida fora num rescrito comportamental de arrogância ou de timidez. Nesta fase dominam os monólogos interiores e arrazoamentos que não permitem uma descrição adequada da realidade própria nem dos outros. Como não nos encontramos a nós mesmos continuamos a reduzir o outro à qualidade de objecto a ser assimilado ou a ser repelido. Muitos agarram-se desesperadamente ao pescoço da vida na fuga contra o vazio, contra a solidão. Procuram fora o que já se encontra dentro. As muletas das ideias revelam-se depois como poluidoras de paisagens emocionais interiores. É a fase da vida em canteiros de jardim infantil ou no jogo do gato e do rato.

Na infância a harmonia é procurada na mãe enquanto na fase adulta se procura na fusão de dois (polos) sujeitos, na “união conjugal”. Aqui encontram-se, a nível psicológico e comportamental, forças contraditórias em ebulição à semelhança do que se dá no desenvolvimento do universo com a sua formação de galáxias e de sistemas como o sistema solar, num jogo de forças que procuram o equilíbrio para depois seguiram o chamamento que pressupõe um novo desequilíbrio; este mantem a ordem viva num sistema de universos a caminho. Egocentrismo (movimento de rotação em torno de si mesmo) e altrocentrismo (movimento de translação em torno do outro) tornam-se condicionantes duma realidade maior. O amor que envolve os dois provoca o movimento aparentemente contraditório. A fixação extrema no ego ou no outro fecha os olhos para a felicidade (equilíbrio), para o amor, fixando-a no amor-próprio, na própria necessidade sem contemplar o sistema. O ego procura então não o outro mas a própria felicidade no outro contradizendo assim a felicidade, que é relação, o momento de equilíbrio (de esquecimento) que já traz em si o momento de desequilíbrio que provoca o desenvolvimento, a vida e não a estagnação. A vida que engloba o outro e a mim a caminho duma maior grandeza. A força centrípeta, o egoísmo exige uma relação de subalternos, quer ter, não quer ser, (ou confunde o ter com o ser) faz de todos seus satélites desprezando a realidade de que também os astros pertencem a estrelas e estas a galáxias, ao serviço duma realização maior. Cada um, tal como o universo, está chamado a seguir um chamamento; encontramo-nos todos a caminho do mistério na realização do amor, que é a energia que mantem todo o ser e todo o universo, unindo o que parece contraditório.

A necessidade do amor infantil (amor necessidade) domina as relações que se tornam por isso insatisfatórias. Cada um, criança traída, acusa no outro, sem saber, a sua mãe que o não acariciou suficientemente ou o considerou apenas seu satélite. Em vez de cada um se assumir aceitando as dores do parto de si mesmo (em processo) deixa-se dominar pelos fantasmas do passado sem reconhecer a realidade das forças próprias e ambientais na sua interdependência e complementaridade. Pior ainda: projecta no outro as próprias deficiências querendo torna-lo a mãe que não teve. Nesta dinâmica, mendigos do amor tornam outros mendigos também. Cada um gira em torno de si mesmo querendo criar os outros à sua imagem e semelhança.

Num processo de desenvolvimento para a maturidade (a nível dos dois) deverá criar-se um espaço para se fazerem as pazes com os “traidores” da infância para que estes não nos atraiçoem no outro. Isto deve ser naturalmente integrado em movimentos consecutivos de ensombramento de si mesmo e de luminosidade do outro e vice-versa; o mesmo se dá de forma inconsciente no ciclo do dia e da noite que pressupõe o reconhecimento da existência dos outros astros na realidade do nós (indivíduos e comunidade). Nesta realidade sentiremos e integraremos em nós não só a desejada acalmia primaveril e veraneia mas também as ventanias outonais que purificarão o nosso ser da folhagem impeditiva da próxima fase de desenvolvimento no sentido do todo.

Na constelação relacional do desenvolvimento também se encontram meteoritos isolados que vivem apenas o sexo à margem do acto criador de interacção. Esta pressupõe amor e este pressupõe a dor, resultada da tensão entre o eu e o outro. A dor é o momento de desequilíbrio que possibilita a evolução. Fugir à dor é negar-se, é negar o outro em si e negar-se a si no outro; não basta procurar, porque o sentido é encontrar-se, encontrar-se como universo a dar à luz. A vida inconsciente, além de viver na fuga e da fuga, luta continuamente com o destino. Falta-lhe a coragem para a felicidade e abdica permanecendo na contradição; esta pode, no máximo, produzir o gozo da fricção mas não a felicidade. Para o egoísta a culpa está nos outros, ele prefere ver a vida passar-lhe ao lado como os vinhateiros atrasados da parábola. Mas também o altruísmo pode ser um egoísmo escondido ou indício dum eu fraco (debilitado). Manter o equilíbrio da balança é a tarefa da vida da pessoa e do universo sempre em movimento.

Eu e tu, os dois somos três a caminho do nós. Eu e tu com o universo numa relação amorosa não dialéctica encontramo-nos num processo de interdependência e afirmação mútua; encontramo-nos todos ao serviço uns dos outros, no seguimento duma força maior: o amor. O momento dialéctico (contradição) é apenas o instante do desequilíbrio num processo maior pendular de desequilíbrio para o equilíbrio, do equilíbrio para o desequilíbrio na realização dum equilíbrio maior. Aqui já não há um com razão e o outro sem ela, agora já não há um perfeito e outro imperfeito, um culpado e o outro inocente. Aqui o intelecto e o coração unem-se para possibilitarem uma visão global integral: a vida toda na própria vida e não uma vida em segunda mão.

Deixa então de haver a autonomia do astro rei e a dependência do satélite para na complementaridade se desenvolver uma nova identidade, a identidade do nós no eu criativo e criador. A felicidade realiza-se em comunidade (Filho pródigo). Somos filhos do amor, fomos feitos de graça para vivermos na graça do amor. Como filhos da terra tornamo-nos no sol da natureza agradecida a abençoar. Resta-nos o agradecimento e a paciência. Somos novos mundos a criar um novo mundo, não podemos prar nem abdicar de nós mesmos nem dos outros.

Para criarmos uma nova maneira de estar no mundo, uma nova maneira de nos relacionarmos  nele e com ele teremos de criar uma nova relação amorosa com o outro na realidade do nós numa dinâmica identitária processual do eu-tu-nós: uma relação já não só de diálogo mas de triálogo, à maneira da incarnação e ressurreição numa relação pessoal trinitária na unidade do eu-tu-nós.

António da Cunha Duarte Justo

Teólogo e pedagogo

antoniocunhajusto@googlemail.com

www.antonio-justo.eu