CAUSA DA CRISE ALIMENTAR GLOBAL:  GUERRA DA RÚSSIA NA UCRÂNIA E BLOQUEIO CONTRA A RÚSSIA

A guerra da Rússia contra a Ucrânia e o boicote económico do Ocidente contra a Rússia e a especulação provocaram uma escalada dos preços dos alimentos e dos combustíveis a nível global e um grande aumento da fome no mundo.

O preço do óleo de cozinha na Síria aumentou 39%; a farinha de trigo no Líbano aumentou 478%. Aqueles que sofrem de fome aguda em todo o mundo, este ano, irão aumentar para 323 milhões

A Rússia foi o principal exportador mundial de trigo e produtos à base de trigo em 2020/21. A Rússia tinha uma quota de 20% do mercado mundial de exportação de trigo, farinha e produtos de trigo. A Rússia e Ucrânia produzem juntos mais de um quarto do trigo comercializado no mundo, 29 por cento da cevada mundial, 15 por cento da cultura mundial de milho e três quartos do óleo de girassol do mundo (1). 75,8% do óleo de girassol mundial vem da Rússia e da Ucrânia. 80% do trigo do Quénia é importado, vindo metade da Ucrânia

O Egipto anunciou reduzir as importações de trigo em 500.000 toneladas por ano. Como reacção os preços mundiais desceram automaticamente: custo de 27 kg que na bolsa custava 12,85 dólares americanos caiu para 9,26 Dólares.

Os cinco maiores produtores de cereais do mundo (2):

MILHO: 1º Estados Unidos da América, 2º República Popular da China, 3º Brasil, 4º Argentina, 5º Índia

TRIGO: 1º República Popular da China, 2º Índia, 3º Rússia, 4º Estados Unidos da América, 5º França

ARROZ: 1º República Popular da China, 2º Índia, 3º Indonésia, 4º Bangladeche, 5º Vietname

CEVADA: 1º Rússia, 2º Austrália, 3º Alemanha, 4º França, 5º Ucrânia

SORGO (PAINÇO): 1º Estados Unidos, 2º Nigéria, 3º Sudão, 4º México, 5º Etiópia

MILHETO 1º Índia, 2º Níger, 3º República Popular da China, 4º Mali, 5º Nigéria

AVEIA: 1º Rússia, 2º Canadá, 3º Austrália, 4º Polónia, 5º República Popular da China

TRITICALE: (Híbrido de trigo e centeio): 1º Polónia, 2º Alemanha, 3º Bielorrússia, 4º França, 5º República Popular da China

CENTEIO: 1º Alemanha, 2º Polónia, 3º Rússia, 4º República Popular da China, 5º Dinamarca

MILHO VERDE: 1º Estados Unidos da América, 2º México, 3º Croácia, 4º Nigéria, 5º Indonésia

Os maiores exportadores agrícolas do mundo são:  Estados Unidos – U$ 118.3 bilhões, Holanda – U$ 79 bilhões, Alemanha – U$ 70.8 bilhões, França – U$ 68 bilhões, Brasil – U$ 55.4 bilhões…

António da Cunha Duarte Justo

Pegadas do Tempo

(1) https://www.deutschlandfunk.de/ukraine-weizen-getreide-export-blockade-welternaehrung-100.html.

(2) Todos os números são baseados em dados da FAOSTAT (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura) (a partir de 2017):[2]

 

ALGUMAS MULHERES NO AFEGANISTÃO PODEM ESTUDAR ATRAVÉS DE ONLINE

O programa “Jesuit Worldwide Learning” negociado com os Talibãs nas províncias de Bamyan, Daikindi e Ghor vem permitir que as jovens mulheres continuem os seus cursos online.

Mais de metade dos participantes são mulheres. Elas recolhem as suas tarefas no centro de aprendizagem e estudam em casa. Muitas estão mesmo inscritas em universidades internacionais, tais como a Universidade Católica de Eichstätt.

A revista Kontinente missio 6/7 2022 relata que no programa “cada um ensina um outro”, os/as jovens transmitem os seus conhecimentos nas aldeias.

O Padre Peter Balleis SJ, director do programa, sublinha: “Em tempos de escuridão, os jovens precisam de um raio de esperança… e quando as escolas voltarem a abrir, os professores jovens e bem formados estarão já preparados”.

António da Cunha Duarte Justo

Pegadas do Tempo

CONFERÊNCIA SOBRE OS OCEANOS EM LISBOA

A Conferência sobre os Oceanos das Nações Unidas realiza-se em Lisboa de 27 de junho a 1 de julho de 2022 e é coorganizada pelos Governos do Quénia e de Portugal. O objectivo é conservar e utilizar de forma sustentável os oceanos, os mares e os recursos marinhos para o desenvolvimento sustentável; combate à acidificação da água, poluição, pesca ilegal e perda de habitats e biodiversidade; avaliação, parcerias e soluções.

Na Conferência de Lisboa não haverá exibicionismo do poder, ao contrário do que se dá na G7 e na Cimeira da OTAN em Madrid!

Cimeira do G7 realiza-se de 26 a 28 de junho de 2022 na Alemanha: estão presentes os representantes das 7 potências ocidentais

De 29 a 30 de junho decorrerá em Madrid mais uma cimeira da NATO onde estarão presentes os trinta chefes de governo da NATO!

António da Cunha Duarte Justo

Pegadas do Tempo

A DOCUMENTA (D15) PREANUNCIA A CHEGADA DO SUL GLOBAL

A Expressão antissemítica foi um Golo na própria Baliza – Nada é como parece

Já não bastava a disputa entre os mundos ocidental e oriental na guerra da Ucrânia e a acompanhante batalha da informação nos meios de comunicação social para agora se vir juntar a elas a disputa de um novo elemento simbolizado no Olimpo da Arte Documenta em Kassel. Na D15 preanuncia-se também a chegada do Sul Global a debater-se no centro do Norte já globalizado!

Encontramo-nos numa situação verdadeiramente embaraçosa não só por termos de se assumir o conflito entre ideologias do ocidente e do oriente, mas também o conflito entre povos pobres e ricos! Afinal, a abertura (Europa a sociedade aberta) que se julgava a âncora do nosso sistema e com a qual se pretendia resolver todos os problemas da democracia liberal vê-se obrigada a tomar posição e a ter de reconhecer limites ou demarcações na engrenagem do próprio sistema! O contencioso em torno da Ucrânia e o escândalo do antissemitismo expresso na D15 e a disputa em torno deles podem levar à conclusão que as circunstâncias da liberdade são determinantes na consciência dela!

A Documenta, uma plataforma de arte de coloração esquerda, desta vez, está a ser posta em causa devido a cenas antissemitas. Já seria de esperar devido à ramificação da Campanha Antissemita BDS contra a existência de Israel proibida de ser culturalmente subsidiada na Alemanha, mas com prosélitos políticos em posições relevantes da sociedade! Daí certamente o facto do Parlamento alemão se querer ocupar do assunto! BDS (Boycott, Divestment, Sanctions) é uma campanha e movimento transnacional de boicote dirigido contra a existência de Israel como Estado judaico (1). A direcção da D15 ignorou que em questões de interesses e de poder quem não alinha bate mal e as estratégias das forças BDS não tiveram isso em conta na sua hipócrita estratégia. A D15 é financiada publicamente com muitos milhões de euros.

O tema palestinenses-Israel é complicado e controverso mas torna-se insuportável quando acompanhado de racismo camuflado ou de humilhação/desacreditação do outro sob o manto da arte, quando uma Alemanha, devido à vontade nazi de exterminar os judeus, assumiu a responsabilidade de, no futuro, se tornar como que o “seguro da existência de Israel no mundo”. No meio de tudo isto, é natural que a Alemanha seja mais sensível e tenha um compromisso especial com os judeus (e Estado de Israel) porque seis milhões de judeus foram assassinados pelos nacional-socialistas (2).

A Alemanha tem ainda muitas questões de consciência também em relação aos russos pelo facto dos 27 milhões de cidadãos soviéticos que morreram como vítimas da guerra alemã entre 1941 e 1945; muitos negam-se ainda hoje a tomar nota disto (3).

A moral, a arte e a religião são bem vistas enquanto enquadramento e música de acompanhamento dos respectivos interesses dos sistemas político-económicos!

Quer queiramos quer não, tudo isto vem a propósito da mudança axial em via. Na nossa ilha dos bem-aventurados do Norte, a visão do Sul global, está também presente na mundivisão indonésia da D15, visão esta que também se encontra disseminada no meio da nossa sociedade e instituições.

A população indonésia é 85% islâmica e simpatiza com os palestinianos não tendo relações diplomáticas com Israel. Os artistas da Indonésia não conhecem a realidade do Norte global e certamente não foram acautelados para os limites que também a liberdade da arte pode ter em diferentes sistemas.

A liberdade artística que caricaturou o mundo islâmico com mísseis no turbante de Maomé é agora retocada contra o judeu. Isto provocou agressão e incompreensão de ambos os lados; no meio de tanta sensibilidade e sensibilização o que dá motivo para se pensar é que a mesma arte que tem metido a ridículo símbolos cristãos responda que o tem de fazer (e tem de ser aceite por todos) porque doutro modo a arte não seria livre!  Esta de dois pesos e duas medidas é pacificamente aceite numa ordem social ocidental em que o cristianismo cada vez parece estorvar mais um socialismo e um turbo capitalismo globalistas com pretensão de direito a dominar; naturalmente a aceitação de um mal não implica que se aceite o outro; mas, considerados os três males juntos, isso poderia levar a pensar no sentido de descobrir os porquês da diferença de trato! Ou será que o globalismo se tornou rival de um cristianismo advogado da pessoa humana e como tal um obstáculo à hegemonia capitalista e socialista?

Após o escândalo do antissemitismo, os organizadores da documenta sentiram-se obrigados a mandar examinar a exposição D15 quanto a obras críticas com conteúdo antissemita, fechando para isso partes da exposição durante um curto período de tempo. O principal grupo colectivo Ruangrupa deverá assumir essa tarefa de curadoria, relata o HNA 25.06. Esta é certamente uma missão ingrata para o colectivo artístico devido aos diferentes factores envolvidos na acção anti Israel.

Na Alemanha, a discussão ocupa grandes partes da sociedade chegando até ao parlamento; na Indonésia, a opinião pública não é informada sobre o que se passa; o assunto está reservado a alguns artistas. 200 milhões de pessoas e 200 judeus vivem na Indonésia. O movimento de boicote israelita BDS recebe um grande apoio na Indonésia.

 Em Israel, houve relatos objectivos factuais, sobre o assunto, mas não há debate sobre isso porque em Israel a cena artística é predominantemente de esquerda e, como tal, mais relaxada em relação à posição do BDS do que na Alemanha.  

Uma palavra nova e presente na actividade da D15 é “lumbung”; a palavra indonésia designa um celeiro de arroz comunitário onde os excedentes de colheita são armazenados para benefício da comunidade.

A prática da lumbung aponta para uma economia alternativa de colectividade, construção de recursos partilhados e distribuição equitativa. lumbung baseia-se em valores tais como ancoragem local, humor, generosidade, independência, transparência, frugalidade e regeneração.

O Norte Global das nações industrializadas (Primeiro Mundo, privilegiado) contrasta com o Sul Global com os seus países em desenvolvimento e emergentes social, política e economicamente desfavorecidos (Segundo e Terceiro Mundo). A maioria destes países está localizada em África, América Latina e do Sul e Ásia.

Por ocasião da abertura da documenta quinze, o Presidente Frank-Walter Steinmeier avisou: “Quando as críticas a Israel se transformam em questionar a sua existência, a linha foi ultrapassada”.

António da Cunha Duarte Justo

Pegadas do Tempo

(1) BDS (Boycott, Divestment, Sanctions) é uma campanha e movimento transnacional de boicote dirigido contra a existência de Israel como Estado judaico. https://www.berlin.de/sen/lads/schwerpunkte/rechtsextremismus-rassismus-antisemitismus/ansprechpartner-fuer-antisemitismus/dossier_ionescu.pdf

“A situação no Médio Oriente é complicada. Há colonos nacionais-religiosos que fazem da vida um inferno para os seus vizinhos palestinianos e pilotos de caça israelitas cuja língua materna é o árabe. Há uma política de ocupação estatal e um juiz de fé muçulmana no Supremo Tribunal de Israel. Há terroristas palestinianos que assassinam transeuntes com facas de cozinha e um ex-primeiro israelita acusado de corrupção que queria trazer os islamistas para a sua coligação”: https://taz.de/documenta-in-Kassel-und-BDS-Bewegung/!5859357/

(2) https://www.swr.de/wissen/1000-antworten/6-millionen-holocaust-opfer-woher-stammt-diese-zahl-100.html

(3) https://www.zeit.de/2007/25/27-Millionen-Tote

Outros artigos sobre a documenta:

Um espaço experimental de liberdade artística durante 100 dias: https://antonio-justo.eu/?p=7623

Também a Arte tem Limites e não chega apagar as Indignações: https://antonio-justo.eu/?p=7631

A CIMEIRA 2022 DO G7 EM TEMPO DE VIRAGENS

 

A 48ª Cimeira do G7 realiza-se de 26 a 28 de junho de 2022 no Castelo de Elmau, Alemanha. O grupo é constituído pelas 7 potências ocidentais: Canadá, França, Alemanha, Itália, Japão, Reino Unido e Estados Unidos da América.

Da agenda de trabalhos consta a reordenação do mundo após a invasão russa da Ucrânia; Apoio da Ucrânia militarmente, humanitária e financeiramente; a protecção climática: implementação do acordo de Paris de protecção climática; o reforço da democracia contra os Estados autoritários da China e da Rússia.

O chanceler alemão Scholz convidou também os países não alinhados Indonésia, Senegal, Argentina, África do Sul e Índia para a cimeira do G7, a fim de precaver que estes países não sejam abraçados pela China e Rússia.

De lembrar que a Índia, África do Sul e Senegal abstiveram-se de condenar a guerra na votação do Conselho de Segurança da ONU. A crise alimentar também é abordada.

A população do G7 representa cerca de 10 por cento da população mundial e gera cerca de 45 por cento do rendimento nacional bruto mundial.

Encontramo-nos numa época de reviravoltas que levam a novas constelações e reorganizações de blocos rivais, enquanto a razão dos poderosos não abandonar a lógica do poder, da rivalidade e da violência.

Na recepção, da conversa entre Scholz e Biden, este afirma a sua coesão com a Alemanha, principalmente nas questões relativas à Ucrânia! Os países do G7 anunciarão a proibição de importação de ouro russo.

Os países do G7 querem combater a crescente influência da China nos países em desenvolvimento com um programa de investimento de 600 mil milhões de dólares. Os EUA contribuem com 200 mil milhões de dólares em fundos públicos e privados durante os próximos cinco anos e a Europa fornecerá 300 mil milhões de dólares.  Os investimentos estão previstos para o sistema de saúde e infra-estruturas digitais, bem como clima e energia.

Encontramo-nos em tempos de crise. Na Europa a viragem é cada vez mais sentida negativamente.

A viragem energética com Ângela Merkel

A viragem nas relações políticas e económicas (Oriente e Ocidente) com Putin

O ponto da viragem na política económico-militar com Olaf Scholz

A viragem das taxas de juro por parte do BCE

A inflação será o mal que nos acompanhará durante muito tempo! A gestão das dívidas e a distribuição equitativa de bens será um problema acrescentado para a União Europeia. A boa vontade do povo já está a ser forçada a pretexto da Guerra na Europa e do Corona vírus.

A consequência das viragens levará a mais pobreza e a mais conflitos. Os países das periferias confrontar-se-ão com mais potenciais de conflitos sociais.

António da Cunha Duarte Justo

Pegadas do Tempo