DOCUMENTA – A EXPOSIÇÃO MUNDIAL DE ARTE EM KASSEL

Um espaço experimental de liberdade artística durante 100 dias

A D15 abriu a 17.06 e estende-se até 25.11 sob a direcção artística do colectivo indonésio Ruangrupa (1).

A Documenta (2), pretende ser um lugar de liberdade artística, de diálogo aberto, de diferenciação em vez de pensamento a preto e branco, muito embora a sua conotação seja vermelha! A artista Tania Bruguera ao referir-se à D15 diz:” se há um lugar para falar com segurança sobre questões inseguras, é este”. A singularidade da D15 reside em ser um espaço experimental de liberdade durante 100 dias.

Durante estes dias, a arte estará exposta em 30.000 metros quadrados com 1.500 artistas e tem a visita de 3.000 jornalistas de todo o mundo; os organizadores contam com a visita de 750.000 pessoas interessadas em arte que visitem Kassel só por motivo da Documenta.

Tradicionalmente, a Documenta tem uma postura politicamente crítica que pretende fornecer directrizes para o futuro, muito embora essa boa intenção se afirme, muitas vezes, à custa do menosprezo da tradição e de valores ocidentais. Um laboratório experimental sem surpresas também não teria graça nenhuma!

A documenta tenta ser uma expressão do diálogo mundial com artistas empenhados! Pretende quebrar estruturas. No centro da mensagem da da D15 deve estar a solidariedade, a participação e a orientação comunitária em vez da individualidade, a ganância pelo lucro e a luta pelo poder.

A D15 quer quebrar as fronteiras entre arte e vida, entre estética e activismo (pinturas, esculturas e modelos de economia alternativa), como afirmam expertos na HNA.

Os artistas querem transmitir a mensagem que tudo é arte (como já dizia o artista Boys já dizia na „documenta 7“) na tradição de continuar a luta contra o belo e contra a perfeição, hoje em dia, muitos artistas não colocam ênfase no domínio da técnica.  Eles querem mudar a nossa percepção, não só através da mente, mas também através de novas formas de compreensão emocional e intuitiva (3). Cozinhar, tal como estar juntos, é também arte onde se pode participar. O foco não está nas obras de arte, mas sim no trabalho colectivo. Nota-se um anseio por voltar à aldeia.

Com as suas iniciativas, a D15 quer dar voz a pessoas que de outra forma não seriam ouvidas na esfera pública global.

Ruangrupa da indonésia traz a Kassel a perspectiva pós-colonial com os seus artistas convidados. A memória dos efeitos da escravatura, da dominação, exploração, perseguição e repressão, uma constante da história mundial é aqui localizada.

Os curadores do Ruangrupa intitulam-se Gruanrupa durante 100 dias. Durante o documenta, as primeiras letras do primeiro e último nome de todos aqueles que atuam na Documenta devem ser alteradas; por exemplo, António Justo seria alterado para Jntonio Austo durante o documenta (o mesmo se fez com o nome de alguma rua). O Sul global está presente também como elemento de auto-purificação da democracia (nos preparativos para a D15 a direcção artística Ruangrupa provocou uma discussão acesa sobre racismo e antissemitismo ao referir-se à política de Israel e palestinenses). De facto, quando se foca a própria imagem na própria perspectiva, nunca se sai do beco sem saída.

De uma maneira geral, a D15 segue o ritmo próprio de outras Documentas (realizações de cinco em cinco anos)  funcionando como amplificadoras do Zeitgeist.

António da Cunha Duarte Justo

Pegadas do Tempo

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(1) Ruangrupa é um colectivo de artistas indonésios de Jacarta, fundado em 2000. Na autoimagem da organização sem fins lucrativos, as ideias artísticas devem ser promovidas e desenvolvidas num amplo contexto de exposições, festivais, workshops e investigação (refere Wikipédia).

(2) A Documenta em Kassel é a exposição mais importante de arte contemporânea a nível mundial. De cinco em cinco anos desde 1955, apresenta as tendências atuais na arte contemporânea e ao mesmo tempo oferece espaço para novos conceitos de exposição

(3) O Absolutismo na Arte: https://antonio-justo.eu/?p=2259   O Olimpo da Arte e da Ideologia: https://www.triplov.com/letras/Antonio-Justo/index.htm

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António da Cunha Duarte Justo

Actividades jornalísticas em foque: análise social, ética, política e religiosa

7 comentários em “DOCUMENTA – A EXPOSIÇÃO MUNDIAL DE ARTE EM KASSEL”

  1. Sim, isso mesmo. Mas os políticos e faraós que servem e que criam uma imagem tão assustadora do mundo não acham. Eles estão constantemente a destruir a vida e o homem e a pavonear-se na sua grandeza narcisista.

  2. UMA EXPOSIÇÃO PARA ESQUECER!

    A política intrometeu-se impedindo uma discussão-diálogo entre o mundo do Norte e o mundo do Sul. Independentemente de exageros da arte exposta a crítica do Sul global ao Norte dos ricos mereceria ser tomada mais a sério. Os artistas regressaram aos seus países, certamente com a ideia de que o Norte possui a verdade política. Um diálogo de olhar no olhar não parece caber nos nossos padrões. É triste ter de se observar que a política se apossa cada vez mais da arte para os seus fins! Em vez de arte e das relações Norte-Sul falou-se de antisemitismo!

  3. Se pela Arte podem ser transmitidos pensamentos, sentimentos, beleza e o seu contrário, conhecimento, etc. ;
    se este tipo de arte chocante pretende chamar a atenção para os problemas do mundo, então ele, este tipo de arte, pode atingir os seus objectivos. Penso, no entanto, que há outros meios muito mais eficazes de chamar a atenção da sociedade para factos passados ou presentes, sejam eles concretos ou não.

  4. Mafalda Freitas Pereira , também penso assim! Estamos numa sociedade que pretende criar contravalores aos que foram os luzeiros da nossa sociedade: o bom o belo e o verdadeiro. Uma maneira de desmontar a civilização ocidental sem que ela note…

  5. Mafalda Freitas Pereira , muitas vezes resta um premeio de resignação e de esperança. Hoje o poder é tão abrangente e sufisticado que tem tudo nas mãos e apenas uma pequena percentagem na sociedade pode notar o que realmente se passa; o caudal é tão forte que leva tudo consigo só ficando um ou outro que se agarra às árvores das margens mas o esforço feito para não ser levado esgota-o. Estamos num tempo em que só a espiritualidade interior vivida pode salvar a pessoa da torrente e uma religião mais mística, purificada e virada para o humano será o oásis libertador.

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