O Secretário da Defesa dos EUA, Pete Hegseth, afirmou recentemente em Bruxelas que “nunca foi prometido à Ucrânia que um dia seria membro da NATO”. Esta declaração reforça a ideia de que a Ucrânia não aderirá à aliança militar nos próximos 20 a 30 anos. Paralelamente, seria de esperar que a Rússia se tornasse um parceiro da Europa no contexto de uma nova ordem mundial, inicialmente tripolar.
Hegseth destacou ainda o papel estratégico da Polónia, que já investe 4% do seu Produto Interno Bruto (PIB) no setor militar, elogiando o país como um aliado fundamental. No entanto, deixou claro que “os Estados Unidos não vão continuar a tolerar uma relação desequilibrada” com os europeus. Segundo ele, caberá à Europa assumir a maior parte dos custos da reconstrução militar e civil da Ucrânia, um esforço que poderá exigir um montante gigantesco, estimado entre 500 mil milhões e o dobro desse valor.
O Secretário da Defesa norte-americano afirmou que, em princípio, os EUA não enviarão tropas para a Ucrânia, e a NATO também não o fará. A estratégia dos Estados Unidos está focada em regiões ricas em recursos naturais ou em pontos estratégicos para o comércio marítimo, refletindo uma lógica geopolítica que prioriza interesses próprios em detrimento de nações menores. Para garantir a segurança europeia, os EUA limitam-se a atuar como um “guarda-chuva nuclear”, o que, em termos práticos, exigiria o destacamento rotativo de 40.000 soldados, apoiados por um contingente total de 120.000 militares (como refere Welt am Sontag). Isso implicaria que a Europa assumisse a responsabilidade pela sua própria defesa, com a Polónia a desempenhar um papel secundário.
No que diz respeito à Ucrânia, Hegseth defende que “temos de começar por reconhecer que um regresso às fronteiras anteriores a 2014 é um objetivo irrealista”. Esta posição sugere o reconhecimento da anexação da Crimeia e parte do Donbass pela Rússia. O Secretário da Defesa enfatiza que esta não é uma concessão a Putin, mas sim o reconhecimento da política de hard power e das realidades geopolíticas no terreno.
Apesar de surpreendidos com esta abordagem, os europeus parecem resignados, conscientes de que colheram os frutos das suas próprias decisões. A estratégia astuta do governo norte-americano, embora não retratada como hostil, coloca a Europa numa posição de dependência, quase como num “cativeiro autoinfligido”.
Para o Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, “garantias de segurança sem a América não são garantias de segurança”. Esta afirmação reflete a desconfiança de Kiev em relação à capacidade europeia de assegurar a sua defesa de forma independente.
Uma coisa parece certa: com Trump o discurso político e público na Europa tenderá a tornar-se mais objetivo, menos ideológico e mais focado na economia e no fortalecimento da indústria militar. Este realinhamento estratégico poderá definir o futuro da segurança continental e das relações transatlânticas.
António da Cunha Duarte Justo
Pegadas do Tempo