Caminho Português de Santiago de Compostela

O Caminho Português de Santiago de Compostela

O Caminho Português de Fátima

António Justo

Numa época em que se tem o sentimento de que a vida se realiza a caminho e, por vezes mesmo, o caminho é a meta, seria de dar muita importância ao encontro dos caminhos medievais para Santiago de Compostela. Para Portugal, isto significaria encontrar, em grande parte, um caminho comum ao de Fátima. A Europa, entre caminhos e atalhos, sente saudade de um caminhar que a leve a bom termo.

A crescente necessidade do povo peregrinar, por razões de fé ou outras, acompanhada dos interesses comerciais e turísticos torna óbvia a necessidade de fazer o levantamento e fomento da rede das rotas dos peregrinos por toda a Europa e em Portugal.

Na Europa Central e Nórdica está muito em voga, na camada social que gasta cultura, fazer-se, a pé ou de bicicleta, o caminho de Santiago de Compostela. Em Portugal, este caminho está bem demarcado e bem servido a partir do Porto, com um percurso de 121 km em Portugal e 114 na Galícia, passando-se por 125 aldeias e cidades, podendo o percurso ser caminhado em 10 dias, o que seria pena fazê-lo tão depressa, atendendo a tantas belezas que há para observar e sentir no seu trajecto. Daí o haver muitos estrangeiros (italianos, alemães, franceses e ingleses) que vão de avião até ao Porto, tomando a partir daí o caminho para Santiago.

Do Porto para o Sul ainda não há uma investigação nem um roteiro definido. Noto isso, também, no Chaque, Branca, onde moro nas férias e aonde há um bocado de caminho conhecido como Caminho de Santiago que é, em parte, usado por peregrinos de Fátima que fazem um desvio da Estrada Nacional, a via mais usada como via para Fátima, via esta sem nada de romântico ou espiritual ao contrário da outra. (cf. Artigo “Povo nas Valetas das Estradas” .) O caminho tem muitos traços comuns com antigas estradas romanas. Já a Rainha Santa Isabel, tal como o clero, a nobreza e povo peregrinavam a Santiago o que levava à Construção de Igrejas e albergarias ao longo do trajecto.

Embora seja difícil determinar o caminho mais original em todas as suas especificidades, importante é a existência dum caminho adequado e bem concebido nos trajectos não determinados. Um tal trajecto atrai, naturalmente, todos os possíveis apetites.

Seria relevante fazer coincidir, na medida do possível, o caminho de Santiago com o caminho de Fátima. Para isso é preciso maior consciência e vistas rasgadas e um plano regional bem estudado e demarcado com infra-estruturas que sirvam os interesses dos peregrinos e não se perca nas curvas de interesses de grupos concorrentes.

Na Idade Média os peregrinos faziam a peregrinação como penitência ou para agradecer alguma cura milagrosa, tal como acontece hoje com a peregrinação a Fátima. Paralelamente a intenções religiosas está também o gosto da aventura e a curiosidade cultural e interesses turísticos.

Interesses religiosos e seculares não se mordem, prevalecendo naturalmente a motivação religiosa mais profunda num caso e noutro do que pode parecer. No nosso caminhar, seja ele pelas sendas da terra, ou do espírito encontra-se sentido e orientação. (Como distintivo, o romeiro possui um Cartão de Peregrino, a Concha de Santiago e o bordão de peregrino.)

A caminho, encontramo-nos, grandes e pequenos, sob a mesma plataforma. Daí o facto dos centros religiosos interessar também a crentes doutras religiões e a não crentes. O caminhar é ao mesmo tempo salutar para o corpo e para a alma. O bem que estes caminhos têm, com as suas infra-estruturas de apoio, é serem humanos, naturais e bastante económicos, possibilitando também, à margem do consumo, umas férias baratas paras alguns. Tudo é bom, neste caminhar conjunto.

No peregrinar se entrecruzam e misturam a paisagem natural com a paisagem da alma do peregrino dando-se prolongamento uma à outra e possibilitando o encontro dos mais diversos mundos num mundo tão rico e variado. De facto, o mesmo caminho une os diferentes caminhares e alegra-se com as diferentes motivações. Aqui poesia e oração irmanam-se (Cf.: http://sol.sapo.pt/blogs/ajusto/ )

António da Cunha Duarte Justo

POR UM PORTUGAL VIRGEM E UM ESTADO EUNUCO

O Despudor Político do “eu posso, quero e mando”

Em Portugal, o Ministério da Educação, na continuação da sua campanha de safar da cultura portuguesa os vestígios do passado cristão e de desportugalizar Portugal, deseja, com nova medida, retirar o nome de Santos às escolas públicas que o tenham. O assunto, a nível superficial, até parece banal: o nome de santos ou de políticos é indiferente para um povo que não gasta cultura porque lhe falta o essencial para viver. O resto é conversa entre crentes políticos e crentes religiosos a arrotar. Eles até têm razão; santos só incomodam numa democracia em que se querem todos pecadores iguais!… A política não suporta desigualdades nem injustiças, a não ser as dos seus. A seu ver, a virtude é reaccionária e conservadora; a nova ideologia deseja-a por isso fora da escola. O seu lugar, se andar com sorte, é nalguma igreja meio abandonada e desapercebida.

Talvez tencionem substituir o nomes dessas escolas pelos dos seus ídolos políticos (os seus santos): Karl Marx, Cunhal, Soares, Stalin, Mao, Fidel Castro, para salvaguarda das sombras do 25 de Abril, para testemunho do seu internacionalismo e para honra de tais padroeiros no adro da sua democracia.

Numa outra ordem de ideias, numa mudança de legislatura, a Ponte 25 de Abril receberá o seu nome original de Ponte Salazar!… No palco das legislaturas cada fracção poderia colocar, alternadamente, em palco, os cenários com os correspondentes predilectos, pelo tempo que lhes é dado pelo povo.

Mas não, na era progressista já não serão relevantes os partidos, apenas interessam ainda os nomes individuais, já não nomes vulgares, mas nomes formatados a caminho da abstracção em que de facto já se superaram as diferenças. Então, numa sociedade “cassete” formatada, instaurarão o politeísmo correcto como garante da sua diferença. O problema é que numa fase posterior também os deuses passarão a estorvar a divindade comum.

A Caminho do Acobardamento

Por enquanto, enquanto não nos habituarmos aos seus desmandos, alguns cépticos ainda vão afirmando que aqueles querem dar continuidade aos extremismos do Marquês de Pombal, mas sem a contrapartida do que ele fez pela nação. Comportam-se, por vezes, como estrangeirados envergonhados da nação chegando a actuar como mercenários de interesses estrangeiros e de ideologias extremas. O internacionalista têm de se camuflar para não dar nas vistas e para poder agradar a toda agente lá fora; o internacionalista moderno tornou-se uma espécie de pacote só invólucro. Hoje em dia os cartuchos são tão bonitos!

Senão veja-se o que acontece até já no futebol: para que a cruz do seu emblema não faça sombra à meia-lua turca, que protestou pelo facto da camisola dum clube português em campo ter a cruz, a reacção imediata do portuguesito foi tornar a cruz imperceptível. Este é um exemplo concreto do respeito à diferença. Estamos a chegar ao auge dum Portugal de “português” para inglês ver, ou será que o nosso estado já terá conseguido desalmar a nossa cultura? Esquecem que no próprio símbolo comunista, da foice e do martelo, se encontra a cruz.

Na próxima vez quando os nossos clubes forem jogar à Turquia coloquem nas suas camisolas a meia-lua. Este será o melhor testemunho de internacionalismo progressista. Certamente que o governo concederá um subsídio para o efeito e os turcos se sentirão vitoriosos na derrota pela vitória conseguida!… Em questões de futebol, o governo não se preocupa com o dinheiro: basta recordar os milhões oferecidos por Portugal aos palestinianos para o campo de futebol!

Na Cultura do Papel Higiénico

Se querem uma cultura portuguesa virgem e um Estado português eunuco terão também que acabar com os nomes, geralmente másculos, sejam eles políticos ou quejandas que ocupam o espaço público nas instituições, ruas, praças, etc. Será necessário começar por fazer o seu saneamento para, no tempo do Homem Adulto, se acabar com todos os nomes.

Se pensarmos em termos políticos progressistas, de facto, todo o nome é um testemunho de capitalismo, porque significa personalização / individuação que é incompatível com o actual ideal socialista e o espírito colectivista proletário, que pretende um homem como massa; sim massa mesmo, massa para poder ser comida mesmo sem colher, porque a colher é símbolo de cultura e esta é o papel higiénico com que se limpará o sim-senhor, na Nova Cidade Progressista, onde, só alguns, já não senhores mas assenhoreados, vivem da tal massa onde o vício da cultura já não atrapalha e a generalidade da massa já não precisa da outra massa porque lhe chega a outra massa da cultura macarrão, trabalhando liberta em casernas com obediências a generais e seus espias no serviço da generalidade. Os escutas, desregrados, como parte da massa, tornam a lei supérflua, ficando na cabeça de uns e de outros apenas uma operação: a lei do cálculo oportuno. Neste Estado do Proletariado Progressista já não haverá nem santos nem senhores que mandem, só se conhecerá o céu da nomenclatura anónima! Atendendo ao seu estado de evolução, a gente já não manda nem precisa de mandar; aí o povo só demanda a desmanda da manada mandada para mandar.

Com o evoluir da sociedade progressista, até dos nomes das ruas, das instituições e das pessoas se prescindirá! No primeiro estádio o argumento da democracia ainda serve, pelo que se organizarão listas de camaradas e companheiros relevantes para a nomenclatura ideológica numa proporcionalidade de igualdade de homens e mulheres, de crianças e adultos. Esta é a fase nominalista, o estádio preparatório do anónimo. Nesse paraíso já não há trabalhadores: trabalha-se. Também já não há chefes: manda-se, obedece-se.

Com o tempo não se tornará fácil para o aparelho burocrático pôr tanta gente na haste pública e menos ainda quando cada pessoa se der conta que também é povo, nação e nomenclatura ao mesmo tempo, e passe, consequentemente, a exigir para si o direito ao nome da rua onde vive. Então a filosofia progressista nominalista tornar-se-á um imperativo de estado. Já não será preciso nome, chega a rua!

No Reino dos Neutros

Para facilitar, a nomenclatura acabará com o artigo masculino e feminino optando pelo neutro. Para simplificar a relação de convivência prática, põem-se já os comités da genética a trabalhar para que ao chegar-se ao tempo da democracia plena não haja distinção entre homens e mulheres mas que se vá já dando um jeitinho para que cheguem a ser todos hermafroditas. Entretanto vão-se fazendo leis – leis de desquite – que dificultem a aberração primitiva da heterossexualidade. Assim acaba-se de vez com as desigualdades diferentes e com toda a fricção. Quanto ao problema do orgasmo, também esse se resolve através do progresso, passa a ser mental, a acontecer na cabeça. Excepção seja feita só para o arem da nomenclatura onde já não se encontrarão mulheres mas sim a virgindade genuína, aí os corpos já não complicam, no Céu do céu tem-se a vivência da faísca eunuca da igualdade diferenciada. Então o povo, para espairecer da felicidade indiferenciada, falará baixinho, à laia de ladainha, do prazer e das diferenças do sexo dos anjos da Nomenclatura Proletária…

O Portugal do futuro, que querem construir, já não será do povo português, mas dum povo número. O tal Portugal do Futuro é um Portugal mais que Portugal, um Portugal internacional numérico. Portugal numérico porque abstracto e sem conotações ideológicas de virtude ou desvirtude. Por fim chegaremos a um Portugal virtual global com alguns numerões socialistas e conformes que viverão já não do biberão da manada mas da mama da massa virtual internacional. No Portugal numérico já não haverá problemas, a não ser o da igualdade/desigualdade numérica: é que uns números são maiores que os outros. Também este problema se resolve acabando também com os números porque, no mundo da fé laica, afinal de contas, também os números são reaccionários: na sua desigualdade acentuam a diferença.

Como apogeu do progresso social, a nomenclatura proletária, para resolver o problema dos números, da massa e do papel higiénico, acabará com o ser humano. Chegou-se à hora científica do Portugal abstracto – transcendente.

Uma vez desaparecido o povo, só ficará a nomenclatura e, desta, subsistirá a virgindade genuína como ideia singela, como ideia viril dum sexo transparente, dum sexo sem espermatozóides positivos e negativos, sem androceu nem gineceu, um sexo sem género porque um sexo do prazer da igualdade progressista. Um prazer genital mas sublime, sem acto, na realidade do novo céu e da nova terra dum socialismo então consumadamente social.

Valeu a pena sacrificar-se, não por uma realidade factual, mas pela ilusão duma ideia, a igualdade no mundo das ideias. Viva, não a realidade, mas a ideia igual!

Afinal “tudo ‘valeria’ a pena se a alma não ‘fosse tão’ pequena” para tal sociedade.

O Cristo era ladeado por dois ladrões. Agora que tiraram o Cristo e o Santos das escolas consolemo-nos com os ladrões.

Mas, diga-se, em abono da justiça: os nossos políticos não são mais que a medida do nosso desenvolvimento superficial!…

António da Cunha Duarte Justo

Pegadas do Tempo, Janeiro de 2008

Destruição Sistemática do Sector Agrícola e Gastronómico

ASAE – Contra a Raia Miúda

O inspector-geral da ASAE (Autoridade de Segurança Alimentar e Económica), António Nunes, ao afirmar ao semanário “Sol” que metade dos restaurantes e cafés em Portugal “estão condenados a fechar” por não cumprirem a legislação comunitária ou por não terem viabilidade económica, parece não ter problemas com o que está por detrás de tal iniciativa europeia. Neste caso serve apenas os interesses das grandes nações europeias, como Inglaterra, Alemanha, França e Itálía e diminui a qualidade de vida do povo simples que até agora ainda se permitia ir ao café e ao restaurante. Isto é um ataque contra Portugal e em especial contra o Centro e Norte de Portugal. É mais uma investida da mentalidade proletária estabelecida contra a cultura, contra os biotopos naturais, contra a atractividade do norte de Portugal. Como na questão da regulação dos vinhos (os alemães e outros conseguiram licença de colocarem açúcar nos seus vinhos para poderem obter maior graduação alcoólica!), também este é mais um exemplo duma iniciativa centralista contra as regiões periféricas.

As lobies da União Europeia são muito inteligentes, comprando com dinheiro e taxos as cabeças que, por missão, deveriam defender os interesses de Portrugal. Enquanto que nas grandes nações europeias há sempre uma discussão pública alargada sobre as directivas europeias a aplicar e consequentes adaptações, como se viu no Projecto Galileu em que a Espanha não aprovaria o projecto se não visse interesses espanhois legítimos nele respeitados, os políticos portugueses aplicam, sem mais, as orientações.

Na legislação agora em causa contra os pequenos proprietários de cafés e restaurantes Portugal deixa, como de costume, o caso nas mãos da administração, ameaçando arruinar a vida de milhares de pequenos empresários e de seus empregados carenciados. Portugal ao implementar em 100% as orientações europeias, sem ter em conta a realidade portuguesa, serve os tubarões estrangeiros com o subterfúgio da higiene. Continua-se a destruição sistemática do sector agrícola.

Portugal, mais que de inspectores precisa de ministros e de cabeças que defendam os interesses dos portugueses. Não chegam inspectores que obriguem a cumprir as leis europeias é preciso povo e um governo que defenda não só os interesses das grandes empresas e multinacionais. Naturalmente que estas importam para Portugal produtos mais bem embalados, que, talvez à primeira vista, oferecem uma oportunidade ao Estado de lançar melhor a sua mão sobre os impostos. Só que estas empresas não têm a sua sede em Portugal!

Temos cada vez mais a impressao de que o Estado defende os interesses anónimos estando também ele interessado na anonimidade e precaridade do seu povo.

António da Cunha Duarte Justo

“Pegadas do Tempo”, Janeiro de 2008

Na Luta pela Crença Laicista


O socialista José Luis Zapatero, com o seu governo, quer descatolizar a Espanha, determinando para isso a irradiação do ensino de religião das escolas. Como se o ensino religioso fosse uma catequese e não uma formação geral, um ensino de ética. Em vez de medida tão radical poderia possibilitar nas escolas a frequência de aulas de religião ou de aulas de ética, tal como se pratica na Alemanha. Aqui resolvem-se os problemas sem o fanatismo secularista contra o catolicismo.

Tendo o arcebispo de Madrid e o arcebispo de Valência convocado uma manifestação de protesto contra uma “cultura do laicismo”, o Governo de Zapatero reagiu, acusando a Igreja de interferir, não respeitando a liberdade. Entretanto o senhor Sapateiro fomenta através do Estado a sua ideologia sendo intolerante para com quem procura usar do direito democrático de manifestar a sua opinião.

O Primeiro Ministro advoga tolerância para a sua ideologia, uma tolerância servida pelo estado que incubra a intolerância democrática de materialistas e racionalistas que, aninhados nos bastidores da administração, usam o mesmo actuar de práticas medievais que dizem combater, servindo-se do aparelho do Estado para o efeito.

Tal como outrora urgiu a defesa contra o poder religioso, urge hoje defender-se do poder secularista que pretende foros de ortodoxia estatal. A lei da liberdade religiosa não deve favorecer a crença laicista.

No agir autoritário de Zapateiro manifesta-se uma ideologia ressentida e atrasada na esteira da ideologia de 68, no que ela tem de ultrapassado. Primeiro apregoaram a arbitrariedade de ideias e morais para agora melhor imporem a sua ideologia. Zapatero conta com a aceitação da repressão silenciosa dos que se deixam ingenuamente calar. Devido ao calar e contemporizar das organizações com uma ideologia que se afirma contra a cultura europeia em nome dum internacionalismo barato e irresponsável, chegou a Europa ao estado de desorientação que a paralisa culturalmente.

Não se questiona aqui a crítica à Igreja mas uma guerrilha ideológica camuflada em nome da liberdade e da diferença. No zelo de ver quem faz mais pelo secularismo, que terá Sócrates do lado de cá preparado para poder dar umas palmadas nas costas do seu homólogo espanhol? Na porfia, o Ministério de Educação portuguesa quer tirar o nome a escolas públicas com o nome de Santos.

António da Cunha Duarte Justo

“Pegadas do Tempo”, Janeiro de 2008

Fé Secular e Fé Religiosa

Fé Secular e Fé Religiosa

A República precisa de Crentes – Diz o Presidente Francês

A secularização e o materialismo, que consideravam Deus e fé como algo perigoso e a banir, entre outros meios, através da instrução e da crença no progresso, vêem-se cada vez mais confrontados com o fenómeno religioso, constante também na juventude. Viu-se que a sociedade secular ainda era mais radical que as sociedades religiosas. Chegou a hora de seculares e religiosos se darem as mãos na construção da paz e dum mundo melhor. Advém o tempo dos partidos fazerem o seu agiornamento e das religiões se purificarem, também elas, da veleidade do poder para melhor servirem um povo liberto.

Segundo um estudo da Fundação Bertelsmann, na Alemanha, a juventude continua a declarar-se crente embora nem sempre seguidora de formas da igreja. Consequentemente as igrejas têm pouca frequência nos domingos; essa falta faz-se sentir mais ainda nas igrejas protestantes. O mesmo acontece com os sindicatos e com os partidos, que se vêem confrontados com uma diminuição contínua dos seus membros. A investigação mostra também que a generalidade das pessoas possui menor saber sobre o cristianismo.

Naturalmente que há uma diferença entre a fé ilíquida e o que resta, a fé líquida. A soma da fé não é fácil de determinar. Já não há a obrigação de se ir à igreja nem a pressão social de se ser religioso. Os cristãos que no Natal, Pentecostes e Páscoa enchem as igrejas são porém ainda apelidados de cristãos de ocasião. Isto diz pouco sobre a sua religiosidade ou irreligiosidade; é apenas a observação dum fenómeno exterior que identifica religiosidade com o seu aspecto folclórico. O mesmo se diga da motivação dos cidadãos para participarem nas eleições.

A Igreja e os Estado europeus cada vez constatam mais falta de sentido e mais violência na sociedade. Contudo, nem a confusão política nem a decadência moral justificam a violência. Liberdade e igualdade sem uma relação profunda responsável não conduzem a lado nenhum e a lei revela-se apenas como cadeado.

O cristão conhece duas liberdades: a liberdade da alma, da fé que não deixa que os poderes do mundo se apoderem dela e a liberdade política como forma de estar presente.

Para se sair do atoleiro em que a sociedade caiu urge a união de todas as forças. A Europa tem de voltar à sua raiz: a fé na razão e em Deus.

Sarkozy pôs o dedo na ferida

“A República precisa de crentes”, declara Nicolas Sarkozy ao público, no Vaticano em visita ao Papa, constatando nas raízes cristãs da França o “cimento da identidade nacional”. Sarkozy defende uma laicidade positiva que não encare as religiões “como um perigo, mas sim como um trunfo”.

A classe política francesa da esquerda não se sente muito à vontade com um presidente tão carismático que não se deixa levar só pelo politicamente correcto e oportuno. O presidente francês parece determinado a tomar mais a sério os problemas da nação, agindo de modo a que a política não continue a adiar os problemas que ela mesmo criou.

A presença da cultura árabe na França e nas potências europeias obriga, mesmo aqueles que tradicionalmente punham ao desbarato a cultura ocidental em troca das lentilhas, a reflectir nos problemas duma Europa com futuro e nos erros cometidos no passado.

A ideologia laicista e anticristã instalada nas instituições estatais europeias encontra-se com o seu latim no fim, sem arcaboiço ético suficiente para a prática instalada e não consegue dar resposta aos problemas colocados pela influência islâmica que se afirma mais precisamente onde o laicismo domina. Esta, de carácter hegemónico só poderá ser encarada num quadro de diálogo religioso, já que para o Islão não há terreno neutro. Este só conhece a terra da paz, que é o espaço onde domina, e a terra do inimigo, a combater ou a aguentar enquanto se encontre em situação minoritária.

Uma elite política irrealista europeia, no poder especialmente a partir dos anos sessenta, começa agora, perante a força expansiva islâmica e a derrocada do comunismo, a reorientar-se.

Tal como se questionavam os barbarismos religiosos, começa agora a questionar-se os barbarismos racionalistas e materialistas que acompanharam a revolução francesa e as repúblicas.

A pós-modernidade democrática constata que a redução dos valores sociais ao nível da opinião não é suficiente e mina a própria democracia. O vácuo moral torna-se cada vez maior e as elites não oferecem garantias, nem testemunhos, nem argumentos para uma prática moral, pelo contrário. A vida é desacreditada no plano prático do dia a dia e com ela a democracia.

As ideologias laicistas, com suas utopias, não resistem à força da crença em Deus. Começam agora a redescbrir as raízes cristãs. Mais vale tarde do que nunca e… mal por mal, o marquês de pombal!…

Os beneditinos criaram os fundamentos para o desenvolvimento agrícola da Europa com as suas técnicas e sistemas de irrigação junto do povo. Bento XVI chama a Europa com a charrua da razão e da fé a desbravar os caminhos do futuro.

Trata-se portanto de juntar todas as forças independentemente dos credos numa perspectiva sinergética para a construção duma Europa para o mundo melhor. Neste projecto também os ateus têm uma função profética na procura do melhor caminho para a realização individual e de povo.

Parabéns, Nicolas Sarkozy, presidente do estado mais laico do mundo. Parabéns pela sua confissão e apelo feito da cidade do Vaticano, uma cidade virada ao universalismo e ao futuro que se quer presente.

António da Cunha Duarte Justo

“Pegadas do Espírito”