ASAE – Contra a Raia Miúda
O inspector-geral da ASAE (Autoridade de Segurança Alimentar e Económica), António Nunes, ao afirmar ao semanário “Sol” que metade dos restaurantes e cafés em Portugal “estão condenados a fechar” por não cumprirem a legislação comunitária ou por não terem viabilidade económica, parece não ter problemas com o que está por detrás de tal iniciativa europeia. Neste caso serve apenas os interesses das grandes nações europeias, como Inglaterra, Alemanha, França e Itálía e diminui a qualidade de vida do povo simples que até agora ainda se permitia ir ao café e ao restaurante. Isto é um ataque contra Portugal e em especial contra o Centro e Norte de Portugal. É mais uma investida da mentalidade proletária estabelecida contra a cultura, contra os biotopos naturais, contra a atractividade do norte de Portugal. Como na questão da regulação dos vinhos (os alemães e outros conseguiram licença de colocarem açúcar nos seus vinhos para poderem obter maior graduação alcoólica!), também este é mais um exemplo duma iniciativa centralista contra as regiões periféricas.
As lobies da União Europeia são muito inteligentes, comprando com dinheiro e taxos as cabeças que, por missão, deveriam defender os interesses de Portrugal. Enquanto que nas grandes nações europeias há sempre uma discussão pública alargada sobre as directivas europeias a aplicar e consequentes adaptações, como se viu no Projecto Galileu em que a Espanha não aprovaria o projecto se não visse interesses espanhois legítimos nele respeitados, os políticos portugueses aplicam, sem mais, as orientações.
Na legislação agora em causa contra os pequenos proprietários de cafés e restaurantes Portugal deixa, como de costume, o caso nas mãos da administração, ameaçando arruinar a vida de milhares de pequenos empresários e de seus empregados carenciados. Portugal ao implementar em 100% as orientações europeias, sem ter em conta a realidade portuguesa, serve os tubarões estrangeiros com o subterfúgio da higiene. Continua-se a destruição sistemática do sector agrícola.
Portugal, mais que de inspectores precisa de ministros e de cabeças que defendam os interesses dos portugueses. Não chegam inspectores que obriguem a cumprir as leis europeias é preciso povo e um governo que defenda não só os interesses das grandes empresas e multinacionais. Naturalmente que estas importam para Portugal produtos mais bem embalados, que, talvez à primeira vista, oferecem uma oportunidade ao Estado de lançar melhor a sua mão sobre os impostos. Só que estas empresas não têm a sua sede em Portugal!
Temos cada vez mais a impressao de que o Estado defende os interesses anónimos estando também ele interessado na anonimidade e precaridade do seu povo.
António da Cunha Duarte Justo
“Pegadas do Tempo”, Janeiro de 2008