Fé Secular e Fé Religiosa
A República precisa de Crentes – Diz o Presidente Francês
A secularização e o materialismo, que consideravam Deus e fé como algo perigoso e a banir, entre outros meios, através da instrução e da crença no progresso, vêem-se cada vez mais confrontados com o fenómeno religioso, constante também na juventude. Viu-se que a sociedade secular ainda era mais radical que as sociedades religiosas. Chegou a hora de seculares e religiosos se darem as mãos na construção da paz e dum mundo melhor. Advém o tempo dos partidos fazerem o seu agiornamento e das religiões se purificarem, também elas, da veleidade do poder para melhor servirem um povo liberto.
Segundo um estudo da Fundação Bertelsmann, na Alemanha, a juventude continua a declarar-se crente embora nem sempre seguidora de formas da igreja. Consequentemente as igrejas têm pouca frequência nos domingos; essa falta faz-se sentir mais ainda nas igrejas protestantes. O mesmo acontece com os sindicatos e com os partidos, que se vêem confrontados com uma diminuição contínua dos seus membros. A investigação mostra também que a generalidade das pessoas possui menor saber sobre o cristianismo.
Naturalmente que há uma diferença entre a fé ilíquida e o que resta, a fé líquida. A soma da fé não é fácil de determinar. Já não há a obrigação de se ir à igreja nem a pressão social de se ser religioso. Os cristãos que no Natal, Pentecostes e Páscoa enchem as igrejas são porém ainda apelidados de cristãos de ocasião. Isto diz pouco sobre a sua religiosidade ou irreligiosidade; é apenas a observação dum fenómeno exterior que identifica religiosidade com o seu aspecto folclórico. O mesmo se diga da motivação dos cidadãos para participarem nas eleições.
A Igreja e os Estado europeus cada vez constatam mais falta de sentido e mais violência na sociedade. Contudo, nem a confusão política nem a decadência moral justificam a violência. Liberdade e igualdade sem uma relação profunda responsável não conduzem a lado nenhum e a lei revela-se apenas como cadeado.
O cristão conhece duas liberdades: a liberdade da alma, da fé que não deixa que os poderes do mundo se apoderem dela e a liberdade política como forma de estar presente.
Para se sair do atoleiro em que a sociedade caiu urge a união de todas as forças. A Europa tem de voltar à sua raiz: a fé na razão e em Deus.
Sarkozy pôs o dedo na ferida
“A República precisa de crentes”, declara Nicolas Sarkozy ao público, no Vaticano em visita ao Papa, constatando nas raízes cristãs da França o “cimento da identidade nacional”. Sarkozy defende uma laicidade positiva que não encare as religiões “como um perigo, mas sim como um trunfo”.
A classe política francesa da esquerda não se sente muito à vontade com um presidente tão carismático que não se deixa levar só pelo politicamente correcto e oportuno. O presidente francês parece determinado a tomar mais a sério os problemas da nação, agindo de modo a que a política não continue a adiar os problemas que ela mesmo criou.
A presença da cultura árabe na França e nas potências europeias obriga, mesmo aqueles que tradicionalmente punham ao desbarato a cultura ocidental em troca das lentilhas, a reflectir nos problemas duma Europa com futuro e nos erros cometidos no passado.
A ideologia laicista e anticristã instalada nas instituições estatais europeias encontra-se com o seu latim no fim, sem arcaboiço ético suficiente para a prática instalada e não consegue dar resposta aos problemas colocados pela influência islâmica que se afirma mais precisamente onde o laicismo domina. Esta, de carácter hegemónico só poderá ser encarada num quadro de diálogo religioso, já que para o Islão não há terreno neutro. Este só conhece a terra da paz, que é o espaço onde domina, e a terra do inimigo, a combater ou a aguentar enquanto se encontre em situação minoritária.
Uma elite política irrealista europeia, no poder especialmente a partir dos anos sessenta, começa agora, perante a força expansiva islâmica e a derrocada do comunismo, a reorientar-se.
Tal como se questionavam os barbarismos religiosos, começa agora a questionar-se os barbarismos racionalistas e materialistas que acompanharam a revolução francesa e as repúblicas.
A pós-modernidade democrática constata que a redução dos valores sociais ao nível da opinião não é suficiente e mina a própria democracia. O vácuo moral torna-se cada vez maior e as elites não oferecem garantias, nem testemunhos, nem argumentos para uma prática moral, pelo contrário. A vida é desacreditada no plano prático do dia a dia e com ela a democracia.
As ideologias laicistas, com suas utopias, não resistem à força da crença em Deus. Começam agora a redescbrir as raízes cristãs. Mais vale tarde do que nunca e… mal por mal, o marquês de pombal!…
Os beneditinos criaram os fundamentos para o desenvolvimento agrícola da Europa com as suas técnicas e sistemas de irrigação junto do povo. Bento XVI chama a Europa com a charrua da razão e da fé a desbravar os caminhos do futuro.
Trata-se portanto de juntar todas as forças independentemente dos credos numa perspectiva sinergética para a construção duma Europa para o mundo melhor. Neste projecto também os ateus têm uma função profética na procura do melhor caminho para a realização individual e de povo.
Parabéns, Nicolas Sarkozy, presidente do estado mais laico do mundo. Parabéns pela sua confissão e apelo feito da cidade do Vaticano, uma cidade virada ao universalismo e ao futuro que se quer presente.
António da Cunha Duarte Justo
“Pegadas do Espírito”