ENTRE TEMPO E ETERNIDADE

Cavo,

sempre a cavar…

A campa que me há-de levar

é feita de palavras que disse

e das que deixei de dizer.

 

Ah, quantas manhãs perdidas

nos becos da mente estreita,

enquanto a vida,

rio sem pressa,

me chamava em vão!

 

Pára, escuta e olha,

o mundo não cabe

nos teus planos a lápis.

Vês a amendoeira em flor?

Ouves o silêncio

entre duas notas de pavão?

Isso também eras tu,

e deixaste-o morrer

sem lhe tocar.

 

Deus não construiu o mundo

com regras de gramática

Deus escreveu em luz,

não em lápide,

Ele é puro verbo, sem complemento,

e do seu sonho nasceu

o arco-íris, a espiga,

e este anseio meu e teu

que não cabe em nenhum esquema.

 

Observa as escrituras

não te sepultes nas ideias,

não te expulses do Éden!

Solta as asas que tens cativas,

a alma é para o assombro

de ser vento, fogo,

e semente desgrenhada

ao sol do impossível.

 

António CD Justo

Pegadas do Tempo

https://poesiajusto.blogspot.com/

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Publicado por

António da Cunha Duarte Justo

Actividades jornalísticas em foque: análise social, ética, política e religiosa

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