De Férias por Terras de Portugal

Acabo de passar férias em Portugal na “Quinta Outeiro da Luz” na Branca: uma terra amena do Norte, perto de tudo e de todos, onde o mundo ainda parece encontrar-se em ordem!

A uma distância suficiente de Lisboa, reflecte bem a paisagem e a cultura portuguesa. Enquadra-se nas Terras de Santa Maria, a 60 km de Coimbra, a 50 do Porto, a trinta de Aveiro e a trinta da Serra da Freita. Nesta terra acolhedora e farta, pertencente a Albergaria-a-Velha, as pessoas, mesmo desconhecidas, ainda se saúdam na rua e conjugam equilibradamente a tradição com a modernidade.

A vida e o progresso desta terra mostram que palavras-chave como indivíduo, família, propriedade, economia liberal, igreja, permanecem mensagens válidas e promissoras de futuro.

Aqui ainda se servem, bem e barato, os tradicionais pratos da cozinha portuguesa. Por isso ia todos os dias comer ao restaurante P…, onde, com mais três pessoas, pagava, no conjunto, um total entre 16 e 20 euros. Naturalmente que aqui não se pagava nem esperava o requinte e o artificio mas era-se compensado com a simplicidade, a atenção e a alegria, características do povo trabalhador nortenho.

A beleza da paisagem, a riqueza da cultura, as festas e eventos exuberam por todo o lado.

De resto: um país maravilhoso com um grande povo em contínua elaboração, ainda por completar; um país medíocre, se atendermos aos seus governantes autistas; um país à margem do seu povo e da nação, se atendermos à sua Administração e outras instituições relevantes; um país de envergonhados e desavergonhados, se atendermos a uns e a outros; um país excepcional que subentende a excepção à regra.

Regresso contente mas com um vago sentimento de pena: de pena da gente simples, de pena dos cães e animais ainda não respeitados; de pena de tantas esperanças desbaratadas e de tanto trabalho dispendido mas sem o resultado que seria de esperar.

Regresso com a impressão de ter contactado um povo em estado de erosão. Verifiquei um certo espírito de indolência e de indiferença que se refugia na nostalgia dum imaginário prometedor mas enganador. A maioria vive sufocada pelas amarras da informação, do telejornal, das telenovelas e do artificialismo político. Um cinismo sub-reptício parece ganhar forma.

No espírito de muitos falantes parece pairar um certo individualismo emigrante: o reverso do sebastianismo.

Cansados do centralismo da capital e dum alarido político que tudo domina e ameaça destruir as sub-culturas mais recônditas e sossegadas, muitos, parecem ter já resignado e encolher os ombros, entregando-se à inércia de poderes governantes, que a força do destino ciclicamente vai colocando: os deuses do Olimpo democrático é que podem e sabem!….

Uma cultura política de lugares comuns vai vivendo do povo e da nação. O contento dos contentes parece implicar necessariamente o descontentamento agachado do povo português. Este tira à cultura e ao descanso o que lhe falta para a boca. Se em Lisboa se vive do sarcasmo e da ironia, um sentimento individualista leva o homem da província a evadir-se e a distrair-se da própria impotência e da impotência da nação. Parece restar-lhe assumir o cinismo vigente nos corredores ministeriais de Lisboa, que se ri de Portugal como nação.

Quem vê Portugal, como eu o faço agora da Alemanha, fica com a impressão que falta a Portugal uma atitude de pensamento. Este parece derramado pelas toalhas das mesas das elites da nação, a que falta um modelo consensual de elites de Portugal.

Assim se vai destruindo a nação e a natureza reduzindo-a à medida dos planos, dos planos de outros!….

A ideologia do progresso parece quer distrair-nos de pensar, alucinando-nos. Quer-se a mudança pela mudança sem respeito pelo dado; não se dá tempo para a mudança, nem se reserva tempo nem há capacidade para a reflectir. È mais fácil seguir a música dos outros. É mais fácil ser-se dançarino do progresso das palavras e das ilusões. A Nação e o Povo são apenas o palco!…

António da Cunha Duarte Justo


Social:
Pin Share

Social:

Publicado por

António da Cunha Duarte Justo

Actividades jornalísticas em foque: análise social, ética, política e religiosa

2 comentários em “De Férias por Terras de Portugal”

  1. Um País é feito de paisagens, história e pessoas. Quanto a paisagem e a história somos um País riquíssimo e com imensas potencialidades turísticas.
    Infelizmente toda a classe política ( e não apenas a que governa presentemente)não tem tratado nada bem este nosso lindo e rico País, fomentando a inversão de valores,pactuando com a anarquia e a infustiça, ignorando e marginalizando um povo trabalhador e hospitaleiro que se vê subjugado à prepotência, ao oportunismo e à corrupção de toda uma classe política mais preocupada com as suas escandalosas regalias do que com o bem estar, a justiça social e o desenvolvimento do País rural cada vez mais abandonado e esquecido pelos detentores do pder.
    A tua análise, caro Justo, toca em muit0os dos aspectos político-sociais que afectam a população portuguesa.
    Mas repara que já há 130 anos o nosso escritor Eça de Queiróz, com o seu olho clínico,apoiado na sua pena crítica, dirigia pesadas “Farpas” contra a classe política de então. Vale a pena ler algumas dessas corajosas “farpas” pela actualidade que ainda hoje têm.
    Parece que foi escrito hoje, mas já lá vão 133 anos…
    ___________________________________________________________________________________________________________________

    «O país perdeu a inteligência e a consciência moral.
    Os costumes estão dissolvidos, as consciências em debandada, os carácteres corrompidos.
    A prática da vida tem por única direcção a conveniência.
    Não há princípio que não seja desmentido.
    Não há instituição que não seja escarnecida.
    Ninguém se respeita.
    Não há nenhuma solidariedade entre os cidadãos.
    Ninguém crê na honestidade dos homens públicos.
    Alguns agiotas felizes exploram.
    A classe média abate-se progressivamente na imbecilidade e na inércia.
    O povo está na miséria.
    Os serviços públicos são abandonados a uma rotina dormente.
    O Estado é considerado na sua acção fiscal como um ladrão e tratado como um inimigo.
    A certeza deste rebaixamento invadiu todas as consciências.
    Diz-se por toda a parte: o país está perdido!»

    Isto foi escrito em 1871, por Eça de Queirós, no primeiro número d’As Farpas.

    Se fosse escrito hoje teria a mesma ou talvez maior actualidade.
    José Cerca

  2. Carissimo Dr. Cerca!
    Muito obrigado pelo belo comentario e complemento.
    Ja agora coloco um comentario que se encontra no meu outro blog Comunidades:http://blog.comunidades.net/justo/

    Coêrencia – – – 2008-08-02
    Obrigado 25a. Estamos orgulhosos.
    De facto dá que pensar… principalmente por ser tão real!

    Uma adolescente de 16 anos pode fazer livremente um aborto mas não pode pôr um piercing.
    Um jovem de 18 anos recebe 200 € do Estado para não trabalhar; um idoso recebe de reforma 236 € depois de toda uma vida do trabalho.

    Um marido oferece um anel à sua mulher e tem de declarar a doação ao fisco.

    O mesmo fisco penhora indevidamente o salário de um trabalhador e demora 3 anos a corrigir o erro.

    Nas zonas mais problemáticas das áreas urbanas existe 1 polícia para cada 2.000 habitantes; o Governo diz que não precisa de mais polícias.

    Um professor é sovado por um aluno e o Governo diz que a culpa é das causas sociais.

    O café da esquina fechou porque não tinha WC para homens, mulheres e empregados. No Fórum Montijo o WC da Pizza Hut fica a 100mts e não tem local para lavar as mãos.

    O governo incentiva as pessoas a procurarem energias alternativas ao petróleo e depois multa quem coloca óleo vegetal nos carros porque não paga ISP (Imposto sobre produtos petrolíferos).

    Nas prisões são distribuídas gratuitamente seringas por causa do HIV, mas é proibido consumir droga nas prisões!

    No exame final de 12º ano és apanhado a copiar chumbas o ano, o primeiro-ministro fez o exame de inglês técnico em casa, mandou por fax e é engenheiro.

    Um jovem de 14 anos mata um adulto, não tem idade para ir a tribunal. Um jovem de 15 leva um chapada do pai, por ter roubado dinheiro para droga, é violência doméstica!

    A uma família a quem a casa ruiu e não tem dinheiro para comprar outra, o estado não tem dinheiro para fazer uma nova, tem de viver conforme pode. 6 presos que mataram e violaram idosos vivem numa sela de 4 e sem wc privado, não estão a viver condignamente e aí a associação de direitos humanos faz queixa ao tribunal europeu.

    A militares que combateram em África a mando do governo da época na defesa do território nacional não lhes é reconhecido nenhuma causa nem direito de guerra, mas o primeiro-ministro elogia as tropas que estão em defesa da pátria no KOSOVO, AFEGANISTÃO E IRAQUE.

    Começas a descontar em Janeiro o IRS e só vais receber o excesso em Agosto do ano que vem, não pagas às finanças a tempo e horas, passado um dia, já estas a pagar juros.

    Fechas a janela da tua varanda e estás a fazer uma obra ilegal, constrói-se um bairro de lata e ninguém vê.

    Se o teu filho não tem cabeça para a escola e com 14 anos o pões a trabalhar contigo num ofício respeitável, é exploração de trabalho infantil, se és artista e o teu filho com 7 anos participa em gravações de telenovelas 8 horas por dia ou mais, a criança tem muito talento, sai ao pai ou à mãe!

    Numa farmácia pagas 0.50€ por uma seringa que se usa para dar um medicamento a uma criança. Se fosses drogado, não pagavas nada!
    Obrigado 25a. Estamos orgulhosos.
    (Autor desconhecido)

    Um abraço amigo
    Antonio Justo

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *