Uma Batalha de Glória e em glória no Tabuleiro de Esmeraldas onde o Baixo e o Alto se igualam (1)
Sob o céu de Munique, num fim de tarde com granizo, onde outrora se desenharam sombras de conflitos antigos, ergueu-se um novo campo de batalha—um rectângulo de relvado, tingido de esperança e suor. Ali, não se cruzaram espadas, mas talentos; não se lançaram projéteis, mas passes precisos como setas douradas. Foi um duelo de alta estirpe, onde as aspirações de duas nações se entrelaçaram num bailado de força e arte, resolvendo-se não pela obstinada actual guerra nem pela violência, mas pelo sublime código do jogo.
Portugal e Alemanha, duas nacoes grandes com diferentes destinos históricos encontraram-se, não para dilacerar ou aniquilar, mas para disputar. E que disputa! Cada toque na bola era uma palavra num diálogo universal; cada drible, um verso num poema escrito com os pés. O relvado transformou-se num palco onde os instintos naturais do homem—a competição, a superação, a beleza—floresceram sem a sombra da destruição.
Ah, se o mundo compreendesse a lição que emana destes noventa minutos! Enquanto os governantes tecem discursos sobre domínio e poder, erguendo muros e brandindo ameaças, o Campeonato surge como um farol de outra possibilidade: uma sociedade onde os conflitos se resolvem não com tanques, mas com técnica; não com ódio, mas com génio. As legítimas aspirações dos povos poderiam ser decididas em jogos, onde o vencedor leva a glória, e o derrotado, ainda de cabeça erguida, aprende e recomeça na consciência de que a maior parte da vida é jogo.
E o espectador, esse juiz imparcial sentado nas bancadas ou diante do écran, não recebe a verdade mastigada pelos arautos do poder. Não—ele vê, com os próprios olhos, avalia com o próprio critério, e celebra ou lamenta com o coração livre. Nada de opiniões pós-fácticas, formatadas em segunda mão por quem quer moldar a narrativa. Aqui, a verdade desenrola-se em tempo real, crua e bela, como um golo que rasga as redes e a alma.
Assim foi em Munique. Portugal venceu, a Alemanha cedeu, mas ambos brilharam. E no fim, quando o apito ecoou, não houve vencidos—apenas homens que lutaram, e homens que, por um dia, lembraram ao mundo que a verdadeira grandeza não está em destruir, mas em jogar.
António da Cunha Duarte Justo
Pegadas do Tempo
(1) “O jogo foi marcado por condições meteorológicas adversas e escolhas táticas surpreendentes de Roberto Martínez, incluindo a estreia de João Neves como lateral direito. A Seleção Nacional venceu esta quarta-feira 04.06.2023 a Alemanha, por 2-1, em Munique, e garantiu a passagem à final da Liga das Nações”.
Não. Não a vida não é um jogo.nem um teatro.nem uma sinfonia.nem uma pintura ou uma escultura. A vida é além disso até acabar.
A Alemanha e Portugal são países distantes: a Alemanha está presa na Europa, Portugal tem um mar imenso à sua frente.aquela coisa do Saramago é terrível.
Vítor Lopes , você diz que a vida não é um jogo, … mas então por que é que todos correm atrás da “bola” como se o apito final nunca chegasse? Se a Alemanha está presa na Europa e Portugal tem o mar à frente, então poderíamos dizer que os alemães jogam com linha defensiva muito disciplinada, enquanto os portugueses preferem um futebol total — de preferência, com a bola no pé do Ronaldo e os adversários a navegar em mares de aflição!
O certo é que todos jogam no relvado das ideologias, sem saberem que o relvado não é seu! Uns de chuteiras reluzentes, outros com os cordões desfeitos, mas todos a pensar: “Será que estas meias combinam com o meu discurso político?” E no fim, como num jogo de futebol de domingo, o que importa mesmo é quem traz os bolinhos de bacalhau para o intervalo.
Com Saramago estou de acordo quando diz,”O homem é um ser que chuta metáforas como se fossem penáltis… e quase sempre falha a baliza” pois também ele confirma a regra por ter falhado muitas vezes a baliza!
Em todo o discurso há um outro lado da moeda, por isso há que estar sempre atento aos cartões amarelos da filosofia na consciência que, como Jesus dizia: “Nem só de pão viverá o homem, mas de toda palavra que procede da boca de Deus” e a Sua boca é de encontrar no mais íntimo do nosso coração e não tanto no sótão da mente!
Muito bem um texto à altura do que devia ser o mundo
Muito bom dia ! Que bom Portugal, a nossa selessão ganhou , deveras fiquei contente, com honra e dever . Obrigada pelo seu texto , que muito gostei de ler
A vida é como um jogo ! Se ganha e se perde, bom sempre, quando se sabe ganhar com dignidade e respeito , perante o mundo belo”” que ele merece , como diz no seu texto: todo o bem, se faz, bem tem valor , não com ódio, mas com génio . Jogar bem . Obrigada.
Estou inteiramente de acordo contigo querido irmao.Seria muito melhor se os conflitos se podessem resolver assim mas…!Um grande abraço