EMIGRANTES – O MEU PARTIDO É PORTUGAL

Boicote do Envio de Remessas de Emigrantes – Um Apelo ao Gosto mediático mas infeliz
António Justo
“Osnabrück Não Desiste” surgiu, como protesto contra o encerramento do respectivo vice-consulado a efectuar-se a 13 de Janeiro. Ultimamente veio para a arena política com uma campanha que apela ao bloqueio de envio de remessas para Portugal. “Nantes não desiste” seguiu nas suas pegadas. Esta é uma reacção contra os cortes do governo efectuados nos postos consulares e no ensino.
Recomendar que se envie ou deixe de enviar dinheiro para Portugal é problemático, porque em toda a parte o dinheiro pode ser investido de forma produtiva ou de forma estéril e com esta iniciativa não se ajudam os portugueses nem Portugal.
Iniciar assim uma forma de campanha contra o Governo também não convence por instrumentalizar partidariamente um tema a favor da oposição, quando governo e oposição, no fundo, nunca tomaram a sério os emigrantes. Em nome de interesses parciais vai-se contra o todo. O factor/tema económico migrante tornar-se-ia relevante se integrado numa política estruturada de fomento regional.
A emigração sempre foi uma chaga aberta na nação. Foi sempre uma fonte lucrativa para o Estado para assim poder equilibrar o seu orçamento e, ao mesmo tempo, um meio de fomento gratuito/espontâneo das regiões do interior e uma maneira de não deixar cair muitas famílias na miséria.
“Osnabrück Não Desiste” fundamenta a sua iniciativa afirmando: “Quando o nosso país, a nossa pátria, nos vira as costas, vemo-nos forçados a fazer o mesmo, não enviando dinheiro para Portugal, não investindo em Portugal”. Este apelo é demagógico e partidário. O nosso país, a nossa pátria não se pode identificar com o programa dum governo nem com os interesses duma oposição em combatê-lo. Governo e oposição são Portugal, numa perspectiva de terra livre de coutadas. (O PS deveria distanciar-se desta campanha organizada em cima dos joelhos por membros seus).
Sim, o meu partido é Portugal e o seu povo também. Portugal e os cidadãos têm andado demasiadamente preocupados com problemas de estômago e de vaidade para poderem estar atentos à sua missão histórica. Perderam-na de vista com o enterro de Camões.
Não seria legítimo reduzir os emigrantes a portugueses de desobriga nem utilizá-los para fins escuros.
O economista Pascoal de Lima, referindo-se à iniciativa de os portugueses emigrantes boicotarem o envio de remessas para Portugal diz: “É claro que pode ter um efeito teórico, e sobretudo a três níveis: aumentaria a pobreza, diminuiria o bem-estar das famílias e teria impacto na redistribuição das riquezas no país; representaria uma diminuição do crescimento, do emprego e da produtividade do trabalho e do capital; e pioraria a situação do défice da balança comercial portuguesa”.
De facto, os emigrantes/lusodescendentes, em 2010 enviaram para Portugal 2.400 milhões de Euros. Os emigrantes portugueses da Alemanha, de momento 114.552, enviaram 120 milhões de Euros; o valor das remessas da França, com um milhão de portugueses, foi cerca de 180 milhões de euros.
Um sistema que produz emigrantes nunca é favorável ao emigrante. A má consciência nacional quer esquecê-los e o consequente sentimento de culpa quer desprezá-los. Aqueles que saem são estigmatizados por uma inércia comodista que não tem nem faz por ter. A emigração, num país, já com valores mínimos de natalidade na Europa, fomenta a entropia, a inveja e o ressentimento. A emigração também tem contribuído, em Portugal, para o fomento dum espírito civil rotineiro, acomodado e oportunista. Ela condiz à letargia da nação que, em vez de se habituar a encarar os problemas de frente, foge deles, vivendo do subterfúgio. De facto, ao sair do país o potencial contestador dinâmico que criaria um clima de protesto contra as instituições estatais, evita-se a insurreição e propaga-se a acalmia. A força renovadora e crítica que poderia surgir da insatisfação dissolve-se no tubo de escape da nação que é a emigração.
A ostentação do dinheiro dos migrantes e a experiência acrescentada que trazem, da maior intervenção cívica dos países onde trabalham e da maior correcção cívica de instituições sociais e jurídicas, leva-os, quando estão de férias, a criticar um status quo que se sente provocado e se quer aceite. Isto acirra a inveja nos que ficam e conduz a uma agressão latente que se traduz num ignorá-los nos meios de comunicação social, interessados, quando muito, em histórias de coitadinhos.
A administração pública portuguesa, embora uma das mais modernas no mundo, a nível de dados e de serviços computadorizados, continua com um funcionalismo frequentemente antiquado, a nível de mentalidade. O senhor licenciado que tem cargo é o senhor doutor e o outro que se encontra do outro lado do balcão é frequentemente reduzido a cliente ignorante que se procura despachar mas não servir.
Muitas repartições públicas ainda funcionam como um sistema a fundos perdidos. O “sistema dos amigos, e da companhia limitada dos camaradas” emperra o sistema.
É a lei do progresso: a máquina do poder instituído em Portugal, antigamente, favorecia a burguesia; a partir da República favorece os parasitas e os oportunos. Antigamente, viam-se obrigados a sair, os pobres e os voluntariosos, hoje, o que é mais grave, são obrigados a sair também os académicos.
A situação de Portugal é tão séria que não será possível levantar-se sozinho dum pântano financeiro em que os crocodilos se encontram por todo o lado à cuca. Interessante seria se todas as comunidades portuguesas na Alemanha e na França levantassem a sua voz perante a opinião pública dos respectivos países solicitando que invistam em Portugal. Só o investimento estrangeiro poderá tornar-se numa medida racional que evite a bancarrota dos estados da periferia. Todas as outras medidas podem revelar-se num atentado à democracia.
António da Cunha Duarte Justo
antoniocunhajusto@googlemail.com
www.antonio-justo.eu

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António da Cunha Duarte Justo

Actividades jornalísticas em foque: análise social, ética, política e religiosa

10 comentários em “EMIGRANTES – O MEU PARTIDO É PORTUGAL”

  1. Caro Prof. António Justo: de certs

    Os meus parabens pelo seu justo, certeiro e objetivo patriotismo, não confundindo o desenvolvimento e crescimento de Portugal com uma mesquinha e “esquerdizoide” vingança da política partidária oposicionista mais mesquinha.

    Um cordial abraço do
    Jorge da Paz Rodrigues

  2. Boa noite Prof. António Justo,
    sobre o tema em questão, para o Senhor dizer que não concordava, não precisava de ter escrito e falado sobre tantas coisas. Fez-me lembrar um dos problemas que existe em Portugal, que é, a maioria dos políticos falarem muito, mas depois o povo não entende nada.
    Respeito a sua opinião, mas, concordo apenas com a questão que devemos ser todos patriotas e ajudar Portugal, mas também acho que a maioria dos emigrantes estarão sensibilizados para isso.
    Na minha opinião, não foi feito nenhum apelo para que deixassem de ser portugueses, nem que nunca mais mandassem dinheiro para Portugal ou deixassem de ir ao nosso país.
    Mas uma coisa é certa, o Governo tem que tomar consciência de que nós sabemos que temos direitos e que merecemos ser tratados dignamente e se não o fazem, temos toda a legitimidade de usar todas as opções de que dispomos, e esta é uma delas, não sendo demagogia nenhuma como afirma.
    Sabe onde é que esteve a demagogia?
    Foi quando o Governo em campanha eleitoral e depois logo que tomou posse, afirmou que era necessário estreitar e valorizar os laços com as comunidades. Depois o resultado foi este;

    – Redução dos horários do Ensino do Português no Estrangeiro, obrigando 150 professores a regressar a Portugal até ao fim do ano letivo.
    – Encerramento de 7 Embaixadas e 5 Vice-Consulados.
    – Encerramento de 29 postos suplementares de recenseamento.
    – (a ultima) Aumento dos emolumentos consulares, em média 20%.

    Depois de todos estes cortes, o Senhor ainda afirma que o interessante seria as comunidades levantarem a sua voz perante a opinião pública nos países onde residem?

    Só pode ser uma piada, não?

    Devemo-nos unir, só assim atingiremos algum objectivo.

    Com os melhores cumprimentos

    Fernando Genro

  3. Mais um “Excelente” texto do Sr. Antonio Justo.
    Textos assim nos proporcionam uma visão real do que ocorre por trás do movimento de emigração portuguesa, que tanto caracterizou historicamente Portugal.
    A verdade é que este estigma tem que acabar. Portugal não pode ser um país “exportador” de gente, indefinidamente.
    Atenciosamente,
    Vilson
    in Diálogos-Lusófonos

  4. Boa noite, senhor Fernando Genro.
    Muito obrigado pela sua opinião aqui deixada.
    A minha intenção foi apenas querer mostrar uma outra posição. Não tenho partido e se tiver observado o meu trabalho em defesa do consulado certamente que poderá verificar que lutei e luto por uma causa, Portugal e os portugueses. A posição tomada em Osnabrück com aquele apelo foi uma posição política partidária. Pensei com o meu artigo querer dar a entender que nestas questões se pode servir mais os portugueses duma posição independente.
    Importante é que estejamos todos atentos ao que acontece para podermos reagir e assim melhor servir. O senhor fê-lo. Parabéns.

  5. Bom dia,
    Sendo assim ainda acrescento duas coisas:

    1- O apelo foi lançado pela FAPA, no voz do seu Presidente, que não tem nada a ver, nem esta ligado a nenhum partido politico.
    2- O apelo foi feito com base nos cortes que já se conheciam na altura, restruturação consular e restruturação do EPE, não foi só por causa da restruturação consular.
    Agora, antes de ontem, o Governo ainda nos vem dar mais razão com os aumentos dos emolumentos consulares.

    Sou, e creio que todos os emigrantes são, sensíveis à grave crise que o nosso país atravessa, creio que também todos terão consciência que é necessário fazer uma contenção nas despesas, mas não assim.
    O Governo deveria ter feito uma consulta profunda na comunidade, devia ter procurado o diálogo com quem tem conhecimento da matéria, e assim, de certeza que se teria encontrado uma solução que servisse ambas as partes. Em vez disso, temos um ou dois (des)governantes em Portugal a tomar decisões sobre assuntos dos quais não têm o mínimo de conhecimento.

    CMC
    FG

  6. Bom dia,
    Por trás desta iniciativa está a oposição ao governo.
    Não estou aqui para atacar nem para defender governo nem oposição.
    Não quero aqui nomear nomes de pessoas nem imprensa interessada em fazer política partidária, porque a discussão levaria a uma conversa de alcubiteiras.

    Quanto ao problema dos políticos falarem muito, a que alude em cima, não o acho tão grave como o falar camuflado! A questão está em que pessoas se incomodam com o que uns ou com o que os outros dizem porque tocam com a sua posição política. Também não vou entrar em apologética no que diz na primeira postagem, porque a oposição ao artigo também tem direito a defender-se! Considero encerrado o assunto, entre nós, relativamente a este tema.

  7. Carissimo António Justo

    Os meus sinceros parabens pela seu trabalho. Espero seja uma achega a despolitizar os problenmas inerantes á emigracao. Já é tempo de nos unir para defender causas comuns sem nos servirmos da bengala dos partidos. Aliás todos eles já tiveram a possibilidade de encontrar uma solucao para bem de todos. Refiro-me aqui ao fecho de representacoes diplomática na Alemanha e nao só. Porque o nao fizeram, quando tinham condicoes ? Tiveram receio da critica ou de perder os aplausos dos seus, por vezes, cegos seguidores?

    Temos necessidade de vozes dissonantes, livres, neutrais sem necessitar duma identificacao a qualquer partido, seja ele qual for. Há ainda algum partido que se ufana de ainda nao possui mitas culpas no “cartório”. O pouco tempo que “esse” teve as rédeas do poder, quem nao se lembra? poderia ser suficiente por ter proclamado a alta voz as “amplas liberdades” e uma “democracia” sem o povo. Claro que errar é humano” mas para tal é necessário ter a inteligencia e o humanismo suficiente de reconhecer, pedir perdao e, de novo com humildade, abracar a causa do “bem comum” e nao a do partido!

    Estou totalmente de acordo com o Sr. Genro, que nao se deveria tomar uma decisao sem se ouvir as partes em questao e encontrar uma solucao credivel e aceitável para todos. Quem sao este, “todos” ou a parte mais interssada? quem os representa? quem representa a maioria passiva e calada, que nao votou no conselho? Nao quero falar na FAPA. Esta maioria deveriam ter também voz…o silencio também é mensagem
    a ter em conta!

    As estruturas consulares obedeciam, em parte, à problemática migratória dos anos 70 e 80 e já há muito que estas deveriam, por quem legitimado, ser equacionadas aos tempos modernos dum Portugal mais global, membro duma europa onde cada um, onde vive, deve ou deveria ter o seu espaco de liberdade. A integracao, pelo menos aqui na Alemanha, tem constituido, nos últimos quinze anos, um esforco de todos os quadrantes politicos, organismos sociais e mesmo da propria populacao alema. Nao podemos de forma alguma negar os seus frutos. Nenhum governo/partido quis, podendo evitar-se tanta tinta e pressoes, fazer a devida restruturacao.

    Vivemos num periodo dificil, é verdade. O meu maior problema é o receio de se apregoar tanta poupanca … e esta ser depois gasta de qualquer modo, ou, o que tem acontecido, enriqucer ainda mais quem nao necessita…bancos, empresas públicas que nao servem mas se servem. Ou…infiltrá-lo em empresas onde os politicos irao, após o seu “servico ao povo” e após a sua choruda reforma, encostar-se como gerentes ou conselheiros com ordenados invulgares…do povo! Parce que o tempo de governo os terá transformado numna certa dependencia do maoma…do dinheiro fácil…Exige-se, isso sim, mais etica, mais moral…Para mim, pobre emigrante, é a minha maior preocupacao.

    Nao vejo, infelizmente, partido ou movimento, seja ele sindicatos, associacoes ou Igrejas que, com a devida autoridade e isencao, chamem pelo nome próprio esta situacao! mas …infelizmente entende-se esta atitude, que apesar de silenciosa, nao deixa de ser possivelmente comprometedora!

    Houve nesta luta de rua e nos bastidores, quem ousasse misturar politica consular com politica escolar, como se da mesma coisa se tratasse. Será que o ensino da lingua portuguesa nas escolas estará ameacado…se alguma representacao consular venha a ser fechada ou alterada? A que chamariamos este comportamento? deixo o nome em aberto!

    Portugal, em especial a classe politica e partidária, necessita de incessantemente ouvir vozes claras. O Prof António Justo, creio ter falado bem claro, louvor lhe seja dado e que muitas vozes destas possam ecoar nao só nos coredores de S. Bento, mas também em Belém.

    Continuo a ser Sportinguista, desde a minha infancia e, olhem que dificilmete mudarei, apesar das derrotas deste clube…as derrotas também fortalecem aqs instituicoes como o futebol. Mas politicamente nao sou capaz de alinhar por qualquer partido atualmente em Portugal….na hora das eleicoes faco uso do meu dever de votar, apesar de, e infelizmente, ter quase a certeza que nenhum partido, preencherá os meus anseios e irá ao encontro do meu sonho de sociedade. Ás vezes penso que, quem se deixa atrelar a um partido e se deixa conduizr pela sua mensagem, anos e anos, “até a morte os separar” defendendo-o onde quer que seja e a todo o custo, que este acerrimo defensor se terá perdido no tempo. Claro que merecem o nosso respeito. Mas, sendo assim nao haverá mais evolucao e nao se poderá sonhar mais alto…nao será um empobrecimento politico social? Haja movimento!

    Já é tempo de nos revermos na nossa história colonial, e nao só nos portugueses mas quase todos os paises Europeus, aumentemos os nossos horizontes e olhar mais longe, até à China, à India, os paises árabes…e dar-nos conta que qualquer esforco que se faca no foro politico ou económico…qualquer pontapé que se de, a bola volta sempre para o mesmo lado, após bater na parede?

    Desculpem quem tenha tido a paciencia e a pachorra de me ler…espero ter sido útil. Só usei a minha liberdade de pensamento! quis sonhar e o sonho é sempre saudável e ainda bem que é permitido.

    Sejamos sempre amigos…pois só assim podemos caminhar de rosto bem levantado e recriar solucoes para uma sociedade onde cada um tenha o seu espaco e seja devidamente respeitado.

    Quem se terá sentido ofendido…por favor nao se sinta! errar é humano e olhe que me considero também muito humano! Nao deixe nunca de sonhar, deixar de sonhar é morrer…mantenha-s sempre vivo…mesmo sonhando!
    Um abraco!
    Jose Gomes Rodrigues
    Assistente Social na Pré-reforma

  8. Caro amigo José Gomes Rodrigues
    Muito obrigado por este seu depoimento onde ressalta aquele espírito e aquela experiência que levou Portugal à maturidade. Estou-lhe grato pela sua palvra de qualidade nascida do empenho total na sua actividade de serviço aos emigrantes na qualidade de assistente social.

  9. Coloco aqui este artigo sobre Portugal de Jacques Amaury, sociólogo e filósofo francês, professor na Universidade de Estrasburgo. Pela sua pertinência corre na Internet e ajuda a compreender o espírito que se encontra por trás do nosso partidarismo.
    Passo a palavra a Jacques Amaury:
    “Portugal atravessa um dos momentos mais difíceis da sua história que terá que resolver com urgência, sob o perigo de deflagrar crescentes tensões e consequentes convulsões sociais.
    Importa em primeiro lugar averiguar as causas. Devem-se sobretudo à má aplicação dos dinheiros emprestados pela CE para o esforço de adesão e adaptação às exigências da união.
    Foi o país onde mais a CE investiu “per capita” e o que menos proveito retirou. Não se actualizou, não melhorou as classes laborais, regrediu na qualidade da educação, vendeu ou privatizou mesmo actividades primordiais e património que poderiam hoje ser um sustentáculo.
    Os dinheiros foram encaminhados para auto-estradas, estádios de futebol, constituição de centenas de instituições público-privadas, fundações e institutos, de duvidosa utilidade, auxílios financeiros a empresas que os reverteram em seu exclusivo benefício, pagamento a agricultores para deixarem os campos e aos pescadores para venderem as embarcações, apoios estrategicamente endereçados a elementos ou a próximos deles, nos principais partidos, elevados vencimentos nas classes superiores da administração pública, o tácito desinteresse da Justiça, frente à corrupção galopante e um desinteresse quase total das Finanças no que respeita à cobrança na riqueza, na Banca, na especulação, nos grandes negócios, desenvolvendo, em contrário, uma atenção especialmente persecutória junto dos pequenos comerciantes e população mais pobre.
    A política lusa é um campo escorregadio onde os mais hábeis e corajosos penetram, já que os partidos cada vez mais desacreditados, funcionam essencialmente como agências de emprego que admitem os mais corruptos e incapazes, permitindo que com as alterações governativas permaneçam, transformando-se num enorme peso bruto e parasitário. Assim, a monstruosa Função Publica, ao lado da classe dos professores, assessoradas por sindicatos aguerridos, de umas Forças Armadas dispendiosas e caducas, tornaram-se não uma solução, mas um factor de peso nos problemas do país.
    Não existe partido de centro já que as diferenças são apenas de retórica, entre o PS (Partido Socialista) e o PPD/PSD (Partido Popular /Social Democrata), de direita, agora mais conservador ainda, com a inclusão de um novo líder, que tem um suporte estratégico no PR e no tecido empresarial abastado. Mais à direita, o CDS (Partido Popular), com uma actividade assinalável, mas com telhados de vidro e linguagem publica, diametralmente oposta ao que os seus princípios recomendam e praticarão na primeira oportunidade. À esquerda, o BE (Bloco de Esquerda), com tantos adeptos como o anterior, mas igualmente com uma linguagem difícil de se encaixar nas recomendações ao Governo, que manifesta um horror atávico à esquerda, tal como a população em geral, laboriosamente formatada para o mesmo receio. Mais à esquerda, o PC (Partido comunista) menosprezado pela comunicação social, que o coloca sempre como um perigo latente e uma extensão inspirada na União Soviética, oportunamente extinta, e portanto longe das realidades actuais.
    Assim, não se encontrando forças capazes de alterar o status, parece que a democracia pré-fabricada não encontra novos instrumentos.
    Contudo, na génese deste beco sem aparente saída, está a impreparação, ou melhor, a ignorância de uma população deixada ao abandono, nesse fulcral e determinante aspecto. Mal preparada nos bancos das escolas, no secundário e nas faculdades, não tem capacidade de decisão, a não ser a que lhe é oferecida pelos órgãos de Comunicação. Ora é aqui está o grande problema deste pequeno país; as TVs as Rádios e os Jornais, são na sua totalidade, pertença de privados ligados à alta finança, à industria e comercio, à banca e com infiltrações accionistas de vários países.
    Ora, é bem de ver que com este caldo, não se pode cozinhar uma alimentação saudável, mas apenas os pratos que o “chefe” recomenda. Daí a estagnação que tem sido cómoda para a crescente distância entre ricos e pobres.
    A RTP, a estação que agora engloba a Rádio e TV oficiais, está dominada por elementos dos dois partidos principais, com notório assento dos sociais-democratas e populares, especialistas em silenciar posições esclarecedoras e calar quem levanta o mínimo problema ou dúvida. A selecção dos gestores, dos directores e dos principais jornalistas é feita exclusivamente por via partidária. Os jovens jornalistas, são condicionados pelos problemas já descritos e ainda pelos contratos a prazo determinantes para o posto de trabalho enquanto, o afastamento dos jornalistas seniores, a quem é mais difícil formatar o processo a pôr em prática, está a chegar ao fim. A deserção destes, foi notória.
    Não há um único meio ao alcance das pessoas mais esclarecidas e por isso, “non gratas” pelo establishment, onde possam dar luz a novas ideias e à realidade do seu país, envolto no conveniente manto diáfano que apenas deixa ver os vendedores de ideias já feitas e as cenas recomendáveis para a manutenção da sensação de liberdade e da prática da apregoada democracia.
    Só uma comunicação não vendida e alienante, pode ajudar a população, a fugir da banca, o cancro endémico de que padece, a exigir uma justiça mais célere e justa, umas finanças atentas e cumpridoras, enfim, a ganhar consciência e lucidez sobre os seus desígnios.

  10. Má prenda de anos, direi eu, essa do encerramento do Consulado em Osnabrück, pois coincide com o dia do meu nascimento. Mas isso é o que não importa, perante mais um sinal de tempos teimosa e secularmente persistentes, em que as elites de poder dão corpo e continuidade a uma cultura que substituiu o dever do serviço público pelo jeito do serviço aos interesses particulares. É uma tristeza, um vil e dolorosa tristeza, embora seja essa a maré que heroicamente teremos que vencer e aqui, a primeira pessoa do plural dirá respeito a todos os que se sentem no orgulho de serem portugueses, falarem, pensarem e sonharem em português e se reverem nesse legado antigo que, afinal, tantos mundos deu ao mundo.

    Mas permita o Senhor Professor que manifeste a minha alegria por ter a oportunidade de compartilhar as palavras e pensamentos que tão generosamente aqui tem deixado à nossa disposição, num exemplo de um verdadeiro altruísmo cheio de sentido cívico e que, na sua esfera de influência, por mui reduzida que o seja, conflui em contributo para que nós, os simples, os portugas sem poder, possamos dar mais um(ns) passo(s) nessa lenta caminhada da civilidade que alicerça um quotidiano melhor. E peço também que aceite a opinião quanto ao olhar certeiro que nos apresenta, feito de ideias advindas de uma rara lucidez e que eu, na minha modéstia, só poderei subscrever.
    Virá o tempo, certamente, em que ao(s) emigrante(s) será reconhecido o papel do herói da maior epopeia portuguesa do século passado, justamente a emigração. Pena que a literatura, salvo raras excepções -algumas bem antigas, como esse imortal “Viúvas de Vivos” do esquecido Lagoeiro- ainda não se tenha debruçado sobre esse aprofundamento.
    Seja como for, textos como este, também servem para chamar a atenção para isso. Por tanto, resta-me deixar o meu agradecimento.

    E permita-me ainda que lhe deixe aquele abraço, não levando a mal, por demasiadamente ousado, o companheiro.

    Luís Gomes
    in Estudo Geral

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