A FESTA DA LIBERDADE
A revolução do 25 de Abril não inventou a liberdade, mas ensinou-a a dobrar-se — humildemente— tanto à luz que liberta quanto à sombra que corrompe.
Antes do 25 de abril, já sabíamos – conservadores e progressistas – que o sol não se ajoelha perante senhores! Todo o regime é espelho dos que nele caminham e vício dos que nele se acorrentam ou temem.
Assim me foi ensinado, na escola de Jesus – pela boca e exemplo de meus pais – aquela escola que liberta, e nunca submete.
Num mundo de senhores e arregimentados, é de afirmar um Abril sem credenciais e que não pede licença: onde a chuva lava o pó de tronos e a traça dos ministérios e onde a soberania nasce de cada passo e não de bandeiras nem de postos, mas em cada peito que ousa avançar!
Liberdade política liberta os corpos, mas a verdadeira liberdade – aquela que é soberana e ecoa nas almas; só o vento a reconhece, só o espírito a governa!
Quem clama por liberdade e justiça não pode repetir o vício dos opressores: não pode ser espelho de prepotentes; não pode erguer monopólios de bem ou de mal!
Liberdade é este canto nascido quando um homem desperta e descobre que traz o céu no próprio sangue. Ela é a memória do céu gravada em cada homem, em cada mulher, em cada criança que nasce para a esperança!
Abril é este grito: de pé, povo livre! Que nunca mais o medo vos dobre! Que nunca mais a sombra vos cale! Que nunca mais o céu deixe de arder em vós!
António da Cunha Duarte Justo
Pegadas do Tempo
O 25 de Abril do Povo
(por António da Cunha Duarte Justo)
A Revolução de Abril não inventou a liberdade.
Ensinou-a a curvar-se — humildemente —
tanto à luz que liberta,
quanto à sombra que corrompe.
Antes do 25 de Abril, eu já sabia —
como tantos, conservadores ou progressistas —,
que o sol não se ajoelha perante senhores.
Todo o regime é espelho dos que o seguem,
e vício dos que o temem.
Assim me ensinaram meus pais,
na velha escola de Jesus,
aquela escola que liberta,
e nunca submete.
Numa terra de senhores e arregimentados,
prefiro um Abril sem carimbos,
sem passaportes,
sem licença pedida ou concedida:
um Abril em que a chuva lava o pó dos tronos,
devora a traça dos ministérios,
e onde a soberania se ergue de cada passo,
não de bandeiras, nem de postos.
Liberdade política liberta os corpos.
Mas só a soberania da alma —
divina, selvagem —
ressoa no vento e desconhece governo.
Quem clama por liberdade e justiça
não pode repetir o vício dos opressores.
Não se pode conceder a um lado
o monopólio do bem,
nem ao outro o monopólio do mal.
Liberdade é este canto,
nascido quando o homem desperta
e descobre o céu no sangue.