Depois da Guerra pior que antes da Guerra – veja-se Iraque
António Justo
O colonialismo moderno apenas acrescenta ao antigo a qualidade do seu cinismo. Não faz guerra, encontra-se simplesmente em “missão”. Intervém, não em nome do petróleo e das matérias-primas mas em nome da democracia, dos direitos humanos, da defesa de grupos ameaçados, em prol da estabilização. “Arranja” até aliados dentro das sociedades islâmicas que lhe pedem ajuda. Assim, o zé-povinho continua consolado nas suas quintas a queixar-se do colonialismo de antanho e distraído do colonialismo moderno de que vive também. Para branquear o próprio rosto, no Afeganistão e no Norte de África, fala de conversações com talibans moderados, com islamitas mitigados e quejandas, como se houvesse moderação e esta fosse possível num sistema político-religioso déspota.
Os 28 ministros da defesa dos 28 países da aliança, na sua reunião de 3.02.12 em Bruxelas, persistiram em continuar a guerra, que apelidam de “missão”, até 2014. Os falcões da guerra gostariam de ver a permanência da Nato no Afeganistão ainda por mais tempo. Agora trata-se de ver quais os países que abandonam primeiro o Afeganistão, para não ficarem todos na História como renitentes do fracasso. Falam de já terem entregado 21 das 34 províncias às forças de segurança afegãs mas na realidade isso só se concretizou em 8.
Durante e depois das guerras só ganha a indústria da guerra e seus adjuntos. Facto é que a Nato perde todas as guerras em terrenos muçulmanos. A ganância do petróleo turba-lhe a razão.
Quando se encontram encurralados pelo sistema muçulmano, então falam de guerras e guerrilhas tribais, de Talibans e de terroristas. Esquecem que o sistema muçulmano é, na sua essência, um sistema político e social de guerrilha ad intra e ad extra perpetuado pela religião.
Em dez anos de intervenção a Nato não conseguiu sequer criar alternativas ao cultivo da droga no país. O Afeganistão continua a produzir 90% do ópio para o consumo a nível mundial.
Depois de 10 anos capitula a Nato como capitulou a Rússia. Quem se mete com os muçulmanos apanha. Não precisam de guerra, basta-lhes a guerrilha. Os nossos antepassados lusitanos usavam a mesma estratégia contra os Romanos e estes só depois de 200 anos de luta conseguiram dominar os guerrilheiros de Viriato mas só depois de ajudados pela traição.
As direcções da Nato admiram-se das forças de segurança afegãs que formaram terem no seu meio homens bomba que repetidamente assassinam os colegas ocidentais à margem das áreas de batalha. Falta-lhes a fé!…
A derrota da Nato no Afeganistão é mais uma depois da do Iraque. O problema é que depois da guerra o Ocidente continuará a despender como continuam a pagar caro a “paz muçulmana” no Kosovo.
Actualmente encontram-se 130.000 soldados estacionados e desesperados no Afeganistão. Quebram-se a cabeça não compreendendo como é que tanto poder militar não consegue ter a força para dominar o terrorismo. Equivocam-se ao pensar que este, é o fruto de algumas cabeças desorientadas e não a flor da seara muçulmana, como nos mostra a história contemporânea e a história da sua origem.
Em 2014 os soldados da Nato retirar-se-ão mas para não darem a impressão de capitulação continuarão a pagar quotas elevadas de “reparação”. A sociedade civil herda os encargos de “reparação” além das famílias de soldados destrocadas pela dor e pelas mortes.
Cabul é uma cidade de muros intra muros
O Negócio dos islamistas é assassinar e meter medo
Em Cabul, até os hotéis, onde vivem estrangeiros, fazem lembrar prisões. Encontram-se cercados por arame farpado para que os jornalistas, que vivem da informação guerreira, possam, em paz, mandar mensagens optimistas para a opinião publicada nos países da Nato.
Quem não trabalha para o estrangeiro não precisa de muros, dizia, há dias, um jornalista afegão numa reportagem sobre o Afeganistão no ZEIT. Apesar de tudo, a pobreza e a ideologia vivem mais recolhidas em Cabul.
A sociedade islâmica, geralmente, prescinde duma ordem que não seja assegurada pelo poder das mesquitas ou que não se encontre nelas. Por isso uma ordem civil forte com polícia e militares submetidos a um governo neutro é combatida por um sistema que se quer revolucionário islâmico com expressão política às sextas-feiras depois das orações nas mesquitas.
Os militares ocidentais não patrulham a cidade para que a cor das suas fardas não provoque o sentir islâmico. Os soldados ocupantes são tolerados pela população para lhe possibilitarem a segurança nas visitas aos familiares que vivem a 30 Km de Cabul, para localidades mais longe torna-se impossível a protecção.
Grande parte do Afeganistão é inacessível devido ao perigo de ataques. É mais cómodo para os soldados viverem no gueto e deslocarem-se de avião ou de helicóptero. Cada soldado ocidental morto constitui um perigo porque um acumular-se de tais notícias poderia acordar o povo e este poderia começar a perguntar-se sobre as razoes da presença estrangeira no Afeganistão. Isto contrariaria a estabilidade da opinião pública a manter pelo sistema dos países da Nato. Por isso a melhor informação é não haver informação, como acontece relativamente ao Kosovo. Para evitar mais mortos as forças militares estrangeiras limitam-se a viver em guetos dentro do grande gueto. Um compromisso de sistemas no grande sistema.
Naturalmente que o negócio dos islamitas é assassinar e meter medo às pessoas. O caos e os atentados (guerra civil) são o húmus que permite aos mais fortes o domínio da natureza e da cultura. Por isso odeiam como a peste qualquer tentativa de organização estatal que não assente nem assegure a defesa dos mais fortes. A renúncia ao direito de defesa e de vingança individual em benefício duma supra-estrutura Estado, como acontece nas sociedades ocidentais constitui um absurdo.
Também é verdade que o Afeganistão, antes da invasão ocidental só conhecia a ilegalidade, a pobreza e a guerra. Agora tem uma organização policial mas o Estado não funciona. A constante é a guerrilha cultivada à sombra das mesquitas. Desde 1996, aquando da conquista do Afeganistão pelos talibans, vive-se em guerra civil.
A intervenção da Nato teve a vantagem de dar a provar os benefícios da paz a alguns. Uma geração de crianças, que cresce agora à margem da guerrilha, aprende a gostar da paz. Isto é positivo muito embora o medo continue uma ameaça contínua.
Os povos muçulmanos ainda têm uma grande caminhada a fazer em direcção à sociedade civil. Esta porém só poderá ser fomentada através dum sistema militar ditador como aconteceu na Turquia. Todas as outras estratégias têm-se revelado como perda de tempo. Para isso teria uma classe militar laica de constituir uma sociedade económica forte. A longo prazo talvez conseguissem criar biótopos sociais desejosos duma liberdade não açamada à religião. (O exemplo da Turquia já se encontra em perigo).
O Ocidente, que só percebe da sua ideologia, não aprende e por isso estará condenado a seguir apenas os seus meros interesses económicos e estratégicos dando uma no cravo e outra na ferradura.
De resto, o Ocidente continuará a lançar trigo nos moinhos do islamismo em troca de petróleo e de matérias primas. Este só pode ser reformado com uma força interna que opere à altura e com os mesmos meios da estratégica muçulmana.
António da Cunha Duarte Justo
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