VIRAGEM NA ORDEM EUROPEIA INICIADA PELA ALEMANHA – NOVA GUERRA FRIA

A Ucrânia só precisa da autorização da Nato e da Rússia para se tornar numa República Federal independente neutra

Para evitar a traição da Ucrânia, cuja situação interna foi criada por actuação do Ocidente e da Rússia, decide-se agora a Alemanha pela filosofia militar da guerra fria de outrora. Numa guerra que não pode ser ganha e só será perdida, a situação é grave atendendo à possibilidade do desaparecimento de um país, sua divisão ou criação de um país independente! A história repete-se, com esta tomada de posição da Alemanha reinicia-se na Europa a época da guerra fria!

A invasão da Ucrânia pela Rússia dará início ao surgir de uma nova consciência europeia que facilitará adquirir um lugar mais patriarcal no mundo dos grandes! Até ao presente a Alemanha funcionava, entre os seus parceiros, como travão da vontade militar! Agora, o governo alemão determinou uma mudança histórica de rumo; no passado era consenso alemão o não fornecimento directo de armas para zonas de conflitos bélicos. O governo alemão passa agora a fornecer armas à Ucrânia: 1000 armas antitanque e 500 mísseis terra-ar provindos dos seus stocks da Bundeswehr. Também quer entregar 14 veículos blindados e até 10.000 toneladas de combustível. Para reforçar a nova filosofia, o governo alemão quer disponibilizar 100 mil milhões de euros para a modernização das Forças Armadas alemãs. Há aspirações de reforçar as Forças Armadas de 183.000 para 203.000 soldados nos próximos dez anos (1). O Chanceler Olaf Scholz justifica a mudança de posição da Alemanha, dizendo:  “A invasão russa da Ucrânia marca um ponto de viragem. Ameaça toda a nossa ordem do pós-guerra” e reforça: “nesta situação, é nosso dever apoiar a Ucrânia o melhor possível na sua defesa contra o exército invasor de Vladimir Putin. A Alemanha está ao lado da Ucrânia (2)”…. A pressão sobre Berlim para entregar armas defensivas à Ucrânia tinha vindo a aumentar, feita por países parceiros que já há semanas forneciam armas à Ucrânia (USA, Reino Unido, etc..). Com a viragem de estratégia alemã iniciar-se-á na Europa a corrida ao armamento. Ao contrário do governo de Ângela Merkel, a nova coligação abandona a política pós-guerra de contenção para seguir mais nas pegadas dos USA.

O mundo está roto, chove nele dentro e fora! Na Europa encontramo-nos de luto, com vergonha, desiludidos ou sem palavras. A atitude de Putin traz à luz uma sociedade europeia desprecavida, uma força militar impreparada e uma avaliação desqualificante dos actores políticos por identificar os seus interesses com os da USA. Faz lembrar a situação e atitude em relação ao vírus ao que se seguirá uma nova fixação política no encapotamento militar! Iniciamos agora um processo de retrocesso (na visão alemã), ao termos de passar a aprender a distinguir entre inimigo e amigo e, na consequência, passar a duvidar precipitadamente do rosto humano de cada um.

Até aqui, estávamos preocupados com a Guerra sanitária do SARS-CoV-2 e agora somos ocupados com a guerra militar da Rússia na Ucrânia! Deste modo continuam os povos em estado de emergência: da dependência do ministério da saúde para a dependência do ministério da defesa. . Das pessoas encerradas em casa surgirá a tendência para as guardar nas casernas!

Putin não queria aceitar que também os grandes impérios podem desabar e os USA enganaram-se ao quererem apostar no seu mundo de cariz unipolar!  Se seguíssemos essa lógica de manter e ampliar os grandes, a consequência seria, como dizia um colega, Portugal e Espanha teriam direito à América do Sul, a Inglaterra à Índia, América do Norte e Austrália e assim por diante… E isto para não começarmos pelos Romanos, etc.!  Facto é que os grandes impérios caem e que a ordem se cria num jogo entre pequenos e grandes.

E nós povo, pensamos e agimos privadamente sem nos darmos conta do que está por trás do que fazemos ou deixamos de fazer. Querer meter no mesmo saco os interesses por que se rege  a política e a moral que move o povo, é fraco gesto que usa da confusão ao serviço de interesses políticos. Somos ingénuos quando se trata de avaliar o poder pensando que o que não deve acontecer não acontece. A credulidade numa sociedade romantizada leva à negação da realidade. Não chega pensar que para além do nosso próprio horizonte (mentalidade) não existem outras ideias, outros horizontes com formas anárquicas e cruéis de pensar e agir…. O cúmulo da ingenuidade seria, porém, querer ignorar o próprio mal para culpar só os outros.

O cerco da NATO não justifica a guerra nem a guerra justifica as acções anteriores da NATO. Com a guerra e a ameaça nuclear e pessoas sem escrúpulos, tudo se torna possível, mesmo o que se pensava ser impossível. Em 2007, na conferência de segurança em Munique, Putin manifestou-se contra um mundo unipolar e avisou a NATO: “mãos fora dos nossos vizinhos”. Pelos vistos Putin, na altura, dizia o que pensava perante o agir de uma NATO que queria ver Putin humilhado e uma Rússia reduzida a segundo ou terceiro plano na ordem mundial (O extremo da propaganda ocidental estilizava-o como psicopata). Na fase da divisão do povo ucraniano Putin verificou que a sua acção agressiva no terreno se revelava inferior à estratégia de inserção dos USA e da Nato através de métodos considerados democráticos, mas aí viu que, a longo prazo, iria perder. Putin, nesse tempo de rivalidade pela posse do povo ucraniano, pôde ver que a Nato não tinha dentes nem garras, mas se afirmava de maneira mansa, os USA forneciam dinheiro e a Europa estava interessada em implantar lá empresas enquanto militarmente treinava as suas forças militares em” missões de paz”, e ele Putin só tinha a força militar… a situação mostra agora a face do poder que é imprevisível!

 A Cimeira da NATO em Varsóvia. 8. 7. 2016 tinha na agenda a forma de lidar com a Rússia, cuja guerra de agressão não declarada contra a vizinha Ucrânia já tinha custado a vida a cerca de 10.000 pessoas e tinha obrigado cerca de 2 milhões de pessoas a fugir (3). Na Rússia como no Ocidentes encontram-se valores genuínos que querem foros de cidadania. O The Moskow Times informou que trinta meios de comunicação social russos (incluindo, RT, Kommersant, Novaya Gazeta e TASS)– emitiram uma declaração conjunta em que acentuaram: “Hoje o presidente da Rússia Vladimir Putin iniciou uma guerra com a Ucrânia. Dor, raiva e vergonha – estas três palavras refletem os nossos sentimentos sobre os eventos…” “Nós, jornalistas dos media independentes russos, declaramos que somos contra a condução da guerra pela liderança da Rússia. Prometemos narrar honestamente esses eventos, enquanto pudermos. Desejamos força e determinação ao povo da Ucrânia que resiste à agressão, e a todos os russos que tentam resistir a esta loucura militarista“(4).

 Na opinião pública o sentimento de impotência expressa-se justamente revoltado contra a invasão ordenada por Putin. Erich Kästner adverte:  “Lembra-te da pergunta daquela criança: o que é que o vento faz quando não sopra?… Quem se atreve a opor-se aos comboios trovejantes?… Aquele que não pergunta continua burro…. É a partir das perguntas que emerge o que resta”. Destas ideias se poderia concluir que quando se está contente com a resposta e se deixa de perguntar, então passa-se ao estado de burro.

De uma maneira geral em vez de nos empenharmos pela causa da paz continua-se nos Media a dificultar formar-se uma ideia justa sobre o que tem acontecido e está a acontecer na vítima Ucrânia. A intervenção militar da Rússia e o processo em via na Ucrânia dificultam a formação de uma opinião justa e equilibrada, aquela que seria propícia para a paz. A guerra quebra com a razão, tirando a razão a Putin e ofuscando a opinião dos que não têm interesse em perceber o envolvimento no terreno (tornado Cavalo Troiano) das actividade da Rússia e da NATO, a partir dos anos 90; só a partir daí se pode chegar a conclusões que levem a soluções imparciais e duradouras. Uma argumentação que certifica a opinião dos que se encontram do lado certo traz já no seu germe também a guerra! Senão olhe-se para a situação na Ucrânia e para os meios de comunicação social. A opinião pública passou dezenas de anos virando o olhar do que acontecia na Ucrânia para agora lavarem as mãos declarando Putin de louco sem contarem o que contribuímos para ele chegar a este estado de loucura. Guerras só se evitam à mesa das conversações mediante compromissos. Não há possível compromisso que satisfaça plenamente as partes e quem não nota isto deveria voltar para a escola, para a escola da vida!

No sentido de uma paz duradoura na Europa, seria um erro crasso termos uma Rússia encurralada; a solução seria a Ucrânia tornar-se uma República Federal da Ucrânia neutra, à imagem da Suiça (ou da Suécia). De desejar seria uma Ucrânia com uma sociedade equilibrada adversa ao capitalismo bárbaro e oligárquico e ao centralismo escravizante estalinista. Para evitar o sacrifício da Ucrânia, ou fazer dela uma zona de disputas entre o Oriente e o Ocidente há que considerar, o conflito dos interesses geoestratégicos da Rússia-NATO-China evitando que a Ucrânia na Europa seja colocada na posição de uma nova Cuba: de um lado os países capitalistas e do outro os países do comunismo oligárquico. Agora seria o momento de pôr em acção a razão na mesa das conversações e haja um esforço por parte da Europa para que se reconheça uma República Federal Ucraniana, doutro modo a Europa, com a sua política, estará a implementar a união dos blocos comunistas e a preparar a próxima tragédia que será Taiwan que até hoje na Europa só foi reconhecida pelo Vaticano e pela Macedónia!  Na hora dos grandes é preciso salvar os pequenos para que não se tornem vítimas dos tentáculos dos grandes polvos! No meio de tudo isto assiste-se a campanhas de desinformação e quem sofre é o mexilhão que sofre com a irresponsabilidade de uma Europa que em vez de olhar pelos próprios interesses e por garantir a paz, está a comprometer a própria população civil e a da Ucrânia.

Uma política de perspectiva europeia   poderia, com o tempo, levar parte da Rússia a integrar-se numa Europa com objectivos comuns. A humildade e a modéstia seriam a virtude a solicitar-se a Putin e a todos os que contribuíram para a guerra (Ver Ucrânia Cavalo de Troia: https://antonio-justo.eu/?p=7116 .

A Nato e a Rússia têm jogado na Ucrânia não em defesa de uma Ucrânia unida, mas na defesa dos próprios interesses. A Ucrânia só precisa da autorização (auto-empoderamento) da NATO e da Rússia para iniciar uma política de união nacional federal; que faz a Europa nesse sentido? Esperar que a Rússia se una definitivamente à China?  (Chegou a hora do ajuste de contas: https://antonio-justo.eu/?p=7129 ).  A liberdade de opção é um bom argumento, o problema é não vivermos sozinhos no mundo!

Urge parar toda a violência para evitar novas ondas de sofrimento. Seria autoengano pensar que escapando à dor se evitaria o sofrimento!… A questão a pôr será se o que se faz é para o bem de todos!

© António da cunha Duarte Justo

Pegadas do Tempo

(1)  Reforço das forças armadas: https://www.welt.de/politik/bundestagswahl/article234668682/Ampel-will-bereits-geplante-Aufstockung-der-Bundeswehr-stoppen.html

(2) Der Tagesspiegel https://www.tagesspiegel.de/politik/ist-unsere-pflicht-die-ukraine-zu-unterstuetzen-deutschland-liefert-jetzt-doch-direkt-waffen-an-die-ukraine/28110020.htm

(3) https://taz.de/Nato-Gipfel-in-Warschau/!5317179/

(4) In The Moskow Times” https://www.themoscowtimes.com/2022/02/24/russian-celebrities-academics-journalists-speak-out-against-ukraine-war-a76565

PS: O facto aqui apelar ao diálogo e ao compromisso, não quer isto dizer que se desqualifique quem tem a sua opinião formada num sentido ou noutro. Sem soldados não se faz a guerra e quando há guerra justifica-se a existência de soldados; o maior problema é que quem morre é a juventude feita soldado e quem mais sofre é o povo. Por todo o lado se levanta o povo em manifestações contra Putin, outros rezam, outros põem a voz dos sinos a rebate duas vezes ao dia. Juntemo-nos todos solidários com o povo ucraniano na defesa de quem é vítima

CHEGOU A HORA DE PUTIN – A HORA DO AJUSTE DE CONTAS E DO ACERTO DOS BLOCOS RÚSSIA E NATO

A Ucrânia está em Guerra! A Solução será tornar-se República Federal Neutra

O Presidente ucraniano Selenskyj declarou o estado de guerra. A infraestrutura das bases aéreas ucranianas foi destruída, segundo informa o governo russo.

O mais trágico que se pode observar no conflito fora e dentro da Ucrânia é o facto de não ser dado tempo aos habitantes ucranianos para se habituarem uns aos outros e formarem com o tempo um povo unido! Os interesses da Nato e da Rússia, empenhados em instigar a instabilidade, não dão tempo nem permitem um desenvolvimento orgânico da Ucrânia. As interferências perpetradas pelos centros imperialistas modernos atafegam à raiz qualquer desenvolvimento orgânico e natural de povos e regiões. (Ucrânia mero cavalo de Troia (1) e dados sobre a Ucrânia (2).

A Ucrânia está em guerra; tem 200.000 soldados na disponibilidade e ordenou agora (23,02.2022) a mobilização de cerca de 250.000 reservistas. A Europa tem estado a preparar-se para acolher os Refugiados. O público tem o direito de ser completamente informado sobre as condições na Ucrânia, de modo a poder orientar-se à margem do pensamento a preto e branco dominante; doutro modo são enfileirados nas trincheiras a serem contruídas na opinião pública tornando-se, assim, em arautos e belicistas cúmplices de um partido ou do outro. Putin, Biden e as partes beligerantes sabem de antemão que terão todos razão, independentemente do certo ou errado, porque as pessoas não estão em posição de questionar nada e orientar-se-ão pelos factos criados.

Os adversários Putin e Biden continuam na sua teimosia. Putin esconde os seus pretextos na sua exigência de que “a NATO não deve ser alargada à Ucrânia”. A NATO esconde o seu pretexto não cedendo; deste modo são servidos e justificados os respectivos interesses na guerra e as populações são orientadas de modo a tomar partido e deste modo a aceitar as consequências de uma guerra estimulada por gente irresponsável onde quem morre é a juventude e quem aguenta as consequências é a população em geral. A fim de se sair desta situação desumana, não se deveria pensar apenas estrategicamente. No caso, a melhor solução seria a Ucrânia tornar-se uma república federal neutra independente.

As fronteiras estão, de novo, a ser movimentadas na Europa e a zona da Ucrânia e da península Balcânica continuam a ser zonas “vulcânicas” devido ao encontro/distanciamento das “placas continentais”! As repúblicas separatistas de Lugansk e Donetsk reivindicam todo o território Oblast. A região Oblast de Lugansk tem 2,1 milhões de habitantes e 1,4 milhões deles são separatistas; o território tem 26,7 mil quilómetros quadrados. A região fronteiriça Oblast de Donetsk tem 4,1 milhões de habitantes e cerca de 2,2 milhões são separatistas e a área é de 26,5 mil quilómetros quadrados. Na Ucrânia a miopia política e a corrupção têm contribuído para muitas medidas contra a inclusão do povo de tendência russa e ucraniana. O divisionismo na Ucrânia, nem sequer a religião poupou. Nos anos 90 surgiu uma nova igreja ortodoxa separada do patriarcado de Moscovo, entretanto surgiu também uma outra e em 2018 foi fundada a Igreja Ortodoxa da Ucrânia como igreja ortodoxa autocefálica.  Também o russo, que é hoje falado por quase toda a população da Ucrânia, mas principalmente no leste e sul do país, bem como na capital Kiev (3), tem sido objecto de impedimento legislativo oficial. Encontramos na Ucrânia os vícios reunidos da Nato e da Rússia que levarão ao desmantelamento da Região.

Numa América do Norte acossada pela China, ao lado de uma Rússia ainda por fazer e de uma EU, no meio delas, a querer aparecer, Putin procura interpretar os sinais dos tempos e aproveitar-se para corrigir o desequilíbrio criado depois da queda da União Soviética; para completar o seu império aproveita para fazer o que os USA têm feito em seu proveito. Putin aprendeu a lição; nesse sentido, procura também afirmar-se criando factos consumados, com o argumento de não querer deixar o destino das nações tão entregue às mãos da Nato (e da China)!

Na dureza do confronto das potências, também a União Europeia vai procurando granjear um lugar ao sol, entre os blocos de influência, servindo-se mais de paliativos; para tal usa o proclamado ideal da democracia como antes usava o ideal da religião; tudo roupagens bonitas mas que escondem, perante o povo, o verdadeiro rosto (o poder) que por baixo desse manto se esconde! Em nome da democracia serve, (também ela não tanto como senhora mas como serva), a guerra, dos USA e da Nato, criando instabilidades em países mediante o fomento ou o apoio de lutadores da resistência dentro de povos, e tudo só para bem da sua “democracia” e da economia (o mesmo estratagema usam pretensas potências como o Irão e a Turquia em nome do islão, na Índia em nome do induísmo, na China em nome do comunismo e na Rússia em nome da Rússia de recordação comunista: todos os povos elaboram o seu lampião para alumiarem o seu  caminho no pretexto de não deixarem o povo às escuras!). Na lógica da Nato, nas zonas de seu interesse, o princípio de autodeterminação democrática já não conta. Desde 1953, a NATO cometeu 13 violações do direito internacional sem um mandato da ONU (4). A Rússia segue nas suas pegadas porque a fome é a mesma!

A Rússia imperial está consciente de querer modernizar-se e, à maneira progressista, num tempo já não de construção de nações, mas numa fase mais adiantada de desconstrução que corresponde à estratégia de alinhamento de complexos geoestratégicos, englobantes de países e regiões mais pequenos. Na perspectiva da globalização, este factor dar-lhe-á razão, uma vez que vem do progresso e ele está aí a chegar nas novas demarcações económico-políticas que procuram território irreversivelmente demarcado para se instalarem no novo mundo de maneira sustentável! Por mal das circunstâncias, a decisão da Ucrânia não se encontra nas mãos dos ucranianos, não só pelo facto de se encontrarem divididos entre si, mas pelas razões mais altas dos correspondentes interesses dos falcões geopolíticos, a quem servem. A História não se deixa disciplinar pela moral, ela segue apenas os factos criados por interesses e estes pertencem sempre aos mais fortes; uma vez criados os factos, o povo estará sempre pronto para os seguir atrás a aplaudir. A moral só sabe caminhar com o povo, mas os interesses seguem uma via diferente caminhando com os maiores! Putin sabe bem que, se, a Rússia que alberga vários povos, desse asas à democracia isso corresponderia a criar novos focos de independência dentro da própria Rússia, o mesmo medo mantem a China, por isso preferem dedicar-se à conquista! Por isso falar de democracia a Putin, torna-se numa verdadeira provocação porque na sua situação, tal como na da China significaria polvorosa nas próprias populações e cedência ao rival.  O argumento da democracia vale especialmente para nós europeus onde cada país, depois de muitas guerras, alcançou a sua identidade e, pelo facto, já não temos mais para conquistar; o trágico da aprendizagem é que usemos, muitas vezes, da democracia como armadilha para outros povos.

Também se torna ilusória uma argumentação em termos de nacionalidade quando nos encontramos, também nós, devido ao globalismo e ao processo de organizar o bloco EU, numa era de superação das ideias nacionais para se poder legitimar a formação de novos blocos ou agrupamentos de nações. Esta realidade leva muita da argumentação de caracter nacionalista a tornar retrógrados e contraditórios os factores que implementam a formação da União Europeia.  Facto é que a política globalista (a nível político de ideologia e de economia) em via tem como consequência o desprezo das nações em benefício dos blocos. Por isso pareceria tornar-se atrasada uma tendência de se afirmar um país numa região feita de populações, mas sem ter tido tempo para se formar em povo. Assim a Ucrânia é fomentada também artificialmente em alfobres de grupos joguetes nas mãos dos falcões da NATO e da Rússia. Os moventes da Nato e da Rússia não são os genuínos interesses nacionais de um povo-nação, mas o seu desmantelamento, para satisfação de novos compromissos a fazer pelos figurantes em jogo.  Na era globalista e em tempos da formação da EU, tempo mais propício para a desconstrução das nações, falar-se de “dignidade nacional” até parece mal, sobretudo se dito por mentes progressistas!!!

Infelizmente, vistas as coisas de uma perspectiva actual, Putin, para não ser homem de outra era, vai escrever história recente e vai ditá-la aos que se julgam à frente! De facto, o orgulho e a humilhação, suscitam forças que levam a não se resignar e a ideia do globalismo ajuda! Talvez por isso as revoluções pretendam ir sempre à frente, a fazer de luzeiros para o povo e para os que se atrasam! Cada bloco faz a sua leitura própria e nós povo é que teremos de pagar a fava que já se preanuncia num novo aumento das energias. Neste contexto, ser-se popularmente pela política de um bloco ou do outro torna-se um pouco indecoroso.

Falta de cocegas na opinião pública e no povo não faltarão. Uma vez desmantelada a Ucrânia restará o trabalho de sabotagem da Bielorrússia para que esta abra as portas para o Ocidente. Haverá que preparar-nos para engolir sapos e lagartos pois depois de décadas de paz na Europa o que nos espera são guerrilhas, como já conhecemos também dos “assassinos” maometanos através da História! …

Apoiar um ou outro bloco é tornar-se cúmplice das desumanidades contra o povo que sofre e declarar-se pronto para assumir os encargos consequentes da guerra! Só há um caminho a seguir: o das conversações!

Chegou a hora de a Ucrânia, em acordo com os partidos concorrentes, acordar uma solução viável que será fazer da Ucrânia uma República Federal Neutra

António da Cunha Duarte Justo

Pegadas do Tempo

(1) Ucrânia mero cavalo de Troia: https://antonio-justo.eu/?p=7116

(2) Dados sobre a Ucrânia: https://antonio-justo.eu/?p=7127

(3) Kiev é uma cidade bilingue onde tanto o ucraniano como o russo são falados. Há três anos, uma nova lei linguística entrou em vigor na Ucrânia. O seu objectivo é fazer recuar o russo, mas cria novos problemas aos editores e às críticas em língua russa a Putin. Os jornais e revistas nacionais devem agora aparecer em ucraniano. As edições russas não são proibidas, mas uma versão paralela ucraniana deve ser impressa na mesma circulação. É certo que isto não é rentável para os editores. O último jornal diário nacional russo, “Westi”, foi recentemente mudado para ucraniano, e muitos jornais só aparecem agora na rede. Aprovada há três anos, a lei linguística está agora (2022) a entrar em vigor na Ucrânia. É suposto fazer recuar o russo, mas cria novos problemas para editores e críticos de Putin em língua russa. A lei, que é dirigida contra a língua russa preferida por muitos ucranianos, especialmente no leste e sul do país, foi aprovada pouco depois de o Presidente Petro Poroshenko ter sido votado fora de funções em 2019.

https://www.faz.net/aktuell/feuilleton/debatten/ukraine-neues-sprachgesetz-soll-das-russische-zurueckdraengen-17736397.html

(4) 70 anos da NATO: guerras ilegais e causas de fugas: “70 Jahre NATO: Illegale Kriege und Fluchtursachen!

 

DADOS SOBRE A UCRÂNIA QUE JUSTIFICAM O UIVAR DAS HIENAS

“Para aqueles que perguntam: “Por que a Ucrânia importa?” Vejam como a nação da Ucrânia se classifica:
1° lugar na Europa em reservas, comprovadamente recuperáveis de minérios de urânio;
2° lugar na Europa e 10° lugar no mundo em termos de reservas de minério de titânio;
2° lugar no mundo em termos de reservas exploradas de minérios de manganês (2,3 bilhões de toneladas, ou 12% das reservas mundiais);
2° maior reserva de minério de ferro do mundo (30 bilhões de toneladas);
2° lugar na Europa em termos de reservas de minério de mercúrio;
3° lugar na Europa (13° lugar no mundo) em reservas de gás de xisto (22 triliões de metros cúbicos)
4° no mundo pelo valor total dos recursos naturais;
7° lugar no mundo em reservas de carvão (33,9 bilhões de toneladas)
A Ucrânia é um país agrícola:
1° na Europa em termos de área de terra arável;
3° lugar no mundo pela área de solo negro (25% do volume mundial);
1° lugar no mundo em exportações de óleo de girassol.
2° lugar no mundo na produção de cevada e 4° lugar nas exportações de cevada;
3° maior produtor e 4° maior exportador de milho do mundo;
4° maior produtor de batatas do mundo;
5° maior produtor de centeio do mundo;
5° lugar no mundo em produção de abelhas (75.000 toneladas de mel);
8° lugar no mundo em exportações de trigo;
9° lugar no mundo na produção de ovos de galinha;
16° lugar no mundo em exportações de queijo.
A Ucrânia pode atender às necessidades alimentares de 600 milhões de pessoas.
A Ucrânia é um país industrializado:
1° na Europa na produção de amônia;
É o 4° maior sistema de gasodutos de gás natural da Europa no mundo (142,5 bln metros cúbicos de capacidade de produção de gás na UE);
3° maior da Europa e 8° maior do mundo em termos de capacidade instalada de usinas nucleares;
3° lugar na Europa e 11° no mundo em termos de comprimento da rede ferroviária (21.700 km);
3° lugar no mundo (depois dos EUA e França) na produção de localizadores e equipamentos de localização;
3° maior exportador de ferro do mundo;
4° maior exportador de turbinas para usinas nucleares do mundo;
4° maior fabricante mundial de lançadores de foguetes;
4° lugar no mundo em exportações de argila
4° lugar no mundo em exportações de titânio
8° lugar no mundo em exportações de minérios e concentrados;
9° lugar no mundo nas exportações de produtos da indústria da defesa;
10° maior produtor de aço do mundo (32,4 milhões de toneladas).
Vocês entenderam por que a Rússia quer a Ucrânia?
Os EUA querem “empatar a coisa” e vender armamento?
A China, com um um soriso irónico, “espreita por detrás da cortina”?”
Texto: Ukrainian Congress Committee of America Ukrainian World Congress – Свiтовий Конґрес Українців
Fabiana Tronenko Kyiv 2020

UCRÂNIA É O CAVALO TROIANO DOS USA E DA RÚSSIA

Nem Guerra nem Paz – Negócio e Hipocrisia

António Justo

Não haverá guerra nem paz; a guerra na Europa não convém à Europa nem à Rússia! Conservar-se-ão as “guerrilhas”! 

A Ucrânia renunciará à sua livre escolha de aliança, suspendendo o seu desejo de aderir à NATO, e a Rússia renunciará à invasão e repensará o seu apoio às zonas separatistas (Lugansk e Donetsk) da Ucrânia Oriental e os USA tentarão impor a venda do gás líquido à Europa contra os interesses europeus de o receber mais barato através do gasoduto Stream 2.

Desta forma, as partes beligerantes, Rússia e os EUA, manterão, depois de tantas ameaças, o seu rosto erguido, conservando, cada qual, os seus interesses conflituosos, através dos seus representantes (pró NATO e pró-Rússia ) no terreno, tornando assim a Ucrânia num cavalo de troia.

A Ucrânia perdeu, ao querer internacionalizar a sua guerra civil, tendo agora de começar a ordenar os seus problemas internos num outro dossier que poderia ter como título: Ucrânia, parceira económica das potências envolvidas no conflito! Depois, o negócio de uns e dos outros fará o resto!

Os USA, com a sua armada avançada NATO, procurarão continuar a sua guerra económica contra os interesses da Europa; quem fica com a fava a pagar é a Europa e o povo sofredor dos dois lados.

O nó górdio do conflito é e prevalecerá, por um lado, Moscovo que apoia a autonomia das repúblicas Lugansk e Donetsk (regiões separatistas no oriente da Ucrânia, reconhecê-las corresponderia efectivamente a uma anexação à Rússia dado a maioria da população ser de origem e de língua russa) e, por outo lado, a parte da Ucrânia que pretende a adesão de Kiev à NATO.

Na discussão europeia sobre a situação relativa à Ucrânia, são, matreiramente, esquecidas as estruturas historicamente crescidas na própria Ucrânia com um povo em guerra civil e a acrescentar a tudo isto, os interesses geopolíticos dos EUA e da Rússia que apoiam no terreno, cada um os seus aliados.

O Chanceler alemão Scholz esteve agora em Moscovo e prometeu continuar as negociações sobre as exigências de Moscovo à NATO (seu não alargamento!). Um episódio revelador da atmosfera reinante entre a Rússia e a NATO tornou-se claro quando Scholz alertou para a guerra na Europa, ao que Putin respondeu lembrando que a própria NATO tinha travado uma guerra na Jugoslávia; Scholz returquiu que isso só tinha acontecido para evitar um genocídio; Putin respondeu logo que também estava a dar-se um “genocídio” na Ucrânia oriental (HNA.16.02)!

A Duma (Parlamento russo) legitimou Putin para poder decidir, por ele próprio, o reconhecimento das regiões separatistas da Ucrânia Oriental de Luhansk e Donetsk como “repúblicas do povo”. Este contraria certamente o acordo de paz de 2015 em Minsk (entre Kiev e Moscovo), que prevê uma certa reunificação dos separatistas pró-russos na Ucrânia com uma autonomia de longo alcance.

O auge da irracionalidade na Europa (NATO) foi o anúncio feito pelos serviços secretos americanos de que ia haver uma invasão russa da Ucrânia possivelmente esta semana. Isto pertence ao capítulo da rectórica incendiária entre a população para legitimar o desejo de guerra na opinião popular. O mesmo foi feito para legitimar a intervenção no Afeganistão, no Iraque, na Síria, etc.  pelo Ocidente, com mentiras que grande parte do povo ocidental foi aceitando. Como sempre é usado um vocabulário de guerra para que as pessoas aprendam a soletrá-lo…

Os nossos Media ocidentais tomaram partido pelos interesses da NATO (organização feita de membros com interesses contraditórios aos dos USA, como é o caso da Turquia que coloca um pé na NATO e outro na Rússia). Neste contexto a política (e seus multiplicadores dos Media) cria condições sociais que abrem o caminho à manipulação e ao dirigismo político, apostando em entorpecer e enganar a população civil. O que mais me fera na observação de tudo, isto é, a insolência e atrevimento com que os Media desinformam unilateralmente o povo por razões de serviço ao próprio regime, papagueando o que políticos dizem caindo na sua rectórica e silenciando,, deste modo que os interesses da cabeça (USA) da NATO são, practicamente, contrários aos dos seus membros da Europa. Criam-se assim, na opinião pública desinformada, duas trincheiras que se combatem: a pró-russa e a pró NATO; assim atingem os seus intentos conseguindo dividir o povo alinhado na fila do  antiamericanismo ou na do anti Rússia: uma vez criada a luta dentro da população ocidental (à imagem da guerra civil da Ucrânia), passa a ser então justificada uma decisão aleatória (dos imperialismos de fora) porque já se conseguiu elaborar um culpado.

Não há motivos para pânico! Manter-se-á, porém, a suficiente margem de jogo para o imperialismo de um lado e o do outro continuarem a fazer o seu jogo e os Estados europeus manter-se-ão  na condição miserável de ter de seguir a abanar a cabeça, mas a dizer ámen (tendo para isso de se continuar a enganar a população que não compreenderia a complexidade de uma situação tão comprometida)! Quando a China tiver a palavra decisiva a dizer o tabuleiro do xadrez será outro e na altura, se a Rússia não for a aliada da China, então a Europa será aliada da Rússia!

Os imperialismos afirmam-se nas fronteiras dos outros ou apoiam-se em grupos internos rivalizastes e a Europa, como já não é império, tem de assumir o papel de hipócrita porque interessada nos negócios económico-financeiros e na paz para os poder fazer , continuando, muito embora, casada com os USA que com os seus interesses geoestratégicos e económicos contradizem os da distante Europa!

De uma maneira geral, a população europeia quer uma relação relaxada com a Rússia e desejaria que fosse colocada pomada nas feridas deixadas pela queda do socialismo.

O não cumprimento da promessa feita a Gorbatchov de não alargar o âmbito da Nato aos territórios vizinhos da Rússia e a exigência de Putin dos anos 1989/1990 e repetidos em 2007 de que a Ucrânia não aderisse à Nato, têm sido desrespeitados, o que impede um desenvolvimento natural da situação social complicada na Ucrânia. Na realidade poderíamos dizer que a Ucrânia é, de facto, o cavalo de Troia dos USA e da Rússia; sem boa vontade de todos não se vê grande luz no fundo do túnel de uma nação em convulsão nem num realinhamento de blocos a nível mundial.

Agora, à margem dos jogos olímpicos em Pequim, não só Putin, mas também Xi Jinping, fizeram um apelo a um fim do alargamento da NATO. Claro que Xi já está a pensar em Taiwan como zona da sua esfera de influência e essa situação será mais própria para criar uma guerra mundial.

“Uma Alemanha interessada em acordos de comércio com o Leste, uma EU interessada num acordo de associação, e uma federação russa amedrontada, não são indícios de bons resultados para a Ucrânia; a Rússia sente-se ameaçada economicamente pela EU, militarmente pela Nato e socialmente pelos valores ocidentais de liberdade e democracia. A UE defende os seus interesses económicos e estratégicos na Ucrânia argumentado hipocritamente de pretender a salvaguarda dos direitos humanos e de um Estado de Direito. Infelizmente não usou da diplomacia para saber antepor-se aos combates armados entre a população ucraniana nem teve em conta uma Rússia traumatizada pela queda da União Soviética.  A Rússia tem os mesmos interesses na Crimeia e nas zonas orientais da Ucrânia como os ingleses no Gibraltar e nas ilhas Malvinas…” escrevi em 2012 no artigo “Ucrânia entre imperialismo russo e ocidental” (1). Outros textos relativos ao assunto em nota (2).

António da Cunha Duarte Justo

Pegadas do Tempo

 

(1)  https://www.triplov.com/letras/Antonio-Justo/2014/ucrania.htm

(2)  UCRÂNIA ENTRE IMPERIALISMO RUSSO E OCIDENTAL: https://abemdanacao.blogs.sapo.pt/russia-e-china-o-eixo-da-politica-do-1206136

O POVO FALA DE POLÍTICA E OS POLÍTICOS FALAM DE NEGÓCIOS: http://abdic.org.br/index.php/675-o-povo-fala-de-politica-e-os-politicos-falam-de-negocios ;

RÚSSIA E CHINA – O EIXO DA POLÍTICA DO SÉC. XXI? (2014): https://abemdanacao.blogs.sapo.pt/russia-e-china-o-eixo-da-politica-do-1206136 ;

“Sanções económicas são injustas e oprimem os mais frágeis”: https://antonio-justo.eu/?p=6999 ;

Textos em: https://www.triplov.com/letras/Antonio-Justo/index.htm ;

A GUERRA FRIA NOS MEDIA RUSSOS E ALEMÃES: https://antonio-justo.eu/?p=7067 ;

Capitulação da Nato no Afeganistão – Mais uma Guerra estúpida perdida ;

Não quero questionar a independência à Ucrânia, o que prefiro é que a sua independência seja defendida através de vias diplomáticas e não através da violência nem de provocações como tem acontecido da parte da Rússia e da Nato. O presidente da Ucrânia já deu a entender que se encontra em maus lençóis ao ser jogado entre a Rússia e a Nato! Em 2014 escrevi: Rússia e China – O Eixo da Política do Séc. XXI? https://antonio-justo.eu/?p=2791 e, além de outros, “Os comunistas comem criancinhas?” https://bomdia.fr/os-comunistas-comem-criancinhas/

 

DEBATE SOBRE O GÉNERO: CIÊNCIA OU IDEOLOGIA?

Da Ideologia ao Serviço do Colonialismo mental global (de marca ocidental)

António Justo

Encontramo-nos já numa época intermédia, de passagem do colonialismo geográfico para o colonialismo mental! Esta é a fase de competição pelo domínio global – fase de conglomerações geoestratégicas e globalistas – em que se torna notória a luta pelo controlo e pela pilotagem do pensamento porque quem tiver o controlo do pensamento passa a controlar o humano e a humanidade. Nesse sentido, a batalha pela desconstrução da cultura e da pessoa soberana torna-se mais dura na sociedade ocidental, dado ser esta a que possui mais mecanismos de defesa contra um globalismo tendente a criar uma troica global. A estratégia que se encontra por trás do discurso sobre o género (Gender) implementa ideologias, em voga, ao serviço do colonialismo mental!

Depois da debanda do povo das aldeias (aldeão) para as cidades observa-se agora uma tendência de retirada do cidadão (citadino) para um mundo ideário que o liberte dos apertos de uma vida demasiadamente emparelhada sob a limitada cúpula da cidade. Aos domínios da nobreza e do clero sobre a terra (senhorios) seguiram-se as burguesias de caracter citadino que, a partir de um pouco de terra, assentaram o seu domínio no comércio e no dinheiro. Esta nova “burguesia”, já não do burgo, mas da polis, produz agora novos senhorios: os “latifundiários do dinheiro e das ideias (ideologias)! Daí o seu esforço por assentar a sua base já não na natureza, mas no domínio do abstrato, que torne os habitantes do “monte” em meros subordinados ou assalariados!

Nesse sentido, encontramo-nos numa fase intermédia, que, muito embora ocupada na desconstrução da cultura do mundo ocidental, traz a marca ocidental na luta globalista em via; traiçoeira, porque anti feminina mas feminista, desliga-se da paisagem religioso-cultural do povo ocidental porque esta, mais ligada à terra (mais feminina), contradiz os interesses de uma nova cultura abstrata que se pretende implantar (no sentido de implementar paulatinamente um “governo universal” sob o olhar masculino!) e que assume o cunho ideológico socialista-capitalista, de que o sistema chinês poderia ser uma amostra, no sentido  de uma sublimação do gene masculino e masculinizante!

Se antes as armas usadas eram espadas e canhões, hoje em democracia e globalismo as armas passam a ser a palavra e as ideologias!  O poder político serve-se dos currículos escolares e de currículos universitários para implementar agendas ideológicas com o fim de doutrinar gerações.

O modelo ocidental ao atingir o seu apogeu, em vez de repensar a sua matriz masculina em termos adequados aos princípios e energias moventes da masculinidade e da feminilidade humana e social, prossegue o seu caminho em termos masculinos de luta (baseada em papéis e no divide para imperar!) como tem feito até aqui e se torna visível na disputa dos falcões americanos e russos em terreno ucraniano, cada vez mais sacrificado à luta masculina imperialista das duas partes (também aqui, embora se trate de uma luta geoestratégica na disputa de poderes em termos globais, no fundo estão em luta ideologias e interesses abstraídos das paisagens populares e como tal cada vez mais distantes da feminilidade) .

É de constatar que, na base da nossa sociedade, a matriz (modelo estruturante), que determina os nossos comportamentos e modos de vida, é masculina e expressa-se em papéis discriminadores devidos à natureza e às construções sociais e culturais transmitidas no parâmetro dos rebanhos dos tempos ancestrais (Patriarcalismo). Nesta base torna-se mais que óbvia a reacção da mulher nos diferentes âmbitos do pensamento e da sociedade. O sentimento de uma feminilidade abafada provoca um justo desejo de emancipação que começa por limitar-se aos papeis da mulher em sociedade, mas que terá como objectivo final não tanto os papéis de homem e mulher mas o que se encontra por trás desses fenómenos. Ao orientarmo-nos apenas pelos papéis sociais arrumadores da feminilidade e da masculinidade não fazemos mais que protelar o problema da emancipação ou libertação, sem entendermos os verdadeiros moventes que se expressam a nível da matriz aparentemente aceite (1).

Portanto, a preocupação de análise e de empenho não deveria partir daquilo que alguns advogam como “condição feminina” mas da análise básica,  da matriz masculina que determina de forma sistémica a vida individual e social do homem e da mulher (para lá dos papéis assumidos que também eles contribuem para discriminação da feminilidade e que seria um erro fixar-se só neles) e, pelo facto de se basear em características de masculinidade, explora a mulher (ou melhor, a feminilidade (energia/princípio)  que é reprimida, consciente ou inconscientemente em todas as sociedades e cuja urgência de reparação se encontra manifesta  na ordem do dia da sociedade ocidental),  como é de observar em muitos segmentos da vida, a feminilidade não é contemplada e por isso a mulher é ferida não só nos princípios de dignidade e de igualdade de direitos mas sobretudo na sua maneira de ter sido enquadrada dentro da matriz masculina (de condição masculina ou masculinizante). A questão a pôr-se é a do homem todo, na sua feminilidade e masculinidade comuns e não apenas a do homem ou da mulher nas suas interpelações funcionais.

O que deveria estar no foco da discussão, a discutir-se básica e produtivamente,  seriam as características da feminilidade e da masculinidade num projecto de uma matriz mais adequada à natureza e à cultura  em processo e não limitada apenas às funções e papéis masculinizantes (redução funcionalista de caracter materialista); uma nova matriz criaria novas funções e papéis sociais flexíveis que tornariam incompatíveis os papéis da sociedade patriarcalista com os papéis do novo modelo de sociedade! As funções socialmente a desempenhar deixariam de estigmatizar (petrificar) quer a masculinidade quer a feminilidade nem no “género” nem no sexo!

Uma devida análise e empenho teria como consequência grande incidência no ser e na maneira de estar do humano, quer a nível individual quer social onde as estruturas culturais e económicas teriam de ser aferidas à nova matriz baseada na complementaridade dos seres e dos órgãos sociais com uma certa equidade, o que implicaria  uma nova valorização e integração da feminilidade e da masculinidade nesse novo modelo (no limiar da dinâmica da „igualdade e diferença” seria de colocar o modelo-matriz baseado na intersecção dos princípios/energias/características da feminilidade e da masculinidade); estes revolucionariam toda a maneira do estar individual e social bem como suas estruturas e supraestruturas, passando a internalizar-se numa maneira de ser. Esta nova matriz tornar-se-ia na mãe de todo o relacionamento e comportamento tornando supérflua uma discussão apenas em termos ou em torno de patriarcado ou de matriarcado (dado estes serem ultrapassados por manterem a sua dinâmica e relacionamento apenas ao nível de funções e papéis, ou seja, ao nível do ter e não do ser que se encontra  ao serviço de uma regulação social no âmbito de um funcionamento maquinal e de peças e, como tal, distante de um ser orgânico natural de comunidade e pessoas).

A luta ideológica e do género adoptou a metodologia masculina (processada em termos de luta e de olhar masculino e não de complementaridades) apostando numa definição desintegrativa de género/sexo e consequente linguagem em torno deles (2); segue o princípio masculinizante do poder: divide para imperar.

Os efeitos positivos da luta ideológica, na nossa sociedade de matriz masculina, manifestam-se numa maior igualdade socialmente a atingir, mas não legitima os meios que usa para a atingir dado estes serem a aplicação dos princípios da masculinidade (e correspondentes métodos agressivos ou de subjugação) apenas em termos de funcionalidade sem propriamente tomar a sério a feminilidade (que implicaria uma outra estratégia de afirmação já vital orgânica e não só funcional; isto é, uma estratégia inclusiva que partisse da feminilidade como base estrutural e estruturante e não assumisse apenas um caracter funcionalista como quer o mecanicismo social empenhado em reduzir a pessoa (homem ou mulher) à mera qualidade de função e de objecto.

Isto independentemente das salutares melhorias adquiridas através da luta em via; importa não reduzir o horizonte porque se trataria então de ganhar apenas batalhas e não a “guerra”.

Resumindo, sou do parecer que nos encontramos a combater no campo errado porque o que seria de questionar era a matriz masculina que regula e fundamenta as sociedades atuais com a sua correspondente metodologia masculina (perpetuadora da guerra) e que é masculinamente comum à metodologia de afirmação da ideologia feminista, socialista e capitalista. Uma luta em defesa da feminilidade, para conseguir uma mais valia da feminilidade, terá de ter a cautela de não afirmar  uma feminilidade que se esgota  em termos de afirmação ao serviço da masculinidade da matriz vigente  e, deste modo, subjugar-se concretamente ao masculinismo de que se defende, mas que na realidade aceita como sendo a normalidade. Uma análise menos ideológica e mais abrangente teria de começar por analisar as características ou princípios (energias) da masculinidade e da feminilidade (básicas a nível de indivíduo, cultura e natureza) e identificá-las na sociedade e nos seus mecanismos para possibilitarem uma matriz a criar em que esses princípios seriam ajustados ou aferidos numa base de complementaridade já não selectiva mas inclusiva, criando uma cultura de afirmação já não pela luta mas pela inclusão.

A própria matriz ocidental possui em si as potencialidades para o fomento da nova matriz social , dado, o modelo actual vigente, ter-se tornado infiel ao próprio protótipo que assentava mais na feminilidade que na masculinidade, mas que ao assumir, institucionalmente, a  estratégia de afirmação de Constantino (criação da “cristandade” à custa do cristianismo; o Constantinismo que parte do édito elaborado em 313, levou a instituição igreja a viver entrelaçada com a política e a apegar-se ao poder do Estado – vista a questão em termos meramente históricos: oh felix culpa!)  e por esse facto a instituição passou a expressar-se mais em termos de poder e como tal acentuou as características da masculinidade, deixando a sua característica fundamental que é a feminilidade nos conventos e na frequência do povo nas igrejas!

Em vez de tentarmos pegar o touro pelos cornos temos andado a agarrá-lo pelo rabo!

A libertação certa, para se tornar tal, deve ousar desafiar a nossa matriz cultural masculina, nos seus fundamentos e não só na sua fenomenologia,  no sentido de a poder desconstruir de maneira ordenada; a fase feminista de caracter machista, talvez justificada como fase transitória,  terá de se superar a si mesma e alijar a carcaça que usa  para possibilitar a passagem  a uma fase já não feminista mas feminina; passar à estruturação de uma matriz feminina que permita o início de uma era de paz e a coexistência harmónica da feminilidade e da masculinidade.

A rotura com as estruturas masculinas do poder vigente terá que começar já por questionar as bases (forças vitais, características, critérios) dessas estruturas que constituem o poder masculino determinante das sociedades mundiais; só então será possível desmontar os andaimes baseados na masculinidade (abusada no patriarcalismo) e a partir de uma desconstrução de estruturas, que foram elaboradas mais ao serviço do poder do que da população, se chegue  à reconstrução,   já não de uma estrutura de poder feminista (que continuaria a cadeia masculinizante de poder baseado em luta, selecção e opressão), mas se inicie a construção de uma cultura feminina, fecundante, que se torne a matriz criadora (integradora das forças vitais da feminilidade e da masculinidade) e geradora de novos comportamentos e relações sociais (não só a nível da maneira de estar como também da maneira de ser).

Cristo é o protótipo do homem e da mulher e foi pregado na cruz, mas ao sê-lo tornou-se no sinal de que o homem e a mulher não devem pregar ninguém na cruz porque ao fazê-lo pode ser que estejamos a pregar o protótipo do humano e da humanidade, o abandonado (cada um vale tudo por si)! E mesmo quando se fala de pessoas extremistas é legítima a pergunta de Jesus: “Essa questão é tua, ou outros te falaram a meu respeito?” (João 18:34).

O meu texto pretende propor elementos de reflexão e análise e não uma visão “masculina” a preto e branco do mundo, como faz o mundo, esquecendo que o ódio a quem é diferente ou a quem pensa diferente enegrece a alma e deste modo impede a construção de uma matriz fundada, em termos de igualdade e complementaridade, dos princípios da feminidade e da masculinidade!

Este texto será continuado em “O OLHAR MASCULINO

© António da Cunha Duarte Justo

Teólogo e pedagogo

Pegadas do Tempo

(1) Uma observação ou análise reduzida ao nível exterior dos fenómenos (aparências, porque se limita às estruturas da experiência que se contenta em ficar-se com explicações de caracter e comportamentos ao nível da compreensão (de sentidos ou de consciência) sem entrar nos seus pressupostos (essência), de que a sociologia é um exemplo quando prescinde das ciências naturais).

(2) Género diz respeito às características de masculinidade e de feminilidade: Sexo masculino, feminino e a variação inter-sexo ) e também expressões sociais e papeis sexuais. Homem trans ou transsexual (nascida mulher, agora homem) pode engravidar precisando de medicação hormonal. Para engravidar de menino, dado o menino ter cromossomas XY, é preciso o sexo do pai que possui gametas do tipo X e Y, enquanto que a mulher possui apenas do tipo X. A testosterona provocara o crescimento da barba e o aumento da libido e do clitóris; se a pessoa trans tiver útero, ela também pode menstruar.  Mulher trans ou transsexual (nascida homem, agora mulher) mediante a amputação e construção da vagina.

 

Links de Textos relativos ao assunto:

A Manipulação da Cultura acompanha a Manipulação da Natureza: https://abemdanacao.blogs.sapo.pt/casamento-civil-de-homossexuais-premio-1435784

Discurso Masculino contra o Feminino (2014): https://triplov.com/letras/Antonio-Justo/2010/discurso_feminino.htm

A Liberdade é Feminina por isso não se dá no Deserto

Do uso da sexualidade como forma de afirmar poderes e de criar uma nova ordem mundial: https://beiranews.pt/2019/07/12/ponto-de-vista-por-antonio-justo-123/

Importância da Experiência interior como Forma de questionar Ideologias-Doutrinas-Instituições: https://antonio-justo.eu/?p=4935

Matriz socialista marxista na base da disciplina de educação para a cidadania: https://beiranews.pt/2020/10/13/ponto-de-vista-por-antonio-justo-10/

Libertação das leis biológicas: https://copaaec.blogs.sapo.pt/2021/08/

Das Mulheres na Sociedade e na Igreja e dos usos e costumes que as oprimem: https://etcetaljornal.pt/j/2019/09/das-mulheres-na-sociedade-e-na-igreja-e-dos-usos-e-costumes-que-as-oprimem/

Matriz política masculina não pode ser norma para a instituição eclesial: https://bomdia.be/matriz-politica-masculina-nao-pode-ser-norma-para-a-instituicao-eclesial/

Em Carlos podemos ver a masculinidade portuguesa infiel:

NA ESTEIRA DE CAMÕES E DO ROMANTISMO

Correcção duma Sociedade máscula de Via única: http://www.noticiaslusofonas.com/view.php?load=arcview&article=29743&catogory=Opini%E3o

PODER RENOVADOR DA MULHER: https://triplov.com/letras/Antonio-Justo/2009/mulher.htm

Islão e a sociedade: masculinidade contra feminidade: https://bomdia.eu/islao-e-a-sociedade-masculinidade-contra-feminidade/

Urge uma Revolução cultural feminina: https://antonio-justo.eu/?p=6736

Humanismo e ética para a construção de uma Cultura de Paz global: https://dialogosdosul.operamundi.uol.com.br/cultura/57874/humanismo-e-etica-para-a-construcao-de-uma-cultura-de-paz-global

Punhos cerrados, 2015: https://www.yorku.ca/laps/dlll/wp-content/uploads/sites/212/2021/06/06mar15_steph.pdf