Uma Análise Crítica
Por António da Cunha Duarte Justo
Introdução
A compreensão do Islão enquanto fenómeno civilizacional requer uma análise que transcenda a mera dimensão religiosa e interesses globalistas. Este artigo propõe uma reflexão crítica sobre as dimensões política, social e psicológica desta tradição, não com o intuito de denegrir, mas de examinar objetivamente as suas estruturas de poder e a sua relação com o indivíduo e a sociedade. Trata-se de reconhecer que o Islão constitui, simultaneamente, uma religião e um sistema político-jurídico completo, com implicações profundas na organização político-social e na relação entre instituição e pessoa humana.
A Dimensão Político-Institucional do Islão
O Islão distingue-se de outras tradições religiosas pela sua natureza intrinsecamente política. Desde a sua fundação, Maomé não foi apenas um profeta religioso, mas também líder político, militar e legislador. Esta fusão entre din (religião) e dawla (Estado) permanece central na cosmovisão islâmica, onde a Sharia não é apenas código moral, mas sistema jurídico completo que regula todas as esferas da vida pública e privada.
Esta característica confere ao Islão uma capacidade singular de mobilização social e estruturação política. A Ummah (comunidade de crentes) não se define apenas por laços espirituais, mas constitui uma entidade político-religiosa transnacional que transcende fronteiras e nacionalidades. Esta dimensão comunitária, quando instrumentalizada, pode gerar uma dependência mental profunda, onde a identidade individual se dissolve na identidade coletiva religiosa.
Mecanismos Psicossociais de Subordinação
A estrutura institucional islâmica estabelece uma relação específica entre o crente e a autoridade religiosa. O indivíduo encontra a sua dignidade e legitimidade social primariamente através da pertença à Ummah e da submissão (islam significa literalmente “submissão”) aos preceitos estabelecidos pela tradição e interpretados pelas autoridades religiosas.
Este modelo cria uma dinâmica psicológica particular. A dependência mental da estrutura religiosa pode gerar uma massa moldável que, simultaneamente, se sente vulnerável enquanto indivíduo, mas empoderada enquanto parte do coletivo religioso. Esta tensão resolve-se frequentemente através da projeção: complexos de inferioridade histórica ou socioeconómica são sublimados na convicção de pertencer à “única religião verdadeira e superior”, conferindo ao crente um sentimento de superioridade espiritual que compensa frustrações materiais ou políticas.
Esta dinâmica psicológica pode justificar, aos olhos do crente, uma postura agressiva face a outras tradições religiosas, percebidas como inferiores ou desviantes. A guerra contra os “infiéis” (kuffar) torna-se então não apenas legítima, mas nobre, isto é, uma missão sagrada conduzida por uma certeza inabalável que, em casos extremos, pode assumir características delirantes.
O Terrorismo Islâmico expressa uma Ambição Globalista
O terrorismo de matriz islâmica distingue-se de outros terrorismos pela sua natureza absoluta e declaradamente universalista. Enquanto outros movimentos terroristas possuem objetivos territoriais ou políticos circunscritos, o extremismo islâmico fundamentalista opera com uma lógica globalista, aspirando ao estabelecimento de um califado mundial onde a Sharia seja lei universal.
Esta ambição não é marginal ou periférica ao pensamento islâmico, mas conecta-se com conceitos teológicos centrais como dar al-Islam (território do Islão) e dar al-Harb (território da guerra), que dividem o mundo em duas esferas: aquela onde vigora a lei islâmica e aquela que deve ser conquistada ou “pacificada”.
Importa sublinhar que esta visão extremista não é partilhada pela totalidade dos muçulmanos, mas encontra respaldo em interpretações literalistas e tradicionais de textos fundacionais, o que explica a sua persistência e capacidade de recrutamento. E é um facto que o islão não inclui uma teologia interpretativa de o Coroa dado este ser considerado escrita direta e literal divina e como tal imutável circunscrevendo-se propriamente a uma jurisprudência. Terroristas são por vezes vistos como os verdadeiros intérpretes dos interesses islâmicos, o que leva, por vezes, até muçulmanos moderados a não intervir para não entrarem em contradição com suras do Corão.
A Conivência Política Ocidental
Paradoxalmente, sectores significativos da elite política europeia têm demonstrado uma tolerância seletiva que favorece a expansão da influência islâmica, mesmo quando isso implica o enfraquecimento das tradições cristãs autóctones. Este fenómeno, aparentemente contraditório, torna-se compreensível quando analisamos as afinidades estruturais entre certos modelos políticos contemporâneos e a organização islâmica da sociedade.
Para políticos orientados por agendas centralistas e pela realpolitik, o modelo islâmico de subordinação do indivíduo à instituição apresenta vantagens evidentes. O Islão oferece um paradigma de cidadão submisso, onde a autonomia individual está subordinada à autoridade religiosa (e, por extensão à autoridade política). Este modelo contrasta com a tradição cristã ocidental, particularmente na sua vertente católica e protestante, que assenta no conceito de soberania da consciência individual.
As elites políticas europeias, desejosas de consolidar estruturas de poder supranacionais e de criar cidadãos mais “administráveis”, encontram no Islão um aliado inesperado. Daí a tendência para idealizar o domínio islâmico histórico na Península Ibérica (Al-Andalus), enquanto se caracteriza como “agressiva” a Reconquista cristã, invertendo os papéis históricos de conquista e recuperação territorial.
Cristianismo e Islamismo: Duas Antropologias Políticas contrárias
A diferença fundamental entre o Cristianismo e o Islamismo reside nas suas respetivas antropologias e na relação que estabelecem entre indivíduo, instituição e transcendência.
O Modelo Islâmico: Dignidade por Pertença
No Islão, a dignidade da pessoa deriva fundamentalmente da sua pertença à Ummah e da sua submissão aos preceitos religiosos. O indivíduo não possui autoridade ou dignidade intrínsecas que precedam ou transcendam a instituição religiosa. A sua identidade e valor são funcionais; ele é o que é (o seu ser define-se) enquanto membro da comunidade islâmica. (Por isso sociedades islâmica reservam-se limitações à Carta dos Direitos humanos).
Esta conceção tem consequências políticas profundas: o crente islâmico e a pessoa humana, não é soberano sobre as instituições, mas subordinado a elas. A autoridade flui de cima para baixo, da revelação divina através das instituições religiosas até ao crente individual, que deve obedecer.
O Modelo Cristão: Dignidade Ontológica e Soberania da Consciência
O Cristianismo, particularmente na sua elaboração teológica católica, tem uma antropologia radicalmente diferente. A dignidade humana (independentemente de ser cristão ou não cristão) não deriva da pertença institucional, mas da condição ontológica de “filho de Deus”, toda a pessoa tem uma dignidade intrínseca, inalienável, anterior a qualquer filiação institucional.
Esta concepção tem implicações revolucionárias: o cristão não é mero instrumento ou função da instituição religiosa, mas possui soberania própria enraizada na sua relação direta com Deus. A consciência individual torna-se, assim, instância suprema de discernimento moral, mesmo quando em tensão com as determinações institucionais.
O exemplo do sacerdócio católico ilustra esta peculiaridade da pessoa humana. Um padre, ao receber a ordenação, recebe poderes sacramentais que a própria Igreja não pode retirar-lhe. Se este sacerdote se torna dissidente, a Igreja pode proibir o exercício do seu ministério nas suas igrejas, mas reconhece que os sacramentos por ele administrados permanecem válidos, embora ilícitos. Esta distinção entre “válido” e “lícito” revela o reconhecimento de uma dignidade e poder que transcendem a instituição, residindo indelevelmente no indivíduo ordenado.
Este princípio da soberania da consciência, desenvolvido ao longo da história cristã encontra-se baseado no Novo Testamento que levou ao conceito moderno de direitos humanos inatos e estabelece o cidadão como soberano; esta ideia é profundamente perturbadora para sistemas políticos autoritários ou totalitários e também para as democracias partidárias. A China reconheceu esta situação razão pela qual o sistema quer ter mão na nomeação de bispos.
A Impossibilidade de um Cristianismo “Modernizado”
Dada esta estrutura antropológica, qualquer tentativa de “modernizar” ou “agiornare” o Cristianismo, no sentido de o tornar compatível com ideologias coletivistas ou de subordinar a consciência individual às instituições políticas, representa uma traição da sua essência.
O Cristianismo pode e deve adaptar-se aos contextos culturais (Zeitgeist) no que respeita a formas externas, costumes e linguagem. Mas não pode, sem se contradizer, abandonar o princípio da primazia da sua consciência e da dignidade ontológica da pessoa humana. Um “cristianismo” que reduzisse o crente a mero súbdito ou funcionário institucional ou que negasse a soberania da consciência deixaria de ser cristianismo.
Importa reconhecer que a maioria das massas, sujeitas à formatação social operada pelas elites através dos meios de comunicação e do sistema educativo, nem sempre compreende ou vive esta dimensão emancipadora do Cristianismo. A manipulação da opinião pública pode criar uma dissonância entre os princípios cristãos autênticos e a sua compreensão social, permitindo que até crentes se deixem seduzir por ideologias coletivistas incompatíveis com a sua própria doutrina e tradição. Ao fazê-lo abdicam da sua soberania intrínseca para se tornarem súbditos e peças meramente funcionais da máquina.
O Voluntário, o Involuntário e a Manipulação Social
A análise destas dinâmicas não pode ignorar a complexa relação entre o voluntário e o involuntário, o consciente e o inconsciente, nos processos de adesão ideológica e religiosa. Longe de uma oposição binária simples, estas dimensões frequentemente se confundem.
O involuntário constitui um campo fértil de confusão que atravessa mentalidades e dinâmicas culturais e sociais. Muitos aderem a determinadas visões do mundo não por convicção racional plenamente consciente, mas por condicionamento social, necessidades psicológicas não reconhecidas, ou pressão do ambiente cultural. Esta dimensão involuntária pode ser instrumentalizada por líderes religiosos ou políticos hábeis na manipulação de símbolos e narrativas.
O Islão, com a sua estrutura ritualística intensa (cinco orações diárias, jejum do Ramadão, etc.) e o seu sistema abrangente de prescrições comportamentais, cria um ambiente de condicionamento permanente que torna particularmente eficaz esta instrumentalização do involuntário. A repetição constante de atos de submissão tende a moldar não apenas o comportamento externo, mas a própria estrutura psicológica do crente, reduzindo progressivamente o espaço de autonomia crítica.
A Estratégia Política do Islão: Inteligência ou Esperteza?
Quando analisamos o Islão enquanto projeto político, torna-se evidente que estamos perante uma estratégia sofisticada, adaptável e pragmática. Mais que simplesmente inteligente, revela-se “esperta”, isto é, capaz de instrumentalizar até a mentira em nome de objetivos superiores.
O conceito de taqiyya (dissimulação) e kitman (ocultação de verdade) em certas tradições islâmicas, particularmente xiitas mas também presentes no pensamento sunita, permite ao crente ocultar a sua fé ou dissimular as suas verdadeiras intenções quando a situação o exige. Mais controversamente, existe uma corrente interpretativa que considera que uma mentira em defesa do Islão pode ser moralmente legítima, mesmo virtuosa.
Esta flexibilidade ética fascina certos políticos ocidentais, habituados aos constrangimentos morais da tradição cristã e do humanismo liberal. Veem no pragmatismo islâmico um modelo de eficácia política desembaraçada de escrúpulos, adequado a um mundo competitivo e a uma realpolitik onde os fins justificam os meios.
O Imperialismo Mental Globalista
O fenómeno que assistimos é, em última análise, a convergência entre dois projetos globalistas: o Islão expansionista, que aspira ao califado universal, e o globalismo político-económico ocidental, que aspira a estruturas supranacionais de governação e a cidadãos desprovidos de enraizamento cultural profundo e de consciência crítica.
Ambos os projetos beneficiam da erosão das soberanias nacionais, da relativização das identidades culturais tradicionais (exceto a islâmica, que é simultaneamente promovida), e da formação de cidadãos submissos, conformistas, administráveis.
O moderno imperialismo mental procura criar uma humanidade homogénea, desprovida de resistências culturais profundas, facilmente mobilizável pelos meios de comunicação de massa e pelos algoritmos das redes sociais. Neste contexto, a tradição cristã, com a sua ênfase na dignidade individual e na soberania da consciência, constitui um obstáculo que precisa ser neutralizado.
A promoção do Islão nas sociedades ocidentais não deve, assim, ser compreendida primariamente como multiculturalismo genuíno ou respeito pela diversidade religiosa, mas como instrumento de uma estratégia mais ampla de desconstrução das tradições que sustentam a autonomia individual e a resistência aos projetos totalitários.
Entre Lucidez e Confronto
Esta análise crítica não pretende fomentar ódio ou discriminação contra muçulmanos enquanto pessoas. Cada ser humano, independentemente da sua tradição religiosa, possui dignidade intrínseca e direito ao respeito. Muitos muçulmanos vivem a sua fé de forma pacífica e são eles próprios vítimas do extremismo e especialmente as mulheres, consideradas estatualmente pessoas de segunda classe.
Contudo, a lucidez exige que reconheçamos as diferenças estruturais entre sistemas civilizacionais e as suas implicações políticas e sociais. O Islão, enquanto sistema político-religioso, apresenta características que o tornam pouco compatível com os princípios fundamentais da civilização ocidental moderna: separação entre religião e Estado, primazia da consciência individual, igualdade de género, liberdade de expressão e de religião (incluindo o direito de abandonar a religião).
Pretender que estas diferenças não existem, ou que são superficiais, constitui uma forma de cegueira voluntária que apenas beneficia aqueles que pretendem instrumentalizar o Islão para objetivos políticos. A verdadeira tolerância não exige que fechemos os olhos à realidade, mas que a confrontemos com honestidade, coragem e respeito pela verdade.
A Europa e o Ocidente enfrentam, assim, um duplo desafio: resistir à instrumentalização política do Islão por elites globalistas que procuram cidadãos submissos, e simultaneamente preservar os princípios de dignidade humana, liberdade de consciência e soberania popular que constituem o melhor da sua herança civilizacional; esta herança encontra-se profundamente enraizada, ainda que nem sempre reconhecido, na tradição cristã.
A resposta não passa pelo fechamento xenófobo ou pela intolerância religiosa, mas pela afirmação confiante dos nossos próprios princípios, pela exigência de reciprocidade (os muçulmanos que vivem no Ocidente devem respeitar os princípios fundamentais das sociedades que os acolhem, tal como se espera que os cristãos nos países islâmicos respeitem as leis locais), e pela recusa de qualquer cumplicidade com projetos totalitários, venham eles embrulhados em retórica religiosa ou secular.
António da Cunha Duarte Justo
Teólogo e Pedagogo
Pegadas do Tempo
O autor do artigo é um teólogo, pensador e analista social português, dedicado ao estudo das dinâmicas civilizacionais e religiosas contemporâneas.
Muito interessante caro Justo, o texto teu presente! Digo-o sincera e adequadamente.
Só há um “pequeno” problema: com a tua nunca desmentida bondade (sim, bondade!) intelectual, creio que não apanhas na sua essência o caviloso da questão QUE O ISLÃO É INTRINSECAMENTE!
Pois o Islão desperta, no crente, uma MONOMANIA indesmentível – a crença islâmica é uma real e já descriptada DOENÇA MENTAL-CONCEPTUAL, pois parte de uma conceptualização claramente de ordem paranóica-psicopática (atente-se no procedimento histórico de Maomet, claramente um paranóide como István Kobelic demonstrou magistralmente).
Ao contrário do Cristianismo, que tem quando muito uma chamada “idealização performativa” (veja-se o caso do doutor da Igreja e elevado a santo Francisco de Assis). Daí que o Cristianismo seja compatível com a Democracia e os Direitos Humanos (de homens e mulheres, crentes e não-crentes) e o Islão NÃO!
E veja-se, para conferirmos, que nos militantes islâmicos, quando sujeitos a análise médica psiquiátrica após captura, os oficiantes lhe detectam (o que a comunicação social sublinha, muitas vezes em tom de desculpabilização) claros síndromas psicopáticos.
Não te deixes levar pela tua, repito, honesta bondade intelectual: NÃO É COMPATIVEL A COEXISTENCIA CRISTÃ-ISLAMITA – COMO ESTÁ HISTORICAMENTE DEMONSTRADO!
É pena, mas é assim!
Mando-te em anexo o meu texto “Nicolau Saião fala no Islão e no fascismo verde”, que não sei se conheces ou se to mandara já, onde este assunto é tratado em entrevista por mim dada.
Desejo que continues bem, e refirmo que te considero um homam-de-bem, que o és!
O “velho” abraqson firme do teu confrade & amigo
ns
Caro confrade e amigo Nicolau Saião
Agradeço profundamente o seu comentário atento e o elogio à minha “bondade intelectual”, que recebo como um reconhecimento do espírito com que procuro abordar estes temas complexos. A sua frontalidade é um sinal de confiança que muito valorizo.
Compreendo perfeitamente o cerne da sua preocupação e a força das suas convicções. A sua perspetiva sobre o Islão como um sistema intrínseca e conceptualmente incompatível com os valores democráticos e ocidentais é partilhada por muitos pensadores sérios, e os exemplos históricos e contemporâneos que invoca não podem ser simplesmente descartados e chegam a dar-lhe razão.
No entanto, e pegando no que disse sobre a minha “bondade”, que prefiro interpretar como um desejo de justiça intelectual (de tentar ver o objeto de estudo no seu todo e numa perspetiva da história evolutiva), permita-me colocar algumas reservas à sua tese, não por espírito de contradição, mas no sentido de a complexificar.
A Questão da “Doença Mental”: A categorização de uma religião inteira, com 1400 anos de história e cerca de 1800 milhões de adeptos de culturas e contextos incrivelmente diversos, como uma “monomania” ou “doença mental conceptual” é, com o devido respeito, um reducionismo perigoso e não ajuda uma preocupação de diálogo. A psiquiatria moderna é extremamente cautelosa em patologizar crenças religiosas per se. Se aplicássemos este critério de forma consistente a textos sagrados de outras religiões, culturas e ideologias/mundivisões (incluindo passos do Antigo Testamento, do direito civil e eclesiástico sem ter em conta o desenvolvimento social histórico), chegaríamos a conclusões igualmente problemáticas. A fé, mesmo quando nos parece irracional, opera num registo diferente do diagnóstico clínico.
A Diversidade Islâmica: Actualmente, especialmente na Europa o Islão vive uma tensão interna profunda entre: Correntes reformistas e liberais que procuram uma reinterpretação (ijtihad) dos textos à luz do mundo moderno (Na Alemanha procura-se nas universidades criar faculdades em que o islao passe de uma doutrina de carácter legislativo para uma abordagem teológica, coisa naturalmente difícil devido à prevalente interpretação literal). Naturalmente aqui são muito fortes as Correntes tradicionalistas que se agarram a leituras literais e históricas. O problema de fundo do islao está principalmente nas Correntes fundamentalistas e jihadistas (como o Wahhabismo salafista ou a Irmandade Muçulmana) que são, de facto, a encarnação da incompatibilidade que o amigo descreve e ao longo da história do islao exercem uma função controladora nefasta ao desenvolvimento (lembre-se aqui os assassinos e a origem histórica da palavra assassino).
A esperança de que o Islão não seja intrinsecamente e sempre incompatível está nas vozes muçulmanas que, precisamente, lutam desde dentro por essa compatibilidade. É também a eles que me dirijo, na tentativa de amplificar o seu campo de manobra.
Quanto ao problema da Compatibilidade Histórica que apresenta e um assunto não f´cil de descartar! A sua afirmação de que a incompatibilidade está “historicamente demonstrada” é, em parte, verdadeira se olharmos para os últimos séculos, para o fenómeno do Islamismo político e para o radicalismo dos escritos originais e para a pessoa maléfica e doentia do seu fundador. Houve períodos na história (como Al-Andalus na Península Ibérica ou o Império Otomano em certas fases) onde a coexistência, entre cristãos e muçulmanos foi calma embora isto se deva principalmente ao facto de os cristãos se terem submetido ao pagamento de impostos especiais às autoridades islâmicas para poderem exercer a sua religião. Naturalmente permaneceram na sua ideia hegemónica, mas houve momentos que se deixarão levar pelo pragmatismo. Naturalmente na Europa Cristã houve mais contendas ideológicas entre si o que teve, como mal menor, a vantagem de se ir afirmando um paradigma de sociedade cada vez mais “desenvolvido” e em parte bem-sucedido. Não quero com isto branquear o islão, mas estou convencido que a história é complexa e não segue uma lei inevitável. Enquanto a política e a economia se guerrearem como está a acontecer no momento torna-se esperteza, não inteligência, cada qual puxar a brasa para a sua sardinha.
O Problema Real: Concordo consigo que o grande desafio do Islão contemporâneo é a sua relação com a modernidade política, a liberdade individual, a igualdade de género, a liberdade religiosa e a intolerância original ainda hoje legitimada pela violência. Onde talvez difiramos é na conclusão. Você parece concluir que, dada a natureza do problema, o diálogo é inútil e a incompatibilidade é eterna. Eu concluo que, dada a natureza do problema, o diálogo é mais necessário do que nunca, mas um diálogo crítico, franco e sem ingenuidades como querem os políticos. Não um diálogo sobre “como é bom sermos todos irmãos”, mas sobre “que leituras do Corão e da Sunnah são compatíveis e tolerantes com outras mundivisões e se orientem no sentido de uma democracia adulta, estado a que ainda não chegamos embora nesta perspetiva ideológica nos encontremos mais avançados.
O meu objetivo, caro amigo, não é converter ninguém ao relativismo. É, sim, tentar evitar que a crítica legítima e necessária ao Islamismo se transforme num essencialismo absolutista que condena um quarto da humanidade, que se encontra num outro estádio de pensamento, digamos, pensamento medieval no que ele tem de problemático. É uma posição difícil, eu sei. Caminho numa corda bamba entre a compreensão da gravidade da ameaça que você, com razão, bem identifica e a recusa a desistir da possibilidade de razão e de evolução no seio das comunidades muçulmanas.
Sabe, amigo, se aplicarmos a razão desencarnada na análise das mundivisões, ideologias e instituições não encontramos nenhuma sem mazelas.
Agradeço o envio do seu texto “Nicolau Saião fala no Islão e no fascismo verde”. Terei todo o prazer em lê-lo com a atenção que merece. A nossa troca de ideias, mesmo quando divergente, é um sinal de vitalidade intelectual e de amizade que muito prezo.
Com um abraço firme e os melhores votos,
António da Cunha Duarte Justo
Como diz : É bom, cada um respeitar-se e saber respeitar todos nos bons princípios com humildade com verdade respeitar as crenças religiosas ou não e os desvios das verdades, que todos gostavamos de ver a verdade em todos tão precisos de vida em sociedade Obrigada por me encinar ! Um bem haja ! Boa e santa noite em familia
Caríssimo Amigo e Confrade Justo
Grato pelo teu mail, sempre justo – como o apelido! – de homem e autor sem mácula.
É muito rico de sugestões! Não vou responder agora, pois estou um pouco cansado e ele é credor de uma resposta meditada, porque respeitosa e adequada. Mas não queria deixar de dar já sinal, afável, filha da estima e do apreço que coloquei na sua leitura. Creio que me faço entender.
Resta-me desejar, agora, excelente saúde e muito bom fim de semana, nesta metade de sábado e domingo pleno.
O abraqson firme do de sempre
n.
Resumindo: O Islão não presta. Eu não li o texto mas também não é preciso. Abraço de Portugal.
Jas Lopes, finalmente alguém que domina a arte da leitura por osmose! Gostaria de conhecer esse truque!
Seus artigos tem um valor cultural e informativo muito bom.