CONFLITO DE INTERESSES ENTRE A NATO E A RÚSSIA NA UCRÂNIA PODE PROVOCAR GUERRA

Sanções económicas são injustas e oprimem os mais frágeis

No actual grave conflito entre a Rússia e a NATO, estão em jogo interesses geoestratégicos e económicos com as consequentes injustiças acompanhantes de lado a lado.

A Rússia não quer que a Ucrânia faça parte da NATO e a NATO quer que a Ucrânia faça parte do seu bloco.

Os interesses do poder geopolítico são determinantes e é por isso que a NATO está a expandir-se nos países que costumavam pertencer à zona de influência soviética. A Rússia interferiu na Ucrânia (Crimeia) para assegurar o seu poder estratégico e a Nato quer ver o Mar Negro como parte do Atlântico Norte (2).

Cada país tem o direito de escolher o seu próprio caminho, diz a NATO. Mas porque deveria a NATO também intrometer-se e aceitar qualquer país? Por outro lado, a Nato não estará interessada em dar garantias de não se expandir para leste.

Fala-se muito de direitos, mas estes estão condicionados ao Poder político e este depende do poder económico e do número de consumidores. Por isso, uma forma hoje em voga, mas injusta é a aplicação de sanções. Os países, política e economicamente mais fortes, determinam assim o agir de outros povos, se não através do fomento de guerrilhas internas, através de sanções! A ameaça de até serem cortadas as transacções monetárias à Rússia pode mesmo levar Putin a uma intervenção militar na Ucrânia. Com sanções económicas maciças fazem-se reféns 140 milhões de russos. Apesar das sanções, os interesses da Rússia afirmar-se-ão e no caso de um conflito militar, os EUA serão os beneficiários. Segundo os peritos, uma guerra de agressão requer uma superioridade de 3 a 1.

O retorno à lógica imperial/estalinista e dos USA (doutrina Monroe e o “quintal americano” de T. Roosevelt) torna-se cada vez mais evidente.

A construção de um mundo global multilateral parece passar pela formação de grandes blocos rivais USA (NATO)-Rússia-China-Índia que determinarão os próximos conflitos.

No sentido de uma política geoestratégica europeia pareceria pertencer a uma ordem natural das coisas a desvinculação da EU da NATO com uma EU mais inclinada para a Rússia, de modo a que a Europa formasse uma unidade, pelo menos, até aos Urais (A geografia e os pilares da civilização poderiam indicar neste sentido!) ou mesmo no sentido de uma União Eurasiática! Os EUA possuem cerca de 800 bases militares que os protegem fora do país e que, em caso de conflito, os estragos serão provocados fora dos EUA…

A Nato, com a queda da União Soviética, comportou-se arrogantemente como vencedora, não actua no sentido de uma paz duradoura (fez o mesmo erro que os vencedores da primeira grande guerra fizeram com os alemães humilhando-os: uma das consequências foi a segunda grande guerra)!

Os jogos musculares nas fronteiras de interesses antagónicos só podem criar vítimas como é o caso da Ucrânia. A rectórica dos Media (seguindo uma estratégia de informação confrontativa) parece querer levar o povo a prontificar-se a investir mais verbas no armamento da Nato. A Europa e a Rússia deveriam ser capazes de negociar em pé de igualdade sem os EUA. O facto é que a Rússia só negoceia com os EUA como uma grande potência!

Os Estados “tampão”, (Polónia e Ucrânia) como territórios de demarcação de duas potências têm razão para se preocuparem.

Na discussão actual o que está em causa é a neutralidade da Ucrânia. A União Europeia poderia iniciar uma política própria em relação à Rússia e automaticamente a Ucrânia estaria em melhores lençóis sem se ver dividida entre a União Europeia e a Rússia! Por razões geográficas e culturais, a longo prazo a Europa e a Rússia terão de se irmanarem! A NATO ao expandir até às fronteiras das Rússia provoca nesta um sentimento de ameaça.

A Rússia, a China e os USA serão as constantes do futuro e como tal, à Europa interessa iniciar uma cultura da paz! Doutro modo esperam-nos os drones e a guerra das estrelas.

António CD Justo

Pegadas do Tempo,

(1) Onde estão os protestos contra as manobras da NATO nas fronteiras com a Rússia e contra a cada vez mais apertada cintura de mísseis dos EUA? Estão em jogo puros interesses económicos (mercados). Há muito para esclarecer: o golpe de Estado de 5 mil milhões de dólares de 2014 na Ucrânia… o sistema da função pública patrocinado pelos EUA… a perfuração de petróleo em frente à Crimeia (República autónoma da  Ucrânia pró-russa legitimada por plebiscito). Os mísseis dos EUA nas antigas bases de mísseis SS20.

(2) “A Crimeia detém um valor geopolítico fundamental, se por um lado é muito importante ao nível securitário, por outro lado tem um grande potencial energético, devido à sua localização estratégica no Mar Negro, onde foram descobertas novas reservas energéticas e por onde passam rotas muito importantes de trânsito energético provenientes da Ásia Central e do Mar Cáspio”: https://www.repository.utl.pt/bitstream/10400.5/16156/1/TESE%20DE%20MESTRADO%20FINALIZADA-%20IMPRESS%C3%83O%20FINAL.pdf

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Publicado por

António da Cunha Duarte Justo

Actividades jornalísticas em foque: análise social, ética, política e religiosa

23 comentários em “CONFLITO DE INTERESSES ENTRE A NATO E A RÚSSIA NA UCRÂNIA PODE PROVOCAR GUERRA”

  1. A Crimeia só muito tardiamente foi integrada na Rússia, fim do século XVIII e no tempo da União Soviética era uma República Autónoma. e desde 1954 que foi integrada na Ucrânia com a qual liga ao continente europeu, pelo que fazia todo o sentido a união.
    Há 8 anos foi miseravelmente ocupada pela Rússia, tal como Olivença foi ocupada pela Espanha, pela força das armas.
    A Rússia continua a ser um império ditatorial, em profunda dissonância com a Democracia Ocidental, pelo que faz todo o sentido que toda a Europa Ocidental, Ucrânia incluída pertencer à NATO.
    Aliás a Rússia conta com a sua “quinta coluna” de traidores, os nacionalistas, cito por exemplo a Le Pen ou o Salvini, financiados pela Rússia para acabar com a União Europeia e entregar cada uma das soberanias eurpeias à Rússia.
    Recordo as permanentes ameaças russas à Lituânia, Letónia e Estónia, hoje países da NATO, que são um péssimo exemplo para a Rússia até porque o nível de vida já é muito superior à da casa mãe russa, que apesar dos abundantes recursos e baixa densidade populacional, baixou drasticamente o nível de vida em relação ao dos países ex-comunistas aderentes à União Europeia.
    FB

  2. O problema é que nestas questões os grandes não se deixam levar por razões e uma vez que afirmam os seus interesses todo o mundo passa a aceitar porque os factos é que passam a servir de orientação! Tudo se rege por interesses; por isso a Turquia atraiçoou a Nato indo fazer compras de armamento à Rússia.

  3. As sanções económicas são injustas, mas são um meio de os mais fortes exercerem poder ostentando hegemonia.
    Penso que com sanções económicas evitar-se-ia o confronto bélico.
    Então, tratando-se de conflito entre grandes potências teríamos uma catástrofe para a humanidade.
    Só espero que estas questões
    Rússia/Ucrânia/EUA (Nato), EU … pensando também na China e em todos os outros focos em efervescência não se agudizem. Já não se pode ouvir falar em pandemia, mas chega o combate contra esta guerra.

  4. Suspeitava que era assim
    Por isso disse: “penso que
    com sanções económicas evitar-se-ia o confronto bélico”. Mas infelizmente não é o que se passa.

  5. Talvez as sanções apressem a guerra, porque, no caso de grandes potências os efeitos são outros! O povo toma as medidas como ataque aos interesses da Rússia e leva-o a apoiar as medidas do governo! Os grandes sentem-se fora das regras dos pequenos! Eles certamente não tenunciam ao negócio que fazem com as armas! O governo alemão disse que não venderia armas à Ucrânia certamente devido à ponderação de interesses em que se encontra envolvida!

  6. Sim. Afinal é o contrário do que eu pensava.
    Os interesses económicos, os negócios e a ambição de poder acima de tudo e do que o mundo precisa é de paz.

  7. Este teu artigo trata o tema desta hora mundial!
    A Ucrânia não está tão longe para nós portugueses porque temos ucranianos a viverem entre nós.
    Referes que a Polónia e a Ucrânia são estados “tampão” – eu gostava de saber a expressão alemã correspondente, qual é?
    Mencionas que a UE e a Rússia terão de se “irmanarem”, mas eu não vejo indícios disso…
    Propões que a Europa se empenhe pela paz, se não esperam-nos os drones, a guerra das estrelas e eu acrescento: os ataques cibernéticos como aconteceu na semana passada.
    Há um aspecto que contaste que é a humilhação da Alemanha no final da 1a Grande Guerra que os levou à 2a Grande Guerra, mas eu acho que em Portugal não se fala nessa humilhação, ela atinge e foi só apercebida pelos alemães.

  8. Também já tive ucranianos a trabalhar para mim e foram fantásticos a nível profissional e humano!
    Quanto à expressão estado tampão corresponde em alemão a Pufferstaat.
    As circunstâncias em que se deu o Tratado de Versalhes foram sentidas na Alemanha como humilhantes e as reparações foram vistas na Alemanha como excessivas e injustificadas. https://www.sueddeutsche.de/politik/versailler-vertrag-folgen-1.4499165

    https://www.welt.de/geschichte/article195775763/Frieden-von-Versailles-Die-ganze-Zeremonie-war-auf-Demuetigung-ausgelegt.html

  9. O Nord Stream 2 é essencial para a segurança energética da Europa. Os americanos não se preocupam com isso porque pensam poder nos vender a produção de gaze de xisto deles. Não devemos de modo algum segui-los naquilo que é apenas uma tentativa de manter a hegemonia mundial dos americanos. Pois não devemos entrar nisso. Essa visão americana passadista só pode conduzir a um conflito ou a uma aproximação ainda maior da Rússia com a China.

  10. Exactamente! Quem possui mão das fontes de energia é como que tem a mão controladora da informação! A energia também se está a tornar mais cara, não só devido à questão do CO2 mas também aos problemas surgidos com o impedimento do oleoduto Nord Stream 2 e as quesílias a ele ligadas, entre elas os interesses americanos de vender a sua energia, que tem de se tornar cara para satisfazer necessidadees! . O problema é que a Europa para se afirmar como grande potência teria de seguir uma outra estratégia! A Europa e a Rússia deveriam ser capazes de negociar em pé de igualdade sem os EUA. O facto é que a Rússia só negoceia com os EUA como uma grande potência!

  11. O seguidismo dos europeus made in USA,em relação à Rússia pode trazer problemas graves . Razão tinha o grande Hans Dietrich Genscher que repetia muitos vezes o que se fazer em relação com os senhores do Kremlin Conversações, Conversações,e mais Conversações. Estamos nos tempos dos politicos medíocres,mas um chamou atenção para mudança na europa,Macron.Um abraço
    desde a cidade Berço!

  12. É mesmo isso! Aposta-se tudo na mediocridade e no simplicismo que toma como rasoira a medida baixa! Faltam-nos Personalidades (cada vez mais nos limitamos a ter apenas boys seguidores disto ou da quilo que lhes interessa)! A nossa sociedade está a ser formatada para ter apenas o rebanho dos de baixo e o carneirismo dos de cima! A política cultural e de ensino é desastrosa! Hoje apontar para os podres da sociedade incomoda não só a carneirada como também o rebanho! A malta cada vez nota menos os seus verdadeiros tosquiadores!!! Dois abraços!

  13. No telejornal disseram que o RU envia armas antitanque, armas defensivas antiblindagem à Ucrânia em meio a preocupações de uma possível invasão da Rússia.
    A Rússia nega que pretenda atacar a Ucrânia, contanto que uma série de exigências sejam atendidas, como impedir que a OTAN/NATO aceite a Ucrânia no bloco. As tropas russas já contam com mais de 100 mil soldados próximos à fronteira com o país.
    Além disso, a Rússia acusou a Ucrânia de planejar usar a força
    para recuperar o controle dos territ órios comandados por rebeldes e apoiados pela Rússia, no leste da Ucrânia.
    O Canadá já enviou um contingente de tropas para a Ucrânia.

  14. Quem é Portugal e quem é Rio para influenciar o acontecer na Ucrânia quando a própria Alemanha declarou não vender ou dar armas à Ucrânia. Tudo só conversa fiada para dar a impressão aos portugueses que Portugal pode mover alguma palha!
    Este conflito aproveita-se da Ucrânica no sentido de favorecer a Rússia na sua qualidade de potência e dos Estados Unidos de quem dependerá a posição dos alinhados!

  15. Estive agora a ler os artigos que mencionaste que descrevem as condições humilhantes em que os alemães assinaram o Tratado de Versalhes.
    Eu desconhecia isso! Foi atroz, tão traumatizante ver nele o grupo de 5 soldados “Gueules cassées”, rostos desfigurados que nenhum alemão os mencionou. Só há cerca de 10 anos é que o historiador Stéphane Audoin-Rouzeau descobriu um postal contendo estes Gueules cassées que publicou.
    Essa encenação fazia parte de uma série de humilhações com que os alemães foram confrontados.
    É efetivamente uma situação semelhante à da humilhação russa do final do Império Soviético com que Putin ainda se debate. Muitos países que eram da União Soviética foram incorporados na União Europeia, como por exemplo a Letónia, a Estónia, a Polónia, a República Checa, a Bulgária, a Hungria, a Eslovénia e outras.

  16. Es ist einfach nur schrecklich, was da gerade an Propaganda durch die medien geht!
    “ Die größte Gefahr für den Weltfrieden ist nicht Russland mit seinem Rüstungshaushalt von 61,7Mrd. Dollar. Sondern die USA mit ihren 778 Mrd. $. Mithilfe der NATO haben sie Russland seit 1997 regelrecht eingezingelt. Dass Russland da nicht tatenlos zuschaut, ist normal. Überraschend ist allenfalls, dass Russland so spät reagiert. “( J.T.)

  17. Manuel Adaes Macron? Mudar a Europa? Que pensar de um chef de estado que pubicamente falta de respeito a uma parte da populacao francesa ao dizer que tem vontade ďe a “emmener”?…

  18. O chefe da marinha alemã demitiu-se por causa de comentários controversos que fez sobre a Ucrânia.
    Kay-Achim Schönbach disse que a ideia de que a Rússia queria invadir a Ucrânia era um disparate. Ele acrescentou que tudo o que o Presidente Vladimir Putin queria era respeito.
    Vários países forneceram armas à Ucrânia, incluindo os EUA e o Reino Unido. Mas a Alemanha recusou o pedido de munições da Ucrânia.
    A Rússia negou alegações de que está a planear invadir a Ucrânia.
    Mas o Presidente Putin fez exigências ao Ocidente que, segundo ele, dizem respeito à segurança da Rússia, incluindo que a Ucrânia seja impedida de aderir à aliança de defesa militar Nato.
    Ele também quer que a NATO abandone os exercícios militares e deixe de enviar armas para a Europa Oriental, encarando isto como uma ameaça directa à segurança da Rússia. (BBC)

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