Maria – Maio – Fátima

Maria – Maio – Fátima
2007-05-24

Maria, tal como a natureza em Maio, tem as mais diversas expressões. As diferentes devoções a Maria são também elas manifestação da multiplicidade da realidade e das imagens da alma humana.

Maria, tal como a alma humana, tem mil rostos. Expressa-se como mãe, rainha, virgem, auxiliadora, a Senhora de Lurdes, de Fátima, etc. Nela se manifesta também a nossa geografia espiritual, o nosso ser de paisagem no tempo e no espaço. Em Maria se manifestam a escrituras e a tradição, a espiritualidade e a teologia, o rito e o folclore. Nela, tal como em Cristo, se encontra o ser humano completo.

A teologia feminista procura ver nela sobretudo a dimensão humana (1). Em Maria a mulher foi expropriada. Ao pôr-se na disponibilidade do acto criativo, Maria e com ela a mulher é libertada das correntes que a submetiam ao homem e à sociedade. Na sua disposição ao espírito ela torna-se o protótipo da criação, da arte – o dar à luz em si. Torna-se a imagem de todo o artista cujo programa se realiza no Magnificat. Nele se revela o segredo do processo de expropriação, o programa para todo o homem e mulher na integração da polaridade, superando assim a exploração e o domínio sobre o outro.

Na teologia feminista Maria, como todos os símbolos religiosos, pode ser vista das mais variadas perspectivas. Maria é ao mesmo tempo submissa e insubordinada. O movimento das mulheres procura em Maria marcas em que se apoiar. O feminismo radical, numa estratégia polarizante procura conquistar terreno vendo em Maria a deusa das origens. Muitas vêem nos evangélicos, na sua acentuação só em Cristo, a esconjuração dos restos da feminidade. Independentemente dos abusos masculinos na interpretação do divino deve recordar-se que o Cristianismo original não é de conotação sexual nem se deixa reduzir a interpretações, a perspectivas e maneiras de ver próprias do tempo. Estas dependem do desenvolvimento da consciência humana e do espírito da correspondente época, o que torna as interpretações relativas. Fé mais que um credo é uma vivência, uma mística e só assim universal na sua integralidade.

Muitas das imagens de Maria são pré-cristãs. Maria cristianiza as deusas pagãs e assume as suas residências. Nela se reúnem todas as metáforas femininas. Ela é a Deusa secreta do Cristianismo. As suas aparições expressam o grande poder da realidade do inconsciente.
Também o peregrino no seu peregrinar se sente como parte dum todo, o povo, a natureza a responder ao chamamento interior. (Também por isso será debalde muito do esforço de padres na tentativa de racionalizarem mais as promessas de crentes).

De momento assiste-se a um novo irracionalismo na procura de muitas pessoas por dominar a própria vida. Este favorece tudo o que está fora da tradição bíblica interessando-se por uma interpretação feminista espiritualizado a maneira própria. O negócio com os devocionais floresce. A capacidade de compreensão simbólica tornou-se muitíssimo difícil. O mundo da racionalidade trivial não deixa espaço para imagens ficando estas reservadas ao mundo da religião e da arte. A alma porém revela-se e fala através das imagens.

Maria é a mulher fértil que transmite a vida. No princípio está a mãe original. A mulher traz a vida sem a intervenção do homem. Maria virgem e mãe é a metáfora dum novo começo. As imagens de Maria surgem da base. Ela torna-se o protótipo, a mãe da Igreja; ela encontra-se no centro de cada mulher, de cada homem.
A humanidade de Jesus foi em parte absorvida pela cultura. O problema é que uma humanidade radical torna supérflua a tradição, a memória. Na memória porém dá-se o nascimento espiritual.

“Aquele que faz a minha vontade é meu pai, minha mãe e meu irmão”. Jesus faz ir pelos ares os papéis a que as pessoas se encostam, sejam eles familiares, sociais ou religiosos. Com Jesus e com Maria irrompe o tempo do homem-mulher adulto. Para João a filiação divina só acontece no espírito santo. Maria, a pessoa, engravida por obra do espírito santo, por força do espírito. A dimensão do espírito é reconhecida como essencial, como formadora da realidade mas não definível nem localizável só no particular.

Para Mateus Jesus reúne em si as esperanças dos judeus na adopção de Jesus por José, descendente da casa de David, e no totalmente novo como filho do espírito. Ele é o esperado que através do espírito apresenta o totalmente novo, não precisando doutra legitimacao. Deus intervém assim, através do espírito histórica e misticamente. A imagem judaica tradicional de Deus é superada. Maria, na anunciação e concepção, embora ligada a David indirectamente através de José, realiza nela a aliança histórica de Deus ao povo de Israel alargando essa aliança a todo o indivíduo através do gerar por acção do espírito. (Naturalmente que na bíblia se trata de teologia e não de mera biologia como gostariam aqueles que sonham com uma igreja muda.) O acto legitimador não se reduz ao institucional histórico, ele passa a ser o Espírito que sopra independentemente de condicionamentos.

No Magnificat, as vítimas tornam-se sujeito da acção. A salvação vem de baixo.
Hoje é mais que nunca necessária também uma exegese com uma veia mística. No caminho místico dá-se a convergência da transcendência com a imanência.
Não podemos reconhecer só a terra como deusa, como quer o feminismo radical nem só o céu como horizonte descontextuado como pretendem outros. Num processo aberto à mística conseguir-se-á reconciliar o mundo das ideias com o da realidade, o mundo do espírito com o da matéria. Seria falso desmiolar os mitos. Mito age a partir do que está escondido no encontro da força vertical com a força horizontal. Todo o componente da realidade está integrado num todo global, num sistema dinâmico relacional na interligação dos campos físico, fenomenológico e espiritual como se vê na realidade trinitária.

No mês de Maio por todo o mundo católico se observa grande actividade em torno de Maria. Muitas vezes as celebrações litúrgicas são orientadas por leigos. Nestas liturgias marianas privilegia-se a feminidade.

Um aspecto importante que se enquadraria dentro desta espiritualidade seria a introdução de ritos de imposição das mãos em todas as paróquias. Aí todos os participantes poderiam, na resposta à diversidade dos dons do espírito santo, criar ritos em que também o tratamento do corpo, a cura dos fiéis presentes se tornassem práticas usuais mediante a imposição das mãos por parte dos fiéis. Isto corresponderia a uma necessidade real e cuja vulgarização poderia ter como orientação a bênção dos enfermos realizada em Fátima nos dias treze bem como certas práticas dos movimentos carismáticos. As liturgias marianas poderiam tornar-se um exercício mais adequado às necessidades do lugar e do tempo.

António da Cunha Duarte Justo
“Pegadas do Tempo”

(1) Sabe-se da investigação teológica que o modo de pessoas compreenderem a bíblia depende muitíssimo da sua pré-atitude. “Na cabeça do leitor surge um texto virtual, que se pode distinguir muito do texto bíblico em questão”. Também o modo de compreender o texto se processa diferentemente. Enquanto que leitores ligados à igreja compreendem o texto num contexto global bíblico, leitores sem experiência eclesial procuram o acesso ao texto através da perspectiva histórica.

António da Cunha Duarte Justo
Publicado em Comunidades:
http://web.archive.org/web/20080430103518/http://blog.comunidades.net/justo/index.php?op=arquivo&mmes=05&anon=2007


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Comentários:

ejsqpk nxdeoay – – – 2007-06-03
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ejsqpk nxdeoay
Maria- Maio-Fátima – – – 2007-06-01
Maria sempre indica o caminho até Jesus Seu Filho, em Fátima ela continua a dizer a crianças Fazei tudo o que Ele Vos Disser, não ofrnder a Cristo nem a Deus, a Paz no mundo pássa por Portugal. Somos filhos de Maria, o nosso Páis surgiu “Terras de Santa Maria”. Acolhemo-la e ao Seu Filho, com Maria e por Maria até Jesus

Ernestina Matos

RAÍZES

 
Encontramo-nos numa época em que a tendência é desenraizar as pessoas, desarreigar as famílias e alhear a pessoa da sua ligação à terra (fazer com que ela deixe de andar com os pés na terra!).
 
Deste modo, tornar-se-á mais fácil controlarar os cidadãos à distância, através de ideias e de regulamentações!
As pessoas passarão a ser mais dependentes e mais passíveis de doenças psicológicas.
As ideologias fomentadoras de fanatismo colocam a ideia sobre a pessoa, ontem como hoje e, assim, a pessoa passa a ser subjugada à ideia tornando-se seu mero objecto, a ponto de ser aniquilada (exemplos: comunismo, nazismo, islamismo, etc.).
 
Já o Diplomata e Psicoterapeuta Conde de Karlfried Dürckheim advertia:
“Tal como a copa de uma árvore desenvolve a sua vida apenas na medida do seu enraizamento, também o desenvolvimento do espírito depende da lealdade às suas raízes”.
António da Cunha Duarte Justo
Pegadas do Tempo

MACON CHAMA A ATENÇÃO PARA O IMPERIALISMO DA TURQUIA

O Presidente francês Macron acusa a Turquia de comportamento bélico para com os seus parceiros da NATO, no Médio Oriente e  no Mediterrâneo! “Noto que a Turquia tem tendências imperialistas na região, disse ele à estação de rádio Al Jazeera.

De facto Erdogan parece querer tornar-se na actual  época do confronto das culturas no novo símbolo do império otomano que dominou o império bizanzino!  O “Sultão” Erdogan pretende continuar a cultura de conquista da Turquia. A religião faz parte essencial da política e é a bandeira que indica o caminho certo dos guerreiros.

É o cinismo que assiste a grande parte da política! Erdogan gostaria de ser o califa dos califas procurando o apoio do islão sunita e de povos túrquicos. Por isso apoia militarmente a guerra contra a Arménia (que os turcos perseguiam já na Idade Média.

Conta com os povos túrquicos que contam com 40 grupos étnicos na Ásia Central e Ocidental, bem como na Sibéria e na Europa Oriental e perfazem 200 milhões de pessoas.

O Panturquismo já vem do século XIX. No início da expansão árabe muitos povos turcos foram convertidos ao Islão e proporcionaram o avanço da cultura árabe no mundo.

A situação complicar-se-á mais, dado a política internacional se continuar a orientar por interesses estratégicos e nacionais; no fim,  quem ganha é que passa a ter razão. O resto comenta!

António da Cunha Duarte Justo

Pegadas do Tempo

DIA MUNDIAL DO HOMEM

Hoje é celebrado o dia do homem.
Seria uma boa oportunidade para se perguntar quando é que um homem é Homem?!
Quando prevê tudo e não se queixa?!
Ou não será que isso era no tempo da pedra?!
Hoje o curso a definir-se aponta para um homem mais macio e suave! Já não se sente socialmente chamado a querer ser melhor ou pelo menos a não afirmar-se como tal!
Em alguns reservados da sociedade não faltará o palco para o exibicionismo de alguns animais alfa!
Talvez num mundo melhor passe a haver menos homens Alfa e menos mulheres Alfa!!!
Para isso será talvez preciso trabalhar no sentido de se criar uma nova matriz social em que nem o homem nem a mulher dominem um sobrre o outro (nem socialmente) mas em que haja uma relação complementar interactiva dos princípios da masculinidade e da feminilidade tanto no homem como na mulher!
Antónioda Cunha Duarte  Justo
Pegadas do Tempo

AVISO DO ESTADISTA HELMUT SCHMIDT A UMA POLÍTICA FORA DE SERVIÇO

Cada cultura procura afirmar-se com os meios que tem

Por António Justo

Aos atentados em França segue-se o ataque terrorista (2.11.2020) no centro da cidade de Viena de Áustria, perto de uma sinagoga.   Foi perpetrado por um islamista de raízes albanesas, simpatizante da milícia terrorista do “Estado Islâmico”, segundo o ministro do interior austríaco. Matou dois homens e duas mulheres e feriu 17 pessoas das quais 7 se encontram em perigo de vida. O atacante foi baleado. As investigações continuam.

O terrorismo muçulmano internacional está interessado em provocar e em causar reacções contra muçulmanos para melhor poder juntar as suas fileiras e atacar.

O estadista e antigo chanceler alemão Helmut Schmidt (SPD) escreveu em 2008 o seu livro Außerdienst (“Fora de serviço, O que eu queria dizer”), que se poderia designar de testamento político (1).

Em relação ao islão ele escreveu: “Quem quiser aumentar o número de muçulmanos na Alemanha está preparado para aceitar uma crescente ameaça ao nosso país”.

Helmut Schmidt chama também à atenção: “Quando se trata de princípios políticos e morais ou da sua própria consciência, nunca se está fora de serviço”.

O assassinato (decapitação) do professor Samuel Paty e o atentado (degolação) na Catedral de Nice é inimaginável. Não cabe na cabeça de ninguém que pessoas humanas possam ser tão brutais por natureza. Apenas uma lavagem diabólica ao cérebro dos jovens produz tais fenómenos.

Penso que o problema não está nos muçulmanos, mas na possibilidade de aplicação da violência contida e ditada nos escritos de Maomé no Corão.  Se antes da Egira (ida de Maomé de Meca para Medina, ano 622) se registam as suras de Maomé religioso (as suras pacíficas escritas em Meca), a parte do Corão escrito em Medina revela sobretudo o Maomé guerreiro e estadista (Versículos do Corão escritos depois da Egira).

O Corão une a religiosidade à política, o âmbito da espiritualidade ao âmbito do poder político secular. Daí o seu ser de religião política que tanto satisfaz o bom crente religioso (a grande maioria inocente) como fundamenta o extremismo político que encontra justificação no Corão.

Por isso, deveria exigir-se dos representantes do Islão  que as suras (versículos) guerreiras do Corão fossem acompanhadas de notas explicativas e que as autoridades islâmicas permitissem a aplicação do método de análise histórico-crítica (Exegese/hermenêutica), tal como se aplica em relação à Bíblia (só assim se possibilitará a não interpretação e aplicação literal das suras).

Na Alemanha, a política exigiu que o livro, “Meu Combate” de Hitler, fosse acompanhado de notas explicativas. A Sociedade também deveria exigir notas explicativas nos Versículos xenófobos do Corão. Uma pedagogia para a paz, pressuporá uma doutrina pacifica.

Para se verificar isto será preciso estar atento à história da expansão islâmica e ler o Corão e os Ahadith (ditos e feitos do profeta), por que se orienta a jurisprudência (sharia) e o comportamento muçulmano. Uma discussão sem conhecimento destas bases fundamentais corre o perigo de tornar-se mera desconversa ou mesmo branqueamento dos factos.

À crise social ocidental provocada, em grande parte, por um globalismo descontrolado vem juntar-se o Covid-19 e acentuar-se o terrorismo islâmico. Muitos são levados a pensar que nos encontramos no fim do mundo! Não, a crise é o indício de que chegamos à era, já não da luta entre países, mas entre civilizações. Daí a estratégia já não ser a luta por adquirir o terreno geográfico, mas sim o âmbito abstracto global. Daí a doutrina ser cada vez mais abstracta e já meramente ideológica e consequentemente a democracia estar a passar de partidária para uma democracia de massas. Penso que uma grande desorientação dos partidos se situa precisamente neste facto. Por isso também a classe dominante teme imenso pessoas que pensem de forma independente. Daí a tendência indiscreta do controlo absoluto a implantar-se na moderna democracia de massas. Para este tipo de sociedade, a civilização árabe está mais que preparada, pela sua lógica interna e pela estratégia cada vez mais moderna que é a guerrilha. Quem dominar a palavra/informação domina o mundo…

Os muçulmanos poderão argumentar que cada cultura (ÁRABE, USA, CHINA, RÚSSIA, EUROPA, Etc.) procura afirmar-se com os meios que tem. Nesse sentido seria óbvio que todas as culturas se comprometessem no sentido da paz intercultural e no respeito dos povos e da pessoa humana.

O vírus da adversidade encontra-se escondido em cada ser e em cada ideologia. O combate ao vírus está nas mãos de cada um e de cada cultura-ideologia-religião. É inconcebível que pessoas possam ser tão brutais por natureza. Apenas uma lavagem diabólica ao cérebro dos jovens produz tais fenómenos.

António da Cunha Duarte Justo

Pegadas do Tempo