MORREU MÁRIO SOARES

Morreu Mário Soares – um homem com muitos defeitos e virtudes; não tinha medo dos defeitos e sabia o que queria conseguindo erguer-se da mediania fazendo muito de bem e muito de mal.
Reproduzo aqui uma frase de Mário Soares que diz muito, hoje citada no jornal alemão HNA: “Eu sou um pobre homem, que teve a sorte de ter assumido cargos e, assim, ter razão ” („Ich bin ein armer Mann, der das Glück hatte, Positionen zu beziehen und damit recht zu haben”!

Junto o ultimato de Fernando Pessoa por ser histórico, sempre actual e dar que pensar.

“ULTIMATUM
Fora tu,
reles
esnobe
plebeu
E fora tu, imperialista das sucatas,
charlatão da sinceridade
e tu, da juba socialista, e tu, qualquer outro
Ultimatum a todos eles
e a todos que sejam como eles,
todos.
Monte de tijolos com pretensões a casa
inútil luxo, megalomania triunfante
e tu, Brasil, blague de Pedro Álvares Cabral
que nem te queria descobrir
Ultimatum a vós que confundis o humano com o popular,
que confundis tudo!
Vós, anarquistas deveras sinceros
socialistas a invocar a sua qualidade de trabalhadores
para quererem deixar de trabalhar.
Sim, todos vós que representais o mundo,
homens altos,
passai por baixo do meu desprezo.
Passai aristocratas de tanga de ouro,
passai frouxos.
Passai radicais do pouco!
Quem acredita neles?
Mandem tudo isso para casa
descascar batatas simbólicas
fechem-me isso tudo a chave
e deitem a chave fora.
Sufoco de ter somente isso à minha volta.
Deixem-me respirar!
Abram todas as janelas
Abram mais janelas
do que todas as janelas que há no mundo.
Nenhuma idéia grande,
nenhuma corrente política
que soe a uma idéia grão!
E o mundo quer a inteligência nova,
a sensibilidade nova.
O mundo tem sede de que se crie.
O que aí está a apodrecer a vida,
quando muito, é estrume para o futuro.
O que aí está não pode durar
porque não é nada.
Eu, da raça dos navegadores,
afirmo que não pode durar!
Eu, da raça dos descobridores,
desprezo o que seja menos
que descobrir um novo mundo.
Proclamo isso bem alto,
braços erguidos,
fitando o Atlântico
e saudando abstratamente o infinito.” Álvaro de Campos – 1917

O ultimato de Fernando Pessoa apresenta a parte sombria de quem brilha na praça pública sorvendo o brilho dos outros. Os crentes laicos/seculares instrumentalizam a democracia e exageram também na veneração e culto dos seus “santos” que querem impor, a todo o custo, a toda a sociedade. Hoje a opinião pública portuguesa não tem possibilidade de sair de uma mentalidade que festeja a mediocridade dos seus “heróis” porque se encontra, de uma maneira geral, nas mãos de feitores não interessados em dar a conhecer os seus actos. São os actores e os interperetadores dos seus actos. A Soares se deve também a existência do partido comunista quando na Europa estes já desapareceram, por serem meramente ideológicos. Na França ele negociou com o partido comunista a entrega incondicional das colónias portuguesas aos guerrilheiros. A formatização maçónica-esquerda dos Media nacionais e da opinião pública é de tal ordem que torna difícil qualquer discussão objectiva séria. Na praça temos informaç1bo generalista e não temos um jornal de cultura popular geral que se possa afirmar contra os interesses corporativistas, a não ser a bola para a formação clubista. Causa tristeza, como a morte de Mário Soares é utilizada pelos políticos e pelos Mídea de maneira tão absorvente, unilateral e devota: uma verdadeira lavagem ao cérebro que a continuar assim não fomenta espíritos com capacidade de discernir continuando o país, de uma maneira geral, a pensar cada vez mais na mesma.

Independentemente dos aspectos positivos e negativos do regime de direita de Salazar e do regime de esquerda, iniciado com o 25 de Abril, o grande problema da sociedade portuguesa está em delegar a consciência nacional na consciência partidária e num culto de pessoas. De facto demos a independência aos outros e atraiçoamos a nossa.

 

Marcelo Caetano, ao falar sobre o 25 de Abri, citado em Portugal da Loja profetizou: “Em poucas décadas estaremos reduzidos à indigência, ou seja, à caridade de outras nações, pelo que é ridículo continuar a falar de independência nacional. Para uma nação que estava a caminho de se transformar numa Suíça, o golpe de Estado foi o princípio do fim. Resta o Sol, o Turismo e o servilismo de bandeja, a pobreza crónica e a emigração em massa.”
“Veremos alçados ao Poder analfabetos, meninos mimados, escroques de toda a espécie que conhecemos de longa data. A maioria não servia para criados de quarto e chegam a presidentes de câmara, deputados, administradores, ministros e até presidentes de República.”
É natural e legítimo que em política se tentem fazer valer os diferentes interesses partidários e as diferentes ideologias. O que não é natural é que um país tão multifacetado não saia da mediocridade continuando a dançar à volta dos seus bezerros políticos que actuam sem vergonha à custa da honra do povo. Não quero com isto estragar o humor ao socialistas e ao seu direito a festejar; -estão de parabéns porque são espertos e sabem fazer da nação a sua mangedoura num país onde o poder dos cargos é razão.

Mário Soares teve uma grande virtude que poderia ser programa para todos: o amor pela liberdade!

Que Deus tenha Mário Soares em eterno descanso e ilumine os multiplicadores de cultura e política no sentido de um Portugal de todos e honrado.

António da Cunha Duarte Justo

Pegadas do Tempo

 

PAI QUERIDO TU NÃO VAIS ESTÁS AQUI

Pai querido, hoje trago-te uma flor
Toda minha, não roubada, pra te dar
Contigo, pô-la quero, no jardim de minha mãe

Obrigado pai amado
Contigo bafejou Deus o jardim
Aquele terreno santo
Donde saiu o que se expressa em mim

Obrigados céu e terra, pelo sol, pela chuva
Porque em vós, até em dias de sombra
Sempre havia o arco-íris a agradecer

Na tua ausência a vida chove
Meu guarda-chuva anda perdido
A chuva bate dura agora em mim

Sem sonhos nem vida
O dia cai, as folhas também
Os olhos postos no chão da vida
Não vêem as flores nem os frutos
Que a árvore tem.

Até logo, pai querido
Na morte em ti presente
A vida escondes
Que em mim deixas

Na minha alma a morte entoa
Um fado triste e tão forte
Que mata a tristeza da morte

António da Cunha Duarte Justo
Pegadas do Tempo

Nota: Na poesia feita no sombrio da vida refiro-me ao arco-íris que era o terço que em família era rezado todos os dias. Se alguma sombra no dia havia lá estava o arco-íris da reza do terço à noite a fazer a ponte para a luz brilhar no novo dia.

IDEIAS FORTES PARA TEMPOS FORTES

Deixo aqui algumas ideias de um dos meus filósofos preferidos, Henri Bergson:

“A coesão social deve-se, em grande parte, à necessidade de uma sociedade se defender de outras.”

“O olho vê somente o que a mente está preparada para compreender.”

“A vida é um caminho de sombras e luzes. O importante é que se saiba vitalizar as sombras e aproveitar a luz.”

“A inteligência é caracterizada por uma incompreensão natural da vida.”

“Pense como um homem de ação, atue como um homem de pensamento.”

“Um ser inteligente traz consigo os meios necessários para superar-se a si mesmo.”

“O que me impressiona em Jesus é este apelo a ir sempre adiante. Pode-se dizer que o elemento estável do cristianismo seja precisamente essa ordem de nunca parar.”

“Há coisas que só a inteligência é capaz de procurar, mas que por si mesma nunca achará. E essas coisas só o instinto as acharia, mas nunca as procura”. Henri Bergson

Para encontrar as coisas que a inteligência nunca achará resta o caminho da intuição que ultrapassa os limites das coisas e conduz ao espírito que tudo embebe.

Continuação de Boas festas

António Justo

 

 

O QUE POR AÍ CORRE A RESPEITO DA HISTÓRIA DE CUBA

De 1492 a 1902, Cuba foi uma colónia espanhola.
Em 1902 tornou-se independente. Como de costume, com uma mãozinha dos EUA a ajudar, para lá cuidarem dos seus interesses.
A ditadura de Fulgêncio Baptista durou de 1934 a 1959.
‎Agora leia-se o que se passou em Cuba enquanto foi possessão espanhola e até mesmo durante a ditadura de Baptista.

Desconhecia totalmente que Cuba tivesse tido tamanho desenvolvimento em tempos idos!

Afinal, o que foi que aconteceu em CUBA ?

Pois…, teve o que os outros não tiveram, Fidel de Castro.

1º) Enquanto foi espanhola:

  • * A primeira nação da América latina que utilizou máquinas e
    barcos a vapor foi Cuba, em 1829.
    * A primeira nação da América Latina, e a terceira no mundo (atrás da Inglaterra e dos EUA), a ter uma ferrovia foi Cuba, em 1837.
    * Foi um cubano quem primeiro aplicou anestesia com éter na
    América Latina em 1847.
    * A primeira demonstração, a nível mundial, de uma indústria
    movida a electricidade foi em Havana, em 1877.
    * Em 1881, foi um médico cubano, Carlos J. Finlay, que descobriu o agente transmissor da febre-amarela e definiu a sua prevenção e tratamento.
    * O primeiro sistema eléctrico de iluminação em toda a América
    Latina e Espanha foi instalado em Cuba, em 1889.
    * Entre 1825 e 1897, 60 a 75% de toda a renda bruta que a Espanha recebeu do exterior veio de Cuba.
    * Antes do final do Século XVIII Cuba aboliu as touradas por
    considerá-las “impopulares, sanguinárias e abusivas com os animais”.
    * O primeiro “carro eléctrico” que circulou na América Latina foi
    em Havana, em 1900.
    * Também em 1900, antes de em qualquer outro país na América Latina, foi a Havana que chegou o primeiro automóvel.

2º) Aqui já era independente… com os americanos a investir lá

* A primeira cidade do mundo a ter telefones com ligação directa (sem necessidade de telefonista) foi Havana, em 1906.
* Em 1907, foi estreado em Havana o primeiro aparelho de Raios-X de toda a América Latina.
* Em 19 Maio de 1913 quem primeiro realizou um vôo em toda a
América Latina foram os cubanos Agustin Parla e Rosillo Domingo, entre Cuba e Key West, que durou uma hora e quarenta minutos.
* O primeiro país da América Latina a conceder o divórcio foi Cuba, em 1918.
* O primeiro latino-americano a ganhar um campeonato mundial de xadrez foi o cubano José Raúl Capablanca. Ele venceu todos os campeonatos mundiais de 1921-1927.
* Em 1922, Cuba foi o segundo país no mundo a abrir uma estação de rádio e o primeiro país do mundo a transmitir um concerto de música e a fazer notíciários radiofónicos.
* A primeira locutora de rádio do mundo foi uma cubana: Esther
Perea de la Torre. Em 1928, Cuba tinha 61 estações de rádio, 43
delas em Havana, ocupando o quarto lugar no mundo, perdendo apenas para os EUA, Canadá e União Soviética. Cuba foi o primeiro no mundo em número de estações por população e área territorial.

3º) Sob o ditador Fulgêncio Baptista, mesmo assim:

* Em 1937, Cuba foi o primeiro país de toda a América Latina a
decretar a jornada de trabalho de 8 horas, o salário mínimo e a
autonomia universitária. Não, isto não foi obra do Fidel!
* Em 1940, Cuba foi o primeiro país da América Latina a ter um
presidente da raça negra, eleito por sufrágio universal, por maioria absoluta, quando a maioria da população era branca. Adiantou-se pois em 68 anos aos Estados Unidos.
* Em 1940, Cuba aprovou uma das mais avançadas Constituições do mundo. Na América Latina foi o primeiro país a conceder o direito de voto às mulheres, igualdade de direitos entre os sexos e raças, bem como o direito das mulheres ao trabalho. E isto também não foi obra do Fidel.
* O movimento feminista na América Latina apareceu pela primeira vez no final dos anos trinta em Cuba. Ela se antecipou à Espanha em 36 anos, que só veio a conceder às mulheres espanholas o direito de voto, a posse de seus filhos, bem como poder tirar passaporte ou ter o direito de abrir uma conta bancária sem autorização do marido, depois de 1976.
* Em 1942, um cubano tornou-se o primeiro director musical
latino-americano duma produção cinematográfica mundial e também o primeiro a receber indicação para o Oscar. Seu nome: Ernesto Lecuona.
* O segundo país do mundo a emitir uma transmissão pela TV foi Cuba em 1950. As maiores estrelas de toda a América foram para Havana para actuarem nos seus canais de televisão.
* O primeiro hotel a ter ar condicionado em todo o mundo foi
construído em Havana: o Hotel Riviera em 1951.
* O primeiro prédio construído em betão armado em todo o mundo ficava em Havana: O Focsa, em 1952.
* Em 1954, Cuba tinha uma cabeça de gado por habitante. O país ocupava a terceira posição na América Latina (depois de Argentina e Uruguai) no consumo de carne per capita.
* Em 1955, Cuba é o segundo país na América Latina com a menor taxa de mortalidade infantil (33,4 por mil nascimentos).
* Em 1956, a ONU reconheceu Cuba como o segundo país na América Latina com as menores taxas de analfabetismo (apenas 23,6%). As taxas do Haiti eram de 90% e as da Espanha, El Salvador, Bolívia, Venezuela, Brasil, Peru, Guatemala e República Dominicana eram de 50%.
* Em 1957, a ONU reconheceu Cuba como o melhor país da América Latina em número de médicos por habitantes (1 por 957 habitantes), com a maior percentagem de casas com energia eléctrica, depois do Uruguai, e com o maior número de calorias (2870) ingeridas per capita. E isto não foi obra do Fidel tampouco!
* Em 1958, Cuba é o segundo país do mundo a emitir a cores uma transmissão de televisão.
* Em 1958, Cuba era o país da América Latina com maior número de automóveis (160.000, um para cada 38 habitantes). Era o país com mais eletrodomésticos por 1000 habitantes e o país com o maior número de quilómetros de ferrovias por km2 e o segundo no número total de aparelhos de rádio.
* Ao longo dos anos cinquenta, Cuba detinha o segundo e terceiro lugar em internamentos hospitalares per capita na América Latina, à frente da Itália e com mais que o dobro que a Espanha.
* Em 1958, apesar da sua pequena extensão e possuindo apenas 6,5 milhões de habitantes, Cuba era a 29ª economia do mundo.
* Em 1959, Havana era a cidade do mundo com o maior número de salas de cinema (358) batendo Nova Iorque e Paris, segundo e terceiro lugares, respectivamente.

E o que foi que aconteceu depois de 1959?

Veio a Revolução… e nunca mais por lá se “pregou um prego”!

 

ATENTADO CONTRA OS SISTEMAS POLÍTICOS OCIDENTAIS E CONTRA O CRISTIANISMO

Berlim como símbolo do cristianismo e Nice como símbolo da República

Por António Justo

O atentado em Berlim provocou 12 mortos e 49 feridos (destes encontram-se 14 em perigo de vida). Eram pessoas que se alegravam como outros, nos milhares de mercados de natal que tradicionalmente se realizam durante as quatro semanas de advento, em todas as cidades e aldeias da Alemanha. Fica a compaixão com as vítimas.

A polícia judiciária Federal alemã busca o tunisino Anis Amri, disponibilizando um prémio de recompensa pela captura que vai até 100.000 euros. No camião foram encontradas impressões digitais e os documentos do refugiado tunesino (tolerado) de 24 anos de idade (em posse de diversos documentos de identidade); Anis Amri já tinha sido condenado a quatro anos de prisão na Itália mas a Tunísia não o aceitou e ele depois de cumprida a pena submergiu na sociedade pedindo depois refúgio na Alemanha. A Alemanha tolerava-o dado não o poder enviar para a Tunísia. Os Verdes não estão de acordo considerar os países do norte de áfrica como países seguros onde se possa reenviar refugiados não reconhecidos como tal.

O delinquente islamista era “soldado do Estado Islâmico”, segundo declarou o porta-voz do EI Amak.Os extremistas consideram “soldados” do islão quem é jihadista e se torna mártir no exercício de acções ou missões para atingirem os seus fins. Neste sentido o assassino poderia ser considerado “soldado” da sua guerra santa, mesmo sem pertencer ao IS.

As pessoas de boa vontade e o povo alemão encontram-se assustados e tristes e a chanceler sente-se “horrorizada, chocada e profundamente triste”. Para estas coisas “não há respostas simples”, confessa ela. Este é o maior ataque na Alemanha que atinge profundamente a chanceler dos refugiados.

Atentado contra os símbolos da cultura ocidental

O atentado de Berlim repete a estratégia do atentado de Nice perpetrado na França a 14 de julho passado, dia nacional da República, e que provocou 86 mortos e 400 feridos. Na França são atacados os valores republicanos da revolução francesa e em Berlim é atacado o cristianismo, como sua fonte.

Apesar do grande empenho e da alta competência e actividade do sistema de segurança nacional, a Alemanha não conseguiu impedir o que um dia teria de acontecer.

O islamismo fanático está consciente da importância dos símbolos, dos mitos e das ideias como motivadores de acção e como fundamentos em que assenta a história de toda a cultura, nação ou civilização. Por isso escolhem bem os espaços e os tempos da sua intervenção na sua luta anti-cultural. O mercado atacado tem grande densidade de significado e conteúdo: fica mesmo ao lado da “Igreja do Memorial”, que é símbolo da paz e da reconciliação e como mercado do advento prepara a festa do Natal.

A logística do fanatismo cria rituais e contra-símbolos como mensagens estatuídas, nos minaretes do tempo, a avisar contra os símbolos dos adversários. De fora operam com atentados, de dentro não aceitando as canções de natal ou a festa do são martinho, cruzes, etc. Pelo que observo, nas sociedades onde se encontram, como pessoas são geralmente muito simpáticas mas como grupo religioso, geralmente lutam pelo seu direito de grupo mas não pela humanidade ou pelos direitos da pessoa (a defesa destes enfraqueceria o grupo!).

O problema não está nos refugiados mas na ideologia. Não se trata agora de criminalizar tantos refugiados vítimas da guerra nem de abdicar de uma sociedade aberta e livre mas de levar os chegados a abrir-se à abertura que lhes permite serem eles (e, por outro lado verificar até que ponto os imigrados são integráveis; sim porque uma civilização não pode transformar-se numa floresta aberta). Não chega perseguir aqueles que em nome do Islão praticam a barbaridade, é preciso que o islão se transforme de maneira a aceitar os outros como pessoas e não apenas como crentes de um lado e adversários do outro. Doutro modo o Ocidente passa a viver na reacção ao medo e na caça daqueles que alimentam a suas energias negativas a partir do Corão (até surgiu a ideia de encerrar todos os mercados de natal na Alemanha assim como a de evitar festas de natal nos jardins de infância ou nas escolas para se não ferirem susceptibilidades islâmicas! Entretanto optaram por colocar cubos de cimento nos acessos aos mercados de natal). Há que purificar as águas do abuso na fonte, doutro modo tudo não passará de maculatura. Uma sociedade aberta não se pode desculpar por ter de defender a abertura, uma sociedade aberta tem o direito de exigir dos hóspedes também a abertura que eles exigem para si. Doutro modo autodestrói-se. Combater os nazis e seus dizeres e ignorar os dizeres (suras) do Corão que são mais desumanos que os dizeres dos nazis é confundir e enganar a sociedade. O Corão precisaria de ter notas explicativas que neutralizassem a guerra e que justificam.

Os políticos e a economia são os mais responsáveis do estado a que chegamos porque pretendem enganar o cidadão dizendo que na guerra declarada à cultura ocidental se trata apenas de casos individuais ou de grupos extremistas e, por isso, não exigem o estabelecimento de acordos bilaterais de abertura que assegurem nas sociedades islâmicas o respeito pelos cristãos e ateus como acontece nas sociedades ocidentais com os muçulmanos. A troca e o intercâmbio não é suficiente nem honesta se uma parte se preocupa apenas com o dinheiro como se o mundo se reduzisse a um supermercado.

Também é verdade que uma cultura se afirma em grande parte pela economia e tecnologia mas estas não são monopólio eterno do Ocidente e no futuro quem mais se afirmará serão as culturas com economias fortes. O ocidente vive na ilusão de poder continuar a abdicar da sua cultura e só com a economia e meia dúzia de valores desencarnados poder continuar a influenciar determinantemente o mundo sem uma plataforma cultural vivida; equivoca-se não se tornando consciente das razões da sua decadência. Nos inícios havia a guerra entre tribos, depois entre nações e agora dá-se entre civilizações. O ocidente encontra-se num momento da História semelhante ao dos judeus no tempo em que os romanos lhe destruíram o templo. Deles poderia o Ocidente e em especial a Europa aprender muito. O povo judeu integrou nele  a interculturalidade sem perder nem renegar a sua identidade. Por isso continua a ser no mundo uma referência positiva e ao mesmo tempo, com o cristianismo, um grande impulsionador da história humana. Nos países onde os judeus se encontram, a civilização avança sem que se imponham. Estes poderiam constituir para as elites europeias um exemplo de abertura e de autodefinição na medida em que ad intra se aceitam como judeus crentes e judeus seculares e ad extra se afirmam no respeito pelas leis que vigoram nos países onde se integram sem quaisquer devaneios ideológicos de grupo.

 

A culpa repartida traz mais juros para as partes

Quem é o culpado do atentado? O assassino, o EI, o Islão? Esta é uma questão complicada e difícil de responder na nossa sociedade, habituada a culpar o cristianismo pelas maldades acontecidas em épocas passadas. O ressentimento é alimentado e cultivado por grupos de interesses que se aproveitam do sistema e procuram justificar-se buscando a culpa nos outros.

Por vezes tem-se a impressão que a culpa repartida traz mais juros para todos os grupos de interesses organizados no Estado, de forma autónoma, mesmo contra os interesses da nação e do povo. Por vezes tenho a impressão de encontrar um certo paralelo na atitude de tanatofilia dos suicidas bomba muçulmanos na defesa do islão e uma atitude de tanatofilia de muita gente da esquerda radical que consciente ou inconscientemente disputa pela morte da própria cultura.

 Independentemente da realidade manifestada nos factos, cada partido reage aos atentados segundo a sua ideologia e programa, o que é natural em democracia. O que se torna estranho é o facto dos adversários de dentro se aproveitarem do inimigo de fora como aliado de luta para defesa da própria ideologia e ataque da do concorrente político; o factual passa à margem e o todo também. Agora, na rua, formam-se manifestações paralelas da direita e da esquerda, umas contra as outras; o que não se vê são manifestações de muçulmanos contra a barbaridade cometida. Procura-se tirar capital político das acções abomináveis em que cada parte aponta no sentido do polo contrário. Alguns falam de “mortos de Merkel” e da culpa da política de refugiados do governo alemão, outros vêm no acontecido um mal menor numa sociedade aberta, outros sentem satisfação e interesse em que se caia no caos, porque este lhes ofereceria mais oportunidades, que uma sociedade ordenada e próspera não ofereceria.

A discórdia e a luta de uns partidos contra os outros é aquilo que mais alegra e dá força aos islamistas. A sociedade se não quer ver a sua liberdade roubada terá de a defender, mas a sociedade de interesses encontra-se polarmente dividida predominantemente empenhada em fazer valer os interesses de uma parte contra os da outra perdendo-se na concorrência partidária sem se empenhar por encontrar um consenso do que constitui as colunas da própria identidade cultural que possibilita a uns e outros uma existência baseada na sustentabilidade.

Aos problemas da dinâmica democrática junta-se os parâmetros de uma outra sociedade concebida em termos fascistas que se exprimem, cada vez mais, numa sociedade com mais de 5 milhões de muçulmanos (quatro milhões de turcos cujas associações que de facto se sentem mais ligadas a Erdogan do que à constituição alemã). Os interesses de uns e de outros encontram-se à mistura e repartidos por diferentes facções políticas e económicas, todas elas interessadas no negócio com eles. 

O islão-político conhece bem as fraquezas do Ocidente que, sem uma identidade comum será fácil de dividir ainda mais e de dominar tal como aconteceu a Roma perante os vizinhos bárbaros.

Enquanto o terrorismo internacional servir os interesses de algum grupo dentro de um país, ele não poderá ser combatido consequentemente sem haver “guerra-civil” ideológica. Haverá sempre a compreensão e os aliados que sacrificam a vítima em favor da agressão, tal como acontece hoje na Síria.

De facto não se trata já de deixar o terrorismo entrar na sociedade, ele já se encontra nela, camuflado de diferentes formas; o que se combate fora encontra-se dentro e vice-versa. Torna-se grutesco que vítimas da injustiça se tornem injustas tornando suas vítimas os humanos que os acolhem. A guerra gera guerra.

A paz não pode ter um só sentido em vias paralelas, pois nunca nos encontraríamos, doutro modo ganhará o que tiver a estratégia de autoafirmação exclusiva e mais agressiva.

O atentado de Berlim não é um ataque à Alemanha mas aos fundamentos da sua identidade na sua vertente religiosa do Natal e na vertente política da revolução francesa.

Apesar das provocações na própria casa, os cristãos têm de defender a abertura que lhe é própria na convivência com o próximo; para o cristão a dignidade é inerente ao homem e não a uma confissão. No caso, como se trata de interesses políticos não seria oportuno, depois de se ter apanhado na face direita, oferecer a esquerda, mas de fugir ao círculo vicioso de pagar o mal com o mal. O ódio é o pior companheiro porque, além de vingativo e cegar, traz consigo danos emocionais, físicos e espirituais. O mal não vem de fora; ele só se afirma porque se encontra dentro de nós e na sociedade que deformamos.

António da Cunha Duarte Justo

Pegadas do Tempo

NO NEVOEIRO OS “SATÉLITES” BRILHAM MAIS

 Por António Justo

NO NEVOEIRO OS SATÉLITES BRILHAM MAIS

 

Meu Portugal, sem rei nem roque

De alma à chuva e corpo ao vento

Num abrigo descansa a mente 

Sempre à espera do sol-nascente 

 

Alheio anda, sempre adiado

Cão rafeiro bem-educado 

Passa a vida enfileirado

Já nem nota o cadeado.

 

Minha gente no nevoeiro

Já nem sabe pra onde vai

No escuro tudo é brilho

E os satélites brilham mais

António da Cunha Duarte Justo

Pegadas do Espírito no Tempo