ENCONTROS DE JESUS COM PILATOS E COM AS MULHERES

Significado ainda não reconhecido da Presença das Mulheres junto à Cruz

Neste processo pode-se verificar não só a tragédia do encontro do divino com o humano, tragédia esta que se expressa na relação entre a instituição e o humano, mas também a relação desequilibrada entre o princípio da feminilidade e o princípio da masculinidade no nosso modelo social! Pilatos e as instituições alheiam-se da caminhada humana de Jesus, das mulheres e do povo para em grande parte fazerem uma caminhada paralela, fora da comunidade.  

Segundo relata o evangelista João, Jesus foi envolvido no jogo do pingue pongue do poder religioso e do poder político (1). Pilatos, representante do poder político, queria que o sinédrio o julgasse porque a causa de Jesus era um assunto religioso/espiritual e este não tinha nada a ver com o poder de Roma nem com razões de Estado. Porque Pilatos não encontrou culpa nenhuma em Jesus mandou colocar no madeiro a tabuleta “JC rei dos Judeus”.  Pilatos no julgamento revelou-se primeiramente como pessoa séria ao deixar-se, na sua função de representante do estado, envolver pessoal e directamente com e por Jesus (2), mas logo assumiu o seu papel de governador desviando o apelo pessoal que Jesus lhe tinha dirigido para a pergunta abstrata “O que é a verdade?

Na tentativa de criar espaço para a sua consternação Pilatos pensou em fazer uso do seu direito de nos dias festivos recorrer a um acto de misericórdia libertando-o. O povo preferiu um outro, Barrabás que era um chefe de uma quadrilha de ladrões. Pilatos, não convencido mandou acoitar Jesus para o mostrar ao povo na esperança de que este ao vê-lo tivesse compaixão dele. Os soldados fizeram dele um rei ridículo e acoitaram-no. Jesus não se defendeu. Pilatos apresenta-o ao povo dizendo Ecce homo (Eis o Homem). Mas os sumos sacerdotes e seus servos gritaram, “crucifica, crucifica-o”. Pilatos queria ver-se livre de Jesus e disse então, levai-o e crucificai-o; eu não encontro nele culpa alguma. Então, as autoridades do templo que sabem como as leis se fazem e como os funcionários da lei representam interesses e não a verdade nem o povo advertiram-no que se o não o condenasse, Pilatos (governador do imperador romano na Província da Síria) não seria fiel ao Imperador a quem deveria obedecer porque Jesus se tinha proclamado filho de Deus. Poem-lhe o problema da lealdade.

Jesus compreende a situação desesperada em que se encontrava Pilatos e que em termos do mundo não teria outra alternativa senão ceder aos que o atraiçoavam também entre os seus: um dos seus discípulos.

Apesar de estar ciente da monstruosidade que se estava a cometer Pôncio Pilatos pergunta novamente: “Devo crucificar o vosso rei?” e paradoxalmente os sumos sacerdotes, afirmam aquela monstruosidade dizendo: „Não temos rei, para além do imperador!”

Deste modo o Sinédrio através do seu testemunho está disposto a renunciar ao seu específico de “povo de Deus” (porque abdica da sua autoridade religiosa que tinha de decidir – excepto a pena de morte – em questões do foro religioso e ao renunciar a ele submete-o ao foro político imperial) para se submeter totalmente ao imperador e deste modo Jesus passa a ser condenado à morte porque abandonado por todos (povo, discípulos e instituições).  No julgamento de Jesus, os seus seguidores que sabiam que o seu reino não era deste mundo, não abriram a boca ou tinham até já fugido. (Todo o reino deste mundo é obra do homem enquanto o Seu reino é um reino interior e espiritual. O reino de Jesus dirige-se à pessoa integral independentemente das suas funções.) O problema não está nos inimigos, mas nos que o abandonam.  Pilatos cumpriu o dever como funcionário do Estado, mas honra-o o facto de tentar ouvir pessoalmente Jesus que era apresentado como reu, como se vê no evangelho de S. João.

Jesus com a sua atitude chama a atenção para a nossa consciência e nosso comportamento. Jesus continua a sofrer com o povo das nossas fraquezas no jogo entre os interesses exteriores e os valores da consciência que trazemos no nosso interior. Pilatos que não queria saber da fé do povo teve a hombridade de se tentar aproximar de Jesus como pessoa e não apenas como funcionário; naturalmente Pilatos estava a usar Jesus como instrumento para os seus próprios fins não se deixando interpelar pessoalmente por Jesus e por isso finalmente condenou-O à morte. Pilatos que menosprezava os judeus como um povo de servos, ao seguir os interesses do Sinédrio e não a própria consciência tornou-se conivente dos interesses da instituição Sinédrio. Jesus tinha apelado para a soberania da consciência individual de Pilatos e não para o seu papel de funcionário porque o poder que ele possui não é inerente a si mesmo, mas vem da soberania estatal de que era servo na qualidade de governador! Esta questão apresenta uma dicotomia que nos acompanhará até ao fim da História!

Esta é uma imagem do que acontece com muitos funcionários e pessoas em funções políticas e institucionais (3): não se deixam abordar de maneira humana nos problemas das pessoas e atraiçoam-nas subjugando-as a regulamentos não aferidos à situação da pessoa e por isso concretamente injustos; como Pilatos deixam de ser pessoas para assumirem o papel de oficiais de serviço.

A Presença das Mulheres junto à Cruz

As mulheres (Maria mãe de Jesus, Maria mulher de Clopas e Maria Madalena) que acompanharam Jesus até à cruz foram as primeiras a testemunhar a sua ressurreição e a assumirem um papel decisivo na história da salvação e na proclamação do Evangelho. Como primeiras discípulas de Jesus apoiaram a sua missão durante toda a sua vida pública. Enquanto os discípulos homens fugiram ao verem a violência e a humilhação, as mulheres mostraram coragem e fidelidade. A matriz sociológica masculina em que continuamos a viver não aprecia suficientemente o papel das mulheres na sociedade nem dignifica razoavelmente a importância do papel das mulheres na história da salvação, se atendermos à questão da valorização meramente funcional e à discriminação e subjugação dos valores da feminidade no nosso modelo social. A feminilidade reflectida no amor e na preocupação das mulheres pelos outros torna-se especialmente presente na sua compaixão que chora e lamenta a morte de Jesus simbolizando assim a presença da dor e da tristeza da humanidade na sua via sacra. Sem medo da violência e da humilhação, as mulheres evidenciam a devoção, a fidelidade, a coragem, a solidariedade, a compaixão e o testemunho! Atendendo ao facto que nos encontramos num modelo de sociedade que acentua cada vez mais as qualidades másculas (e não uma osmose qualitativa dos princípios da feminilidade e da masculinidade) não resta às mulheres senão a estratégia de assumirem qualidades de caracter mais masculino para se poderem afirmar em tal modelo!). Neste processo acontece com a feminilidade (mulheres) o que aconteceu com Jesus que foi condenado pelo facto de Pilatos e as instituições não assumirem responsabilidade pessoal para a alhearem em papéis exteriores mais próprios de interesses institucionais do que humanos (a feminilidade, a religião dá lugar à masculinidade, à política).

Maria Madalena foi a primeira a ir ao sepulcro de Jesus e chorava ao ver a pedra tirada do sepulcro. “Jesus disse-lhe: Mulher, por que choras? Quem buscas? Ela, cuidando que era o hortelão, disse-lhe: Senhor, se tu o levaste, dize-me onde o puseste, e eu o levarei. Disse-lhe Jesus: Maria! Ela, voltando-se, disse-lhe: Raboni, que quer dizer: Mestre. Disse-lhe Jesus: Não me detenhas, porque ainda não subi para meu Pai, mas vai para meus irmãos, e dize-lhes que eu subo para meu Pai e vosso Pai, meu Deus e vosso Deus.” Maria Madalena foi e anunciou aos discípulos que vira o Senhor e transmitiu-lhes a sua mensagem. Madalena tornou-se assim a apóstola de Jesus em relação aos apóstolos!

Francisco (12.05.2016) tinha aberto a discussão à possibilidade de admissão de mulheres ao diaconato (https://antonio-justo.eu/?p=3574 ). Das mulheres na sociedade e na igreja e dos usos e costumes que as oprimem: https://www.gentedeopiniao.com.br/opiniao/artigo/das-mulheres-na-sociedade-e-na-igreja-e-dos-usos-e-costumes-que-as-oprimem

Em nota (4) ver outros encontros a acrescentar à tradição popular da Via Sacra.

Permanece a chamada de atenção de Jesus: “Todos os que amam a verdade escutam a minha voz.” Esta voz não precisa necessariamente de ser entendida em termos de confissão religiosa. Jesus Cristo pode também ser entendido como protótipo privilegiado de todo o humano e de toda a humanidade!

António CD Justo

Teólogo e Pedagogo

Pegadas do Tempo

 

(1) Jesus passou por dois julgamentos: um religioso (o Sinédrio) pelo facto de se ter declarado o messias  e outro político (Pilatos que possuía o poder de deliberar sobre a vida e a morte) e Jesus tinha sido acusado de se negar a recolher os tributos e de incitar o povo à rebelião; por isso o responsável pela sentença foi Pôncio Pilatos. Jesus era acusado de se ter declarado ser o messias! Jesus Cristo foi então levado ao Sinédrio, chefiado por Caifás, que era uma assembleia de 75 pessoas, que, além de funções administrativas, tinha o poder de julgar, mas não de condenar à morte.

 

(2) Por outras palavras: Pilatos tem de fazer uma escolha entre a sua individualidade de pessoa e o seu papel de governador. Para não se comprometer tenta passar a decisão sobre Jesus ao sinédrio (representantes da religião). Ao ver que o sinédrio o chamou ao seu dever de lealdade com o imperador, a pessoa Pilatos acobardou-se, não assumindo responsabilidade pessoal nem de governador, ao atirar a bola da decisão para a anonimidade do povo que deverá decidir entre a liberdade de Jesus ou a de Barrabás.  Deste modo, salva o seu rosto como pessoa e como governador e por outro lado não se incompatibiliza com os senhores do Templo. Também o Sinédrio que tinha instigado o povo contra Jesus se sente de rosto limpo porque também se sai bem ao deixar a monstruosidade na responsabilidade do povo. Este é um modo de agir que se encontra também no nosso modelo democrático: governantes cometem os erros e desculpam-se com o povo.

(3) O julgamento de Jesus é um exemplo do que aconteceu e do que acontece hoje: a inocência do indefeso é sacrificada aos interesses dos poderes que para não assumirem responsabilidade entram num jogo de pingue-pongue do lançamento da bola da responsabilidade entre eles na certeza que com o jogo quem sai castigado é a pessoa inocente mas não condenada por eles mas pela anonimidade que eles mesmos manipulam. Ao não assumirem responsabilidade e ao entrarem numa tática de protelar a decisão todos colaboram para uma falsa sentença. Torna-se uma decisão falsa e catastrófica por ninguém querer assumir o próprio âmbito de responsabilidade pessoal; a maioria esconde-se no âmbito funcional a nível de interesses mascarados em funções e os súbditos desculpam-se a pretexto da obediência.

Jesus não se identificada com as instituições religiosas nem com as políticas (porque correspondiam apenas a funções sociológicas e não serviam como deveriam o humano). Não se confrontou com a instituição que sabe ser apenas um constructo em benefício do humano, mas que não pode ser identificado com ele porque assume o caracter de sociedade e não de comunidade. Há uma ciência humano-intelectual e uma ciência divina

(4) A acrescentar à Via Sacra (https://antonio-justo.eu/?p=8394 ):

Encontramo-nos aqui com Jesus, que desafia Pedro, Tiago e João a deixar o povoado, a abandonar o barulho da polis para subirmos com ele ao monte Tabor e depois estarmos preparados para abranger os passos da paixão a caminho da ressurreição. No encontro dá-se a revelação que nos pode tornar seus testemunhos. Assim, neste cenário os encontros de Jesus dirigem-se ao íntimo mais profundo de cada um! Jesus penetra sempre com a sua palavra nas nossas reservas mais secretas.

JUDAS: Na história da Paixão de Cristo, Judas Iscariotes, discípulo de Jesus, ao notar que a mensagem de Jesus não tinha aplicação política imediata, atraiçoou-o, entregando-o aos líderes religiosos em troca de trinta moedas de prata. O papel simbólico de Judas estatui um exemplo da natureza humana falha e da importância do perdão divino. Em Judas dá-se a luta entre o bem e o mal de modo a o próprio mal contribuir para que Jesus cumpra a sua missão de salvar a humanidade do pecado e da morte.

Judas Iscariotes, confundiu a verdade de Jesus com a solução política esperada na ordem terrena e ao tornar-se fanático ignora a mensagem da vida real que pressupõe aguentar a tensão do “Dai a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus!”

Herodes: Por causa da jurisdição pouco clara, Pilatos, governador romano da Judeia, envia Jesus à autoridade judaica da Galileia e a Pereia (Luc 23:7) na pessoa do tetrarca Herodes Antipas (“rei” familiar de Herodes o Grande que tinha ordenado o massacre infantil em Belém: Mat 2,1 e 16), na altura presente em Jerusalém, para que examinasse o caso. (O déspota Herodes Antipas já antes tinha mandado decapitar João Baptista: Mateus 14; Marcos 6; ele reinou de 4 a.C. até 39).

Herodes, que havia ouvido falar de Jesus e estava curioso em conhecê-lo pediu a Jesus que fizesse algum milagre para sua diversão.  O encontro de Jesus com Herodes (Luc 23:8-12) não correu como Herodes esperava porque Jesus permaneceu em silêncio e nem uma palavra perdeu perante ele; então Herodes, embora não reconhecendo nele nenhum crime, vingou-se ridicularizando Jesus, mandando-O vestir com um manto real. Embora em silêncio, Jesus não esconde a sua face daqueles que o invocam e não oferece resistência perante os que o provocam, ele deixa tudo acontecer numa atitude de amor que aceita e deste modo transforma e liberta. Herodes mandou devolver Jesus a Pilatos.

No encontro de Jesus com Herodes, Jesus não se curvou perante o poder terreno. Nessa atitude é simbolizado o contraste entre o poder humano e o poder de Deus. Jesus testemunha a importância da humildade e da submissão à vontade divina ao não demonstrar os seus poderes perante Herodes. No encontro dos dois torna-se patente a divisão entre o mal (reino das trevas) e o bem (reino da luz)!  Herodes era conhecido por suas práticas cruéis e corruptas e Jesus pela sua bondade e justiça.  A tradição dos Herodes dá expressão ao mal na História enquanto Jesus expressa e simboliza a continuidade do plano salvador divino através da história de Israel/humanidade. O encontro com Herodes foi um episódio significativo na história de Jesus, mas a sua importância é mais simbólica do que prática.

O acto do “lava mãos” de Pilatos simboliza a prática de representantes políticos que não assumem responsabilidade pela exclusão social nem pela opressão.

Pelo que se observa dos poderes estabelecidos é que na generalidade pretendem “manter o poder” e não “manter a paz”. Atualmente, o madeiro onde se crucifica a humanidade e com ela Jesus encontra-se no cruzamento de um capitalismo sem alma e de um socialismo materialista, adoptados por um poder divorciado da espiritualidade. Grande parte do sofrimento do povo resulta da luta dos poderosos pelo poder. Não vedes a turba olhante de olhos regalados, mas que não nota o que se passa?

No dia-a-dia a maioria das pessoas não entende Jesus porque Jesus, que é a vida, é encontro e, longe da ressonância divina, a existência torna-se ilusão porque apenas dependente do mundo exterior; a porta de entrada para Jesus é o coração (a fé que é graça divina).

Marta e Maria também choraram a morte de Lázaro

Jesus abriu-lhes os olhos do coração para o horizonte da vida: “Eu sou a ressurreição e a vida. Quem acredita em Mim …viverá…nunca morrerá”.

A fé move as pedras que se encontram sobre os túmulos da nossa vida. Na experiência do encontro na fé, o espírito de Jesus ressuscitado passa a habitar em nós, tal como tinha experimentado Paulo. “Veremos a Deus face a face”. No encontro com Jesus nada mais nos sustem nem domina; o barulho das nossas ideias e pensamentos passa a dar espaço à experiência libertadora do inefável e consequentemente um grande distanciamento de tudo aquilo que nos poderia escravizar no dia-a-dia incluindo até certas restrições morais.

Para idealistas, a morte representa uma transição para a vida após a morte, seja pela transmigração das almas (como em Pitágoras e Platão) seja pela ressurreição do corpo e da alma (no caso de pensadores judeus, cristãos e muçulmanos). Para pessimistas tudo vem da matéria, tudo se resolve e acaba na cova da morte.

Nicodemos é aquele tipo de professor seguidor da lei sem abertura para o espírito nem para os alunos, só tem em vista o cumprimento das diretrizes da estrutura ministerial e os Planos de estrutura (planejamento das aulas mais detalhado).

O nome Barrabás em hebraico significa ‘filho do pai, filho do professor’ e Pôncio Pilatos liberta-o no lugar de Jesus a pedido do sumo sacerdote; Barrabás era um notório prisioneiro que, além do mais, cometera assassinato durante um motim (Marcos 15:7-15). Barrabás encontra depois a fé ao lado de Jesus e mais tarde é crucificado em Roma durante a perseguição dos cristãos pelo imperador Nero.

 

Ao lado do caminho da cruz, sem saber uns dos outros alguns seguem-nO na senda da escuridão. Jesus caminhava carregando com todos eles notando até os solitários que passeavam o cachorro na sombra de uma liberdade não encontrada e também as mulheres à janela de olhar fixo no longe à procura de maior horizonte.

No ar sentia-se um ciciar que fazia lembrar o sotaque da humanidade com ele a caminho e dele surgia uma aragem húmida da noite que falava da saudade de Deus. A voz de Deus é o silêncio e a linguagem dele silenciosa.

Depois da morte de Jesus na sexta-feira espalha-se um silêncio paralisante, Deus ausenta-se e a humanidade e a natureza internalizam o sofrimento do seu primogénito.   

A Sexta-feira Santa e a Páscoa deixam a mensagem que Jesus superou a nossa distância de Deus indo voluntariamente para onde estamos: a morte longe do criador da vida. Jesus venceu a morte e vive em uma nova realidade.

Não olhes só para mim olha para dentro de ti e lá me poderás encontrar a Mim e a ti e então agir comprometida e responsavelmente.

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Publicado por

António da Cunha Duarte Justo

Actividades jornalísticas em foque: análise social, ética, política e religiosa

3 comentários em “ENCONTROS DE JESUS COM PILATOS E COM AS MULHERES”

  1. É interessante que “reabilite” a imagem de Maria Madalena injustamente caluniada pela igreja em 591 como prostituta. Não vai ao cerne da questão patriarcal como organização de poder comum a todas as religiões monoteístas ( a religião anglicana foge um pouco mas não deixa de ser patriarcal) mas aborda a incorrecção inerente a ver simplesmente a versão masculina em detrimento da versão conjunta masculina mais feminina o que me parece um avanço. As religiões com a católica incluída não estão só inquinadas por terem o primado da fé sobre a razão. Talvez muito mais importante que isso é a inquinação provocada por muitos séculos de poder absoluto. Talvez até seja possível um humanismo cristão. Mas, mais uma vez, o seu remate volta a ser o mais importante «Jesus Cristo pode também ser entendido como protótipo privilegiado de todo o humano e de toda a humanidade!»

  2. João Paz , sim, se observamos a matriz da nossa cultura dá logo nas vistas o facto de ser uma matriz de caracter masculino. Por isso a nível antropológico e sociológico se dá um condicionamento que se expressa na afirmação da masculinidde sobre a feminilidade; essa ênfase exagerada do princípio da masculinidade conduziu ao patriarcalismo que se afirma através do valor do racionalismo sobre o da experiência. Bem, este é um assuntoque sempre me preocupou e que tenho tratado nalguns artigos e vários textos que tenho reservados para livro (um artigo: https://antonio-justo.eu/?p=8367 ). Na teologia tem havido uma acentuação da doutrina sobre a mística cristã, o que significa a afrmaço do princípio da masculinidade sobre a feminilidade (relegada em grande parte para os conventos e para a fé o que é diferente da crença). Muito agradecido pela sua contribuição.

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