MINISTÉRIO DA PAZ COM IGUAL ORÇAMENTO AO DO MINISTÉRIO DA DEFESA

Desarmamento em vez de Redução da Assistência social

O velho apelo de se “fazer a paz sem armas” foi substituído por “fazer a paz com armas”: uma contradição que apoia os que não querem a paz, mas a guerra para poderem expandir o seu poder. Os dominadores dos povos passam assim a distribuir o negócio sangrento entre eles.  Para terem sucesso servem-se da propaganda pela entrega de armas e pela militarização de nossa sociedade. O armamento mata mesmo sem guerra e cria pobreza porque o dinheiro que vai para o armamento falta noutro lugar do orçamento.

Hoje seria perigoso politicamente fazer a proposta de “em vez de armas plantar-se árvores” resolvendo-se dessa maneira o problema ecológico e da guerra! A injustiça deve ser combatida, sendo para isso preciso ver-se as suas raízes e as suas causas. As armas são o problema de ambos os lados.  Não há solução, mas os lobistas das armas também não têm solução, apenas lucro!

Nota-se a falta de resistência não violenta contra a injustiça e contra a ânsia imperial pelo poder.

Temos sido levados por um caminho egoísta e precipitado no sentido de uma militarização perigosa (Também militarização da emocionalidade social). Raiz do mal: 2% do produto interno bruto ao ano para fins militares e 100 bilhões de bens especiais para os militares (note-se o eufemismo germânico propagandístico da designação usada “bens especiais” para iludir o cérebro humano; imagine-se que se empregava a palavra exacta que seria “despesa”!).

Qual será a razão por que os cidadãos e os contribuintes não têm direito a um Ministério da Paz paralelo ao Ministério da Defesa (com orçamento estatal igual ao militar)? Assim teríamos um estado mais justo e democrático que contemplava um orçamento em defesa do povo e outro em defesa dos interesses institucionais que se encontram nas mãos de elites. Precisamos de iniciativas comprometidas com a paz com projetos concretos. À pergunta: “Putin pode ser parado sem armas?” poderia seguir-se a contra pergunta: “Putin pode ser parado com armas”? Não se nota interesse em iniciativas tendentes em sair da espiral da violência. Quanto sangue do povo deve fluir, até que se procure uma solução através de conversações?

A rotina impede-nos de criar iniciativas dignas e propícias a uma nova era mais desenvolvida e virada para a paz e centrada no bem-comum, no bem da pessoa e do povo e não na sustentabilidade da sua exploração pelos mais fortes, com a desculpa que só a concorrência poderá produzir progresso; uma nova era preocupada com o desenvolvimento integral humano pressuporia um novo ideário e uma nova estratégia: o esforço que os Estados empregam para apoiar os serviços mais fortes teria de ser invertido no sentido da colaboração e não na mera concorrência. As leis da evolução (afirmação do mais forte e a união dos mais fracos para garantir a evolução) continuariam a ter validade embora com a acentuação dos serviços da coesão e da solidariedade dos mais fracos como doutrina de Estado. O ideal da democracia deveria consistir em transferir para o povo a força e o poder dos privilegiados dos sistemas até hoje vigentes.

O vigor dos fortes, dos poucos, beneficia (e abusa) da contribuição dos muitos. Um ministério de paz poderia seguir nas pegadas das tarefas idealistas da religião.

A democracia deve buscar alternativas para se defender não apenas com armas como tem sido próprio da filosofia do mais forte prevalecente ao longo da História.

Em 2015, mais de um milhão de refugiados de guerra da Síria, Iraque, Somália e Eritreia chegaram à Alemanha. Entre o final de fevereiro de 2022 e 28 de março de 2023, 1.058.218 refugiados da Ucrânia foram registrados no Registro Central de Estrangeiros alemão. A Alemanha mostra-se pródiga, mas pratica discriminação no trato baseado na origem dos refugiados. Atendendo à diferenciação na dedicação e trato, os africanos não são tão importantes emocionalmente para os europeus como os refugiados de guerra da Ucrânia. A guerra civil na Ucrânia antes de 24 de fevereiro de 2022 já havia tirado a vida a 17.000 pessoas. Pelos vistos também a emoção e empenho das pessoas dependem não da gravidade factual, mas da maneira como é apresentada nos meios de comunicação social. Em África têm sido mortos milhões de pessoas devido a intrigas dependentes de interesses americanos, europeus, muçulmanos e russos e apesar disso, a sensibilidade moral pública mantem-se indiferente relativamente às barbaridades políticas e económicas praticadas em países africanos.

Armas não são a resposta do povo, armas são sim a resposta dos poderosos; estes não morrem na guerra e vivem bem da guerra! Hoje a guerra ainda é mais injusta que nos tempos antigos porque nestes também morriam poderosos!

Quando passará a guerra a ser um assunto do passado? Certamente quando o homem for mais Homem e quando os governantes deixarem de viver do seu negócio com o povo e de serem premiados pela violência que usam.

Lamentamos o facto de Jesus ter sido morto por causa de sua ideia de amor a Deus, ao próximo e ao inimigo (O amor aos inimigos seria uma forma de reconhecer a nossa cumplicidade na hostilidade!) mas paradoxalmente continuamos a apoiar os Pilatos, os Herodes e os Judas Iscariotes da história actual.

A majestade dos poderosos mancha a terra e humilha os simples!

António CD Justo

Pegadas do Tempo

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Publicado por

António da Cunha Duarte Justo

Actividades jornalísticas em foque: análise social, ética, política e religiosa

8 comentários em “MINISTÉRIO DA PAZ COM IGUAL ORÇAMENTO AO DO MINISTÉRIO DA DEFESA”

  1. Bom texto. Só uma dúvida: o amor aos inimigos, acto ou sentimento sublime, quase impossível de nele crer porque difícil, será cumplicidade com os agressores ou antes agravar-lhes a culpa,

  2. Luciano Caetano da Rosa, boa observação! Creio que se observarmos os fenómenos numa perspectiva meramente causal será difícil abrangê-los porque apenas vemos um momento do processo causal e somos levados a julgar a partir dele. Por isso corremos o perigo de identificar a realidade (Realität) de caracter mais objectivo com a realidade percepcionada (Wirklichkeit)! O amor ao inimigo tem a ver com uma visão espiritual profunda e integral da pessoa e da humanidade.
    Se cada povo se ocupasse com as próprias sombras as guerras seriam evitadas porque cada cidadão se ocuparia com as próprias sombras e integrá-las-ia na própria vida e desse modo elas não se tornariam perigosas porque deixariam de ser projectadas fora (para os outros). Ao domesticarmos os próprios instintos destruidores (as nossas sombras) estamos a contribuir para o próprio desenvolvimento e para a harmonia na sociedade. Isto torna-se difícil porque além das sombras (do mal) em cada um de nós ainda temos a pressão das sombras do colectivo em que vivemos a carregar sobre cada um.
    Os cristãos dedicam-se especialmente durante a semana santa à meditação sobre a cruz como símbolo do cristianismo porque precisamente na cruz se encontra a encruzilhada do bem e do mal e que expressa a parte escura e a parte luminosa de toda a humanidade.
    Apesar das trevas que nos envolvem e das que cada um traz consigo, a experiência da Cruz é salutar porque nela se encontram a crueldade e a morte que nos amarra à horizontalidade e ao mesmo tempo a viga vertical da esperança da luz e do bem a apontar para a ressurreição.

  3. Luciano Caetano da Rosa, quanto à culpa, no sentido cristão foi saldada gratuitamente por Jesus Cristo para deste modo não sermos enredados apenas por um mundo visto apenas sob a perspectiva causal; a perspectiva do amor é a grande mensagem que Jesus Cristo apresentou como a vivência a criar-se no mundo. A cruz como encontro do bem e do mal, como resolução dos polos implica a aceitação e integração da vida (luz e sombra) num processo que nos transcende.

  4. Há ainda muito trabalho a fazer por todos e cada um no âmbito da espiritualidade e da sublimação.

  5. «mas paradoxalmente continuamos a apoiar os Pilatos, os Herodes e os Judas Iscariotes da história actual.
    A majestade dos poderosos mancha a terra e humilha os simples!» Neste excelente remate fica exposta, a meu ver, a força das ideias.

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