ADVENTO É O TEMPO DA ESPERANÇA

Advento é o tempo de espera. Este ano com a característica de continuar a praticar a paciência e a reflectir sobre a esperança que nos conduz e nos faz confiar.

Faz-nos lembrar o tempo de César Augusto que determinou que todos se pusessem a caminho de Belém, como fez José e Maria,  para se recensearem.

Este ano torna-se mais difícil a realização de encontros pessoais devido às regras do Covid 19 mas a maior parte de nós pode viver com saúde e alegria de sentirmos algo juntos. O Corona junta-nos nas preocupações e fraquezas e o Advento junta-nos para lá das preocupações e cuidados  na esperança que a luz domine sobre as trevas.

Adventus significa chegada. Para os cristãos, é o tempo de preparação para a chegada de Jesus, que é celebrada no Natal. Na liturgia são lidos, frequentemente, textos do Antigo Testamento que anunciam a vinda do Salvador.

Durante este tempo são especialmente abordados os temas da penitência, perdão e reflexão.

A cor violeta litúrgica (símbolo de penitência e conversão), que  é utilizada durante a Quaresma, também é a cor dos paramentos usados na liturgia do tempo de Advento.

O Advento começa no quarto domingo antes de 25 de dezembro. A generalidade das famílias na Alemanha tem como tradição colocar na mesa, no primeiro domingo de advento, a Coroa de Advento: uma grinalda com ramos de abeto, enfeites e quatro velas para lembrar  Jesus, como a luz do mundo, que trará luz na escuridão.

As 4 velas são para se irem acendendo nos domingos de advento. O verde é interpretado como sinal de esperança e de vida…

Se bem vemos, o futuro já cá está, no retorno da experiência. Esta encontra-se na linha que leva a uma meta. Nesse sentido Jesus está sempre a chegar! Na expectativa se gera o mistério e nele acontece o milagre.

Alguns textos sobre o assunto em (1)

Um bom advento para todos

António da Cunha Duarte Justo

Pegadas do Tempo

A imagem pode conter: mesa e interiores, texto que diz "ம 2020/11/29 19:20"

Espiritualidade Feminina

Espiritualidade Feminina
2006-12-31

A espiritualidade tem um rosto humano com diferentes concretizações e expressões dependendo estas do sexo, da idade e do carácter de cada um. Na época em que vivemos já não há uma experiência religiosa familiar comum o que torna mais difícil a frequência duma liturgia dominical comum. Duma maneira geral também não há a oferta de celebrações específicas para mulheres. As comunidades que, além das celebrações dominicais para a generalidade não oferecem liturgias da palavra específicas às várias espiritualidades da região nde estão implantadas perdem a oportunidade de dar resposta às novas necessidades das pessoas e de possibilitar futuro à comunidade. As destinatárias femininas não têm sido consideradas. Não se trata aqui de reactivarmos a discussão feminista dos anos 80 e 90 marcada ela mesma por estratégias e critérios machistas. Aqui trata-se de dar resposta ao Homem todo na sua masculinidade e feminidade, criando lugares específicos onde a masculinidade e a feminidade possam ter formas de expressão mais adequadas à mulher.
A liturgia católica é mais feminina que a evangélica. Esta porém é mais versátil na resposta às necessidades de milieu. Cada vez será mais difícil criar liturgias para a generalidade atendendo a que cada vez aparecem mais biótopos na sociedade, estes correspondem a formas de vida alternativas, mentalidades e espiritualidades que a igreja como católica deverá dar resposta abrindo os seus espaços nesse sentido. A falta de liturgias específicas conduz pouco a pouco ao afastamento físico ou psíquico do meio. As famílias com crianças até aos doze anos procuram e fomentam certas actividades de grande densidade criativa. D Tornamo-nos resistentes à voz interior a luz da chama em nós. Depois surgem outras necessidades, não tanto funcionais, já mais relativas à necessidade própria de orientação e sentido. O mesmo se diga a grupos de artistas, etc. Aqui abrem-se grandes perspectivas para as potencialidades e necessidades latentes nas populações e para uma pastoral situada na realidade envolvente.

A mulher, mais próxima da vida, quer relacionar as experiências da própria vida com a fé. Não separa, como o homem, o mundo em vários sectores por vezes estanques. Ela quer levar a vida para a igreja e trazer a igreja para a vida. (O amor não se manifesta só na cama!…).

Não se trata de ir encher o depósito como se vai às bombas da gasolina mas duma vida integral. Esta não é centrada na cabeça mas no coração, na palavra, não virada para lá das nuvens mas bem assente na terra. A sua espiritualidade tem uma expressão corporal importante.

As paróquias não dão resposta as exigências hodiernas por transcendência e espiritualidade e teimam, também por escassez de pessoal activo, continuar no entorpecimento ordinário. A falta da vivência, uma linguagem de imagens quase demasiado masculinas Deus é também maternal e não só paternal. Para a uma mentalidade masculina encardida basta muitas vezes um argumento intelectual, longe da realidade, para justificar o seu agir. Para um Deus pai e mãe isto insuficiente!

Na Bíblia encontramos diferentes imagens de Deus além de pai e mãe: a mãe águia (Dt 32,11-12); a mãe urso (Os 13,8), a que dá à luz Is (42,14), a parturiente (Is 66,7) a padeira (Mt 13,33), fogo (Ex 13,21), vento (1 Cor 9,11), chuva (Sl 68,9), água (Ez 16,9). Sob cada imagem esconde-se uma experiência de Deus própria.
António Justo
Teólogo
“Pegadas do Tempo”

Publicado em Comunidades
http://web.archive.org/web/20080430103643/http://blog.comunidades.net/justo/index.php?op=arquivo&mmes=12&anon=2006

António da Cunha Duarte Justo

Mau trato de animais!

Mau trato de animais!
2006-11-29

O Supremo Tribunal alemão deu razão às queixas de muçulmanos considerando a matança ritual de animais legal, ao contrário do que instâncias inferiores tinham decidido. Esta prática (entre muçulmanos e judeus) prevê que os animais sejam mortos de maneira sangrenta sem qualquer anestesia ou atordoamento.

É legalizado um ritual que não tem compaixão pelos animais.

Conseguem ocupar mais um espaço social na Alemanha em nome da liberdade de religião: segundo a sua prescrição religiosa, a carne não pode conter sangue, para não ser impura. Se é verdade que essa prescrição religiosa se baseia no Corão também é verdade que o Corão não obriga ninguém a comer carne. Pode-se ser vegetariano. Porque vêm exigir esse direito a um país que tinha proibido essa prática quando podiam importar a carne da Turquia? O facto de se quererem afirmar mesmo em questões acidentais só ajuda a fomentar a xenofobia!

Desde há dois mil anos se sabe que não é impuro o que entra pela boca mas o que sai dela!…

Isto não deve significar um levantar o dedo contra os muçulmanos porque a barbaridade da matança de quantidades sem conta de animais se deve mais a nós Ocidentais que exageramos no consumo da carne. Além disso esses povos ainda não passaram pela época do renascimento.

Também ainda me recordo, de quando era pequeno, como os porcos eram mortos e como o sangue jorrava não falando já do esbugalhar do olhar animal e da luta do animal com a morte. Desde então aprendi a venerar a carne que como e a ser mais regrado no seu consumo… Os animais vertebrados sentem a dor como nós.

Nesse tempo não eram conhecidos ainda os novos métodos dos matadouros que poupam já muitos dos sofrimentos aos animais embora estes certamente pressintam a sua morte quando arrastados para os matadoiros.

O Supremo tribunal legaliza a desumanidade dando um passo em direcção à Idade Média e o que é pior ainda fundando a sua decisão em nome da liberdade religiosa. Os juízes enganam-se no fundamento que dão para a permissão. Ou será que querem abandalhar o religioso? Aqui não se trata do cumprimento duma obrigação religiosa mas duma prescrição para a comida. De facto não é exigida a matança do animal de maneira sangrenta. O Corão apenas proíbe o consumo de alimentos impuros (Suras 1, 168 e 5, 4) não obrigando ninguém a comer carne. Para mais a autoridade religiosa da universidade do Cairo considerou o emprego do electro-choque rápido conforme ao Corao, podendo assim, os que se orientam pela norma, renunciar à forma arcaica brutal da matança.

O mesmo se diga de touradas em que o sangue jorra e em que o animal é maltratado e morto de forma cobarde em campo.

Estas e outras tradições de barbaridade com um pouco de fantasia poderiam ser transformadas ou mesmo substituídas por práticas ou ritos mais “humanos”. Se queremos enobrecer o Homem teremos de começar por considerar e respeitar o animal tal como fazia no século XII Francisco de Assis com “o irmão burro”, a irmã vaca, “o irmão sol”…

António Justo

Publicado em Comunidades:

http://web.archive.org/web/20080430103634/http://blog.comunidades.net/justo/index.php?op=arquivo&mmes=11&anon=2006

António da Cunha Duarte Justo


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Matanças e touradas – – – 2006-12-03
Para o Budismo toda a vida é sagrada (princípio do ahimsa ), nem que o ente em questão não passe dum simples insecto. Nele há uma irmandade cósmica com tudo quanto é vida. Sejam pessoas, animais ou plantas.
Neste aspecto o Budismo poderia sevir de lição quer seja aos mulçumanos e Judeus, matando os seus animais sem qualquer anestesia ou atordoamento, quer seja para os Cristãos com as suas touradas sanguinárias: estas que ainda são mais brutais do que a morte de um animal sem anastesia, dado que neste último caso o golpe mortal é tão certeiro que os animais em questão mal sofrem.
A tourada é, quanto a mim, uma das coisas mais abomináveis do mundo Cristão, termine ela com a morte do touro em plena praça ou não. Aquilo é uma verdadeira barbaridade. E o pior de tudo é que milhares de Cristãos apoiam incondicionalmente aquele espectáculo.

Luís Costa
Mau trato de animais! – – – 2006-11-30
Pedro Duque
De acordo. Só resta uma questão: onde é que a coerência se baseia? Uma má prática não tem suficiência lógica para justificar a próxima.
Não será que somos todos demasiado compreensivos?

António da Cunha Duarte Justo
– – – 2006-11-30
Concordo a 100% na punição do maltrato de animais, mas quero lembrar que a Tourada é legal em Portugal.

Encaixa-se quase perfeitamente no “Esta prática (entre muçulmanos e judeus) prevê que os animais sejam mortos de maneira sangrenta sem qualquer anestesia ou atordoamento.”, com a eventual diferença que antes de serem mortos os animais são torturados numa arena perante uma multidão de espectadores…

Caso essa lei fosse aprovada em Portugal, não ia aplaudir, mas compreenderia, pois há que ser coerente!

Pedro Duque

FELIZ NATAL

FELIZ NATAL
2007-12-23

Feliz Natal
e
Próspero Ano Novo

Queridas e queridos visitantes!
Queridas amigas e queridos amigos!

Desejo-vos, de coração, um Natal cheio de graça e alegria e muita saúde, felicidade, sucesso e a bênção de Deus no dia a dia no ano 2008.

Amanhã já é dia de consoada. A paisagem aqui em Kassel já tem um ambiente natalício com a sua brancura da neve e os cinco graus negativos. O frio também contribui para um maior aconchego. Já me alegro ao pensar na consoada.

Depois do stress das compras das pencas, do bacalhau e das prendas vem a preparação da Seia ao entardecer.Com o chegar da noite reúne-se toda a família para a consoada, o jantar da consolação.

Os desejos dos filhos empilhados à frente do presépio e da árvore de natal esperam pacientes pelo seu momento.

Depois duma comida toda ela fumegante a tradição e a espírito familiar passa-se à fase expressiva da noite. Antes da distribuição dos presentes, cada membro da família contribui com algo específico para dar feição adequada à noite. Uns tocam algumas peças de piano, outros lêem uma poesia, uma história por eles feita, ou algum texto natalício. Para terminar a sessão cultural lê-se o texto bíblico que narra o nascimento de Jesus, segundo Lucas 2,1-20. Depois passa-se aos presentes. O filho mais novo irá trazendo as prendas à medida que são abertas.

Finalmente, iremos à missa do galo.

Um abraço natalício cordial

António Justo

Publicado em Comunidades:

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http://web.archive.org/web/20080430103648/http://blog.comunidades.net/justo/index.php?op=arquivo&mmes=12&anon=2007

António da Cunha Duarte Justo


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Feliz Natal – – – 2007-12-30
Obrigada pela forma como nos falou do Santo Natal em família. È importante redescobri-la nos tempos de hoje e termos consciência do Menino Deus que Nasceu de noite- a missa do Galo Adoremos o Menino que Vem.

Ernestina Matos
Feliz Natal – – – 2007-12-28
Com tanta coisa, o snhor e a vossa familia deviam ter ficado bem satisfeitos e fizeram uma boa dejestão.
Para mim não foi igual! com os 177 euros e 88 centimos que ganho de reforma, apenas deu para comer uns restos que sobraram do dia anterior.
Mesmo assim receba um abraço e bom ANO-NOVO.

José da Palma

União Europeia – Razão e Fé

União Europeia – Razão e Fé
2007-10-17

Partidos à Margem da Nova Mundivisão Científica

A Europa foi desbravada com a charrua da fé e da razão. Também Portugal, na sua fase áurea, foi à conquista do mundo, com o arado da fé e da razão, contribuindo com a sua obra colonizadora para o desenvolvimento das civilizações.

Em que se terá de basear hoje a Europa para a conquista do futuro? Na redescoberta da união da fé com a razão, na reunião da filosofia e das Ciências Naturais?

O que resta de Cristão no Ocidente? A investigação do específico religioso na cultura europeia não se pode reduzir a um trabalho de arqueologia. Exige uma tarefa de argumentação dialógica. A Europa é judaica, grega, romana, bárbara, ortodoxa, católica, protestante, revolucionária, dialéctica e mística. Dela surgiu a globalização que é o início da resposta ao espírito novo, à nova consciência do ser humano a que o século XX deu base com a superação das contradições de espaço e tempo no contínuo espaço-tempo e a superação do dualismo matéria-energia. Esta descoberta ainda não entrou na consciência política europeia.

Desenvolvimento da Consciência Europeia
No desenvolver das nações, nos seus altos e baixos, houve sempre uma linha condutora que ligou a Europa. O cristianismo manteve o culto da razão no equilíbrio polar de corpo e alma.

Com o início da época moderna no séc. XVI e a correspondente divisão das ciências e fragmentação política e religiosa, sob a égide das ciências naturais obteve-se um grande desenvolvimento tecnológico na Europa.

Galileu Galilei no século XVI dá início ao credo da nova época determinando o absolutismo da nova ciência com o seu programa:”Medir tudo o que é mensurável e tornar mensurável o que ainda não é.” Descartes com a geometria analítica e o exagero do princípio dualista realiza a separação completa de corpo e alma.

Com a passagem do pensar lógico para o pensar racionalista exagerado, o iluminismo e a Revolução francesa (e seus sequazes) querem banir tudo o que é cristão e substitui-lo pela sua nova ideologia em toda a Europa. Depois da revolução francesa afirmam-se no espaço político dum lado as forças restaurativas (socialismo e republicanismo) e do outro as forças conservadoras. Nesta época o racionalismo impõe-se à razão e à religião desembocando na praxis tecnológica e tecnocrata. A grande actividade renascentista levou também aos becos sem saída mecanicista, materialista e racionalista. A pós-modernidade procura um caminho para sair da crise. O espírito ocidental manteve-se mais num espírito católico que não cede ao dualismo e não se perdeu no experimentalismo.

No século XIX e XX o socialismo queria tornar-se o sentido da Europa. As novas descobertas da física relegam o socialismo para uma ideologia presa ainda no espírito do séc. XIX. O fracasso do sistema socialista e das ideias da geração de 68 tornam-se cada vez mais visíveis. Incapaz de se modernizar a família socialista ainda actua desesperadamente estoirando os seus últimos cartuxos. Procura, com uma determinada maçonaria, influenciar a Europa a nível da sua Constituição e instituições, bem como com intervenções autocráticas, quando se encontram em funções governamentais. Perde-se na luta cultural. O seu problema está em ter perdido o comboio da história e da ciência. Enquanto que o catolicismo muito lentamente se adapta à nova visão da ciência os credos políticos apenas se aproveitam das suas marginalidades mantendo a sua mundivisão antiquada. O seu desespero manifesta-se no militantismo dum progressismo ultrapassado contra uma sociedade de espírito cristão que, apesar de vagarosa, por não ter concorrentes sérios a nível de visões e modelos intelectuais de sociedade, está segura da sua presença no futuro da Europa e do mundo. Os democratas cristãos e os conservadores europeus distanciaram-se do missionarismo marxista mas também eles, desorientados, se deixam similarmente levar pelo mero pragmatismo.

Assim a União Europeia tornou-se numa realidade de grande sucesso à margem da ideia do ocidente cristão. No debate sobre a Europa do futuro, o elemento cristão é imprescindível. Ignorá-lo significaria a abnegação de si mesmo. Há forças ligadas à tradição extremista da revolução francesa (um certo liberalismo, socialismo e o republicanismo laicista), agarradas às velhas ideias mecanicistas, materialistas e racionalistas da velha ciência, que continuam empenhadas em desacreditar a história do ocidente. O laicismo quer declarar a religião como coisa privada. À margem da realidade mundial e dos verdadeiros ideais de democracia, desconhecem que não há liberdade sem liberdade de religião / consciência, tanto a nível público como privado. Optam por um restringimento nacional. Desconhecem a mundivisão da nova ciência e a filosofia cristã. Vivem oportunamente dos erros duma economia abandonada a si mesma.

A história da Europa seria incompreensível sem o cristianismo. A Europa tornou-se uma grandeza geográfica e política através dele. O Ocidente como toda a cultura tem os seus fortes e os seus fracos. Não se pode viver na limitação da nostalgia nem na ilusão dum mundo intacto. Política e religião têm que tomar mais a sério as descobertas da nova física no início do séc. XX. A política para dar resposta aos sinais dos tempos deve rever a sua ideologia com base na nova ciência e a religião deve acentuar o pensar místico incluído na fórmula trinitária que se encontra muito perto da fórmula física.

Um elemento que não poderá ser esquecido no espírito da Europa é também a ortodoxia.
A discussão ideológica e a tentativa marxista e racionalista laicista de impedir a referência cristã na Constituição Europeia e um certo actuar anti-cultural posto na ordem do dia, revelar-se-ão como um erro no futuro dum socialismo integral.

A declaração pelo cristianismo não implica o monopólio cristão do espírito da história europeia. O carácter discursivo do espírito grego, romano e judaico e o ideal da liberdade são aspectos vitais da identidade espiritual europeia. O cristianismo, nas suas várias expressões e o espírito europeu em permanente discurso e constante acção recíproca dos diferentes povos e sub-culturas europeias, com a sua ideia católica, são um modelo exemplar para a configuração do mundo. Isto é óbvio também pelo facto dos princípios éticos serem objecto da discussão e não garantidos pela jurisprudência ao contrário da maneira de estar islâmica e do credo comunista. A civilização cristã é, na sua essência, aberta. Uma praxis europeia com fundamentos na ética, Deus, constituição revelou-se muito oportuna. A constituição está ligada aos valores. Um preâmbulo de Magna Carta que expresse a responsabilidade, Deus, o Homem, a consciência na liberdade do desenvolvimento corresponde ao desenvolvimento da Europa através dos tempos. A Constituição Polaca seria o melhor exemplo a seguir, neste aspecto. Ela fala da responsabilidade perante Deus e perante a própria consciência…

Não há nenhum euro-centrismo na tradição judaico-cristã. As raízes do cristianismo e a sua origem estão fora da Europa. Tomás de Aquino e Alberto Magno possibilitaram a discussão com a Antiguidade. O protestantismo acentua a continuidade dos fundamentos dos primeiros séculos, enquanto que o catolicismo opta por uma apropriação na continuidade. A independência de igreja e estado é específica. A cultura cristã possibilita assim a multiplicidade das formas de vida. Ao contrário do Islão que é anti-moderno e só se comporta tolerante quando vive em diáspora; falta-lhe ainda a teologia. O cristianismo é compatível com as diferentes culturas sem condicionamento hegemónico. Esta é a vantagem do modelo europeu.

O passado europeu ainda se encontra muito presente. Ainda se não reconciliou na relação entre cristãos ortodoxos, católicos e protestantes nem com o laicismo dos ideais do liberalismo da revolução francesa. As experiências sangrentas com a revolução francesa e as guerras civis republicanas ainda se encontram muito presentes na consciência europeia.

O Vaticano II procura a reconciliação. Na verdade o berço da dignidade humana é o cristianismo, só que a instituição se preocupou demais pelo poder, pela instituição. Um pensar baixo laicista persiste em antagonizar cristianismo, liberdade e iluminismo. Nesta luta de galos na mesma capoeira perdem-se muitas penas. A Europa precisa de qualidade espiritual e de perspectivas construtivas. A fórmula é fé e razão independentemente das patologias da fé e da das patologias da razão. A razão tem que continuar a acção purificadora das patologias religiosas tal como o cristianismo terá de purificar as patologias da razão que se manifestaram na concepção do homem como um produto. Também a razão tem fronteiras como se pode ver na bomba atómica e ao passar da lógica para o racionalismo. A esquerda tornar-se-ia infiel a certos princípios que defende se continuar no combate de castelos no ar e na guerra a um cristianismo macarrónico.

O melhor sistema de relação entre igreja e estado é o modelo alemão em que há uma relação de independência na parceria. Este modelo tem naturalmente os seus quês numa nova situação com o aparecimento dum islamismo com elementos ainda incompatíveis com a democracia.
Um processo de aprendizagem estará no trato de religião e política com a liberdade. Isto pressupõe um longo processo. A experiência nos Balcãs pode ser vista como chance ou como ameaça, o nacionalismo bósnio por um lado, uma polónia vital mas muito próxima à ortodoxia por outro. O mundo cada vez se torna mais numa “aldeia” não permitindo que se desça do comboio da história.

A Europa é a alternativa ao poder todo-poderoso das ideologias. Os muçulmanos terão de se abrir ao pensamento científico. Doutro modo haverá o perigo duma Balcanização da Europa.
O laicismo religioso da Turquia fere a liberdade, não sendo compatível com a Europa. Por sua vez os cristãos não podem aceitar que a religião seja reduzida a coisa privada ou sujeita a favoritismo. Os cristãos aprenderam a lição uns com os outros. O individualismo vê o estado e a Igreja como um perigo. A esperança numa liberdade que tudo promete é vã.

A religião será cada vez mais tema. É-o já na Europa desenvolvida. O secularismo terá de se tornar mais humilde e aberto, doutro modo diminuirá bastante, falhando a sua missão. A religião, quer queiramos quer não, permanecerá uma constante evidente. A América é um exemplo em que religião e modernidade não são contradições. A religião faz parte da discussão intelectual. O relativismo ainda vigente em alguns credos político-administrativos é uma ironia acerca do próprio vazio. Na província europeia instalada em certos meios de influência portuguesa ainda se continua a viver da luta pela luta, da luta de pseudo-intelectuais contra a cultura da maioria.

As pessoas procuram Deus, segurança, salvação, comunidade, vida subjectiva expressa em diferentes atitudes. Precisa-se da diferenciação dos espíritos e de diversas modalidades de vida.

A verdade liberta-se na liberdade, ao decidirmo-nos por ela. Muitos terão de aprender a nadar na nova religiosidade. Esta não oferece garantia a ninguém. Pode ser uma chance para todos. A renascença da religião não permite o regresso ao passado apesar dos impulsos muçulmanos. A fixação na autoridade é estranha à realidade cristã e contrária ao desenvolvimento subjectivo.

Sendo o cristianismo a fonte da Europa não deve ser reduzido a arqueologia. O futuro do cristianismo na Europa depende naturalmente do seu número e do seu testemunho e o desenvolvimento da civilização ocidental dependerá da fidelidade ao espírito judaico-cristão..

A Europa foi construída na dialéctica entre tradição e inovação, entre fé e razão. Uma fé não fechada em si mesma mas sempre dinâmica no seguimento da inteligência e amparada pela razão não precisa de temer o futuro. A Europa soube integrar a revolta no seu ser, através duma sabedoria prática.

O cristianismo é também um parceiro imprescindível à União Europeia nas diferentes plataformas de diálogo entre as civilizações e as culturas. Seria miopia assentar as relações internacionais apenas nas forças militares e económicas desconsiderando o papel das ciências e da religião na formação das mundivisões.

Sistemas partidários antiquados
Só modelos totalitários se julgam capazes de dar resposta à perfeita realização humana. Todo o absolutismo abafa o homem. Nenhum futuro, nenhum Deus, nenhum ser humano pode ser encerrado num sistema seja ele político, religioso ou intelectual.

Só a investigação fundamental da ciência europeia do séc. XX conseguiu, com as descobertas de início do século, dar resposta às novas necessidades iniciando uma nova tentativa, uma nova mundivisão e método de trabalho que pressupõe uma nova maneira de estar no mundo. As elites políticas do séc. XX não compreenderam esta revolução científica e continuam fiéis às velhas ideias. Assim aqueles que antes eram símbolo do progresso tornaram-se o seu impedimento, muito embora em nome dele.

Hoje o grande problema dos nossos sistemas partidários é o facto de se manterem antiquados, continuando a aplicar a mundivisão do século XIX, o exagero iniciado no séc. XVI e cujos extremismos se manifestam no (racionalismo), no marxismo, no pragmatismo e no existencialismo.

Desconhecem a nova ciência iniciada com Planc (teoria quântica) e com Einstein (teoria da relatividade que superou o materialismo dualista). As ideologias políticas modernistas, que determinam actualmente o dia a dia político europeu, ainda se encontram prisioneiras das velhas ideias dos tempos modernos que dominaram até ao século XIX. Vivem à margem da nova ciência que superou a velha maneira de pensar racionalista e materialista.

O futuro implica, com a base da experiência da época moderna, a reactivação duma visão complementar de todas as disciplinas, procurando evitar todo o dualismo e iniciar uma nova maneira de encarar a realidade na integração da ciência naturais e humanas. Uma nova plataforma dos partidos terá que assentar numa dinâmica polar complementar. O Universalismo só será possível numa visão integral, não dualista.

António Justo

Publicado em Comunidades:

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António da Cunha Duarte Justo