SOBRE O FORMATO DA INFORMAÇÃO

CNN PORTUGAL IN-FORMAÇÃO OU FORMATAÇÃO?

Por António Justo

CNN Portugal, cujo director editorial „em articulação com a direção da TVI”, é Nuno Santos, começará as suas emissões a 22 de novembro de 2021.

A CNN Portugal resulta de um acordo entre a Média Capital e a CNN: substituição da TVI24 pela CNN Portugal.

Segundo informa a Vikipédia, “Júlio Magalhães e Judite Sousa, serão as principais figuras do canal”.

CNN é nome de marca internacional (Globalista?!), e a CNN Portugal poderá tornar-se numa mais valia no que respeita a informação e comentários internacionais e também em relação à informação nacional se esta conseguir evitar as influências que têm amarrado parte dos Media em Portugal a políticos e interesses ideológicos (1) distanciados do Bem-comum.

De facto, no princípio de tudo está a palavra, a informação e os maiorais sabem disso!…

Tenho as minhas dúvidas no que toca às informações e à política de informação sobre Portugal dado o politicamente correcto do nosso regime ter conseguido passar um atestado de inocência ao socialismo (até no âmbito constitucional) e preferir apelar mais, com seus programas, ao espírito cívico do emocional coitadinho do que a um espírito crítico e racional ao serviço do bem-público e ao desenvolvimento integral da pessoa humana!

Num Portugal a viver à sombra cerrada da ideologia e de protagonismos jacobinos, a CNN Portugal, teria de deixar de formatar mentalidades adocicadas, para poder passar a fomentar um espírito analítico crítico nas políticas de informação e, para tal, saltar sobre a própria sombra, para que o cidadão receba a possibilidade de se tornar verdadeiro sujeito da história e não mero objecto da mesma e das suas elites; só assim a CNN nos poderá surpreender e tirar dúvidas que só o futuro poderá esclarecer!

A dúvida fundada virá da capacidade de autossuperação; virá da aptidão de seus actores conseguirem romper o casulo abrilista que não se revela menos impeditivo, ao desenvolvimento integral, que o salazarista!  Será que será possível que os novos/velhos/actores da CNN conseguirão superar interesses corporativos para se tornarem eles mesmos ao serviço do bem comum e superarem o espírito de abril instalado, unilateral, acomodado e acrítico, herdado do regime anterior?

Da urgência de tal incumbência testemunha um certo espírito popular que confunde espírito crítico com algo antipatriótico quando o espírito crítico/analítico se refere a assuntos ou a políticos portugueses (por vezes, a nível popular, parece confundir-se patriotismo com nacionalismo e governantes com família!).

Será de saudar o projecto CNN se os objecto da sua principal ocupação for em torno do essencial, de conteúdos e questões factuais em contraposição a um discurso político-cultual com cheiro a mofo e de um oportunismo que tresanda em torno de personalidades públicas e de um vocabulário de marca ideológica com a preocupação de cheirinho a revolução! Se antes tínhamos o cheirinho nacional acomodado a Américo Tomás hoje temos o cheirinho acomodado à revolução de abril!

Não seria de recomendar uma CNN-Portugal (Mais uma de agentes vicários da política!) formatadora de mentalidades internacionalistas/globalistas conseguidas à custa da destruição da consciência nacional/patriótica nem de um conformismo (do Maria vai com as outras!) ao serviço do politicamente correcto estabelecido no sentido de um globalismo liberalista desregrado que continue a embalar o povo com novos ópios!

Portugal é uma nação pequena, com um povo grande mas encolhido e acomodado; o que a tornou nação grande no passado foi o espírito cristão; ignorá-lo ou combatê-lo, para servir ideologias à la page, é engrossar a avalanche de uma decadência cultural ao serviço de potências anónimas e no sentido da China. Importa contribuir para a construção de um Portugal moderno que não renuncie à essência de si mesmo: um Portugal soberano que embora de soberania compartilhada não renuncie também à soberania da pessoa humana (O grande legado do cristianismo à humanidade vem da sua afirmação da soberania da pessoa: pessoa humano-divina, que tudo o que é institucional deve servir!).

O socialismo, verdadeiro filho pródigo do cristianismo, em vez de combater o pai ou de rivalizar com o irmão mais velho deveria fazer por voltar à casa paterna onde todos juntos possibilitariam um caminhar mais rápido no sentido de uma comunidade verdadeiramente humana.

“No princípio era a Palavra, a Informação…” lembra-nos João no prólogo do seu evangelho! Trata-se aqui de não partir de formatos meramente funcionais e mecanicistas, mas, sobretudo, de entrarmos num processo, de mais que estar, ser em contínua formação interior e exterior! Tudo o que é formato programado limita a pessoa!

 

O Problema não será a Informação mas a Configuração que ela pretenda

 

A informação em vez de ser apreendida nos seu processo dinâmico de algo em processo/procedimento (antes de ganhar forma) é geralmente reduzida a ideia petrificada numa palavra (formato ou forma dura em que se pretende encerrar vida, vida que é potencialidade a expressar-se em diferentes formas mas  sem poder ser reduzida a elas), tornada própria para construir muros e formatar cidadãos reduzidos a meros habitantes da cidade muralhada, cidadãos pedra que não agentes em processo de libertação para poder ser libertador! A formatação que se tem pretendido é formar peças de um xadrez que possibilite o jogo a alguns (a agenda subjacente à política estatal de ensino está a ser, cada vez mais, nesse sentido)!

Tudo isto parece muito complicado, mas, como sabemos,  para comunicarmos precisamos de informação mas, por sua vez, por trás de cada informação está uma mensagem a transmitir que, por vezes, não se nota e precisaria de ser descodificada para se poder entrar verdadeiramente no entendimento do seu significado (isto causa dores de cabeça porque implicaria diferentes perspectivas de abordagens mentais e como tal capacidade de discernimento no momento de se fazer um juízo).

Portanto, o problema não está na informação, mas na sua selecção, quer pelo informador (o informador que pretende dar forma/formatar!) quer pelo receptor (o receptor já com forma/formatação ou, no melhor dos casos, em modelação!) da informação, ao coloca-la numa relação causal!

As configurações das notícias são feitas de tal modo que criam conexões de modo a encherem padrões já seguidos ou a criar novos padrões.

O problema maior na interpretação das informações ou notícias virá da capacidade de ver as relações de causalidade que surgem entre a informação e a sua conectação…

É preciso arredar caminho! A violência verbal e mediática a que a sociedade tem sido submetida, com uma lavagem cerebral sistemática do cidadão, tem levado a uma falta de vontade do povo para pensar por si próprio e a não ser capaz de compreender o que verdadeiramente se passa em matéria de política e economia. E, disfarçadamente, ainda se ouvem dançarinos da política queixar-se de um povo que escolhe mal!!!

Resta o desejo de um bom e contínuo recomeçar para os concretizadores da CNN Portugal!

António CD Justo

Teólogo e Pedagogo

Pegadas do Tempo

(1) Por figuras já apresentadas para a CNN tudo leva a crer que iremos ter o tal canal “crítico e independente” legitimado pela nossa Constituição que, no seu preâmbulo, determina como o objectivo fazer de Portugal uma sociedade “socialista”; portanto, uma sociedade já a caminho do regime chinês!

 

 

 

O “PAI NOSSO”

Interpretação da sexta petição: Tentação ou Prova?

O Pai Nosso é a oração básica de toda a cristandade; ela foi ensinada (Mt 6,9-13; Lk 11,2) por Jesus aos seus discípulos. Para Mateus a Oração do Senhor é uma reza completa porque engloba as necessidades humanas e a assistência divina. Com ela entra-se numa relação com Deus que possibilita ao crente a experiência da ressonância entre imanência e transcendência e, se rezada em comunidade, possibilita também a ressonância intercorporal. O Pai Nosso é completo, porque nos afasta da hipocrisia ordinária e apresenta-nos também o contexto próprio para a relação com Deus, apontando, como condição para o orante, o cumprimento da Regra de Ouro, que é a prontidão para perdoar ao próximo.

O Pai Nosso tem sete petições dirigidas a Deus e une cerca de 2,5 mil milhões de pessoas na terra, na sua relação com Deus. Como as plantas olham para o sol à procura de vida assim a nossa alma levanta o olhar para Deus na procura de vida espiritual, realização e perfeição. O Sol, Deus, a vida, não giram apenas em torno de mim. Eu apenas sou um Protagonista da peça divina no palco de Deus, onde o enredo tem toda a humanidade a atuar, numa caminhada universal onde não há espectadores.

Na obra da criação, criados como humanos, sendo parte da criação, estamos também sujeitos às leis da natureza e como tal estimulados a seguir a força dos desejos e instintos (bons porque nos conduzem, mas em certos pontos sensíveis podem levar-nos à tentação) e a viver numa certa dialética que pode possibilitar desenvolvimento e purificação.

O sexto pedido no Pai Nosso (Mat 6:13, objecto de reflexão aqui) reza assim: “E não nos deixeis cair na tentação„ ou “e não nos exponhas a uma prova” (et ne nos inducas in temptationem: tradução feita do grego: και μη εισενέγκης ημάς εις πειρασμόν). Nas traduções poderá haver divergências entre a versão da Vulgata Latina e o texto grego dos Evangelhos.

Em 2017 o Papa Francisco generalizou o debate sobre o problema da exatidão das traduções, esclarecendo que: “Deus não nos tenta” (1) e dizendo que a frase do Pai Nosso (Mateus 6.13) “e não nos deixes cair em tentação” (noutras línguas: “e não nos induzas/conduzas à tentação” tinha sido mal traduzida!  Também as correções feitas pelos episcopados francófono e italiano (2) não satisfazem alguns teólogos porque entre outras coisas as novas traduções não seriam fiéis à tradução oficial da Vulgata: (et ne nos inducas in temptationem “e não nos leves/induzas para a tentação”)!

A questão seria mais complicada se partíssemos da Vulgata como fonte, mas de facto a fonte donde vem a Vulgata é o grego.  De facto, „Não nos deixes cair em tentação” significa “não permitas que sejamos tentados a ponto de cairmos” ou “não nos submetas ao teste” porque se levados ao exame das tentações, como foi Jesus, sucumbiríamos devido à fraqueza da própria fé. Por outro lado, o “não nos deixeis cair em tentação” aponta para a incapacidade de resistir ao mal sem a assistência divina. Interessante aqui é, de facto, o problema do sermos tentados que, no caso, não poderia ser por Deus, mas, por outro lado, o que torna totalmente viável a interpretação bíblica de Ratzinger/Bento XVI (e a exegese e análise filológica clássica) que apontam para o aspecto de sermos provados por Deus, como se depreende do texto grego.

A abordagem ao texto de forma teológica e o acesso filológico-exegético ao texto permitem-nos uma visão mais ampla da questão. As diferentes traduções não apresentam problemas teológicos em geral, mas apenas especificidades de exegese e filologia.

Segundo exegetas e filólogos na tradução do grego para o latim ou para outras línguas, o verbo grego εισφέρω/isféro pode ser traduzido tanto por tentar como por provar ou examinar, no sentido de pôr a pessoa à prova, e submetê-la a um teste; além disso ainda há a questão da tradução do aramaico para o grego, mas que não é relevante para aqui.

Atendendo ao facto de as palavras gregas da frase do Pai Nosso (3) possibilitarem diferentes significados: εισενέγκης/eisenénkis do verbo εισφέρω/isféro significa ”levar, “trazer”, “entrar”, “guiar” e “conduzir” (sem a significação de “deixar” como na tradução portuguesa (4): nesse caso teria sido usado o verbo επιτρέπω com o significado de deixar, permitir, consentir, instruir, ou o verbo αφίημι no sentido de permitir, deixar, enviar) e o substantivo πειρασμόν/peirasmos que significa tentação,  provação/ teste ou exame (este parece ser mais fiel ao original grego), temos alternativas de tradução a partir do texto de origem grega; tais como: “e não nos deixes cair em tentação”, “e não nos leves à provação”, ou simplesmente, “não nos testes”. Afirmam os filólogos que Peirasmos tanto possibilita ser traduzido por “Tentação” (maligna) como por “Provação” (de Deus). Os diferentes contextos bíblicos (Hermenêutica) apontam mais para a ideia de provação: “e não nos induzas/conduzas a provas/tentação”, ou: “e não nos exponhas a uma prova” (porque não somos como Jesus que resistiu a elas no deserto). Os peritos linguistas concluem que “As duas possibilidades da tradução (Tentação e Provação) são legítimas pois “nenhuma tentação nos ocorre sem que Deus permita que ocorra”, pois, o mal é a ausência de Deus. O esforço, que espera da nossa parte, é para nos elevarmos em direcção a Deus para ele nos poder dar a mão (5). No caso de Abraão e seu filho Isaque, Deus põe Abraão à prova (Gen 22:1-2), o mesmo se diga no caso de Job.

Razinger/Bento XVI, no livro “Jesus de Nazaré I”, Capítulo 5, reflecte sobre a sexta petição do Pai-nosso, a saber: “E não nos conduzas à tentação„, noutras traduções é “E não nos deixeis cair em tentação”. Nele Ratzinger arruma com aparentes contradições nas traduções. Passo a citar as suas palavras (6), de expressão espiritual-teológica:

“Deus não deixa o homem cair, mas testa-o (7) … Para amadurecer, para realmente passar, cada vez mais, de uma piedade superficial para uma profunda unidade com a vontade de Deus, o homem precisa de ser testado. Tal como o sumo do mosto de uva fermenta para se tornar vinho nobre, também o homem precisa de purificações, transformações que são perigosas para ele, nas quais pode cair, mas que são, no entanto, os meios indispensáveis para chegar a si mesmo e a Deus. O amor é sempre um processo de purificações, renúncias, transformações dolorosas de nós próprios e, portanto, um caminho de amadurecimento”. Ao dizermos “Não nos conduzas à tentação”, („Não nos deixeis cair em tentação”), estamos a dizer a Deus: Eu sei que preciso de provas para que a minha natureza seja pura… “(8).

“Quando Francisco Xavier foi capaz de dizer a Deus em oração: Amo-vos, não porque tendes céu ou inferno para perdoar, mas simplesmente porque sois meu Rei e meu Deus, um longo caminho de purificação interior tinha certamente sido necessário até esta liberdade final; um caminho de maturação sobre o qual a tentação, o perigo de cair, espreitava, mas ainda assim um caminho necessário” … (Em contexto cristão tentação é o estímulo a uma acção imoral – pecado – e este é como a sombra que surge onde Deus não brilha).

Ratzinger conclui: “Assim, podemos agora interpretar a sexta petição do Pai Nosso de uma forma mais concreta. Dizemos a Deus: Eu sei que preciso de provações para que a minha natureza se torne pura. Ao ordenares estas provas sobre mim, se dás ao mal um pouco de espaço livre, como fizeste com Job, então por favor lembra-te da medida limitada da minha força. Não me dês demasiado crédito. Não estabeleças limites demasiado amplos nos quais eu possa ser tentado, e está perto com a tua mão protectora quando ela (a prova, o exame, a “tentação”: meu parêntesis!) se tornar demasiado para mim… Na nossa oração da sexta petição do Pai Nosso, devemos, por um lado, estar dispostos a assumir o fardo da provação que nos foi imposta. Por outro lado, é o pedido que Deus não nos dá mais do que somos capazes de carregar; que Ele não nos deixa sair das Suas mãos. Fazemos este pedido com a certeza confiante que São Paulo nos deu: “Deus é fiel; Ele não permitirá que sejas tentado para além das tuas forças. Ele dar-te-á uma forma de sair da tentação para que possas suportar (1 Cor 10:13)”.

Joseph Ratzinger-Bento XVI cita ainda Cipriano que referiu duas razões pelas quais Deus dá um poder limitado ao mal e assim “possibilitar o arrependimento, refrear a nossa arrogância, para que possamos experimentar novamente a miséria da nossa fé, esperança e amor, e não nos imaginarmos grandes por nossa própria vontade” como agiam os fariseus que pensavam que devido ao seu mérito já não precisavam da graça”. Cipriano não desenvolveu o outro tipo de teste ou tentação, mas de não esquecer é o facto de Deus colocar um “fardo particularmente pesado de tentação sobre aqueles que lhe são especialmente próximos” (por ex.: Therese de Lisieux).

Ratzinger centra as suas atenções no núcleo do cristianismo e quem o lê tem a sensação de estar ao mesmo tempo com um sábio e com um santo. Como ele diz, a relação com Deus torna os seres humanos, humanos. E como “Deus é amor, torna-se ociosa a tentativa de o rodear de argumentos e tentar agarrá-lo”. De facto o homem é demasiado pequeno para conseguir tal e emaranha-se em si mesmo ao tenar reduzir o acesso a Deus apenas com factores de causalidade.

De facto, a luz da verdade, a graça e a iluminação da razão são os luzeiros necessários para avançarmos e nos desenvolvermos.

Deus sabe que estamos sujeitos às leis do mundo que ele criou e para as superarmos precisamos da sua assistência. As resistências a elas pressupõem esforço e o apoio especial divino que é pedido por quem tem a consciência da sua pequenez e da grandeza divina; de facto, no mundo real, sem resistência não há desenvolvimento.

António CD Justo

Teólogo e

Pegadas do Tempo

Junto aqui Duas versões / traduções diferentes, de Aramaico (a língua em que Jesus ensinou).

1ª versão

Oh Tu, respirando vida em tudo, origem do som cintilante.

Tu brilhas em nós e à nossa volta,

até a escuridão brilha quando nos lembramos.

Ajuda-nos a respirar uma respiração santa na qual Te sentimos apenas a Ti-

e deixa que o Teu som ressoe dentro de nós e nos purifique.

Que o Teu conselho governe as nossas vidas e clarifique o nosso propósito (intenção )

para a criação que partilhamos.

Que o desejo ardente do Teu coração una o céu e a terra

através da nossa harmonia.

Concede-nos diariamente aquilo de que precisamos de pão e de discernimento:

o que é necessário para o apelo da vida crescente

Solta as cordas das faltas (erros) que nos ligam,

como nos libertamos do que nos liga à culpa dos outros.

Não nos deixemos enganar por coisas superficiais,

mas liberta-nos daquilo que nos prende.

De Ti provém a vontade todo-eficaz, o poder vivo (energia/força viva) para agir,

a canção (música) que tudo embeleza e se renova de idade em idade.

Verdadeira vitalidade a estas declarações!

Que sejam o solo a partir do qual todas as minhas acções crescem.

Selado na confiança e na fé.

Ámen.

 

2ª versão

Mãe-Pai de todos os criados! O teu nome ressoa sagradamente através do tempo e do espaço!

O teu ser uno (Unidade divina) cria em amor e luz – para sempre e agora!

Que a Tua vontade seja feita através da minha – como no espírito, assim em todos os formados (tudo o que tem forma)!

Dá-nos alimento diariamente – quanto ao corpo, assim como à alma!

Solta os laços dos meus defeitos (falhas) – tal como eu os solto (perdoo) aos outros!

Não me deixes perder em superficialidades e em coisas materiais!

Liberta-me da imaturidade e de tudo o que me prende e não me liberta!

Pois Teu é o poder e a música do universo – agora e aqui e na eternidade. Ámen.

Traduzido por António Justo a partir do texto alemão.

(Nova tradução do PAI NOSSO de acordo com Martin Luther, Septuaginta e Vulgata de acordo com: G. Lamsa (Gospels from an Aramaic Perspective), adaptação inglesa: N. Douglas-Klotz,Adaptação alemã: J.E. Berendt).

Fonte: https://robert-betz.com/mediathek/inspirationen/vater-unser/

 

  • (1)   Deus não nos passa nenhuma rasteira, como diz o Papa Francisco: https://www.vaticannews.va/de/papst/news/2019-05/papst-franziskus-generalaudienz-vaterunser-katechese-mai-19.print.html
  • (2)   A Conferência Episcopal Francesa mudou a tradução do pai nosso de uso corrente “Et ne nous soumets pas à la tentation” pela nova forma: “Et ne nous laisse pas entrer en tentation”. O verbo francês “soumettre” (submeter) foi então substituído por “ne pas laisser entrer”(literalmente: não deixe entrar). A nova versão está mais próxima da formulação grega do Evangelho (Mt 6:13), em que a expressão “μὴ εἰσενέγκῃς” (não conduzem a) é usada. Há o legítimo receio manifestado por teólogos de mesmo na nova versão introduzida poder haver “falsificação das palavras de Jesus”, como referem comentadores.
  • (3)   A frase grega Mt 6:13, και μη εισενέγκης ημάς εις πειρασμόν, deixa margens para algumas variações nas traduções em contexto.
  • (4)   As interpretações do Pai Nosso apareceram de várias maneiras desde Tertuliano
  • (5)   A tradução em latim, usou a clássica expressão “inducas”, que sublinha o fato que somos “induzidos”, “levados” à tentação, reforçando esse sentido implícito no texto grego. Os exegetas para melhor contextuarem o texto apontam para um manuscrito aramaico encontrado em Qumran onde se reza “faz com que eu não entre em uma situação difícil demais para mim”, o que também legitimaria a expressão portuguesa “não nos deixeis cair em tentação “e o latim “inducas” no sentido de “deixar cair” e não de “fazer cair”! Quanto ao uso do substantivo “Temptatio” (Tentação) se advertia para a palavra como falaciosa. As pistas linguísticas são muito esclarecedoras. De facto, Deus pode pôr-nos em prova, mas sem tentar ninguém (1Coríntios 10,13 e Tiago 1,12). “Et ne nos inducas in temptationem”, em português: “não nos deixeis cair em tentação”, em alemão: “ E não nos conduzas à tentação” („Und führe uns nicht in Versuchung ”)!
  • (6)   Pai Nosso, análise: https://www.bibelwissenschaft.de/wibilex/das-bibellexikon/lexikon/sachwort/anzeigen/details/vaterunser-1/ch/5ac77bb77dc5bbf25a3950e3e58809ad/ e https://br.markusdasilva.org/serie-orando-o-pai-nosso-com-poder-estudo-no-9-nao-nos-deixes-cair-em-tentacao/
  • (7)   Joseph Ratzinger-Bento XVI, Jesus de Nazaré I, Freiburg-Basel-Viena 2007, pp. 195-199): “A redação desta petição do Pai nosso é ofensiva para muitos: Deus não nos leva, afinal de contas, à tentação. De facto, diz-nos St. James: “Que ninguém que se sinta tentado diga: Eu sou tentado por Deus”. Pois Deus não pode ser tentado a fazer o mal, nem Ele próprio tenta ninguém. A tentação vem do diabo, mas a tarefa messiânica de Jesus inclui suportar as grandes tentações que conduziram e continuam a conduzir a humanidade para longe de Deus. Ele deve, como vimos, sofrer estas tentações até à morte na cruz e assim abrir o caminho da salvação para nós. Deve assim descer, não só depois da morte, mas com ele e em toda a sua vida, por assim dizer, ao inferno, ao espaço das nossas tentações e derrotas, a fim de nos levar pela mão e nos carregar para cima. A Carta aos Hebreus colocou especial ênfase neste aspecto, destacando-o como uma parte essencial da viagem de Jesus: “Pois desde que ele próprio foi levado à tentação e sofreu, é capaz de ajudar aqueles que são tentados (2,18). Não temos um sumo sacerdote que não possa simpatizar com a nossa fraqueza, mas um que em tudo foi tentado como nós, mas não pecou” (4:15).
  • (8)   …” se me encomendar estas provas, se der um pouco de espaço livre ao mal, como fez com Job, então lembre-se por favor da medida limitada da minha força. Não me dêem demasiado crédito. Não me atraiam demasiado os limites dentro dos quais posso ser tentado, e estejam perto com a vossa mão protectora quando ela se tornar demasiado para mim”.

A CÉSAR O QUE É DE CÉSAR E A DEUS O QUE É DE DEUS

O nó górdio do islão é a união de cultura e religião! E isto é que os políticos ocidentais parece ainda não terem percebido e por isso cometem tantos erros em relação à cultura de cunho árabe e às próprias iniciativas que tomam no sentido da sua emancipação.

O poeta muçulmano, Adonis, diz numa entrevista a El País: “O problema árabe é não ter separado a religião e a política”.  “Não pode haver uma revolução árabe sem uma separação total e radical  entre a religião e a cultura, a sociedade e a política”.

Esta é a realidade que não justifica que se ande a empregar demasiadas forças em soluções ocidentalizadas que teriam de rever a sua estratégia de apoio ao desenvolvimento humano também no que toca à estratégia de emancipação feminina nos estados muçulmanos! Facto é que as afegãs mais emancipadas são agora alvo do ódio dos extremistas.

A luta pela libertação da mulher, num sistema tribal patriarcal, seria talvez mais eficiente se viesse através da humanidade e empenho dos homens, que é preciso motivar! Enquanto a sociedade islâmica não reflectir suficientemente sobre as partes sombrias do Islão (iliteracia, dogmatismo, abdicação da individualidade no grupo, e carência de liberdade), a cultura árabe continuará a ser mal considerada (o que não ajuda ninguém!) e verá o problema humanitário continuado, enquanto em nome da religião, o sistema prosseguir oprimindo indefinidamente a pessoa humana. O povo persa e outras sociedades muçulmanas de origem não árabe e em especial uma elite cultural masculina e feminina a formar-se dentro do islão poderão contribuir para o seu progresso e criar uma nova matriz cultural. Nisto teria mais sentido, que o Ocidente centrasse as suas energias, a longo prazo.

Enquanto o Ocidente se comportar para com a civilização de cunho árabe, como se tem comportado até aqui, os povos islâmicos ver-se-ão obrigados a continuar a sua luta ad extra descurando a reflexão e transformação interna. Certamente a maioria dos muçulmanos já se encontra de consciência e de comportamento mais elevado do que muitos dos princípios maometanos advogam a nível institucional e propagado através das mesquitas.

Uma análise proveitosa para a cultura árabe pressuporia uma reflexão profunda por parte das elites muçulmanas e uma abordagem sem preconceitos por parte dos não islâmicos. O islamismo é uma realidade e tanto a islamofobia, como a islamofilia só ajudam o extremismo.

António CD Justo

Pegadas do tempo

FIM DO MODELO OCIDENTAL

O poeta sírio Adonis (muçulmano exilado em Paris), mostra o fim do modelo Ocidental, no seguinte poema:
“O Oriente fez perguntas infantis
Pedidos de ajuda
Enquanto o Ocidente, era para ele,
Um homem sábio que nunca erra.
Mas o mapa mudou
Agora o mundo está inflamado
E, Oriente como ocidente,
São uma sepultura, um amontoado
De ambas as cinzas”.
Uma boa semana para todos!
Tudo passa! A pessoa, essa vai prevalecendo!
António CD Justo
Pegadas do Tempo

11 DE SETEMBRO 2001 INICIA UMA ÉPOCA SOMBRIA DA HISTÓRIA

Fortalecimento do Terrorismo e do Controlo das populações

No vigésimo aniversário dos atentados às Torres Gémeas e ao Pentágono seria boa altura para uma análise séria sobre as medidas tomadas em nome do terrorismo internacional e o resultado a que conduziram durante os últimos 20 anos!

Resultado decisivo: as populações ocidentais encontram-se sob muito mais vigilância e controlo por parte dos Estados e de grupos multinacionais, do que antes; o terrorismo islâmico aumentou na Europa com a chegada dos refugiados das insurreições criadas em África e no Afeganistão; a democracia é cada vez mais ameaçada. Neste aniversário, as populações sofrem por todo o lado, agora, ao som dos altifalantes dos Talibã que cantam: vencemos, “óh tempo, volta pra trás”!

A armadilha do 11 de Setembro conduziu à intervenção no Afeganistão e às esparrelas do Iraque, da Líbia, da Síria e do Líbano e tudo isto produziu uma situação mundialmente mais instabilizada que nunca.

Com a retirada dos USA e a consequente derrota, é uma boa ocasião para a Europa começar a designar e seguir os próprios caminhos e deixar de andar atrelada aos USA, uma vez que os interesses das partes são tão divergentes. As palavras do Coronel americano Ralph Peters ao dizer que “A estabilidade é o inimigo da América” deveria ser um motivo para a União Europeia e participantes da Nato acordarem. De facto, a União Europeia parecia estar mais interessada em fazer do Afeganistão um Estado do que os USA.

O argumento usado para criar democracias através do poder militar e da ocupação é uma loucura e só pode servir interesses camuflados.

Como chamada de atenção poder-se-ia concluir que autocratas e extremistas se encontram unidos no objectivo comum de desmantelamento dos direitos humanos; concretamente são eles os vencedores.

De facto, os 20 anos de intervenção produziu uma grande perda de direitos civis/humanos no Ocidente e nas regiões onde o Ocidente interveio criou-se mais injustiças e instabilidade política e social.

Não nos resta senão esperar por melhores tempos e como dizia Hegel, o filósofo do idealismo alemão: “A toupeira da história continua a cavar o seu caminho através do túnel em direcção à luz”.

Tudo isto é triste! Às vezes, saber mais confunde e geralmente faz sofrer!

António da CD Justo

Pegadas do Tempo