ELEIÇÕES PARA O PARLAMENTO EUROPEU A 25 DE MAIO

A Caminho de um Estado supranacional para Superpotência como os USA
UE o Modelo de Negócio grandioso para os Partidos políticos

António Justo
Estas são as eleições mais importantes para o Parlamento Europeu (PE) dado este ter conseguido mais autoridade apesar do centro do poder continuar nos chefes de governos nacionais. Desta vez, são os cidadãos votantes, e não os chefes dos governos, que elegem o presidente da Comissão Europeia. Com o Tratado de Lisboa (2009) o PE passou a ter o poder de aprovar ou desaprovar a escolha do Conselho para o Presidente da Comissão. Consequentemente, o sucessor do português José Manuel Barroso será muito provavelmente o alemão Martin Schulz.
De facto, Schulz ou Juncker , na qualidade de cabeças de lista das fracções mais fortes, têm o direito de reivindicar o cargo de Presidente da Comissão.

A escolha cairá, como tudo indica, sobre o alemão, actual Presidente do Parlamento Europeu, Martin Schulz (SPD) que lidera os partidos de centro-esquerda da Europa ou sobre o luxemburguês Jean-Claude Juncker (Partido Popular Cristãos Sociais) que lidera os partidos de centro-direita.

Schulz vê, como prioritária, uma política que crie lugares de trabalho; defende uma política que deixe mais âmbito de aplicação a nível nacional, regional e local mas, por outro lado, quer criar um sistema de governo europeu mais centralizado com uma política fiscal comum; quer limitar o poder dos bancos e quer também que os empresários paguem os impostos nos países onde ganham o dinheiro e não nos paraísos fiscais; quer uma Comissão que tenha, pelo menos, metade mulheres.

Jean-Claude Juncker representa mais uma política da continuidade que quer construir pontes entre os países europeus querendo movê-los para posições comuns apesar das diferenças; quer uma tributação harmonizada das empresas na EU e também é contra a prática das grandes empresas saltarem de um sistema de impostos para o outro. Os dois rejeitam, nos próximos 5 anos, a integração de novos Estados-Membros na UE.

Atendendo ao quórum nacional votante, (apesar dos cabeça de lista representarem diferentes orientações políticas) os eleitores alemães decidir-se-ão mais por Schulz, o que implica uma desvantagem para o candidato Jean-Claude Juncker, que vem de um país pequeno. Além disso quem tem a melhor retórica é o candidato alemão. Segundo uma recente pesquisa, Schulz receberia na Alemanha 41% dos votos e Juncker 24%.

Os franceses não estarão muito motivados a votar. Hollande não querer sequer ser relacionado com Schulz.

Apesar de uma certa mobilização obtida pelos dois candidatos, o eleitorado europeu não se sentirá muito motivado a ir votar, dado o Parlamento Europeu não ter ainda poderes para eleger o executivo; mas o que mais preocupa o cidadão europeu é a distância da oligarquia política e administrativa europeia perante o cidadão: a UE tem-se revelado numa vaca leiteira de caracter mastodôntico e numa loja de auto-serviço para os partidos.

Desmotivação: Burocracia, Dirigismo e Esbanjamento

O que mais preocupa os europeus é o centralismo a nível de leis (a ponto de promover uma política cultural niveladora e desrespeitadora de tradições locais e nacionais), a exagerada burocracia e os gastos escandalosos com ela.

A Comissão Europeia, em Bruxelas, é a função pública da EU, que, com 28 comissários (um de cada Estado-Membro), actua como governo da Europa, presidido pelo Presidente da Comissão. O Conselho da Europa, constituído pelos 28 chefes de governo dos Estados membros, é a instituição mais poderosa da UE; ela aprova a legislação proposta pela Comissão Europeia e propõe o Presidente da Comissão.

O Parlamento Europeu tem 766 deputados provenientes dos 28 Estados-Membros que representam os 500 milhões de cidadãos da UE. O PE tem o poder de iniciativas legislativas e de legislação em bloco.

O PE tem duas sedes: para as sessões plenárias reúne-se em Estrasburgo (França) e em Bruxelas (Bélgica); as reuniões das comissões parlamentares têm lugar em Bruxelas. Os serviços administrativos do Parlamento estão instalados no Luxemburgo.

O PE gasta 200 milhões de euros por ano só com as suas reuniões na sede de Estrasburgo, onde se reúne às segundas e terças-feiras. Tem duas sedes para simbolizar a união pacífica europeia (e ao mesmo tempo testemunhar as rivalidades de interesses entre as potências europeias).

Os Eurodeputados recebem, além do ordenado mensal de 7.956 €, 304 € de ajuda de custas por dia, estejam eles em Bruxelas ou em Estrasburgo.

Segundo o The Wall Street Journal, em Bruxelas, cerca de 3.000 funcionários da UE excedem o ordenado do primeiro ministro britânico David Cameron com £ 178.000 (220.000 € por ano). A EU tornou-se num modelo de negócio de financiamento dos partidos sem paralelo na História.
“As instituições da UE funcionam essencialmente como uma multinacional mãe, na secção, “Política e Lóbis”: os cidadãos (trabalhadores) nas suas filiais (estados) têm que trabalhar cada vez mais para garantir que as diferentes hierarquias de gestão (organismos da UE ) tenham gestões principescas” “Hoje, cada deputado pode, fazendo uso de todos os subsídios, abonos e potes de despesas, chegar a ganhar cerca de 214.000 € por ano, ou seja 17.800 € por mês. Ou, como o jornal Krone de Viena escrevia a 5 de abril de 2013: “108 anos a trabalhar normalmente ou 5 anos no Parlamento Europeu.”(in deutsche-wirtschaftsnachrichten de 24/01/22).

Uma das grandes razões porque os políticos defendem a UE deve-se ao facto de ela constituir o Eldorado para os seus partidos.

Como os nobres na Idade Média, vivem de privilégios. A culpa não é da EU mas dos partidos que em nome da democracia e da república depuseram a Monarquia e se reservam privilégios superiores aos da monarquia. A Associação alemã dos Contribuintes diz que “Os cidadãos europeus sentem que em Bruxelas opera uma casta sem vergonha e sem controlo.” Por estas e por outras, países como a Suíça negam-se a entrar na EU. Bruxelas e Estrasburgo têm 14.644 Funcionários e 8.367 Assistentes.

Quando a razão do povo critica a irracionalidade de interesses que se sobrepõem ao PE e fala de esbanjamento ou de favorecimento dos grandes, estes argumentam que isso é populismo ou inveja. Facto é que todo o sistema favorece os grandes, em especial os países grandes e os privilegiados dos diversos países.
António da Cunha Duarte Justo
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Portugal sai do Programa de Resgate financeiro da Troika

Títulos de Portugal com Classificação de Crédito “estável”

Com o aval da troika, o destino de Portugal volta às mãos dos portugueses. É um momento de satisfação para o Estado e para os parceiros internacionais. Confirma-se assim o início da estabilidade que leva ao abandono da recessão e, consequentemente, à credibilidade internacional. Deu-se um grande passo no sentido da liberdade e da responsabilidade.

Os investidores mostram-se dispostos a investir em títulos do estado. Depois da Irlanda e da Espanha, Portugal é o terceiro país a sair do programa de resgate. Agora, como os outros estados, só fica sujeito à supervisão orçamental através da Comissão europeia. As reformas e o bom comportamento dos portugueses, nestes tempos de cortes justos e injustos, deram confiança aos investidores. A Europa beneficia também da instabilidade na Rússia e na América latina. Há muito dinheiro nos bolsos dos investidores internacionais à espera de oportunidade para serem aplicados, até porque os juros do capital confiado aos bancos são insignificantes.

A altura não é talvez a melhor; a Comissão europeia só prevê uma média de 1,2 % de crescimento económico, para os 18 países da zona euro.

A saúde económica de um Estado mede-se com base nos dados do crescimento económico, mercado de trabalho, dívida pública e inflação.

A Bélgica, Irlanda, Grécia, Espanha, Itália, Chipre e Portugal têm dívidas superiores a 100% da sua produção económica anual.

Segundo a EU, para 2015, está prevista uma descida da actual dívida pública para 73,6% da produtividade económica na Alemanha; para 120,4% na Irlanda, para 124,8% em Portugal, para 133,9% na Itália, para 172,4%, na Grécia.

O Estado ganhou a credibilidade internacional, falta agora ganhar o crédito do povo. Resta aos partidos e à população compreender que contribuições e impostos têm de ser produzidos, antes de serem distribuídos e uma economia sã só recorre a empréstimos para investimentos produtivos.

Ontem, a Agência de Classificação Standard & Poor’s considerou o rating de crédito do país como “estável”, numa próxima decisão, o que significa um indicador aos investidores estrangeiros de poderem começar a apostar em Portugal, porque o país não será descido na graduação. Portugal deixou de pertencer à lista dos países sob observação. Títulos de crédito a longo prazo continuam a ser classificados com o nível ramisco (BB).
António da Cunha Duarte Justo
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CRISTÃOS CRUCIFICADOS POR MUÇULMANOS RADICAIS NA SÍRIA

Política económica de Cowboys multiplica as Vítimas

António Justo
Na semana passada a Fundação AIS noticiou que o Observatório Sírio dos Direitos Humanos tinha divulgado fotos de cristãos crucificados publicamente.

No início do ano, os cristãos de Raqqa, na Síria, foram informados pelos extremistas muçulmanos de que se não se convertessem ao islamismo teriam de pagar um “imposto de protecção”. Esta prática é tão antiga como o Islão. Tal como faziam no século VIII, quando invadiram a Hispânia e as terras que hoje formam Portugal, com o dinheiro que recebiam do “imposto por cabeça” dos não maometanos e do imposto de chefes pelo território, financiam a luta pela sua expansão. A Fundação AIS noticia ainda que “os cristãos passaram a estar proibidos de exibir símbolos religiosos fora das igrejas…”

O Papa Francisco, de mãos atadas, impressionado com as crucifixões de cristãos na Síria, desabafou neste fim-de-semana: “Chorei quando vi nos meios de comunicação social a notícia de que cristãos tinham sido crucificados em certo país não cristão”. E acrescentou: “Hoje também há gente assim, que, em nome de Deus, mata e persegue”, e lamentou que “Existem países em que se pode ser preso apenas por ter consigo o Evangelho”; é o caso também da Arábia Saudita!

O Cinismo moral

O pensar politicamente correcto não fica satisfeito quando se dão informações sobre as barbaridades do extremismo de grupos muçulmanos que actuam globalmente. Por isso, notícias destas, aparecem escondidas ou nas folhas menos lidas. Isto até tem a sua lógica porque assim mais que guerras há guerrilhas que justificam intervenções militares económicas.

As guerras do Iraque, da Síria e as rebeliões do norte de África, Sul do Sudão, etc., dão-se na defesa de interesses económicos do ocidente e da Rússia e servem de pretexto para a religião islâmica acentuar a sua expansão através da violência contra os cristãos.

As pessoas que abdicaram de si mesmas, apropriam-se do direito fundado no Corão e assumem-se em juízes na defesa da própria religião. Neste ambiente, de uma maneira geral, nunca se ouve líderes muçulmanos declararem-se em público contra tais barbaridades nem se mostrarem empenhados na defesa de uma política séria da convivência pacífica entre grupos étnicos e religiosos. Em nome da religião e do Corão conseguem canalizar a raiva e o ódio explosivo da fome, da frustração e da injustiça e ainda ganhar dividendos políticos, apesar do sofrimento da população.

O Ocidente, só interessado no negócio ou em impor a sua ideologia a estes povos, não acha digna de nota a perseguição aos cristãos. Estes são, muitas vezes, os reféns de uma agressão antiamericana, dado a América ser tida como cristã. Por outro lado, as pessoas só interessadas no negócio vêem mais vantagem no Islão.

Os Estados ocidentais não estão interessados numa política social justa, de acordos bilaterais entre eles e os países árabes, acordos que iriam normalizar as relações entre os povos, ideologias e religiões e assim impedir uma política económica de cowboys nestas zonas. Para continuarem, com boa consciência a nível social interno, ainda vendem a desestabilização de povos fomentada no apoio a grupos radicais, como serviço à democracia e ao direito de autodeterminação.

A desestabilização da Síria deve-se aos interesses económicos e estratégicos dos USA/EU e Rússia e aos interesses religiosos e estratégicos de sunitas, xiitas e turcos.

Na batota da moral, o Ocidente sacrifica os seus princípios humanitários aos seus interesses económicos. A ideologia económica é tão cínica que prefere masturbar-se e tornar-se ela na fonte da moral. Vai sendo tempo de se deixar de temer Deus para se temer o Homem e, talvez de volta, se encontrar o Homem-Deus!

António da Cunha Duarte Justo
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Aplicação da Prática Alemã seria oportuna para os Países carentes do Sul


Transferência de 2 triliões de Euros como Contributo de Solidariedade para a antiga Alemanha de Leste

António Justo
Para se ter a ideia do atraso da DDR (antiga Alemanha oriental) em relação à Alemanha ocidental (BRD), basta ter presente que, depois da união das duas alemanhas, a Alemanha oriental recebeu, segundo o investigador Klaus Schröder, nos últimos 25 anos, dois trilhões (triliões) de euros. Apesar disso ainda não atingiu o nível de vida da antiga Alemanha ocidental (BRD).

Todo o cidadão da antiga Alemanha ocidental é obrigado a pagar um suplemento de imposto que é transferido para a parte oriental; apesar da contínua transferência de milhares de milhões de euros por ano, a parte oriental da Alemanha ainda se encontra atrasada a nível de ordenados e reformas, em relação à Alemanha ocidental.

A solução para o equilíbrio das economias dos países do norte e do sul da União Europeia teria de passar por um imposto de solidariedade dos países ricos para os países pobres, tal como acontece dentro da Alemanha. Assim se construiria uma EU com base na solidariedade e numa união responsável. A EU, para chegar a uma união de facto terá de superar os muros internos nacionalistas e económicos. Uma análise da sociedade alemã e da maneira como soluciona os seus problemas nacionais poderia servir para um discurso mais realista em sociedades com problemas económicos e sociais.

Queda do Muro de Berlim e do Comunismo soviético há 25 Anos

Para o sindicalista e Nobel da Paz, Lech Walesa, as primeiras fendas nos muros do comunismo soviético “deram-se nos estaleiros de Gdansk” e “sem o movimento de liberdade da Polónia não teria havido a queda do muro de Berlim, há 25 anos.

O sindicato Solidarnosc (Solidariedade), em mesa redonda com o governo (apoiado pela Igreja), conseguiu em 1980 um pacto de “renúncia à violência” (HNA 5.05.2014).

No início de Abril de 1989 foram acordadas, entre o governo da polónia e o movimento Solidarnosc, eleições, meio livres, que reservavam 35% dos lugres no parlamento resultantes de eleições livres (oposição) e 65% para os partidos do governo. As eleições (4.06.1989) provocaram um colapso imprevisto pelo sistema na sociedade polaca: 160 dos 161 mandatos no parlamento foram ganhos pela oposição em torno da Solidarnosc, bem como 92 das 100 possíveis lugares no Senado.

A 27 de Junho de 1989, a Hungria começou a desmontar arame farpado da fronteira, declarando o fim da ditadura comunista. A 19 de Agosto de 1989 a Hungria deixa cidadãos da DDR (Alemanha socialista) passar a fronteira para a Austria.

Michael Gorbatchev (1985, Secretário Geral do partido comunista da união soviética) queria evitar o colapso económico do comunismo da União Soviética e impedir o seu contínuo atraso em relação ao Ocidente, e, nesse sentido, permitiu uma certa flexibilidade na liberdade de opinião (Glasnost) e democratização dos estados (Perestroika), o que autorizava reformas dentro do Estados da União Soviética. Gorbatschow declara o fim de alerta para os Estados e assegura em Berlim (40 aniversário da DDR a 7.10.1989) aos jornalistas: ” Perigos só vêm para aqueles que não reagem à vida … Quem chega atrasado será punido pela vida“ (HNA).

O Muro de Berlim caiu a 9. Novembro de 1989. A partir daí os cidadãos têm liberdade de passar a fronteira. A reunificação da Alemanha deu-se a 3 de outubro de 1990.
Em 25 de dezembro de 1991, com a renúncia de Gorbatchev dissolve-se a União Soviética, surgindo dela doze repúblicas restantes como países pós-soviéticos independentes. A Federação Russa é agora a continuadora da antiga União Soviética.

António da Cunha Duarte Justo
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A ARTE DE SER FELIZ – BOA E MÁ DISPOSIÇÃO

O Vento na Natureza é como as Ideias na Alma e nas Vivências

António Justo
O estado de ânimo e o estado do tempo são duas manifestações de realidades compartilhadas: o sol na natureza e o Espírito na pessoa. Sol e Espírito estão em relação directa: chove em mim, chove na natureza! No bom tempo há sol, alegria e ideias positivas, no mau tempo há chuva, tristeza e ideias negativas. Fazemos parte duma realidade em reciprocidade mais ampla do que a do próprio biótopo de que julgamos ser senhores.

Certamente que já lhe aconteceu, depois de ter passado um dia calmo e sereno, com alguém da sua relação, de repente, ao dizer algo, desencadear-se uma tempestade de sentimentos e relâmpagos de ideias cada vez mais incendiárias. A atmosfera chega, por vezes, a carregar-se de tal modo que o fogo do instante faz desaparecer o sol que antes brilhava em nós.

Na procura de relações de amizade experimentamos demasiado os extremos da pressão e depressão climática e psicológica. Não fossemos nós também natureza! Na procura de carinho, aceitação, reconhecimento e estabilidade não contamos com as leis da nossa meteorologia interna a que está sujeita também a nossa natureza humana. Em momentos de crise social, grassa mais, o temporal na família e na sociedade política e civil. Nota-se a insegurança individual e social para onde quer que se olhe! Daí, cada qual sentir a necessidade de se refugiar numa trincheira comum com “amigos” que confirmem a própria opinião aplainada num biótopo próprio, contra uma paisagem variada e diversa de altos e baixos, contra o lá fora. Procura-se uma amizade de primavera que não suporta as outras estações, quer em si quer nos outros. Escolhe-se viver numa estufa de ideias e de sentimentos, fora da natureza, fora da realidade completa que somos. Esquece-se que as ideias e em parte os sentimentos são apenas fenómenos externos e, por vezes, se comportam como o tempo. Ignora-se que o biótopo privado dos amigos e companheiros é um biótopo entre muitos outros, numa natureza diversa e diferente que a todos mantém vivos no movimento.

As ideias tornam-se como fósforos a raspar na caixa do sentimento. As ideias como o vento arrastam atrás delas a chuva e o sentimento. Quanto mais fúria sopra do vento das ideias mais as ondas das emoções se levantam e encrespam. Lá fora como cá dentro, há tempos de altas e baixas pressões.

A paisagem da nossa alma tem muito de comum com a paisagem da natureza lá “fora”. Como nela, no nosso coração há chuva, abertas e sol. Os princípios e as leis que as regulam são semelhantes e há algo de comum também. Quando há sol na natureza, no nosso coração tudo se torna, dentro e fora, mais leve e o horizonte revela-se mais largo. Se chove ou há nevoeiro na nossa alma, nem notamos a beleza da paisagem por onde passamos.

Forças, que, por vezes, se revelam más em tempos de tempestade, se bem vistas, podem tornar-se produtivas, como acontece no uso do vento para fins energéticos se forem orientadas. O mesmo se diga em relação às ideias. Em cada pessoa como na natureza há energias ciclónicas e anticiclónicas, marés-altas e baixas, euforias e depressões.

No mar da vida, para se levar uma vida equilibrada, há que aproveitar o vento propício para melhor se abordar à costa. Em tempo de nevoeiro torna-se perigoso arribar. É preciso esperar o bom tempo das ideias, das ideias benignas e da calmaria do coração para se abordar o outro e então resolver os problemas com horizontes largos e duradouros. Em mim como no outro, nas ideologias como nas sociedades, se notam os mesmos estados do tempo!

As rajadas do vento e das ideias, como a calmaria do estado do tempo lá fora e o estado da atitude de espírito em nós, são situações naturais a compreender para se aceitar a realidade própria e do outro. Depois da tempestade avizinha-se o nevoeiro e normalmente é precisa a predisposição para se olhar em redor na descoberta dum arco-íris anunciador de sol. Esta é uma oportunidade para se descobrir a si no outro. E “depois da tempestade vem sempre a bonança”, não fossemos nós natureza e não nos víssemos nós no espelho dela. Como na natureza também na panorâmica humana há diferentes biótopos de caracteres e mentalidades como se pode verificar da observação de discussões acirradas entre optimistas e pessimistas, entre o comunista e o capitalista, entre a reacção da pessoa em estado eufórico ou depressivo. O pessimista naturalmente que preferirá dizer “depois da bonança vem a tempestade”. É sempre uma questão de perspectiva. Se um olha na direcção do dia o outro olha na direcção da noite! A natureza e nós, somos dia e noite! No fim, a intenção é que vale e já antes os dois tinham razão, situando-se o problema apenas na perspectiva de cada um! O problema não está na natureza mas na rosa-dos-ventos!

Criar em nós uma instância do bom humor

Há pessoas muito sensíveis que reagem como micro climas. A boa ou má disposição influencia a percepção dos outros e do que dizem. Na verdade, até o tempo se torna cúmplice do nosso humor. Os mesmos temporais, as mesmas bonanças do tempo, lutas e discussões da pessoa e da instituição; o mesmo acontece em casa, na família como na polis e na disputa entre os partidos e na discussão de opiniões; tudo isto se encontra submetido às mesmas forças e leis a descobrir. Os problemas surgem principalmente do facto de cada indivíduo ou grupo ter uma visão perspectiva da realidade quando esta é a-perspectiva. Tudo apenas um problema do tempo lá “fora” e cá “dentro.“ Assim acontecem as ventanias e as tempestades destruidoras na natureza, e as rajadas que devastam a sociedade, a família, as amizades e as pessoas.

Como nas pessoas assim nas montanhas. Se na base há nevoeiro certamente que lá em cima brilha o sol. Se nos encontramos na depressão, no vale, na comba da tristeza, certamente que só veremos no outro o escuro do nevoeiro do sopé da montanha e a própria escuridão nos atemoriza porque vemos fora o que está dentro. Como me encontrava no sopé não podia ver a montanha toda no outro e em mim. Hermann Hesse resumia um saber da psicologia nestas palavras: “Se você odeia alguém, é porque odeia alguma coisa nele que faz parte de você. O que não faz parte de nós não nos perturba” Transmissão ou transferência é um fenómeno psicológico muito comum e a que se deve prestar atenção, especialmente quando alguém fala mal de outro!

Todos fazemos parte da mesma montanha. Se dum lado da encosta há chuva do outro haverá sol. A paisagem que hoje sorri ao sol amanhã chora à chuva. Tudo sofre e se alegra a seu tempo. À depressão (tristeza) do sentimento dum lado corresponde a pressão (alegria) do outro lado.

Urge aceitar os sentimentos como se aceita o tempo para se evitar o curto-circuito de ideias e a consequente trovoada dos sentimentos. Se me encontro no fundo do vale, do lado da encosta sombria das ideias é melhor esperar por uma aberta ou tentar subir a encosta até encontrarmos o sol e assim nos podermos orientar melhor numa perspectiva para além do nevoeiro. No nevoeiro e na tristeza certamente que pintaremos a vida e o outro com cores escuras, não podendo deslumbrar nelas a beleza da realidade das cores do arco-íris. Os problemas ocasionais passam com uma simples mudança de perspectiva; os grandes permanecem tanto no sopé como na encosta da montanha. Estes porém só devem ser resolvidos com eficiência na fase soalheira da vida. Doutro modo formam-se opiniões e tomam-se decisões que criam maiores problemas ainda, por falta de horizontes mais largos.

A questão será encontrar a balança numa vida consciente da tempestade e da bonança. As diferentes estações manifestam diferentes riquezas em interdependência em nós e nos outros, entre o cá dentro e o lá fora, que são parte da mesma realidade.

A disposição, o bom ou o mau humor, determina a nossa vivência. Somos mais que o mimetismo das nossas ideias e sentimentos. Para mudar a vivência não chega mudar as circunstâncias exteriores porque também as nossas ideias e sentimentos provocam, muitas vezes, a cor do ambiente, a cor das circunstâncias exteriores.

À distância vê-se mais. A causa da nossa má relação está, muitas vezes, em pensar nela. Não chega esperar pelo tempo que cura todas as feridas. Importante é pôr-se o problema e esperar-se pela solução mais tarde. Para os problemas ocasionais do dia-a-dia, muitas vezes, basta tirar o cobertor escuro das ideias com que envolvemos o parceiro e nos envolvemos a nós. Na cama dos sentimentos é preciso arredar os pijamas das nossas ideias e procurar tocar com a própria mão no corpo nu do outro. Então, na nudez do outro descobrirei a própria nudez, e sentirei nele o calor primaveril que me incendiará também a mim.

Se a ocasião não proporcionar tanta proximidade, basta um sorriso, um louvor verdadeiro. O sorriso, o louvor é como o sol que derrete as roupagens das neves mais resistentes.

Agradecer e louvar é um acto nobre que reconhece a realidade do dia e da noite, do bom e do mau humor no todo e em cada um.

Se queres ser feliz, entra na tua vida, descalça as botas. Sentirás a felicidade de um estar com todos sem te perderes em ninguém, dá-se a fusão dos polos. Então sentirás a harmonia do agora a fluir; na felicidade o tempo passa e o caminho une-se à meta. Felicidade é sentir a paz do mar profundo nas suas ondas altas!

António da Cunha Duarte Justo
Pedagogo e Teólogo
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