Por António Justo
A União Europeia aceita como refugiados os curdos perseguidos pelo regime turco e, por outro lado, dá à Turquia o poder de enviar os refugiados da Síria para a Europa. Segundo o tratado entre a EU e a Turquia, além dos seis mil milhões de euros que a EU concede à Turquia para os refugiados, o tratado determina que os refugiados enviados da Turquia para a Grécia (destino Europa) podem ser reenviados pela Grécia para a Turquia e a Turquia, por cada refugiado reenviado da Grécia pode escolher um dos que se encontram no seu território e enviá-lo para os países da EU. É um negócio esquisito que se dá à custa da humanidade dos refugiados e que serve a Turquia e a Europa. Serve a Turquia porque esta pode escolher os refugiados que manda para a Europa e até ficar com os mais qualificados; é também um negócio para a Europa porque ao encurralar os refugiados na Turquia e na Grécia pode ter controlo sobre o tráfico dos refugiados, tirando-o das mãos dos traficantes livres para o passarem ao controlo dos Estados (aqui a Europa espera também que o Estado turco assuma a responsabilidade sobre os traficantes turcos e internacionais que operavam da Turquia, chegando estes a ganhar mais de quatro mil euros por cada refugiado traficado).
Por cada sírio enviado de volta para a Turquia, o Estado turco começou a enviar legalmente um outro sírio para a Europa a partir de 4. de Abril passado. A Europa comprometeu-se a receber, este ano, até 72.000 refugiados por esta via.
Erdogan é um osso duro de roer para os seus parceiros europeus. O autocrata Erdogan, que se ri dos valores democráticos, alinha as forças da Turquia em direcção ao fascismo. O presidente turco sabe que tem na sua agenda a cartada dos refugiados para poder chantagear a classe política europeia que não quer ver o seu poder diminuído com o surgir de novos partidos concorrentes alimentados pelo tema dos refugiados e da política da EU. Deste modo é diminuído o contrabando com os refugiados ao condicioná-lo a fronteiras e à burocracia dos estados.
A Chanceler alemã apesar do clima político complicado, aquando da visita à Turquia não parece ter vendido a alma democrática á Turquia, ao expressar em Istambul a “profunda preocupação” sobre a manipulação da oposição, a liberdade de imprensa e a maneira como o Estado trata os curdos.
Agora que a Alemanha declarou a o massacre dos turcos contra os arménios como Genocídio, o Governo turco lançará algumas “bombardas” contra a Alemanha tal como fez contra a França aquando de igual resolução proclamada pelo parlamento francês; as bombardas estarão condenadas a afogar no mediterrâneo não atingindo a Alemanha porque a economia turca está imensamente dependente do comércio e do turismo alemão.
António da Cunha Duarte Justo
Pegadas do Tempo