DOCUMENTA – A Exposição de Arte Contemporânea mais importante do Mundo

O Absolutismo na Arte

António Justo

 

De cinco em cinco anos peregrinam, de todas as partes do mundo, milhares de artistas e admiradores da arte contemporânea até Kassel, Alemanha. A documenta foi criada em 1955, em Kassel pelo artista Arnold Bode que pretendia, com a iniciativa, abstrair das ruinas da guerra e seguir novos horizontes ao serviço da abstracção. Na primeira exposição houve sobretudo obras de arte que tinham sido proibidas e perseguidas durante o regime nazi e intituladas de arte degenerada (“Entartete Kunst”).

 

A documenta alonga-se por 100 dias. Nesta altura a cidade transforma-se num mar de gentes de portes exóticos: um aspecto folclorístico que faz lembrar os mercados da idade média em torno das catedrais e, assim, forma, já por si, também uma obra de arte social. Kassel transfigura-se numa praça de arte que se estende por edifícios, parques e outros espaços públicos da cidade. A documenta apresenta uma perspectiva transversal da arte contemporânea e permite fazer o ponto da situação mundial em questões de arte e ocasionar uma certa orientação de perspectiva. Na sua história de 57 anos com 13 exposições, documenta as contradições e ambivalências do Homem e do tempo num currículo de realização e fracasso em processo de morte e ressurgimento.

 

A dOCUMENTA (expressão gráfica da documenta 13) vive da ambivalência e do escândalo na procura dum futuro prospectivo a partir dum presente impregnado de contradições e inconsistências que se expressam de documenta para documenta, numa manifestação de diferentes atitudes artísticas a que assistem diferentes filosofias, teorias, correntes políticas e sociais contemporâneas.

 

A documenta13, realiza-se de 9 de Junho a 16 de Setembro de 2012. A última documenta/2007 conseguiu vender 754.301 bilhetes. O objectivo da actual é atingir um milhão de visitantes. Ela é ao mesmo tempo o maior festival Open-Air. Kassel oferece possibilidades ilimitadas: o visitante tem a oportunidade de se alegrar e irritar sobre a arte.

 

A documenta (13), foi elaborada sob o lema “Colapso e Reconstrução” e tem como chefe/gerente a americana Carolyn Christov-Bakargiev apelidada por jornalistas de “Lady Gaga”. Ela situa-se nas pegadas e tradição das 12 documentas anteriores prosseguindo um espírito de continuidade de arte afirmativa e provocativa. Procura apresentar o válido como inválido e vice-versa, documentando assim as contradições da actualidade.

 

A direcção da documenta escolhe para chefe de cada exposição, um curador/chefe da documenta equipado de poderes absolutos; este pode pôr e dispor à sua vontade de maneira dogmática a própria filosofia. Na documenta, aqui em Kassel, a arte arroga-se alvores absolutistas. Carolyn Christov-Bakargiev encena-se como se fosse a sacerdotisa da arte, não lhe faltando a estola, o gesto religioso e o dogmatismo ostentado. O sensacionalismo em torno dela talvez venha do facto Carolyn Christov-Bakargiev querer, com idiotices mudar o nosso pensamento, através da documenta. Desta vez participam 297 artistas e grupos de artistas de todo o mundo.

 

“Direito de Voto para Cães e Morangos”

Em torno da dOCUMENTA 13 tem havido muita discussão na imprensa; a chefe tem-se revelado como bastante jacobina, não suportado mesmo nada que contradiga a sua ideologia/visão de arte. Para Josef Beuys artista “ é toda a pessoa”;  para a chefe da documenta, artista é toda a natureza, ponto.  Carolyn Christov-Bakargiev exige o direito de voto também para os morangos e para os cães; também há três cães da documenta treinados e colocados à disposição de visitantes que se deixarão conduzir pelos caninos; o sentido desta iniciativa é levar o visitante a ver a atitude do cão perante a obra de arte; intenção é inverter os valores colocando o Homem ao nível do cão e do morango. As suas posições radicais têm sido muito criticadas, muito embora a sua posição extremista possa ajudar uma sociedade surda-muda a notar que a natureza é sua companheira. A exposição paralela à documenta organizada na igreja católica St Elisabeth, onde o artista Stephan Balkenhol apresenta (na torre) uma instalação com um homem de braços abertos sobre um globo dourado, provocou os furores da chefe da documenta que não queria ver o Homem numa posição superior ao dos animais e das plantas. Sentiu-se “ofendida” por aquela instalação que questiona a sua intenção niilista não suportando o optimismo do Homem como senhor e corresponsável da natureza. Isto não passa dum ultraje invertido pois encontra na torre da igreja algo irritante para quem quer um mundo plano com tudo sem moldura, tudo abstrato, que desvie as atenções do humano.

 

A documenta quer ser um espelho da arte contemporânea mas negligencia grande parte da arte e em especial a pintura, o realismo, fotorrealismo, o realismo fantástico e o surrealismo. Por isso já houve movimentos anti documenta que foram imediatamente oprimidos. As pessoas não ousam opor-se ao espírito da documenta sejam cientistas da arte seja o povo. O doentio, o dilacerado tem sido tematizado em instalações e esculturas. Contrapõe-se o desastroso, o ameaçador em rituais negadores de ritos optimistas da religião e da sociedade. Um certo espírito da documenta quer afirmar-se como religião secular contra o religioso cristão e passar à margem das pessoas. Parece não reconhecer o facto de vivermos todos num mesmo mundo plurifacetado feito de muitos universos complementares.

 

Numa perspectiva cristã da arte o ser humano está chamado a mais do que a gritar. O Homem é o caminho de Deus e deve reconhecer-se como companheiro adulto da natureza mas sem abdicar de ser sua consciência. A religião e a arte devem ser os sismógrafos dos problemas. A arte também tem de se entender como resposta ao mundo na responsabilidade; por isso, também ela deve questionar os próprios conceitos. Por vezes tem-se a impressão, em certos meios ideológicos e de certa arte que a imagem de Homem constitui, já por ela, uma provocação. Esquecem que o olhar cego e vago da realidade é um olhar de governantes ou de quem se não quer envolver ou deixar tudo às forças duma natura sem cultura.

 

A arte abre novas visões mas precisa da condição humana para tornar não só a miséria humana visível mas também a parte nobre como a religião pretende afirmar. Também Dostoievski dizia “o belo libertará o mundo”. Quando se desiste da religião, o mundo torna-se em ameaça, como pretendem certas tendências ideológicas. Torna-se importante libertar a religião e a arte do medo e das ideologias.

 

A arte também é importante como catarsis, como crítica, sem ter necessidade de exilar a esperança. Não se podem tornar cúmplices com os senhores que roubam o mundo roubando a senhoria ao Homem tornando-o seu arrendatário e reduzindo-o a indivíduo anónimo numa imagem sem nós, como se uma árvore não estivesse incardinada num biótopo. Eu sou rei e escravo soberano, permaneço mistério e tanto a arte como a religião, como a ciência, a política, não conhecem um porquê da realidade. A arte e a religião protegem o mistério, aquilo que dá grandeza e perspectiva ao Homem e à natureza. Seria abstruso que arte e religião não reconhecessem o mesmo coração donde provêm, do epicentro da intuição que proporciona o sonho na empatia. Até ao séc. XVIII religião e arte viviam em relação amorosa, queriam modelar e tornar visível o mistério. Arte e religião questionam as compreensões imediatas. Com o racionalismo e o materialismo deu-se o divórcio do sagrado e do profano e dividiu-se o povo em sábios e ignorantes caindo-se num fundamentalismo de posições. Hoje torna-se óbvia também uma reculturização, uma nova consciência, à margem dum normativo racional que aprisiona a realidade em imagens e caixilhos religiosos, científicos, ideológicos, políticos, etc.

 

Na casa da arte, tal como “na casa do Pai” há muitas mansões; seria miopia expulsar a religião e o Homem do templo da arte e a arte da religião. Realidade e imagem são imagens!… Fazemos todos parte dum mesmo mundo, numa realidade complementar do não só… mas também…

 

António da Cunha Duarte Justo

antoniocunhajusto@gmail.com

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PENTECOSTES – O PRINCÍPIO DA DEMOCRACIA ESPIRITUAL


Liberdade e Inovação são Qualidades do Espírito

 

António Justo

 

 

No Natal Deus desce à terra, torna-se carne/terra. Depois vem a Páscoa a apontar para a vida como via-sacra em que a Cruz se torna símbolo da existência que é feita de morte e de ressurreição. No Pentecostes completa-se o ciclo vital em que a natureza através da pessoa humana ergue os olhos da terra para o alto, para o céu, no reconhecimento de que o Homem é feito de terra e céu e Deus também. Proximidade e distância são partes integrantes da pessoa. As fronteiras do homem e do seu biótopo não se deixam definir pelo horizonte que o nosso olhar permite. Há o longe, o distante que chama e tudo move para lá dos nossos limites sensoriais. O longe só é perceptível aos olhos do coração.

 

O Pentecostes inicia a capacidade de respirar um ar invisível que tudo suporta. A experiência da luz (línguas de fogo que vêm do alto) afasta o medo e possibilita a aventura criativa e criadora. Cada ser fica cheio de luz, grávido de Deus. O problema é a crusta, o limite (identificador) que o envolve e leva a afirmar o limite contra o universal integrador. O Paráclito é a essência comum ao particular e ao todo; ele é o nós do eu e do tu, à imagem do eu (Pai) e do tu (Filho JC) que, em relação íntima, cria o terceiro, o nós (Espírito). Por isso a celebração do Pentecostes anda ligada à festa da Trindade. Ireneu de Lyon condensou a Trindade na frase seguinte: «O Pai é complacente e ordena, o filho obra e forma, o Espírito nutre e incrementa». Segundo a filosofia cristã o ser humano está chamado a ser parceiro divino da criação à imagem do JC na filiação divina. A relação criador-criatura faz do cristianismo um monoteísmo mitigado.

 

Assim, não chega correr com os outros; cristianismo é mais que compromisso, é ser margem e rio ao mesmo tempo, espírito e matéria em reconciliação. Na metáfora da realidade que a natureza oferece, no ciclo da água que na sua essência inclui, ao mesmo tempo, os estados sólido, líquido e gasoso, pode pressentir-se a essência do nosso ser: mudança e permanência, espírito e matéria, igual e diferente. O mesmo somos nós a nível de indivíduo e de eclésia. O Paráclito é um desafio à solidariedade e conciliação dos elementos, à capacidade de adaptação contínua ao novo, porque só assim permanecemos nós, não podendo ser reduzidos a mero leito onde a vida passa.

 

O espírito tem uma relação céptica perante o leito mas sem ele faltar-lhe-ia o seu fundamento para poder ser fluxo. A existência é feita de perguntas e respostas em contínua interacção. Parar numa pergunta ou numa resposta seria negar a vida; por isso o Espírito fala em várias línguas, também a tua e a minha. O espírito flui onde e como quer. Importante é a abertura e não a incrustação de vida em preconceitos teorias ou dogmas, como se a verdade e a realidade fosse apenas sólida. Se a afirmarmos como sólida ela é líquida e se a afirmarmos líquida ela é gasosa, sim porque a questão está na nossa visão de perspectiva que é selectiva e não inclusiva.

 

Pentecostes é também celebrado como o aniversário do nascimento da Igreja como comunidade com a missão de viver e levar a Boa Nova à humanidade e de a viver em comunhão com a natureza. Pentecostes vem do grego e significa o “quinquagésimo dia depois” da Páscoa; o Espírito germina na pessoa e na comunidade fazendo deles agentes com a capacidade de falar muitas línguas, a linguagem do amor que é percebida nas mais diversas paragens independentemente de raças e culturas.

 

Cinquenta dias após a “perda” do JC, a tristeza dos discípulos é compensada pela descoberta dele na pessoa e na comunidade na vivência do Espírito; agora a presença de Deus na Humanidade passa a ser cada pessoa, cada cristão que aja no espírito e consciência do JC que resume o espírito e a matéria.

 

A Comunidade eclesial é aberta a todos os povos (idiomas) não se impondo uma cultura sobre a outra sendo seu característico distintivo a ágape, a caritas, o amor. O que a torre de Babel dispersou antes, congrega agora o Paráclito envolvendo tudo no fogo do amor. O característico cristão é a relação e inter-relação pessoal expressa na relação do JC com a natureza-Pai e Espírito. Ao contrário doutras religiões, aqui, a norma é uma pessoa e não um livro e a ética não se reduz a uma subjugação, ao cumprimento de letras (leis) mas ao amor soberano que tudo diviniza. O ser humano na qualidade de filho de Deus pertence por natureza à família mais nobre, tornando anti-humana e ilegítima toda a prepotência, subserviência e opressão; estas constituiriam um atentado à dignidade humano-divina inerente a cada pessoa. Por isso, os ministérios públicos, as autoridades públicas, ministros, etc., deveriam exercer actividades de serviço às pessoas porque toda a dignidade vem e acaba na pessoa em comunhão com o todo.

 

A festa do Pentecostes é celebrada em toda a Igreja desde o Concílio de Elvira do ano 305. Com a descida do Espírito Santo, o dia eterno do Pentecostes torna-se o domingo dos domingos, o sábado dos sábados em que a acção divina se manifesta e realiza no e com o povo no mundo. A participação no Espírito Santo confere o dom das línguas e os dons do espírito. O ciclo litúrgico quer apontar para a realidade profunda que é o mistério da vida que é toda ela relação.

 

Ultrapassa-se a visão grega da vida da relação de sujeito-objecto passando toda a relação humana-divina-natural a ser uma relação de sujeitos entre sujeitos; isto é passa-se duma  consciência de relação sujeito-objecto para uma relação sujeito-sujeito que tudo personaliza e dignifica. A verdade passa a ser um acontecer e não um mero constructo abstracto ou anónimo. Como no ciclo da vida, a palavra de Deus (o Verbo) está na origem da vida tal como o fruto, a flor, a árvore se encontram já na semente.

 

António da Cunha Duarte Justo

Teólogo e publicista

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MAIAS – Uma tradição intercultural

Tradição das Maias uma Prática tradicional e intercultural

Recordação cristã e pagã

António Justo

Segundo a tradição em parte do norte de Portugal, na noite de 30 de Abril para 1 de Maio, muitas pessoas colocam maias (giestas floridas) nas portas das casas para lembrarem o tempo da fuga de Jesus para o Egipto. Noutras terras colocam maias no ferrolho da porta para serem protegidos das doenças e dos espíritos maus. Em torno de Maio há muitos outros costumes de diferentes tradições.

 

Nalgumas terras alega-se que esta tradição remonta ao tempo de Jesus, aquando da sua fuga para o Egipto devida à perseguição de Herodes que ordenara a procura e morte do menino Jesus. Segundo a lenda, tendo sido identificada a casa onde a sagrada família pernoitava, um denunciador teria colocado um ramo de giesta na porta daquela casa para que os soldados de Herodes, depois de avisados, pudessem identificar a casa e levá-lo. Por milagre, quando os soldados se dirigiram à cidade depararam com todas as portas enfeitadas com ramos de giesta florida. Assim os soldados não puderam cumprir a ordem do mal contra o bem. Noutras terras as maias recordam o caminho da sagrada família para o Egipto: Maria para se poder orientar no regresso terá colocado giestas no seu caminho.

 

Em Maio condensam-se as celebrações de usos e costumes símbolos da fertilidade, por toda a Europa.

 

O ressurgir da natureza é festejado por todas as culturas ao longo da História, reflectindo diferentes expressões religioso-culturais conforme o espírito do tempo e da cultura envolvente.

 

Quando a natureza acorda para a juventude, celebra-se, com festas e ritos, a vida, a luz, o fogo e esconjura-se a treva. Estes ritos ganham expressão em tradições como a das maias, Florais, o burro, a rainha de Maio, coroa das maias, leilão de donzelas, a festa do mastro/árvore (esta festa também da virilidade encontra-se no norte da Europa e em Penafiel – costume celta?), etc. No Norte da Europa há lugares onde se comemora a chegada de Maio onde, outrora,  moças em idade de casar eram apresentadas no leilão de Maio.

 

Maio recebeu o nome do deus Maius que era o deus da Primavera e do crescimento. Para outros vem de Maia, mãe de Mercúrio. As celebrações em honra de Flora, a deusa das flores e da juventude (mãe da Primavera), iniciavam o novo ano agrícola e atingiam, na Roma antiga, o seu clímax nos três primeiros dias de Maio.

 

A Igreja católica declarou Maio como o mês de Maria, a mãe e rainha. Dos 54 países que celebram o Dia da Mãe, 36 festejam-no em Maio.

 

 

Também no Norte da Europa havia a tradição dos rapazes colocarem um arbusto à porta da sua amada como declaração de amor, paralelamente ao costume de serem nesse dia leiloadas as donzelas em idade de “casar”. Há tradições semelhantes em Portugal. Aqui, nalgumas terras, havia a tradição da “coroa das maias”, elaborada em papel com fitas de cores e que os rapazes, colocavam à porta das suas pretendidas, como manifestação do seu amor.

 

 

António da Cunha Duarte Justo

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Falta um novo “25 de Abril”

Democracia de Base versus Democracia de Mordomias

O povo cada vez tem de cavar mais coutos para poder manter um só novo-rico. Por esta e por outras se vai ouvindo, com veemência, por todo o lado, que falta um novo “25 de Abril”. Isto é um desabafo de impotência e desilusão dum povo que se sente encurralado!

 

Vasco Lourenço, líder da A25A, que, há 38 anos, foi um dos grandes actores da Revolução dos Cravos, disse ontem, no discurso do Rossio em Lisboa, que tanto  responsáveis políticos como Assembleia da República  “já não representam a sociedade portuguesa” e que já não estão “à altura das funções para que foram escolhidos”.  Acusa as elites portuguesas de actuarem “à porta fechada, escamoteando a realidade aos portugueses”.


Este é um depoimento importante que merecia ser analisado fora do discurso politiqueiro enquadrado no dia-a-dia português; é um verdadeiro ataque à partidocracia portuguesa que, de facto, desde a sua origem, nunca se manteve à altura do legado de Portugal nem dos interesses do Povo português. Consequentemente haveria que questionar a Constituição que privilegia os partidos e elaborar um novo sistema de representatividade.
Desde as invasões francesas a alma portuguesa encontra-se empalamada.

É um escândalo ver como suportamos parlamentos demasiado numerosos em países pequenos e como alimentamos eurodeputados insaciáveis. O mau exemplo vem das elites.

A “realidade” de políticos e da propaganda partidária não tem nada a ver com a realidade do povo. Os vencimentos de personalidades políticas e de administradores de empresas públicas e privadas são a melhor prova de que o sistema falhou e se encontra ao serviço de alguns!
As organizações partidárias portuguesas encontram-se eivadas dum espírito mafioso engravatado e culto que não dá nas vistas. Em vez da preocupação pelo povo domina o interesse pela progressão na hierarquia partidária, por vezes sem quaisquer escrúpulos. A sociedade portuguesa foi habituada e alimentada com o discurso político à custa do discurso cultural, social e económico.

A situação económica em que nos encontramos é consequência da crise cultural e moral que criámos.  É urgente que políticos e elites, em geral, se convertam por atitude de inteligência ou mesmo oportunista. Se não se converterem à honra e  à dignidade humana, o nosso futuro tornar-se-á num inferno. A partidocracia aliada aos poderes subterrâne tem desacreditado a democracia representativa e encontra-se com a colectividade a caminho da ruina.

A alternativa está numa metanóia de elites e de povo. A mudança passará da filosofia da afirmação do eu à custa do tu e do nós para uma ética de afirmação do nós onde o eu e o tu cresçam em dignidade e respeito. O nós passa a ser o ponto de partida e de chegada do nosso pensar e agir. O nós é mais que a soma do eu e do tu.

Realmente torna-se cada vez mais óbvio um novo “25 de Abril” mas não só de cravos vermelhos, no coração de cada um. Já chega de ramos de cravos vermelhos com atilhos pretos. Portugal terá de se tornar num jardim onde crescem todas as flores numa dança de cores.

 

Portugal e a civilização ocidental têm que fazer uma cura. O primeiro tratamento será o de desenvenenar o pensamento!

 

A geração mais nova e em especial as próximas gerações terão razão acrescentada para pedir contas, a nós, os da geração 68, e ao regime.

António da Cunha Duarte Justo

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“Militares de Abril” boicotam Comemorações Oficiais do 25 de Abril

MILITARES DE ABRIL QUEREM SAIR DE NOVO PARA A RUA Protagonismo político camuflado na A25A

António Justo

A “Associação 25 de Abril” (A25A) fiel à ideologia inicial do seu “Abril não desarma” declara que “não participará nos actos oficiais nacionais evocativos do 38.º aniversário do 25 de Abril” mas sim em comemorações populares; isto traduzido em texto claro significa: participará em comemorações arruaceiras. A A25A quer ver os seus militares abrilistas na rua a fazer barulho antes que sejam chamados a responsabilidades de acções antipatrióticas outrora praticadas. Nestes festejos, a sociedade portuguesa deve estar atenta não só aos que comemoram a oficialidade como também aos mais populistas, aos que agora afirmam ser “conscientes das obrigações patrióticas que a nossa condição de Militares de Abril nos impõe…”, aos que, oportunamente abandonam as bancadas, como faz agora Soares. Só assim, os portugueses poderão concluir do conluio entre irresponsabilidade política e popular para se poder tornar imune contra o oportunismo da ideologia e da rectórica alienante.

Aproveitando-se do mal-estar português, a A25A torna-se porta-voz de recalcados anseios dos seus “Militares de Abril” por um novo Golpe Militar. A A25A apoia descaradamente a opção militarista como solução para os problemas de Portugal, como se Portugal fosse uma república das bananas interessada na solução árabe para Portugal. De facto, a A25A, no seu manifesto, confessa, para quem lê nas entrelinhas:declaramos ter plena consciência da importância da instituição militar, como recurso derradeiro nas encruzilhadas decisivas da História do nosso Portugal”. Portugal “nosso” deles…

Continua-se com a mesma oratória de há 200 anos para cá, como se os problemas políticos e sociais das sociedades modernas pudessem ser solucionados com uma rectórica partidária irresponsável. Têm ainda a insolência de afirmar: “a nossa atitude não visa as Instituições de soberania democráticas”, como se esta acção demagógica não partisse de pessoas ligadas às instituições de soberania como é o caso de Militares e não fosse apoiada por pessoas como M. Soares.

Afinal, quem são os “Militares de Abril”? Uma aparição salvadora? O protagonismo político, que a A25A cobre, é irresponsável, num momento em que Portugal ferve e deveria reflectir sobre si mesmo e sobre estratégias isentas para sair da crise. Fala-se do Militares de Abril como se na terceira república não tivéssemos também os militares de Novembro. Será que as forças militares se sentem obrigadas a ideologias ou estará a facção abrilista interessada em criar o caos em Portugal?

Os interesses da facção dos “Militares de Abril” e seus aliados, em tempos de crise, descobrem a rua e muitas autarquias locais como campo de acção, para, à custa do mito de Abril (Primavera) poderem continuar a vestir a pele de cordeiro e poderem, no ribeiro popular, afirmar que quem “suja” a água não são eles mas os outros, os maus. Camuflados dos ideais de liberdade, justiça e libertação enganam o povo dizendo “A A25A participará nas Comemorações Populares e outros actos locais de celebração do 25”. “Abril não desarma”! Que armas têm estes militares?

É cinismo verificar como “Militares de Abril”, que, com os seus cúmplices de partido, atraiçoaram os interesses de Portugal, a nível internacional, se querem agora aproveitar da crise e das insatisfações do momento bem como correspondente descarga de culpas no estrangeiro. A culpa morreu solteira, sabia também o povo de antigamente! Em nome de Abril, a terceira república meteu a carroça da nação na lama e os seus beneficiados querem-se agora ilibar, armando-se em libertadores da nação. Oportunos, falam agora mas não quando deveriam ter falado! Coisa semelhante aconteceu na primeira república que depois deu origem à do Estado Novo. A Nação portuguesa já está habituada a ser o bombo da festa de oportunistas à espera do momento para assaltar o Estado. Quem provou os seios do Estado foge do povo para se alimentar dele. Da situação de Portugal somos todos responsáveis, a não ser que pretendamos a  confusão dum estado para mamar e doutro para acusar!

Na sua ética e moral jacobínias atiram pedras escondendo-se por trás de palavrinhas mágicas como liberdade, cidadania, etc. Do alto do barranco do protagonismo político da A25A, pretendem a sua “Integração plena na sociedade portuguesa” como se eles não se tivessem de integrar na sociedade portuguesa. Esta mentalidade tem sido o cancro da nação: em vez de se pretender integrar as partes no todo pretende-se reduzir o todo à parte!

Que as condições mercantilistas impostas a Portugal devam ser contestadas é lógico mas que o movimento republicanista se lave as mãos da lixeira por ele criada, ultrapassa os limites do tolerável.

O que falta em Portugal é o sentido dum trabalho produtivo, um voltar à terra e ao povo deixando a ideologia que apenas serve os privilegiados, os tais de “corpo inteiro”, já que turbo-capitalismo e esquerdismo só valorizam o trabalho à custa da dignidade humana. Os quadros da ideologia e da economia, esses, os senhores da ética (que enriqueceram à custa do 25 falam agora de “ética como “palavra vã”) são os novos-ricos alimentados à custa da exclusão social e de dinheiros da UE. Senão observe-se a excrescência que o 25 de Abril tem produzido: gente esfomeada do dinheiro e da ideologia a viver em nichos e uma pobreza cada vez mais envergonhada no povo. Enriqueceram à custa da revolução e à sombra da revolução atiram pedras sabendo bem que quem paga a crise não são eles, os encostados à Nação mas sim o povo que a alimenta.

Construíram um Portugal dos oportunos (somos dos países com mais cargos em instituições internacionais e vêm agora queixar-se que “Portugal não tem sido respeitado entre iguais”. Precisam dum Portugal vítima para não terem de ser chamados à responsabilidade. Os delinquentes são sempre os de fora! Para si só importam o marisco!…

Falam de barriga cheia porque sabem que a crise, seja ela qual for, só ajuda os das margens da esquerda e os das margens da direita. A terceira república fomentou, entre coisas boas e más, a irresponsabilidade, o medo sub-reptício, o conformismo e o oportunismo; tudo isto em nome do combate ao fantasma de Salazar, pensando que se pode viver à custa do trabalho dos outros. Lavam os seus erros nos erros de Salazar. O povo não come moral nem ideologia e neste momento o que tem é fome, fome de justiça e de trabalho digno e de honra ganha com o próprio esforço.

Os Militares revolucionários de Abril queriam-nos um protectorado de Cuba, Pequim e Moscovo e, agora, no seu camuflado de libertadores abrilistas, acusam-nos de sermos um “protectorado”. Protectorado não é porque Portugal conhece bem o sol do oportunismo e a sua situação de terra maninha, a terra do que é mais forte. A nossa História dos últimos séculos só dá razão aos fracos no momento em que servem de plinto para os mais fortes subirem.

No manifesto da A25A, incapazes (a situação em que nos encontramos é disso a prova) acusam Portugal de ter “dirigentes sem capacidade autónoma de decisão” como se não tivessem sido eles, também, quem na altura abdicou de Portugal para se deixar ir na corrente mais forte.

O regime da terceira república configurou a Constituição Portuguesa e o povo na afirmação dos seus ideais e valores ideológicos e numa estratégia de derrube de tudo o que cheirasse a tradição ou a ética da responsabilidade pessoal e institucional. O povo dançou e dança nele ao toque das bandas políticas deles e da moda; agora sofre as consequências e os organizadores da festa têm o desplante de se armarem em homens bons. Porque “Abril não desarmou”, Portugal chegou onde chegou. Há 38 anos os militares de Abril na “convicta certeza „ de só eles serem os porta-vozes do povo, quando, o que fizeram foi substituir um regime autoritário por outro, e permanecer na sua “convicta certeza” de só terem certezas para oferecer, esquecendo que o que faz um povo crescer é a dúvida metódica. Se “Abril não desarma” o povo encontra-se em guerra: a guerra do oportunismo só serve os tais que sempre vivem encostados à “convicta certeza” como quer a A25A.

Ontem como hoje os portugueses gritaram e gritam por liberdade; ontem como hoje os responsáveis falam da culpa dos outros e o mesmo povo entra no jogo não notando que está sempre a canto! O que Portugal precisa não é de revolução, o que o precisa é de responsabilidade. Quem aposta na culpa dos outros precisa de um inferno para eles! Esquece que o paraíso que tem para oferecer é o inferno dos outros também!

“Viva Portugal”, termina o manifesto. Os mercenários internacionalistas de outrora camuflam-se agora de patriotas e gritam a palavra oportuna do momento: Viva Portugal!

António da Cunha Duarte Justo

antoniocunhajusto@gmail.com

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