FÁTIMA LUGAR DO ENCONTRO – MEDITAÇÃO MARIANA

Ciência confirma Efeitos curativos através da Oração e da Meditação

 

António Justo

As áreas científicas da medicina, da teologia, da sociologia e da psicologia cada vez se complementam e interferem mais umas nas outras.

 

A ciência através de investigações feitas na universidade de Pádua, pelo cientista Luciano Bernardi, descobriu, experimentalmente, que a forma meditativa e rítmica na reza do Terço alternada sintoniza os ritmos biológicos do corpo, cria harmonia e estabiliza a saúde da pessoa a nível corporal e espiritual. A oração abre rotas e perspectivas importantes para o corpo e para a alma.

 

Tanto a recitação da Ave-Maria como de jaculatórias meditativas e ladainhas provocam o retardamento da frequência respiratória, o que fortalece o coração e os pulmões. Os fôlegos (inspiração – expiração) do adulto têm uma frequência de 12 a 20 por minuto.

 

Verificou-se que durante a reza alternada da Ave-maria – Santa Maria, a frequência respiratória chega a baixar a seis fôlegos por minuto. A baixa frequência respiratória conduz-nos à sintonia orgânica do corpo através da influência da frequência cardíaca da regulação da tensão arterial e da ressonância harmónica com o universo a um nível já espiritual.

 

É notório que em diferentes culturas as palavras, espírito, respiração, atmosfera, ambiente, se encontram etimologicamente interrelacionadas.

 

O medo, a ansiedade, a depressão, o stress, a excitação, aceleram o ritmo da respiração e com ela perturba-se o ritmo cardíaco e a tensão arterial. A interferência na actividade respiratória provoca a regulação do metabolismo da ligação do oxigénio e dióxido carbónico no sangue, mudando-se assim, com ela, a química do sangue. A técnica da respiração, usada também na reza do terço, une a parte superior do coração – razão com o abdómen – criando assim uma frequência de vibração orgânica facilitadora da sintonia e interacção matéria-espírito.

 

Oração e Meditação na Reza do Terço – Técnica

 

No exercício da oração/meditação, o medo e o sentimento de impotência dão lugar a uma mudança que pode proporcionar um sentimento de satisfação e de realização.

 

A Reza do Terço em grupo e em privado desvia-nos do ritmo do dia-a-dia e introduz a pessoa numa frequência ritmada que possibilita, através da respiração abdominal e da concentração, a um estado de paz e o acesso à vida interior e ao equilíbrio psicossomático. Para o efeito entram em sintonia: coração, cérebro, pulmões, alma e espírito. Através da respiração consciente, no abdómen, no peito, nos ombros sentem a tensão e distensão do inspirar e expirar unido ao coração e ao sentimento espontâneo. Aqui se interfere a acção do corpo e do espírito em colaboração e interferência mútua. Assim se contribui para o equilíbrio da vida. Se alguma parte do nosso corpo está dolorosa podemos, através do pensamento dirigir para lá a respiração, o espírito divino, para que também esta parte seja, de forma dirigida, incluída no jorro da vida, no amor.

 

O saber religioso, de que a respiração unida à palavra, conduz à unidade no sentido original da religião: re-ligar, que é um património de toda a humanidade. A consequente paz interior é um efeito acessório.

 

A reza do terço, no sentido católico, não se deixa reduzir a um método de higiene corporal nem mental. As diferentes técnicas das diversas culturas, porém, sem o espírito de entrega, e sem a diferenciação dos espíritos, poderiam ficar apenas por uma experiência sentimentalista equívoca (1 Cor 19).

 

Curioso é o facto da recitação do terço, na igreja católica, ser conduzida, por dois grupos, de maneira alternada, correspondentes à inspiração e à expiração. Enquanto o padre, o dirigente ou um grupo recita, dum folgo, “Ave-maria, cheia de graça, o Senhor é convosco, bendita sois vós entre as mulheres e bendito é o fruto do vosso ventre, Jesus”, o grupo responde “Santa Maria, Mãe de Deus, rogai por nós pecadores, agora e na hora da nossa morte. Ámen. “

 

Também, na reza individual, a primeira parte corresponde à expiração e a segunda à inspiração. A reza sintoniza as forças através da respiração ritmada que une o exterior ao interior e fomenta o ritmo cardíaco natural e a concentração da inteligência, resultando daí o bem-estar que predispõe a pessoa para a recepção de mensagens religiosas, para a percepção intuitiva, e pode preparar para uma eventual entrada em contemplação. Sentir o fervilhar do sentimento e da intuição no toque com o mistério não é ainda contemplação.

 

Na devoção popular, além da recitação do Terço são métodos comuns de acesso à contemplação o uso da repetição de palavras, frases em voz alta, em voz baixa ou simplesmente em pensamento. Cada pessoa, segundo o seu estado e mentalidade, encontra inconscientemente a palavra, jaculatória que melhor lhe corresponde.

 

Na pastoral juvenil usa-se também o canto no passeio, a observação do pôr / nascer do sol, da natureza, juntando-lhe o elevar das mãos como formas de acesso ao mistério. Em oração inspiro o sol da vida e expiro o descanso da noite. Então o mundo respira em mim e eu respiro o mundo.

 

Nesta atmosfera fomenta-se o acontecer da harmonia da “mens sana in corpore sano.” No cristianismo há diferentes espiritualidades, geralmente ligadas a tradições monásticas ou a congregações religiosas, praticando-se aí as mais diversas formas de meditação, geralmente também aferidas ao meditador / orador.

 

Nos ortodoxos está muito generalizada a prática da concentração no coração e de, na inspiração, dizerem “senhor Jesus Cristo” e na expiração “tem compaixão de nós”. No cristianismo, em geral, além de jaculatórias mais ou menos individualizadas é frequente o uso da palavra “Jesus” na inspiração e da palavra “Cristo” na expiração. Cada circunstancia pode solicitar uma palavra comum característica, tal como podemos verificar a alegria da época pascal na expressão: “Oh, Aleluia”

 

Na escolha das palavras predilectas, geralmente usa-se a palavra ou parte da expressão mais curta na inspiração e a mais longa na expiração. Outras formas de meditação praticadas nos conventos são: a meditação através do andar, dos gestos, do canto monótono (gregoriano, etc.), do silêncio, esvaziamento de pensamentos, de ladainhas e de outras palavras surgidas do coração ou da tradição religiosa, ligadas à respiração.

Uma forma concreta e eficiente de iniciar a oração ou meditação pode ser: concentração na respiração abdominal, para, na percepção do corpo, se passar depois à palavra. Posso começar pela jaculatória, ou mantra “Oh tu (ao inspirar), Maria (ao expirar)” para assim entrar na sintonia psicossomática e espiritual. Aqui se unem corpo e espírito a caminho do meu centro. Passo a ensimesmar-me de modo a sentir o jorro da energia universal, o amor, em mim e assim tornar-me parte vibrante de um todo em relação mútua (comunidade corpo místico de cristo, etc.).

 

Uma outra jaculatória pode ser “Respira em mim, tu Espírito Santo”. Com o tempo podemos nós passar a respirar nele. Uma pessoa não religiosa poderá usar, entre outras, a fórmula “Respira em mim, tu elan vital”. A repetição individual, como a reza alternada em grupo, com o correspondente eco monótono criam o ambiente propício à dissolução das ideias e emoções do dia a dia.

 

A ligação da palavra à respiração abdominal e, ocasionalmente, à cantilena daí resultante amplificam a possibilidade de viver o momento presente. Aí deixo de ser estrangeiro para fazer parte do Ser integral, presencializado na relação com um Tu. O mesmo se diga da oração privada.

 

A Deus, à ipseidade pode chegar-se também através do vibrar do som (produzido, por exemplo na reza do Terço, no canto gregoriano ou outro apropriado). O ritmo da palavra e da respiração libertam-nos do pensamento, possibilitando-nos o acesso a outras esferas da realidade, mesmo à contemplação.

 

Naturalmente que estes métodos não podem ser fins em si mesmos, doutra maneira não passariam de uma forma sofisticada de atingir experiências semelhantes às da droga. Trata-se de encontrar a alteridade em relação com a ipseidade, a divindade em nós e entrar assim na ressonância divina. O Mestre Eckehart testemunhava esse processo com as seguintes palavras: “Deus está em nós, mas nós estamos fora de nós. Deus está em casa em nós, mas nós estamos no estrangeiro.” A oração ou meditação poderão constituir um momento gratificante no processo criação, incarnação e ressurreição em que estamos envolvidos. A realidade trinitária torna-se em princípio e fim de toda a oração que com o tempo se pode transformar numa unidade do “ora et labora”..

 

António da Cunha Duarte Justo

Teólogo e Pedagogo

 

“Pegadas do Tempo”,

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António da Cunha Duarte Justo

Actividades jornalísticas em foque: análise social, ética, política e religiosa

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