CONTRA O DESMONTE DE SINAIS DA CULTURA EUROPEIA

Partido italiano não quer que Festas de Natal sejam renomeadas de “Festas de Inverno”

Pela Europa fora nota-se uma aragem fria tendente a varrer com tudo que aponte para as raízes da Cultura Europeia principalmente no que toca a linguagem e a costumes de caracter religioso ou cultural identificativo. Quem defenda as tradições corre o risco de, a nível dos media e do politicamente correcto, ser intitulado ou marcado com a alcunha de “direita” em sentido depreciativo e preconceituoso e isto pelo simples facto de uma Nova Ordem Mundial estar a ser forjada à margem do humano e contra o cristianismo.

Em nome da multicultura, do respeito pelo islão e pela laicidade observam-se, por toda a Europa, iniciativas tendentes a formar uma Meta-cultura europeia (abstracta) que inclua todas as outras culturas menos a própria; nalguns meios a História da Europa quer-se abolida para que o marxismo internacionalista possa tomar o seu lugar. Assim querem ver as Festas de Natal substituídas por Festas do Inverno, as Festas da Páscoa substituídas por Festas de Primavera ou Festas do Coelho, etc. (Na Alemanha tradicionais Mercados de Natal – Weihnachtsmärkte – são renomeados nalgumas cidades de “mercados de inverno”. Em Friedrichshain-Kreuzberg foi proibido chamar os mercados de Natal de mercados de Natal, dado na religião haver muitos muçulmanos e para não ofender os seus sentimentos religiosos deve ser usado um termo mais neutro como “mercado de Inverno”. Pelo que se nota estas iniciativas são de carácter incendiário.

Na Itália algumas autoridades escolares decidem renunciar aos símbolos do Natal e, em vez do Natal, celebram a festa de inverno por suposta consideração pelos crentes de outras religiões. É assim que se muda mais ainda a essência do Natal cristão. Para que isso não aconteça, o partido Fratelli d’Italia apresentou ao parlamento um projeto de lei para impedir que as celebrações do Natal sejam renomeadas em “festas de inverno” e a montagem de presépios de Natal não seja impedida.

Os direitos humanos e os direitos de minorias não deveriam ser impedimento para se preservar a cultura acolhedora.

O respeito pelos imigrados não deveria concorrer com o respeito pelo povo acolhedor ou pela camada social para quem os valores da cultura e da tradição ainda são significativos. Na altura do ramadão em escolas com muitos muçulmanos também se poderia celebrar esse acontecimento religioso concorrendo assim para a interculturalidade.

Se tivermos em conta as intenções da política da EU e o desenvolvimento demográfico na Europa é natural que com o tempo tudo se mudará e quem hoje defende usos e costumes da tradição europeia encontra-se em situação perdida. Seria de esperar dos prosélitos do modernismo e defensores da multicultura (contrários à intercultura) que tivessem um pouco mais de paciência e dessem tempo ao seu tempo.

Nem tanto ao mar nem tanto à terra, doutro modo os governantes e os políticos do arco do poder ver-se-ão sempre envolvidos na tarefa de qualificar de populistas ou extremistas quem critique os seus actos governativos para mais tarde correrem a emendarem o que fizeram integrando nele as propostas dos tais “populistas” e “extremistas”, como fazem agora na política de refugiados na EU.

Na Europa, depois do renascimento iniciou-se a individualização e com ele uma certa emancipação da comunidade. Com o modernismo a individualização pessoal parece ter atingido o seu extremo. A individualização leva à emancipação do controlo social e, automaticamente, o aspecto comunitário perde a sua relevância na sociedade civil e consequentemente também na religiosa.  Por outro lado, a pluralização das expressões culturais estabelece a concorrência cultural, se em vez de uma política inclusiva de interculturalidade se implementar uma política de multiculturalidade; numa sociedade individualista as forças centrífugas de grupos questionam com vantagem a sociedade individualista dado esta ter perdido a consciência de comunidade. Uma situação difícil para todos os lados.

A religião perde a sua função orientadora sendo a função da religiosidade assumida em parte pela publicidade que satisfaz desejos e pelas promessas ad hoc dos partidos/ideologias que alimentam esperanças concretas e imediatas. Neste ambiente torna-se compreensível a erosão da igreja católica independentemente da sua adaptação ou não ao espírito do tempo.

A queda da sociedade ocidental manifesta-se não só na perda do sentido de comunidade mas também no facto de os intervenientes da sociedade civil e religiosa terem perdido a sua importância devido a não haver vínculos comunitários (a não ser os vínculos de interesses repartidos, mas de proveito imediato) nem haver substitutos visíveis para a função intermediária entre sociedade e Estado, função antes mantida pela religião; as agremiações pelo facto de viverem elas mesmas em competição e na tendência de ocuparem o Estado não oferecem confiança suficiente nem garantias sustentáveis.

A maior fraqueza atual vem da produção de um tipo de indivíduo esvaziado de memória, tradição e religião (factores de identidade cultural, na sua função e qualidade orgânica que proporciona perspectiva e sentido) e como tal descontextualizado e dirigido por uma realidade meramente mental-virtual. Numa época de mudança axial será necessária muita imaginação, criatividade e boa vontade de todos para que se salientem factores que lhe proporcionem uma relação indivíduo-comunidade equilibrada e rejuvenescedora.

António CD Justo

Pegadas do Tempo

A RELIGIOSIDADE INFLUENCIA O DESEJO DE TER FILHOS

O resultado de um estudo do Instituto Federal de Pesquisa Populacional (BiB) na Alemanha mostra que a religiosidade tem efeito no desejo de ter filhos,também em idades mais jovens.

O estudo mostra que meninas e meninos religiosos de 15 anos desejam ter em média 2,1 filhos, enquanto pessoas não religiosas da mesma idade desejam ter apenas 1,7 filhos.

Pessoas religiosas geralmente também têm maior propensão a se casarem.

A nível de experiência pessoal também posso testemunhar que pessoas religiosas são mais ricas na expressão da feminilidade: coração e cabeça parecem estar mais perto! Isto porém não inclui um juízo de valor!

António CD Justo

Pegadas do Tempo

O NOVO PRESÉPIO !

“Apresento-vos o novo presépio de Natal! Mais inclusivo e laico, como o nosso governo ordena. Já não contém animais para evitar maus tratos a estes e para agradar ao PAN. Já não contém Maria, porque as femininistas acham que a imagem da mulher não pode ser explorada. A do carpinteiro José, tão pouco, porque o sindicato da CGTP IN não autoriza. O Menino Jesus, foi retirado, porque ainda não escolheu o género, se vai ser menino, menina, ou outro. Já não contém Reis Magos, porque podem ser migrantes e um deles é negro (descriminação racial, xenófoba). Também já não contém um anjo, para não ofender os ateus, muçulmanos e outras crenças religiosas. Por último, suprimimos a palha, por causa do risco de incêndios e por não corresponder à Norma Europeia NF X 08-070. Ficou só a cabana, feita de madeira reciclada de florestas que respeitam as Normas Ambientais ISO 1432453425422. Já agora, tenha um Natal de merda, para aproveitarmos a dita para biomassa e gerarmos energia sustentável e proteger o nosso planeta.”
Texto que me chegou via Internet sem referência de autor. Esta é certamente a visão sínica de algum artista, mas a apontar para a realidade de ideologias vigentes que pelo exagero que expressam permitem exageros também!.

DESENVOLVIMENTO É MUDANÇA E NÃO APENAS PROGRESSO!

“Muitos queixam-se que os tempos são maus. Mas lembrai-vos que os tempos sois vós: mudai e os tempos serão bons”, lembrava Santo Agostinho no século IV e V!

O pensar politicamente correcto instiga-nos a adaptar-nos aos tempos no sentido do progresso exterior; para progresso se tornar verdadeiro desenvolvimento teria de ter em conta a vertente interior e exterior da pessoa; tratar-se-ia de ir mudando os tempos mudando-nos doutro modo resta-nos o papel de carpideiras. O progresso tecnológico e económico é bom, mas sozinho amarra-nos ao jacto do tempo dificultando-nos a capacidade de nos tornarmos nós mesmos, de maneira a termos a supervisão sobre nós e sobre o que à volta nos determina. O espírito do tempo, fruto de circunstâncias determinantes, quer-nos escravos, quer reduzir-nos a meros produtos do tempo (modernos!) para sermos mais fáceis de gerir e governar! Importante é tentar ver não só através dos outros nem só através de nós mesmos.

António CD Justo

Pegadas do Tempo

REFLEXÃO SOBRE  A CELEBRAÇÃO DA VIRGEM MARIA NO 8 DE DEZEMBRO

Maria a Deusa encoberta do Cristianismo

No 8 de Dezembro a Igreja católica festeja Maria que concebe sem intervenção sexual; a Igreja quer deste modo convidar as pessoas a reflectirem sobre uma Realidade que não conte apenas com a biologia e o método do pensamento lógico linear. O fulcro da questão é:” nascido da Virgem Maria …”

A imaculada conceição recorda o princípio, onde tudo era original e inocente, e ao mesmo tempo a percepção de um mundo feito de “bem” e “mal” que não nos deve deixar indiferentes nem irresponsáveis no projecto comum de darmos continuidade à criação.

O aspecto alegórico do acontecimento aponta para o Jesus que deve renascer em cada humano, isto é, para o lugar onde Deus se revela, ao tornar-se presépio: o laboratório divino de todo o ser humano irmanado na qualidade de filho de Deus.

Maria, através da fé, torna-se a terra sagrada capaz de dar à luz o divino. E no filho Jesus Cristo compatibiliza-se de maneira integral o humano e o divino, o espiritual e o material, tornando-se também ele nosso fim, protótipo e modelo. Isto tem implicações que só a mística e a nova física poderão ajudar a intuir no sentido de criar uma nova visão mental pois trata-se da vereda de uma realidade de origem espiritual a caminho de uma meta espiritual num processo de relação interactiva de espírito e matéria/mente. Pressupõe a passagem de uma visão mono-causal para uma visão a-perspectiva e pluridimensional! (A física quântica já mostra a interação da matéria e da energia de maneira a a mente subjectiva poder mudar o mundo físico. Segundo ela “pode-se “reduzir” a matéria, de forma subjectiva e no domínio do abstracto, até à consciência – causa da “intelectualidade” da matéria”).

No nascido da Virgem Maria, em Jesus Cristo, reconhece-se o novo começo da humanidade como oferta divina gratuita e com isto a primazia do transcendente (do Espiritual) na Natureza. A “cheia de graça” dá à Luz (sem o pecado original) o novo Adão da humanidade.

Teologicamente, a concepção virginal de Maria é uma verdade “de fide”e quanto à virgindade no parto é uma “sententia certa” (1) da igreja. Como vivemos numa sociedade neopagã, de formatação materialista e utilitarista, com pouca tolerância para a poesia e para o espiritual, tudo isto se torna enigmático e é por muitos reduzido a “mito”. 

A virgindade aponta para o reino de Deus. A Virgem Maria é o testemunho da diferença “contra os ídolos escravizantes do homem moderno” (2) que querem fazer do sexo o paraíso solucionador de todos os problemas sociais e humanos. Uma sociedade cada vez mais infiel ao seu passado reduz a virgindade a mero tabu sem perceber o que ela simboliza nem o que ela tem a dizer à sociedade actual. Na virgindade o valor do feminino é independentizado e isentado da condição de ser mero anexo do masculino.

Leonard Boff: “ A virgindade cristã é maternal, gera filhos para o Reino” e deste modo exorta-nos a transcendermos as amarras do aqui e agora e a seguirmos uma castidade interior. Em Maria tornam-se visíveis os traços maternais de Deus! Em Maria se encontra a deusa encoberta do cristianismo.

O prazer sexual é a recompensa que a natureza nos dá para lhe dar continuidade e desenvolvimento, na afirmação da vida que é por natureza relação; prazer por puro prazer morreria no indivíduo sem deixar pegadas de Deus nem da vida humana na natureza/criação. A missão é, cada um a seu modo, possibilitar futuro para a natureza e para a humanidade. Tal como o Sol estimula a natureza ao desenvolvimento também o espírito estimula o ser humano a uma visão sustentável, a não fixar o seu fim/meta na sepultura.

O testemunho celibatário não é algo contra a sexualidade, mas sim uma outra forma de vida também ela afectuosa que pretende testemunhar a relação não limitada a uma relação binária mas trinitária que transcende um mundo estreito de visão meramente causal; cristologicamente falando, a missão mais profunda de cada pessoa é dar à luz (encarnar) Jesus Cristo e assim não se deixar submeter ao meramente sexual.

Por outro lado, há que estar-se atento porque a fixação na culpa e no pecado beneficia sociologicamente o agir dos poderosos.

Maria merece ser abordada para além de modas, de crenças, de tabus e de erotismos; ela mantém a sua característica original, facto este que lhe dá sustentabilidade. Em vez de nos fixarmos na perspectiva meramente racional e materialista sobre a Virgindade corporal biológica de Maria, torna-se importante possibilitar novas formas de análise e de abordagem da própria perspectiva, de maneira a incluirmos novos versos, ao nosso universo mental. Para isso torna-se necessário aceitar vários modos de abordar a realidade de maneira a não limitar tudo ao pensamento lógico linear.

Reduzir a Realidade ao real percepcionado ou ao conhecido corresponderia a reduzir o universo ao sistema solar. Trata-se de não reduzir o sentido da vida só ao caminho porque o caminhante e a caminhada transcendem o caminho. A abertura ao mistério e ao desconhecido é o melhor meio de superar o desconhecimento e o preconceito, seja na afirmação, seja na negação. A fé e a esperança são os raios de sol que nos erguem a cabeça para vermos mais além.

António CD Justo

Teólogo e Pedagogo

Pegadas do Tempo

(1) Na hierarquia das verdades cristãs, “Sententia certa” é uma verdade que está internamente ligada a uma verdade revelada (https://de.wikipedia.org/wiki/Gewissheitsgrade_der_Dogmatik )

(2) (file:///C:/Users/Antonio/Downloads/lepidus,+A+virgindade+de+Maria+-+RET4+-+p.12-16.pdf )