A RELIGIOSIDADE INFLUENCIA O DESEJO DE TER FILHOS

O resultado de um estudo do Instituto Federal de Pesquisa Populacional (BiB) na Alemanha mostra que a religiosidade tem efeito no desejo de ter filhos,também em idades mais jovens.

O estudo mostra que meninas e meninos religiosos de 15 anos desejam ter em média 2,1 filhos, enquanto pessoas não religiosas da mesma idade desejam ter apenas 1,7 filhos.

Pessoas religiosas geralmente também têm maior propensão a se casarem.

A nível de experiência pessoal também posso testemunhar que pessoas religiosas são mais ricas na expressão da feminilidade: coração e cabeça parecem estar mais perto! Isto porém não inclui um juízo de valor!

António CD Justo

Pegadas do Tempo

A SEXUALIDADE JÁ NÃO É TEMA TABU NA IGREJA

Bênção para Casais em Situação irregular e Homossexuais

O Papa abre caminho para o reconhecimento de casais do mesmo sexo na Igreja Católica sob condições estritas. O documento “Fiducia suplicans” (Confiança suplicante (1) fala de “possibilidades de bênção de casais em situação irregular (casais em nova união) e casais do mesmo sexo” (2). Com esta intervenção papal alegra-se a igreja alemã e surgem algumas dúvidas na Igreja mundial. Deste modo os actos sexuais passam, neste assunto, a não ser submetidos ao ordenamento moral e são explicados pelas condições criadas pela natureza (a excepção confirma a regra e in dúbio pro reo). Ao não serem exigidas condições relativas à moral, a consequência será a aceitação de uma certa ambivalência que abarca a inclusão da dúvida e leva alguns teólogos de ordenamento doutrinal a problematizar a medida pastoral do Papa Francisco.  Na consequência, esta maneira de actuar simplifica também o hábito já generalizado de relações sexuais antes do casamento! Nesta ordem de ideias teológicas estará para breve a inclusão da mulher no clero!

O Sumo Pontífice pôs claro que a bênção não pertence aos sacramentos nem implica mudanças doutrinais; segue o espírito pastoral da Amoris Laetitia (3). Em termos teológicos abençoar o homossexual não corresponde necessariamente a abençoar a ação homossexual, mas, no meu entender, consiste em reconhecer a natureza e o desenvolvimento da sociedade como componentes da revelação! Deus não tem género, mas criou as pessoas como seres sexuais e à Sua imagem. No Filho de Deus e na Mãe de Deus expressaram-se os protótipos da união da feminilidade com a masculinidade e da espiritualidade com a materialidade.

O substancialmente novo do documento é o integrar a realidade social em que vivemos e pô-la a caminho dos fóruns de uma dogmática que possibilita a mudança na continuidade.

Ao ler-se o texto tem-se a impressão que a redação do texto corresponde à complexidade das opiniões da Igreja universal e distingue entre o sacramento do casamento (casamento apenas entre um homem e uma mulher) e a bênção (sem ritual estabelecido para não ser confundido com o casamento sacramental). Embora as relações sexuais só se apliquem ao casamento entre um homem e uma mulher, o passo dado pelo pontífice representa um progresso pastoral (não esquecer também o progresso que o casamento proporcionou no início do cristianismo que com a indissolubilidade e o vínculo sexual de homem e mulher no matrimónio rompia, a nível religioso, com hábitos e práticas  de sociedades arcaicas de total subjugação da feminilidade à masculinidade numa matriz social masculina que fazia das mulheres  seres de segunda classe. A declaração cristã da indissolubilidade do casamento significou um grande passo no reconhecimento da mulher e sua dignidade não só a nível individual como social. O Islão restabeleceu a antiga matriz masculina).

A sociedade muda e com ela os conceitos morais

A sexualidade e a fé cristã fazem parte da nossa identidade e a sua interação mútua tem feito parte da história do desenvolvimento humano e social do Ocidente. Encontramo-nos numa época de tentativa de mudança axial cultural – um momento de fluxos contraditórios –  onde o poder de determinar o mundo se concentra na passagem de uma ética religiosa para uma ética secular global abstracta com a intenção  de criar uma outra antropologia (gerar um outro Homem) e outra sociologia (uma outra cultura), que questiona a visão global representada no catolicismo;  na consequência os dois elementos da cultura transmitidos pela igreja (fé e sexualidade unidas)  estão a ser abalados no sentido de ser separados. Os Estados, cada vez mais transformados em administrações de agendas globais, procuram moldar o homem no seu formato ao determinarem de cima para baixo a política de educação sexual na escola e deste modo desintegrar religião-família-sexualidade (objectivo do marxismo). A sociedade muda e com ela os conceitos morais e a nossa dor dão-se devido ao facto de nos encontrarmos numa época da rapidez de modo a podermos hoje supervisionar mudanças e sentidos que antigamente só eram observadas por historiadores e estudiosos de visão enciclopedista de perspectiva histórica.

Nas gerações passadas não se davam conflitos sociais relevantes entre a Igreja e a sociedade/governo porque a Igreja num processo lento de aculturação e inculturação ia adaptando a realidade de hábitos e costumes sociais à doutrina (pastoral) e vice-versa.  Na nova época que se afirma por rivalidade e luta entre o secular de cunho marxista e o religioso torna-se mais visível a crise de mundivisões e consequentemente a desorientação, insegurança, resignação e luta.

Por outro lado, se antes também a nível intelectual se procurava tratar de maneira inclusiva o processo de acesso/abordagem à chamada realidade/verdade através do método dedutivo (especulativo de cima para baixo) numa de ‘Homem de saber feito’ e o  método indutivo (experiência, de baixo para cima) numa de ‘Homem de experiência feito’, hoje relativizou-se tudo na consequência dos movimentos estruturalismo- desconstrutivismo-relativismo  inter-relacional que interpretam o todo pelas partes e acabam com paradigmas para se justificar uma nova cultura e uma nova vivência a criar produzindo para isso novas estruturas de ação e comportamento que levem a diferentes relações individuais e sociais .

Estamos a passar de uma era que se interessava mais pelo como as coisas funcionam para uma era a mudar de paradigma para o modo como as coisas se relacionam.  Ao fixar-nos no relacionamento como ponto fulcral tem-se negligenciado os factores natureza e a cultura na qualidade de determinantes e assim ir substituindo a base espiritualidade pelo factor energia ou relação com base num mero funcionalismo e funcionalidade social. Esta negligência pretende compensar-se e legitimar mediante um relativismo absoluto, proporcionando-se assim a decomposição e desestruturação que procura legitimar a luta anti cultural e contra todos os construtos identitários naturais, culturais e humanos no intuito de formar uma nova cultura meramente mental e ideológica já longe do humano e que proporciona o seu domínio numa tática justificadora da luta contra o humanismo. A Igreja, porém, está atenta às modas e ditames do tempo (atualmente impulsionado pelo marxismo e pelo maoismo) continuando a defender o que é mais essencial para o humano.

Isto cria atrito porque o Estado embora se diga isento, segue dogmaticamente a nova ideologia considerando-a como a verdadeira em relação às que combate. Passa por cima do facto de também ele não passar de um construto com a agravante de ser distante da vida e do humano como se a natureza e o humano se pudessem reduzir à linguagem. Deste modo o próprio Estado corta o ramo em que se sustenta e é sacrificado a um construto estrutural mundial.

Como o modernismo quer mudar rapidamente a realidade e acredita poder criar uma outra através de leis e de medidas administrativas (agendas) torna-se mais difícil a acção da Igreja que advoga um crescimento mais lento e orgânico (e aferido à consciência popular) do que administrativo para conseguir um desenvolvimento integral humano; porém  não precisa de deitar muitas lágrimas pelo que tem de mudar hoje pois o negligenciado no passado também fez sofrer muita gente. Assistimos assim a uma corrida do tempo cronos contra a plenitude do tempo Cairos, quando o urgente seria a tentativa de integrar os dois no sentido de uma sociedade mais humana.  A Igreja é também ela peregrina e tem de assumir também o pó do tempo e a natureza do ser humano composto não só de espírito/alma, mas em termos de igualdade também de corpo. O Estado como representante da acentuação da masculinidade e a Religião como representante da feminilidade são dois polos complementares que deveriam trabalhar seguindo uma estratégia inclusiva (simplificando: precisamos de pessoas e de sociedades com corpo e alma!). Neste sentido a Igreja terá de aprender do mundo a mudar a sua relação com o corpo e a sensação de prazer para não exagerar num sentido o que o mundo exagera no outro. A hostilidade ao corpo (a autossatisfação como ofensiva…) e a falta de equilíbrio entre corpo e mente são factores que determinam tensões que prevalecem na sociedade e na igreja enquanto não houver uma osmose de masculinidade e feminilidade.

Anteriormente, o ideal da sociedade era representado pela religião, que mudava lentamente e, portanto, não causava rupturas nas pessoas. Hoje, as ideologias com uma elite influente mudarão rapidamente os processos de mudança na sociedade, de modo que o desenvolvimento não será mais guiado pela realidade vivida, mas será realizado a partir de cima, de uma realidade concebida, através de projectos seculares com agendas cerebrais a serem aplicadas a nível mundial; aqui será uma tarefa importante da igreja salvar a perspectiva de baixo, a humanidade, a feminilidade e o humanismo contra uma anonimidade atafegante de uma realidade virtual que poderia conduzir a uma organização tipo troica global a usar uma Inteligência Artificial não humanizada. Hoje a socialização está a dar-se através do questionamento de conceitos morais concretos e da educação sexual numa plataforma atmosférica mental de confronto clandestino e de relativismo absoluto. Numa cultura onde a sexualidade e a espiritualidade fazem parte da identidade cultural e individual, mas que é contestada radicalmente, torna-se mais difícil para a Igreja resguardar-se. Um caminho de reconciliação poderia levar ao desenvolvimento separado da sexualidade e da religião/espiritualidade, de modo que a moral sexual não preocupasse tanto a Igreja como o Estado secular na qualidade de instrumentos de domínio.

Criar e impor crenças específicas não é justo sejam elas de caracter religioso ou científico. A igreja participa na formação da própria fé, mas apenas no sentido de maturidade e na adopção de atitudes e desenvolvimento saudáveis; diga-se isto, também na sexualidade, que está sujeita a demasiados exageros e abusos de parte a parte quer pela negativa quer pela positiva. O Estado abusa do seu papel ao apoderar-se das crianças numa política de desqualificar a missão universal educativa dos pais.

A sexualidade é discutida na igreja, mas raramente é discutida pelos padres (eles discutem-na geralmente dentro do casamento) porque parecem acreditar ainda que a sexualidade é um assunto privado. A sexualidade não é um assunto privado ao determinar a moralidade de uma cultura.

A questão será se a igreja acompanha o desenvolvimento sexual da sociedade ou se para. Ela deve reconhecer que conduziu a moralidade cultural através da sexualidade e que hoje outras forças da sociedade querem assumir o leme e colocam a tónica onde a contradição é mais forte. No entanto, ver o género como sujo ou impuro não pode ser atribuído aos Evangelhos; isso são mais os efeitos da sociedade e da história amarrada aos seus costumes e que tem dificuldade em compreender a filosofia e a mensagem cristã. A igreja sempre se viu como uma autoridade educativa para o povo e talvez tenha enfatizado demasiado o aspecto educativo e de ajudante do Estado. Assim fortaleceu a influência das tradições sociais sobre o povo e descurou a acentuação da filosofia teórica do cristianismo a nível de discurso intelectual no campo secular preocupando-se em ver a sua filosofia aplicada a nível individual e de moral social.

A igreja é o lugar onde as pessoas se encontram, independentemente de virtudes e defeitos competindo-lhe desenvolver um comportamento saudável em relação à sexualidade. Não há que associar a sexualidade à normalidade ou à anormalidade. A igreja tem uma responsabilidade especial, também através da sua própria missão e mandato, de proteger as minorias e o humano. No final do caminho sinodal em outubro de 2024 em Roma conheceremos outras novidades.

Uma função importante da Igreja, especialmente no contexto ideológico actual continuará a ser a de que a sociedade não confunda a linguagem com a realidade. Uma missão prioritária em relação à sexualidade será a defesa da feminilidade e manter a música do amor que aquece os corações.

Será de evitar todos os fundamentalismos seculares e religiosos porque são de vistas limitadas e empobrecedoras de desenvolvimento quando permitem apenas uma ideia do certo e do errado. Isto também contradiz o ensino da igreja, segundo a qual a própria consciência é a voz de Deus.

Nesta época natalícia sopram do Vaticano ventos frescos e revolucionários que não veem no amor pecado, mas que causam calafrios nalguns grupos e regiões do catolicismo. Bênçãos só podem ser revigorantes e permitir que os amantes se regozijem e celebrem o seu relacionamento também em público, mesmo  não pertencendo ao cânone litúrgico. Cada pessoa é única e com momentos próprios; o reconhecimento dá-lhe sustentabilidade na vida quotidiana e deste modo também acontece ecclesia. Boas festas, o Natal é a festa da vida!

António CD Justo

Teólogo e Pedagogo

Pegadas do Tempo

(1) ‘Fiducia supplians’ aprovada pelo Papa Francisco:  https://press.vatican.va/content/salastampa/it/bollettino/pubblico/2023/12/18/0901/01963.html#es

(2) Na Alemanha, as cerimónias de bênção para casais homossexuais já eram praticadas em muitas comunidades fazendo uso de uma zona cinzenta do direito canónico.

(3) Amoris Laetitia : https://antonio-justo.eu/?m=201802

TEOLOGIA DA LIBERTAÇÃO NO DIÁLOGO DOUTRINA-PASTORAL

https://beiranews.pt/2018/02/27/ponto-de-vista-por-antonio-justo-29/

Desafios: https://bomdia.eu/bispos-tradicionalistas-sentem-se-desafiados-pelo-papa-francisco/

Consciência é o primeiro vigário de Cristo em questões de moral:

https://www.gentedeopiniao.com.br/opiniao/moral-sexual-da-igreja-estranha-a-vida-habitua

ÉTICA ENTRE CONVICÇÃO E RESPONSABILIDADE:http://antonio-justo.eu/?p=3884; Ética Republicana http://antonio-justo.eu/?p=3895 ; Um Exemplo De Ética Republicana Socialista Aplicada: http://www.solnet.com/09set16/pena&lap/penalap3.htm ; POLÍTICA DO POSTFACTO – ÉTICA ENTRE CONVICÇÃO E RESPONSABILIDADE – DO COMPROMISSO ÉTICO ENTRE IDEALISMO E REALISMO: http://antonio-justo.blogspot.de/2016/10/politica-do-postfacto-etica-entre.html; Ética da Responsabilidade pressupõe a Educação para a Liberdade: https://jornalpovodeportugal.eu/2018/02/13/polemicados-recasados-por-antonio-justo/

http://palopnews.com/index.php/cronistas/antoniojusto/1721;. O divórcio da política e da ética: http://www.debatesculturais.com.br/o-divorcio-da-politica-e-da-etica/

 

CRUZES CRISTÃS PERMANECEM PENDURADAS NOS EDIFÍCIOS DO ESTADO DA BAVIERA

O Tribunal Administrativo Federal alemão em Leipzig considerou legal a regulamentação de que uma cruz deve ser pendurada em todos os edifícios estatais da Baviera.

O tribunal entendeu que as cruzes nas autoridades estatais não violam o direito à liberdade religiosa de outras comunidades religiosas. Também não constituem uma violação da proibição da discriminação baseada na fé.

A imprensa alemã refere que a “Associação para a Liberdade de Pensamento” que é religiosamente crítica tinha metido acção judicial exigindo que o decreto governamental de manter as cruzes em edifícios estatais públicos fosse revogado.

Embora o Tribunal Administrativo tenha considerado uma violação do dever de neutralidade do Estado, classificou as cruzes essencialmente como símbolos passivos “sem efeitos de proselitismo e doutrinação”.

A associação anunciou querer apelar para o Tribunal Constitucional Federal.

António CD Justo

Pegadas do Tempo

A IDADE MÉDIA VINGA-SE AGORA NA EUROPA ATRAVÉS DO ISLÃO

Porque queixar-se do Vigor islâmico se o Problema está na Fraqueza político-cultural da Europa?

A migração de muçulmanos para a Europa significa um enriquecimento para a economia das nações fortes e para o rejuvenescimento da população europeia, que tinha uma taxa de natalidade muitíssimo baixa, mas, por outro lado, irá provocar consequências problemáticas de longo alcance na cultura e na política da Europa.

Quem estudar as bases do Islão (Corão, sharia-preceitos e os ahadith-feitos de Maomé contidos na Suna) facilmente chega à conclusão que, o Islão é um estilo de vida; nos moldes ocidentais, o Islão é uma ideologia política camuflada de religião; como tal tem mais perspectivas de autoafirmação sociopolítica do que qualquer outro grupo político ou ideologia. O islão submete toda a vida do humano e da sociedade a regras (sharia) incompatíveis com os valores humanos dos Estados ocidentais que dão primazia à soberania do Estado (democracia) e não a Deus/Allah; por outro lado o islamismo é mais compatível com o poder e mais adequado aos instintos das massas globais; a sua divisa é “submissão” (Islão significa resignação, submissão).

Instintivamente, o islamismo conseguiu amarrar os ocidentais à preocupação de o não ofender nem questionar quando impõe os seus hábitos e costumes de gueto.  Os governantes europeus como sabem que os seguidores do islão não se adaptam, adaptam-se eles aos muçulmanos para terem o sentimento de não perderem. Por seu lado, a opinião pública ocidental não se preocupa com os próprios erros nem com a falsidade ou autenticidade da comunidade islâmica ordenando o discurso sobre ela apenas pelo imaginário religioso.

O imperialismo islâmico embora não tenha a força económica do Ocidente conseguirá um dia sobrepor-se-lhe devido à conexão identitária da sua ideologia hegemónica (identificação político-sociológica através do laço da religião que tudo une, legitima e subordina: a essência da pessoa e sua relação com o outro é determinada pelo islão, o resto é considerado infiel. Neste contexto, não é sem razão que sistemas também eles autoritários, como o chinês e o russo, tenham medo dos grupos islâmicos dentro do próprio país: estão conscientes de que as suas ideologias políticas passam, mas as do islão são de natureza político-religiosa sustentável devido ao seu caracter de unidade intrínseca. As diferentes formas de governo mais ou menos moderadas estão sempre sujeitas aos guardiões da religião que se afirma como cultura do contra. A vontade do povo é identificada com a tradição de Maomé e por ele é crivada a “democracia”. Segundo a tradição islâmica, o Estado e a Democracia não podem usurpar a soberania de Allah e substitui-la pela soberania do Estado laico. Neste sentido, a nacionalidade secular/Estado é irrelevante perante o Direito Divino (o Corão e a Suna) que são imutáveis. Por isso os crentes mais conformes com os princípios muçulmanos combatem o secularismo porque a doutrina não permite contextualização que só seria possível se fosse permitida a exegese teológica.

 Como religião nascida da guerra e de matriz masculina orientada para o poder serve-se do princípio da afirmação do mais forte conseguindo assim afirmar (‘democratizar’ masculinamente) também no povo o mesmo princípio da subordinação, garantidor de uma ordem social estável apesar de injusta porque contra a feminilidade humana. Também a estrutura familiar está concebida no sentido de expandir o Islão. (O Islão tem a mais valia africana de ter feito das tribos errantes da Península Arábica a civilização árabe: hoje o Islão, expresso no Corão e na vontade de Maomé, é a segunda crença maior do mundo, possuindo cerca de 1,8 bilhão de fiéis sobretudo na Ásia e na África).

Concludentemente não baseia a dignidade humana na pessoa, mas na pertença ao grupo muçulmano (de ideologia superior, comparável à de Hitler no que tocava à elevação da raça indo-germânica em relação às outras); deste modo impede o desenvolvimento das potencialidades revolucionárias do individuo na luta pelo desenvolvimento da pessoa humana, dirigindo essas potencialidades emancipatórias individuais para a afirmação global da comunidade islâmica que justifica o Jihad e os ataques suicidas (Ao contrário da antropologia ocidental, a honra humana não vem da pessoa, mas da pertença à comunidade islâmica que confere a personalidade ao indivíduo). A islamidade une consciência de norma, consciência individual e consciência colectiva de forma intrinsecamente ligadas a Allah e a Maomé não suportando a diversidade e fazendo valer em vez dela a consciência do nós (Ummah). Esta implica a não distinção entre sagrado e profano como expressão da lealdade ao país, à comunidade árabe e ao Islão.

A paz islâmica será possível quando governantes e governados se submetem ao código islâmico na vivência do dia a dia e na promoção da paz e da fraternidade islâmicas no mundo. A fraternidade islâmica não conhece o amor ao próximo, em vez dele afirma o amor e a solidariedade com o irmão muçulmano numa ética do ser bom o que serve o mundo islâmico e mau o que se encontra fora dele (O dar al-Islam – territórios onde se pratica a lei islâmica – identificado com a Ummah, contra o dar al-Harb – “área de guerra” ou seja área não islâmica). Daí a tolerância geral islâmica em relação ao terrorismo islâmico.  

O sentimento de pertença religiosa é determinante no Islão, facto que a sociedade ocidental ignora como factor de sustentabilidade e por isso não consegue compreender a dinâmica de grupos como Al Kaida, ataques suicidas em nome de Allah, bem como levantamentos gerais no mundo islâmico quando o Islão é ofendido. O sentimento de pertença tem de passar pelo islão; a Ummah (comunidade dos muçulmanos de todo o mundo) que transcende Estados, Constituições e regiões e a pertença ele implica o sobrepor-se a todos os demais. O problema maior vem do facto de não reconhecer o que não seja islâmico (só ordem mundial islâmica) nem a divisão entre poder religioso e poder secular, factos estes que ajudam a garantir a guerra até ao fim dos tempos (o mundo muçulmano fá-lo em nome de Allah e o ocidental em nome do bem-estar económico).

Neste contexto, as democracias ocidentais estarão condenadas a oscilações cíclicas precárias por razões intrínsecas a elas mesmas porque legitimamente baseiam a afirmação das democracias na dignidade humana e na individualidade, factores estes que criam dificuldades à afirmação de interesses meramente institucionais e que explicam o desequilíbrio entre sistemas autárquicos e sistemas democráticos – daí uma certa lógica no autoritarismo crescente também em democracias. Perante o sistema muçulmano estas democracias tornam-se sistemicamente fracas correndo o perigo de serem dominadas por ele pois este afirma-se e concebe-se como grupo (o órgão ou grupo assume supremacia em relação ao elemento e a expansão global em relação à expressão regional geográfica). A falta de organização orgânica interna das democracias ocidentais (existência de uma orgânica meramente externa a nível de administrações ou elites sem transcendência– sem identidade comunitária cultural popular) levará a Europa a islamizar-se e a perder o seu caracter humanista próprio. (O problema da civilização ocidental de cunho cristão situa-se nela mesma ao identificar o amor indiscriminadamente a Deus-ao Próximo- e a si mesmo, numa visão de humanidade universal de irmãos e não de culturas, civilizações ou formas de governo. Neste sentido Jesus não era cristão, europeu, africano ou asiático e o seu povo era a humanidade.

Segundo a Universidade de San Diego, daqui a 12 anos, 25% da população da Europa será muçulmana. A sociedade islâmica é consistente por si mesma e afirma-se como sociedade paralela controlada pelas mesquitas numa afirmação não inclusiva, mas do contra; na Europa há já cidades onde a maioria da população com menos de 18 anos é muçulmana. Na Inglaterra onde normas da sharia (lei islâmica) já são integradas (paralelamente) no direito inglês, um terço dos estudantes muçulmanos britânicos são a favor da criação de um califado mundial. Em muitas cidades inglesas as prefeituras são já dirigidas por muçulmanos (Londres é um exemplo disso), o que noutras circunstâncias não envolveria medos. Medos são maus conselheiros porque deles surgem lutas instintivas (1)

O problema não deve ser colocado nas pessoas muçulmanas que são inteligentes e apenas sabem tirar proveito dos fortes e das fraquezas da sociedade ocidental. A consciência islâmica leva-os a investir na política porque esta tem grande influência no desenvolvimento da consciência dos povos; o facto de muçulmanos serem individualmente reféns do sistema religioso instiga-os a conceberem um mundo a ser cativo. A questão não é a força do islão, mas a fraqueza da cultura ocidental (2) que ultrapassou o seu Zénite e tem a pouca sorte de gerar governantes e elites irresponsáveis e também elas de ideologias decadentes.

A emigração muçulmana em massa para a Europa sem medidas políticas de integração que fomentem a sua evolução religiosa e evitem a formação de guetos está a ser o maior erro político cometido por uma oligarquia europeia comprometida num progresso desintegrador da cultura europeia que tenta compensar a sua carência reprodutora e o envelhecimento da sociedade com a importação de famílias muçulmanas fecundas que por sua vez são conscientes da robustez da sua unidade cultural, aquilo que justamente os torna fortes.

A queixa, contra um islão consciente do que é poder e como poder se torna sustentável, é, na Europa, reduzido a um lamentar de carpideiras à frente do moribundo.  Um grande erro foi a política europeia ter-se orientado apenas por factores de razão económica desprezando o factor cultural próprio e nessa lógica ter fomentado uma política multicultural – uma estratégia asseguradora da construção de barreiras e guetos culturais dentro da própria sociedade – em vez de implementar uma política dialógica intercultural de enriquecimento mútuo para as partes envolvidas (a questão coloca-se só em relação ao Islão porque pelo observar da História todos os grupos étnicos e religiosos integram-se ou vivem sem exigências exageradas).

Nos anos oitenta, como porta-voz dos 35 mil estrangeiros no Conselho de Estrangeiros de Kassel lutei pela afirmação dos direitos dos estrangeiros na Alemanha em benefício sobretudo dos muçulmanos. O contacto directo com a comunidade muçulmana (representantes das associações em torno das mesquitas e imames) permitiu-me, pouco a pouco,  compreender a estratégica esperta e coerente do islão e perceber o porquê da decadência da sociedade europeia em relação à sociedade islâmica (trata-se do encontro de duas sociologias e de duas antropologias tão distantes uma da outra com a Idade Média e da Idade Moderna uma da outra: a primeira faz valer a comunidade à custa do indivíduo e a segunda faz valer a individualidade à custa da comunidade); o Ocidente contemporâneo afirma o individualismo contra a comunidade e o islão afirma a comunidade contra o indivíduo: dois extremos,  no primeiro domina o relativismo e no segundo o dogmatismo. Para termos um possível exemplo do pior que poderia esperar à sociedade europeia seria imaginar o seu desenvolvimento com o desenvolvimento da Turquia desde 1915 e observar o destino das minorias. 

Urge o encontro intercultural e a inter-relação dialogal equitativa de comunidade e indivíduo para corrigir a política multicultural de forças paralelas, para se iniciar um período de inclusão dos valores da comunidade e do indivíduo. O Islão pode aprender da comunidade ocidental e esta pode aprender do Islão.

É interessante verificar que nos inícios dos anos oitenta, nós os representantes dos Conselhos de Estrangeiros nos dirigíamos aos Países Baixos para os imitarmos nas suas medidas progressistas e liberais de acolhimento de estrangeiros para as aplicarmos nas nossas câmaras municipais. Hoje, 60% da população dos Países Baixos considera a imigração muçulmana em massa como o erro político número um pós-guerra mundial.

Nos países de imigração já é possível observar, no comportamento social, as diferentes atitudes dos grupos imigrados de diferentes regiões e culturas em relação à sociedade acolhedora. Daí também a injustiça feita a muitos imigrantes ao metê-los todos no mesmo saco; o mesmo se dará ao considerar todos os imigrantes islâmicos pela mesma rasoura. O pensamento indiferenciado tem sido um erro comum a políticos e populações no que se refere ao tema das migrações.

Desde o Renascimento operou-se uma emancipação progressiva do indivíduo em relação à comunidade. Tal como na Idade Média a comunidade (instituição) abusava do indivíduo, a partir da emancipação renascentista e moderna o indivíduo emancipou-se de tal modo que exteriormente chegou ao exagero de prescindir do seu fundamento que é a comunidade; com a desintegração social em processo e a desconstrução cultural europeia damos início à queda do império ocidental tal como aconteceu com o Império romano. Os muçulmanos, que se encontram estruturalmente na Idade Média beneficiarão da vantagem de se afirmarem como comunidade numa sociedade ocidental já não comunidade, por isso condenada a abdicar e a ceder ao relativismo cultural e à consequente afirmação de egos não orgânicos que se tornarão anonimamente controláveis por supraestruturas globalistas.

Um grande motivo histórico para consolação no suceder-se das civilizações, é o facto de, geralmente, ao expirarem terem dado oportunidade a um passo em frente, dando origem a novas perspectivas! Segundo analistas até as guerras foram factores de grande desenvolvimento humano.

O mundo anda escuro demais, mas isso é uma questão cíclica como a das estações do ano; o pior não será a escuridão, mas sim andar sem ideia do caminho nem saber aonde ele leva. Temos o exemplo da escuridão da noite e verificamos que também ela tem sentido, mas para podermos andar nela temos de adaptar as pupilas ao escuro, que é a outra parte da realidade. O mais importante é saber como caminhar e para onde. Andar às apalpadelas pode ajudar a afinar o sentido de orientação.

António CD Justo

Pegadas do Tempo: https://antonio-justo.eu/?p=8885

(1) https://abemdanacao.blogs.sapo.pt/tag/%22ant%C3%B3nio+justo%22

https://www.linkedin.com/pulse/vaticano-dos-mu%C3%A7ulmanos-ismaelitas-em-lisboa-da-cunha-duarte-justo/?originalSubdomain=pt

(2) Cultura em implosão: http://antonio-justo.blogspot.com/2016/10/politica-do-postfacto-etica-entre.html

https://bomdia.eu/e-o-islao-a-caixa-de-pandora-da-civilizacao/

https://bomdia.lu/a-nova-tirania-de-minorias-esta-a-substituir-a-das-maiorias-do-passado/

Hipocrisia política: https://jornalpovodeportugal.eu/2017/07/09/da-hipocrisia-politica-a-inculpabilidade-muculmana-por-antonio-justo/

https://www.gentedeopiniao.com.br/opiniao/aviso-do-estadista-helmut-schmidt-a-uma-politica-fora-de-servico-dia-mundial-do-homem

Incompatibilidade do Islão com as democracias ocidentais: https://abemdanacao.blogs.sapo.pt/o-islao-e-incompativel-com-a-democracia-1764343

https://dialogosdosul.operamundi.uol.com.br/cultura/57874/humanismo-e-etica-para-a-construcao-de-uma-cultura-de-paz-global

https://bomdia.eu/islao-e-a-sociedade-masculinidade-contra-feminidade/

http://vozdenampula.blogspot.com/2011/01/porque-sao-cristaos-os-mais-perseguidos.html

https://jornalpovodeportugal.eu/2017/08/23/peninsula-iberica-al-andaluz-declaralugar-de-reconquista-para-o-islao-por-antonio-justo/

 

GUERRA E SUBMISSÃO

 

A guerra implica sempre injustiça dos dois lados. O fatal é que geralmente cada lado tem razão e faz uso do princípio: “nós” somos os bons, só os outros são maus. Socialmente seria mais honesto dizer: o “nós” são os nossos interesses e deles fazemos depender o bem e o mal.

Para complicar, na sociedade, as probabilidades de ser enganado multiplicam-se de ambos os lados. As duas partes governantes influenciam o seu público, através dos meios de comunicação, para que a população assuma com gratidão a fatura da guerra.

O povo carrega a cruz, e quem tem a cruz só lhe resta a possibilidade de abençoar!

Perante a decisão determinante dos governos a sociedade reage como o gato que uma vez admoestado assume o gesto de submissão roçando em torno das pernas do poder transformando a oportuna agressão em amizade submissa.

António CD Justo

Pegadas do Tempo