Bênção para Casais em Situação irregular e Homossexuais
O Papa abre caminho para o reconhecimento de casais do mesmo sexo na Igreja Católica sob condições estritas. O documento “Fiducia suplicans” (Confiança suplicante (1) fala de “possibilidades de bênção de casais em situação irregular (casais em nova união) e casais do mesmo sexo” (2). Com esta intervenção papal alegra-se a igreja alemã e surgem algumas dúvidas na Igreja mundial. Deste modo os actos sexuais passam, neste assunto, a não ser submetidos ao ordenamento moral e são explicados pelas condições criadas pela natureza (a excepção confirma a regra e in dúbio pro reo). Ao não serem exigidas condições relativas à moral, a consequência será a aceitação de uma certa ambivalência que abarca a inclusão da dúvida e leva alguns teólogos de ordenamento doutrinal a problematizar a medida pastoral do Papa Francisco. Na consequência, esta maneira de actuar simplifica também o hábito já generalizado de relações sexuais antes do casamento! Nesta ordem de ideias teológicas estará para breve a inclusão da mulher no clero!
O Sumo Pontífice pôs claro que a bênção não pertence aos sacramentos nem implica mudanças doutrinais; segue o espírito pastoral da Amoris Laetitia (3). Em termos teológicos abençoar o homossexual não corresponde necessariamente a abençoar a ação homossexual, mas, no meu entender, consiste em reconhecer a natureza e o desenvolvimento da sociedade como componentes da revelação! Deus não tem género, mas criou as pessoas como seres sexuais e à Sua imagem. No Filho de Deus e na Mãe de Deus expressaram-se os protótipos da união da feminilidade com a masculinidade e da espiritualidade com a materialidade.
O substancialmente novo do documento é o integrar a realidade social em que vivemos e pô-la a caminho dos fóruns de uma dogmática que possibilita a mudança na continuidade.
Ao ler-se o texto tem-se a impressão que a redação do texto corresponde à complexidade das opiniões da Igreja universal e distingue entre o sacramento do casamento (casamento apenas entre um homem e uma mulher) e a bênção (sem ritual estabelecido para não ser confundido com o casamento sacramental). Embora as relações sexuais só se apliquem ao casamento entre um homem e uma mulher, o passo dado pelo pontífice representa um progresso pastoral (não esquecer também o progresso que o casamento proporcionou no início do cristianismo que com a indissolubilidade e o vínculo sexual de homem e mulher no matrimónio rompia, a nível religioso, com hábitos e práticas de sociedades arcaicas de total subjugação da feminilidade à masculinidade numa matriz social masculina que fazia das mulheres seres de segunda classe. A declaração cristã da indissolubilidade do casamento significou um grande passo no reconhecimento da mulher e sua dignidade não só a nível individual como social. O Islão restabeleceu a antiga matriz masculina).
A sociedade muda e com ela os conceitos morais
A sexualidade e a fé cristã fazem parte da nossa identidade e a sua interação mútua tem feito parte da história do desenvolvimento humano e social do Ocidente. Encontramo-nos numa época de tentativa de mudança axial cultural – um momento de fluxos contraditórios – onde o poder de determinar o mundo se concentra na passagem de uma ética religiosa para uma ética secular global abstracta com a intenção de criar uma outra antropologia (gerar um outro Homem) e outra sociologia (uma outra cultura), que questiona a visão global representada no catolicismo; na consequência os dois elementos da cultura transmitidos pela igreja (fé e sexualidade unidas) estão a ser abalados no sentido de ser separados. Os Estados, cada vez mais transformados em administrações de agendas globais, procuram moldar o homem no seu formato ao determinarem de cima para baixo a política de educação sexual na escola e deste modo desintegrar religião-família-sexualidade (objectivo do marxismo). A sociedade muda e com ela os conceitos morais e a nossa dor dão-se devido ao facto de nos encontrarmos numa época da rapidez de modo a podermos hoje supervisionar mudanças e sentidos que antigamente só eram observadas por historiadores e estudiosos de visão enciclopedista de perspectiva histórica.
Nas gerações passadas não se davam conflitos sociais relevantes entre a Igreja e a sociedade/governo porque a Igreja num processo lento de aculturação e inculturação ia adaptando a realidade de hábitos e costumes sociais à doutrina (pastoral) e vice-versa. Na nova época que se afirma por rivalidade e luta entre o secular de cunho marxista e o religioso torna-se mais visível a crise de mundivisões e consequentemente a desorientação, insegurança, resignação e luta.
Por outro lado, se antes também a nível intelectual se procurava tratar de maneira inclusiva o processo de acesso/abordagem à chamada realidade/verdade através do método dedutivo (especulativo de cima para baixo) numa de ‘Homem de saber feito’ e o método indutivo (experiência, de baixo para cima) numa de ‘Homem de experiência feito’, hoje relativizou-se tudo na consequência dos movimentos estruturalismo- desconstrutivismo-relativismo inter-relacional que interpretam o todo pelas partes e acabam com paradigmas para se justificar uma nova cultura e uma nova vivência a criar produzindo para isso novas estruturas de ação e comportamento que levem a diferentes relações individuais e sociais .
Estamos a passar de uma era que se interessava mais pelo como as coisas funcionam para uma era a mudar de paradigma para o modo como as coisas se relacionam. Ao fixar-nos no relacionamento como ponto fulcral tem-se negligenciado os factores natureza e a cultura na qualidade de determinantes e assim ir substituindo a base espiritualidade pelo factor energia ou relação com base num mero funcionalismo e funcionalidade social. Esta negligência pretende compensar-se e legitimar mediante um relativismo absoluto, proporcionando-se assim a decomposição e desestruturação que procura legitimar a luta anti cultural e contra todos os construtos identitários naturais, culturais e humanos no intuito de formar uma nova cultura meramente mental e ideológica já longe do humano e que proporciona o seu domínio numa tática justificadora da luta contra o humanismo. A Igreja, porém, está atenta às modas e ditames do tempo (atualmente impulsionado pelo marxismo e pelo maoismo) continuando a defender o que é mais essencial para o humano.
Isto cria atrito porque o Estado embora se diga isento, segue dogmaticamente a nova ideologia considerando-a como a verdadeira em relação às que combate. Passa por cima do facto de também ele não passar de um construto com a agravante de ser distante da vida e do humano como se a natureza e o humano se pudessem reduzir à linguagem. Deste modo o próprio Estado corta o ramo em que se sustenta e é sacrificado a um construto estrutural mundial.
Como o modernismo quer mudar rapidamente a realidade e acredita poder criar uma outra através de leis e de medidas administrativas (agendas) torna-se mais difícil a acção da Igreja que advoga um crescimento mais lento e orgânico (e aferido à consciência popular) do que administrativo para conseguir um desenvolvimento integral humano; porém não precisa de deitar muitas lágrimas pelo que tem de mudar hoje pois o negligenciado no passado também fez sofrer muita gente. Assistimos assim a uma corrida do tempo cronos contra a plenitude do tempo Cairos, quando o urgente seria a tentativa de integrar os dois no sentido de uma sociedade mais humana. A Igreja é também ela peregrina e tem de assumir também o pó do tempo e a natureza do ser humano composto não só de espírito/alma, mas em termos de igualdade também de corpo. O Estado como representante da acentuação da masculinidade e a Religião como representante da feminilidade são dois polos complementares que deveriam trabalhar seguindo uma estratégia inclusiva (simplificando: precisamos de pessoas e de sociedades com corpo e alma!). Neste sentido a Igreja terá de aprender do mundo a mudar a sua relação com o corpo e a sensação de prazer para não exagerar num sentido o que o mundo exagera no outro. A hostilidade ao corpo (a autossatisfação como ofensiva…) e a falta de equilíbrio entre corpo e mente são factores que determinam tensões que prevalecem na sociedade e na igreja enquanto não houver uma osmose de masculinidade e feminilidade.
Anteriormente, o ideal da sociedade era representado pela religião, que mudava lentamente e, portanto, não causava rupturas nas pessoas. Hoje, as ideologias com uma elite influente mudarão rapidamente os processos de mudança na sociedade, de modo que o desenvolvimento não será mais guiado pela realidade vivida, mas será realizado a partir de cima, de uma realidade concebida, através de projectos seculares com agendas cerebrais a serem aplicadas a nível mundial; aqui será uma tarefa importante da igreja salvar a perspectiva de baixo, a humanidade, a feminilidade e o humanismo contra uma anonimidade atafegante de uma realidade virtual que poderia conduzir a uma organização tipo troica global a usar uma Inteligência Artificial não humanizada. Hoje a socialização está a dar-se através do questionamento de conceitos morais concretos e da educação sexual numa plataforma atmosférica mental de confronto clandestino e de relativismo absoluto. Numa cultura onde a sexualidade e a espiritualidade fazem parte da identidade cultural e individual, mas que é contestada radicalmente, torna-se mais difícil para a Igreja resguardar-se. Um caminho de reconciliação poderia levar ao desenvolvimento separado da sexualidade e da religião/espiritualidade, de modo que a moral sexual não preocupasse tanto a Igreja como o Estado secular na qualidade de instrumentos de domínio.
Criar e impor crenças específicas não é justo sejam elas de caracter religioso ou científico. A igreja participa na formação da própria fé, mas apenas no sentido de maturidade e na adopção de atitudes e desenvolvimento saudáveis; diga-se isto, também na sexualidade, que está sujeita a demasiados exageros e abusos de parte a parte quer pela negativa quer pela positiva. O Estado abusa do seu papel ao apoderar-se das crianças numa política de desqualificar a missão universal educativa dos pais.
A sexualidade é discutida na igreja, mas raramente é discutida pelos padres (eles discutem-na geralmente dentro do casamento) porque parecem acreditar ainda que a sexualidade é um assunto privado. A sexualidade não é um assunto privado ao determinar a moralidade de uma cultura.
A questão será se a igreja acompanha o desenvolvimento sexual da sociedade ou se para. Ela deve reconhecer que conduziu a moralidade cultural através da sexualidade e que hoje outras forças da sociedade querem assumir o leme e colocam a tónica onde a contradição é mais forte. No entanto, ver o género como sujo ou impuro não pode ser atribuído aos Evangelhos; isso são mais os efeitos da sociedade e da história amarrada aos seus costumes e que tem dificuldade em compreender a filosofia e a mensagem cristã. A igreja sempre se viu como uma autoridade educativa para o povo e talvez tenha enfatizado demasiado o aspecto educativo e de ajudante do Estado. Assim fortaleceu a influência das tradições sociais sobre o povo e descurou a acentuação da filosofia teórica do cristianismo a nível de discurso intelectual no campo secular preocupando-se em ver a sua filosofia aplicada a nível individual e de moral social.
A igreja é o lugar onde as pessoas se encontram, independentemente de virtudes e defeitos competindo-lhe desenvolver um comportamento saudável em relação à sexualidade. Não há que associar a sexualidade à normalidade ou à anormalidade. A igreja tem uma responsabilidade especial, também através da sua própria missão e mandato, de proteger as minorias e o humano. No final do caminho sinodal em outubro de 2024 em Roma conheceremos outras novidades.
Uma função importante da Igreja, especialmente no contexto ideológico actual continuará a ser a de que a sociedade não confunda a linguagem com a realidade. Uma missão prioritária em relação à sexualidade será a defesa da feminilidade e manter a música do amor que aquece os corações.
Será de evitar todos os fundamentalismos seculares e religiosos porque são de vistas limitadas e empobrecedoras de desenvolvimento quando permitem apenas uma ideia do certo e do errado. Isto também contradiz o ensino da igreja, segundo a qual a própria consciência é a voz de Deus.
Nesta época natalícia sopram do Vaticano ventos frescos e revolucionários que não veem no amor pecado, mas que causam calafrios nalguns grupos e regiões do catolicismo. Bênçãos só podem ser revigorantes e permitir que os amantes se regozijem e celebrem o seu relacionamento também em público, mesmo não pertencendo ao cânone litúrgico. Cada pessoa é única e com momentos próprios; o reconhecimento dá-lhe sustentabilidade na vida quotidiana e deste modo também acontece ecclesia. Boas festas, o Natal é a festa da vida!
António CD Justo
Teólogo e Pedagogo
Pegadas do Tempo
(1) ‘Fiducia supplians’ aprovada pelo Papa Francisco: https://press.vatican.va/content/salastampa/it/bollettino/pubblico/2023/12/18/0901/01963.html#es
(2) Na Alemanha, as cerimónias de bênção para casais homossexuais já eram praticadas em muitas comunidades fazendo uso de uma zona cinzenta do direito canónico.
(3) Amoris Laetitia : https://antonio-justo.eu/?m=201802
https://beiranews.pt/2018/02/27/ponto-de-vista-por-antonio-justo-29/
Desafios: https://bomdia.eu/bispos-tradicionalistas-sentem-se-desafiados-pelo-papa-francisco/
Consciência é o primeiro vigário de Cristo em questões de moral:
https://www.gentedeopiniao.com.br/opiniao/moral-sexual-da-igreja-estranha-a-vida-habitua
ÉTICA ENTRE CONVICÇÃO E RESPONSABILIDADE:http://antonio-justo.eu/?p=3884; Ética Republicana http://antonio-justo.eu/?p=3895 ; Um Exemplo De Ética Republicana Socialista Aplicada: http://www.solnet.com/09set16/pena&lap/penalap3.htm ; POLÍTICA DO POSTFACTO – ÉTICA ENTRE CONVICÇÃO E RESPONSABILIDADE – DO COMPROMISSO ÉTICO ENTRE IDEALISMO E REALISMO: http://antonio-justo.blogspot.de/2016/10/politica-do-postfacto-etica-entre.html; Ética da Responsabilidade pressupõe a Educação para a Liberdade: https://jornalpovodeportugal.eu/2018/02/13/polemicados-recasados-por-antonio-justo/
http://palopnews.com/index.php/cronistas/antoniojusto/1721;. O divórcio da política e da ética: http://www.debatesculturais.com.br/o-divorcio-da-politica-e-da-etica/
Aceitar todos, todos, no seio da Igreja, estou de acordo.
Daí a relevar e oficializar essa situação, acho demais.
O que decorre do curso normal da natureza humana, não se resolve por decreto.
A minha convicção e opinião vale tanto como outra qualquer.
E, queira a sociedade actual ou não queira, têm de respeitar a minha opinião, do mesmo modo que respeito todos os contrários.
Salvador Dias , exactamente! A Igreja é uma comunidade e instituição muito antiga com o ouvido muito atento ao pensar do povo e não ao de ideologias ou espíritos/opiniões próprios do tempo, por isso procura andar devagar para não tropeçar nem se identificar com a velocidade mais ou menos apressada de uma ou outra comunidade! A medida do Papa é de caracter pastoral e não doutrinal, mas amorosamente disposta a acolher os filhos de Deus independentemente da qualidade das suas dificuldades e circunstâncias. Com a medida que tomou, o papa procura impedir agressões ou afectividade preconceituosas contra pessoas homossexuais. O Papa aqui consegue também fazer justiça a muitas pessoas divorciadas que se sentiam incompreendidas e não aceites.
Com que facilidade se deturpa o que o Papa determinou! A natureza não sofre as mutações e evoluções que a teoria do “género” pretende impor. Provem-no primeiro, cientificamente e depois apresentem as teorias inventadas para justificar o que atualmente defendem. Querem fazer esquecer que a homossexualidade nos casos que não são patológicos, foi provocada e estimulada para encobrir os verdadeiros objetivos da propaganda marxista/estalinista, de desagregação moral como primeiro passo para o aniquilamento dos povos. Um pouco mais de estudo sério da história está a fazer muita falta.
Leonor Coelho , com que facilidade e rapidez se fazem afirmações de um texto de modo a deturpá-lo; seria de desejar uma leitura mais atenta do escrito; nesse caso não poderia chegar às afirmações que pretende depreender dele! Quanto ao que afirma sobre a propaganda marxista/leninista limitou-se a dizer por outras palavras o que eu afirmo no texto!
Creio ser uma fobia, esta permanente procura dum sinal, duma entrelinha, onde a Igreja Católica aprove o que não é de facto um matrimónio, ou contemporize com a agenda lgbt. Isso de facto não vai ocorrer. O documento apenas procura dar uma resposta aqueles que honestamente desejam converter-se e aproximar-se de Jesus.
José M. Ferreira Luiz , o Papa não aprovou nada e deixou isso bem claro ao dizer que a bênção não era sacramental nem sequer litúrgica. Se tivesse lido o texto teria depreendido isso, que deixei bem claro, independentemente do esforço pastoral da Igreja por não fechar a porta a pessoas de boa vontade que procuram Deus apesar das suas fragilidades ou condicionalismos humanos!
António Cunha Duarte Justo, dito de modo mais simples, o Papa tenta ser conciliador e um elo de união. É justo e benevolente.
Salvador Dias , mas dado o mundo ocidental se encontrar demasiadamente mais sobre o domínio de crenças do que de fé, isto irá causar muitas dores de cabeça ao Papa e irá provocar muitas feridas na Igreja universal que tem uma sensibilidade diferente da europeia, principalmente nórdica. Também os partidarios do LGTB irão procurar abusar do documento e pessoas mais viradas para o respeito da tradição ficarão descontentes e leva cada diocese a cozinhar a sua sopa embora o Papa tenha advertido que a benção não é ritual não podendo por isso qualquer bispo elaborar um ritual!
António Cunha Duarte Justo, li o texto oficial como habitualmente, e acho desnecessária a agressividade e os pontos de exclamação num dialogo sereno. Feliz Natal para si.
José M. Ferreira Luiz , não mostrou serenidade ao afirmar que deturpei o que o Papa determinou e ao pretender aproximar o texto da teoria do género que desde há anos venho questionando em artigos e ao contextuar o tema de “propaganda marxista/estalinista” que considero a raiz da luta contra o cristianismo e contra a cultura ocidental, deixou-me afetado, mas não agressivo. Obbrigado e um feliz e santo natal!
Muito bem, a Igreja está de parabéns. Todos os seres humanos são filhos de Deus e, se são católicos, devem ter os mesmos direitos.
Sao Depinho , sim, a grande vantagem que vejo no documento é possibilitar na Igreja uma discussão mais aberta sobre sexualidade. Isto vai criar por outro lado muita confusão dado tratar-se de um assunto que toca princípios da fé, a nível de dogmática (fundamentação em conformidade com a doutrina e evangelho e por outro lado pela pastoral até agora praticada). Certamente sairá beneficiada a parte pastoral, isto é, haverá uma maior aproximação à vida vivida em cristandade mas que terá de estar atenta para não se deixar desviar por ideologias que querem criar uma ordem mundial contra a humanidade e contra a natureza. Neste ambiente torna-se difícil também a nível teológico conseguir-se uma via que satisfaça a doutrina da Igreja e a realidade com que a Igreja é confrontada. Em termos teológicos, o documento fiducia suplicans constitui um desafio ao status quo porque se estabelece um caminho completamente diferente que é teologicamente novo e pode, portanto, causar grandes perturbações na igreja. Iremos todos ter de ter muita paciência e torna-se consolador constatar-se que o mesmo Deus que nos inspira através da doutrina é ao mesmo tempo o criador que nos criou nas condições naturais que também nos determinam. Somos feitos de Céu e Terra e por isso não nos devemos perder olhando demasiado para a terra nem demasiado para o Céu: naturalmente do céu vem a luz que ilumina a terra mas também não nos devemos perder em purismos: o nosso modelo e orientação é Jesus Cristo, apesar de tudo.
Jesus não ensinou seus seguidores a aceitar todo e qualquer estilo de vida. Ele ensinou que o caminho para a salvação está aberto a “ todo aquele que nele exercer fé João 3:16.
Deus criou o sexo para ser feito entre um homem e uma mulher, e apenas se forem casados. Deus o Originador do Casamentos deixou na sua palavra isso bem claro. As pessoas, as Igrejas e instituições com o tempo fizeram muitas mudanças. Mas é bem claro que as normas de Deus não mudaram, seus padroes de moral se mantém!
O texto que escrevi, prezado Jose Valgode, não pretende uma discussão entre religiões mas procurar apresentar dentro do catolicismo o aspectos importantes em via também em relação ao diálogo com o mundo actual. Trata-se de procurar compreender o diálogo necessário entre a visão secular e a visão religiosa e apontar para a compreensão da simbologia no conspectus religioso. Em comentários que aqui escreveu mas que agora já não vejo aqui referiu-se às traduções bíblicas que teriam a ver com a verdade. Como penso ser um ponto importante vpasso a referir-me um pouco a esse assunto.A verdade e a Realidade toda não se podem abranger pela inteligência de uma vez só, até porque a mente funciona de maneira mais lineal (causal) do que integral (intuição-mística). A realidade e a Verdade também não podem ser definidas na sua totalidade porque ao defini-las estamos a limitá-las, (embora estejamos condicionados a ter de fazê-lo); isto também devido aos limitados instrumentos de acesso a elas; porque só podem ser compreendidas de maneira perspectivista porque sendo ela a-perspectiva (não se pode reduzir a uma só perspectiva ou ponto de vista, seja ele individual seja ele grupal). Por isso há tantas opiniões e tantas mundivisões que se desqualificam quando, a nível mental, dizem que são absolutas ou que são a verdade. (Também por isso é que no catolicismo a verdade é identificada com a pessoa de Jesus Cristo que une a Palavra e o signo, signo dos signos ou sinais e como tal não pode ser aprisionado numa só frase ou texto).
No signo (núcleo ou sentido de algo) estão incluídos o significante (escrita ou fala que expressa o significado) e o significado (representação, conceito) o que torna impossível uma tradução querida exacta de um texto original complexo porque implica sempre interpretação (também por isso é que geralmente uma poesia terá mais oportunidade de se aproximar mais do texto original se for feita por um poeta).
Assim quanto às traduções também elas implicam elementos de traição dado signo e palavra não serem mentalmente identificáveis. Por isso há imensas traduções da bíblia e de outros documentos importantes da história.
Assim as palavras modificam até de sentido conforme a consciência local histórica e do falante, como se vê nas consoantes bíblicas YHVH.
Deus era designado em hebraico pelas quatro consoantes YHVH transliteradas para Jeová (Javé, Iehovah, Iavé ou Yahweh) que com o tempo sofreu um alargamento de significado no hebraico para a palavra Elohim (Deus de Israel e do Universo) que linguisticamente deu em aramaico Aloy e Allah em árabe. Os cristãos árabes também usam a palavra Alá para Deus. Naturalmente as diferentes linguagens embora usem a sua palavra para designar Deus não entendem o mesmo sobre Deus.
Ora a Bíblia ao ser traduzida do grego e do aramaico tem uma grande história de traduções e nunca pode ser interpretada totalmente à letra (isso faz o islão porque concebe o Corão mais como Alá propriamente enlibrado tendo, por isso, o Corão de ser seguido à letra). Naturalmente estes conceitos a nível intelectual e de discurso são demasiado complexos e são por vezes simplificados encurtando-se o seu alcance o que leva, por vezes a fazerem-se afirmações de tipo absoluto ou exclusivo. Nisto aqui temos que distinguir entre a verdade da crença e a verdade da fé. Na crença afirma-se geralmente a diferença e na fé afirma-se a experiência divina que pode tornar esta verdadeira e aquela com aspecto mais relativo. Se estiver interessado em apresentar incongruências entre o texto e a doutrina, certamente que responderei. Quanto ao que agora deixou aqui. É verdade que o cristianismo não implica apenas um estilo de vida mas também não é qualquer um. O Deus de Jesus Cristo é universal não se podendo reduzir a uma crença; o estilo de vida é uma pessoa e por isso em termos católicos trata-se de tentar realizar Jesus Cristo. Não chega apenas seguirem-se normas; estas podem valer como orientação. O mais importante é a fé e a vida. Por isso o mais que livro dos crentes no cristianismo é Jesus Cristo.
Para mim esta papa está a descravilizar os católicos e muitos de nós não me revemos nas coisas que este Papa diz eu pelo menos não me revejo um hoem é um homem e uma mulher é uma mulher.
Abilio Vieira , sim há coisas que mudam e que ferem porque são por vezes processos de mudança por trás dos quais não se encontra a natureza nem a humanidade (humanismo) mas interesses poderosos que se aproveitam da globalização não só para através de agendas melhorarem um pouco a haspectos humanos mas à custa da destruição impiedosa de valores humanos e culturais: A maneira como actuam a nível de globo revela terem imenso poder visível e invisível que leva à impressão de se estar a planear e executar um projecto para criar um novo humano e uma nova cultura que peca por não respeitar a natureza nem os biotopos culturais nem um desenvolvimento natural orgânico. Naturalmente que um homem é um homem e uma mulher é uma mulher e na natureza também se encontram excepções, mas o problema é quererem obrigar a regra a seguir a excepção como se esta fosse a norma. O fundamental em tudo isto seria cada um respeitar a personalidade de cada pessoa e as maiorias não se julgassem melhor que as minorias e se respeitassem uns aos outros incluíndo também a excepção. O Papa está movido pela pastoral que com base no amor deve respeitar toda a pessoa e com esta medida quer também impedir que se criem preconceitos contra homossexuais. Importante para os católicos é a consciência que o regulamento superior ou o juiz, a nível moral, é a própria consciência. No meio de tudo isto encontram-se interesses políticos em acção contra a antropologia cristã e por isso em vez de haver um desenvolvimento orgânico e equilibrado na sociedade, esta experimenta dentro dela a luta de interesses que muitas vezes são contra a pessoa, contra a família e contra a nação. Temos de ver também que em questões de sexualidade a Igreja aplicou uma pastoral demsiadamente restrita e agora os políticos e ideológicos apoderam-se da sociedade para conseguirem os seus objectivos geralmente meramente materialistas.
Já há muitos bipos a quererem engavetar a ‘Fiducia Supplicans’ como é o caso da Conferência episcopal húngara que recomenda:
«Tendo em consideração a situação pastoral do nosso país, a Conferência Episcopal formula como orientação para os pastores que podemos abençoar todas as pessoas individualmente, independentemente da sua identidade de género e orientação sexual, mas devemos evitar sempre uma bênção comum aos pares “Que convivem em uma relação puramente conjugal, em um casamento não eclesialmente válido em uma relação entre pessoas do mesmo sexo.”
‘Fiducia Supplicans’ deixará às igrejas uma certa liberdade na sua abordagem e reinterpretação da mesma. A isso ajudará uma certa ambiguidade entre doutrina e pastoral e a tensão entre religiosidade e secularidade, Memória e novos usos e costumes.
Nem mais, o arco íris é para todos.
Estranho porquê? O próprio Papa já referiu que todos são filhos de Deus. Porque raio uma pessoa que tenha orientação sexual diferente da tua é melhor ou pior que tu? É o mesmo que ser da direita ou da esquerda, há situações bem mais graves tais como pedófilos entre outros e vão à igreja
Mil Fernandes
Ana Pereira Photos, por motivo nenhum. Nem a Igreja tem nada a ver com isso ou, não devia ter, mas emiscui-se em tudo o que é Poder… E o Papa, seja ele qual for, sabe bem que jamais, de acordo com a doutrina, pode dizer que são todos filhos, porque o preceito é bem outro… Falar para jovens impúberes, gente humilíssima ou crendeiros de catuxo é fácil… Dificilmente conseguirá algo maior com quem efectivamente lê o livro em que, supostamente, todas as tretas subjazem… É que não bate a bota com a perdigota. E eu sou ASSUMIDAMENTE cristã…
…E o Papa, seja ele qual for, sabe bem que jamais, de acordo com a doutrina, pode dizer que são todos filhos, porque o preceito é bem outro… Falar para jovens impúberes, gente humilíssima ou crendeiros de catuxo é fácil… Dificilmente conseguirá algo maior com quem efectivamente lê o livro em que, supostamente, todas as tretas subjazem… É que não bate a bota com a perdigota. E eu sou ASSUMIDAMENTE cristã…
Mil Fernandes , o cristianismo quer na sua filosofia antropológica quer sociológica coloca a pessoa humana como soberana mesmo em relação à própria instituição e isso torna-se muito perigoso para os que só querem o poder pelo poder; por isso lutam contra o cristianismo como instituição porque sabem que não há instituição sem defeitos nem erros mas pessoas mais humildes e autênticas não se dando conta do que se encontra por trás dos cenários deixam-se levar na cantiga cujo refrão não declarado é a destruição do catolicismo e da cultura ocidenta! O cristianismo globalizou Deus desvencilhando-o de apropriamentos nacionais ou grupais para o tornar um Deus universal de que toda a humanidade é filha. Daí se desenvolveram na sociedade ocidental os direitos humanos e a democracia.
O problema no meio de tudo isto está no facto de pequenas minorias se apoderarem de lugares com o pretexto de serem discriminados quando também eles se apoderam de um poder e atitude que no fundo condenam em relação aos outros. O que se encontra em via é a aluta e afirmação da cultura marxista sobre a cultura de teor cristão! Isto porém, pelos vistos nem cristãos notam!
António Cunha Duarte Justo, tem toda a lógica, mas não me sinto com habilitação capaz de explanar, num contexto de comunicação à distância, o que realmente penso e sinto em relação a isto… Mas gostaria bem de saber desde quando esta cromaticidade começou a ser utilizada, dado que o movimento que a operacionaliza tem décadas de existência… Dificilmente me convencerāo de que a actual opção foi aleatória… O pior cego é o que não deseja ver… E todos sabemos da cumplicidade entre a Igreja e o Estado em países como o nosso, por exemplo.
Mil Fernandes , pelo que me tem sido dado investigar há uma estratégia socialista marxista contra a cultura ocidental e em especial contra as suas raízes de caracter cristão porque caíndo elas o povo será mais fácil de manipolar passando a ser orientado apenas pela sociologia (dados estatísticos) e por um conjunto de valores meramente laicos (racionalistas-materialistas) e deste modo transformados em ovelhas obedientes de uma nova ordem mundial a criar. Esta estratégia serve-se de ONGs muito fortes e em especial dos centros do poder como ONU e UE para se infiltrarem a nível de cúpulas políticas e das administrações dentro dos Estados. Um socialismo hipócrita consegue entrar no âmbito da “economia” pessoal e institucional de tal modo que a pessoa e a comunidade se encontra entregue à bicharada. Isso já mina até membros do clero como se pode observar já especialmente na Alemanha! Há uma grande ingenuidade em muita gente boa que se deixa levar por impressões imdeiatas ligadas ao seu historial e por isso as adoptam sem estarem conscientes do seu alcance. O bom trato de pessoas homossexuais e de pessoas lésbicas não está em questão, como o Papa defende. A questão só se torna problemática quando a pretexto de se defenderem princípios de igualdade e de respeito que se deve a toda a pessoa há grupos que usam de casos específicos da moral para questionarem toda uma instituição como o catolicismo sem o terem entendido realmente. Estes movimentos já em banho-maria durante a primeira grande guerra, activaram-se muito mais depois da segunda guerra mundial e em especial depois da queda da União Soviética.
Fiquei contente. como diz : A sexualidade já não é tema tabu na Igreja ! Há tempos um Senhor Padre veio de manhá a um programa houve a pergunta da parte de quem estava fazendo o programa porque escolheu ser saserdote e não ter casado e a resposta foi tão triste que ainda de vez enqando penso na resosta Responde não, casei mas não sou frio,,,,
Conceição Azevedo evidentemente que um padre é um homem e se deixamos de ver o homem que é o padre é porque estamos a ver um “ monstro”. Os padres não deixaram de ter sentimentos como todos os homens e mulheres têm. O que os padres fizeram foi um compromisso de celibato ou um voto de castidade , consoante os casos, e é esse compromisso ou voto que é levado em conta, tanto pelo o próprio como por terceiros. Isto é, nem o padre nem as consagradas perdem sexualidade, mas orientam-na de uma outra maneira. Um voto difícil, mas se pensar bem, todos nós refreamos a nossa sexualidade e ajustamos ao que a sociedade espera de nós, caso contrário seríamos muito atípicos. É o amor por uma mulher e desejar casar que leva os padres a romperem o voto. Não é uma libido desenfreada que o move. Julgo que o padre ao dizer isso quis apenas dizer que não é insensível, mas tem consciência dos seus limites e sabe o que deve preservar.
Querida Senhora obrigada pela sua explicação. Eu achai a resposta dada muito a frio !…. era o que eu queria dizer; como saserdote ,gostava que mostrasse a alegria mostrar alegria do seu saserdósio, de uma vida , totalmente entregue de corpo e alma , tal e qual quando se recebe o sacramento do matrimónio há tantos sacrificios a fazer nesse aspeto, e á muitos tabus, e quando se fala valha-nos Nosso Senhor !!.. o nosso corpo, é um templo tenho -o como uma doação a Deus seja qual a vocação como chamamento de Deus á igreja, em sacrificio é,uma oferta de vida, achei que a resposta devia ter sido dada de louvor a sua sexualidade, mas de facto eu não tenho que achar nada na vida de ninguém peço desculpa. O tempo que perco a olhar mais para os outros, devia sim rezar mais pelos nossos queridos saserdotes, pois o que seria o mundo sem Eles ! Deus nos dê, muitos e santos saserdotes. Do coração muito obrigada.
Olá António. Vejo a lamentar o facto de estar a ser mal interpretado por vários comentadores, mas isso não será de estranhar, uma vez que o próprio título do texto “Bênção para casais” e a primeira frase: “O Papa abre caminho para o reconhecimento de casais do mesmo sexo na Igreja Católica” contradizem explicitamente aquilo que diz o documento sobre o qual se debruça.
O Fiducia Supplicans diz com alguma insistência que as bênçãos não são para casais, mas para indivíduos e faz questão de dizer que em caso algum as bênçãos devem ser confundidas com uma aprovação da união em causa.
Numa outra nota, pedia-lhe que nestes casos se limitasse a publicar o link para o artigo, e uma ou outra frase, em vez de publicar o texto completo. Obrigado!
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Filipe d’Avillez , muito agradecido, Filipe. Pelos vistos nota-se que o tema é quente. Também sou, como o Vaticano contra o casamento sacramental de homossexuais. De resto a palavra do Papa é que é o mais importante e vinculativo para a Igreja. O facto de na Igreja se ter continuado a tratar pessoas cristãs divorciadas como cristãos a ignorar veio com “Fiducia suplicans” receber uma nova orientação. .