DIA INTERNACIONAL PELO FIM DA VIOLÊNCIA CONTRA MULHERES

A Dignidade individual humana deve determinar os Costumes sociais – Urge a Hora de Feminilidade

O 25 de novembro – é o Dia Internacional pelo Fim da Violência contra as Mulheres. É denominado o “Dia da Laranja” e nele a ONU alerta para se tomarem iniciativas públicas com campanhas c0ntra a violência durante 16 dias e que decorrerão até ao Dia dos Direitos Humanos em 10 de dezembro.

A matriz patriarcal deixa as mulheres para trás. Uma em cada cinco refugiadas são vítimas de violência sexual no mundo

Numa sociedade em que a violência é tolerada, as mulheres são as mais atingidas! Especialmente em sociedade fortemente patriarcalistas torna-se mais que oportuna uma revolução da feminilidade.  Nos regimes islâmicos, devido à coerência interna do sistema, a revolução estará nas mãos das mulheres com o apoio de homens de boa vontade.

Atualmente na imprensa sobressai o que acontece no Irão. Lá encontra-se em via uma revolução feminina desde há dois meses desencadeada pelo assassinato de Mahsa Amini em Teerão sob custódia policial por alegadamente não usar correctamente o seu lenço de cabeça.

Entretanto, acredita-se que mais de 300 pessoas morreram até agora e mais de 15 000 foram presas, muitas destas com a perspectiva da pena de morte, relata o jornal HNA (25.11.2022).

O regime iraniano desde há 43 anos discrimina, humilha e rebaixa as mulheres, como testemunha, no jornal, a iraniana Maryam Parikhahzarmehr, que fugiu da sua pátria para a Alemanha há nove anos atrás: “As mulheres ou têm de ser obedientes ou sofrem. Tiveram de renunciar aos seus direitos e experimentar a violência diária. O lenço da cabeça é mais um símbolo de opressão. As leis islâmicas privam as mulheres dos seus direitos. A polícia da moralidade está em todo o lado e controla as pessoas nas suas vidas privadas.” Por exemplo nos casamentos homens e mulheres não podem festejar em conjunto.

No regime islâmico a lei Sharia determina a vida social. O divórcio só é possível com o consentimento do marido. O testemunho de um homem em tribunal vale o dobro do testemunho de uma mulher: “Se as mulheres solteiras forem executadas, serão casadas à força e violadas de antemão, a fim de as desonrar. Para que não vão para o paraíso após a morte”.

Na cultura persa, as mulheres tinham um estatuto mais elevado. O regime islâmico está a tentar eliminar aquela cultura num processo de arabização através da religião.

Também nos países ocidentais se observa muita violência contra mulheres. Resta-nos ainda muito trabalho a fazer até que se consiga neutralizar o paradigma político-sociológico dominante da masculinidade. Até os próprios métodos de emancipação são também eles determinados pelo paradigma masculino longe de um ideal ou estilo de vida que integre de maneira equilibrada as energias da feminilidade e da masculinidade. Enquanto não se desenvolver uma nova cultura social – política, económica e filosófica – com uma matriz social mista (integradora da masculinidade e da feminilidade) a violência e a opressão continuarão a ser meios “legítimos” de desenvolvimento e afirmação.

António da Cunha Duarte Justo

Pegadas do Tempo

VAMOS APERTANDO O CINTO EM FAVOR DAS TRÊS GUERRAS

União Europeia reduzida a mera Feitoria dos Estados Unidos?

Temos na Europa uma guerra europeia que não é dos europeus. Geopoliticamente é uma guerra entre os Estados Unidos e a Rússia, embora a decorrer no território dos outros, no território ucraniano!

Este ano, a UE dá mais 2,5 mil milhões de euros à Ucrânia. Para o ano 2023 estão planeados mais 18 mil milhões. Os ministros das finanças dos estados membros devem agora trabalhar isso em termos concretos.

Segundo o primeiro ministro ucraniano Denys Schmyhal, para a reconstrução da Ucrânia, são precisos cerca de 720 mil milhões de euros.

Num mundo social cada vez mais cego, a opinião pública só fala da guerra militar entre russos e ucranianos.

Temos, porém, três guerras a acontecer em três campos: a guerra militar na Ucrânia que se tornou numa tragédia humana; a guerra nos meios de comunicação social a contribuir para uma sociedade cada vez mais manipulada e temos a guerra na economia de que todos já começámos a sofrer as primeiras consequências.

As consequências estão a ser suportadas pelo povo e pelas nações europeias em desgaste. As novas gerações estão a ser penhoradas com as dívidas que no futuro têm de pagar. A indústria europeia terá de emigrar para os Estados Unidos dado lá ser a energia muito mais barata. A União Europeia está cega e a arruinar os estados europeus!

A Alemanha já geme por todos os lados, apesar do muito dinheiro que rola! Uma vez destruída economicamente a Alemanha, destrói-se a Europa que ficará reduzida a uma União Europeia a funcionar discretamente como feitoria dos Estados Unidos.

Os Estados Unidos são quem ganha com esta guerra. Os europeus já têm de comprar aos EUA o gás 4 vezes mais caro do que é comercializado para os americanos. A Europa tem de comprar armas e material de guerra sofisticado aos americanos e deste modo subsidiar a economia de guerra americana.

E tudo isto devido aos erros da política que nos governa e secundado pelo desejo inconsciente europeu de autodestruição.

 

António da Cunha Duarte Justo

Pegadas do Tempo

A EUROPA ANDA PERDIDA NUMA FASE EM QUE OS IMPÉRIOS SE REOGANIZAM

Tempos de Crise universal beneficiam os Grupos globais oportunistas

O ser humano para subsistir precisa de um habitat natural, de instituições e de organizações sociais com ideologias ou doutrinas estáveis que lhes confiram consistência interna possibilitadora de identidade e de identificação. Neste sentido, a União Europeia encontra-se já há muito num processo de desconstrução/reorganização que vem acentuar o sentimento de crise implementado pela nova geoestratégia em construção.   

Das famílias, tribos, povos/nações surgiram os impérios e civilizações. Se antes os impérios eram determinados pelos interesses internos de nações, hoje organizam-se em torno de núcleos regionais económicos e ideológicos.

Se nas primeiras organizações dominavam as relações humanas empáticas já a nível de conglomerados (por exemplo, ONU; NATO/USA, Federação Russa, China, EU) dominam as relações funcionais (não empáticas) mais próprias de organigramas de funcionários em tempo de serviço; é um facto que o povo se orienta sobretudo pela moral e os Estados por interesses. A relação pessoal é, nestes organismos complexos substituída pelo interesse de jeito utilitário e funcional; em vez da lei moral de interacção pessoal rege a lei cívica de controlo externo (1).

Os tempos de viragem global são épocas de insegurança em que o medo ganha a dianteira, as instituições desconfiam umas das outras, chegando a confiança, também a nível individual, a ser substituída pela suspeita. As superpotências são perigosas entre si, o resto é obrigado a segui-las e a entreter-se com a informação que elas lhe dão.  Encontramo-nos num tempo que exige especial atenção a tudo, um tempo de guerras híbridas onde domina a propaganda e a contrapropaganda, a desinformação e a corrupção, o que complica uma avaliação da situação porque o cidadão é sobretudo o resultado de informação; da informação de uma realidade meramente virtual.

A crise atual é mais dolorosa do que outras passadas porque o mundo se transformou numa “aldeia” e o cidadão e a sociedade estão a ser reagendados e transformados em produto em função de algo imediato ao serviço de instituições económico-políticas globais que se servem da propaganda e da informação como meio de governo e de domínio de uma população cada vez mais exteriorizada e de governantes açaimados por agendas colectivas.

Os latifundiários do poder, interconectados entre si, criaram uma realidade e uma atmosfera social que chega já a ultrapassar o cinismo e a sátira. Gera-se uma consciência colectiva em que a arbitrariedade e a absurdidade passam a reduzir a realidade a uma narrativa de factos atrás de factos, não interessando sequer os elos de ligação entre eles. As populações vão-se contentando no alinhamento da dança atrás do rufo do tambor! Neste tempo triste a sociedade passa a andar como que atordoada na espectativa do estupefacto de uma realidade miragem.

O cidadão/consumidor é confrontado com situações irracionais em que a razão última dada se reduz a uma decisão autoritária sem fundo visível (No âmbito da Internet o consumidor cada vez é mais confrontado com artifícios refinados de aproveitamento da situação a que falta qualquer boa intenção de serviço e de transparência; o mesmo se observa em grandes fornecedores e prestadores de serviços). Isto cria a sensação de impotência e de se ser entregue a forças incontroláveis; esta situação é cada vez mais precária dado os portadores de confiança pública deixarem de ser eles mesmos para se transformarem em propagandistas de agendas e de interesses anonimizados que destroem o sentimento do bem-estar. Por outro lado, a aposta numa guerra só destruidora arruína a orientação da confiança interior e individual e conduz a sociedade a um estado depressivo porque inconscientemente se sente numa situação perdida. Os governantes transformaram-se em administradores da “miséria” e não fazem nada por devolver a esperança popular. Sem esperança (que é o sol da vida individual e social) não há progresso, não há sobrevivência e não há futuro porque a esperança e a confiança são os elixires da vida imprescindíveis para o bem-estar individual e social. Atualmente as notícias televisivas e cometários económicos e políticos exteriorizam-nos distanciando-nos de nós próprios e daquilo em que confiamos, preparando o caminho para um estado inerte e depressivo.

Pensava-se que na Europa a Esperança não morreria, mas com a progressiva morte da pessoa humana (da morte de Deus passou-se à morte do Homem) toda a esperança vai morrendo e sendo substituída por expectativas instaladas. Cada vez nos mergulhamos mais na dor do luto de guerras militares, subculturais (de capelinhas) e económicas que nos reduzem à qualidade de refugiados indesejados a viver na desconfiança de um mundo que leva muitos a terem de existir de forma sonâmbula e outros a terem de adormecer sob o manto da tristeza. Cada vez se ganha mais a impressão que, de dia para dia, a velha Europa, que abusara do mundo, morre, com a vã satisfação de morrer em conjunto. Uma Europa das nações que antes pensava o mundo sob a perspectiva nacionalista ainda não encontrou uma óptica geopolítica própria.

Em sociedades passadas só as elites se davam conta dos erros das elites e da História; hoje, os generais já não se encontram nos quarteis mas nas centrais da informação, nos gabinetes e nas operadoras globais que vão transformando o mundo num quartel e os estados em casernas de incorporados (onde muitos vestidos de uniformes se encontram alinhados na parada sempre à espera do toque da alvorada televisiva, para recebem instruções, que levam muitos a  rastejarem na lama da informação da coreografia política.  A guerra da informação não reflectida mobiliza mentalmente os citadinos transformando-os em “soldados” do sistema. O „mainstream “político-económico controla tudo ao assenhorear-se das capacidades mentais e emocionais das populações não deixando margem para alternativas. Tudo obedece: os implementados apresentando as agendas e os subalternos seguindo-as; não há lugar para a dúvida numa sociedade de interesses e interesseiros; esquece-se que onde não há dúvida não há desenvolvimento!

Na casa da Europa, sem tecto metafísico, a desmoronar-se por todo o lado, tudo se torna cada vez mais virtual, nada é verídico tudo se tornou narrativa de fantasmas e fantasias que levam à decadência alimentada pela pobreza do vizinho. O pensar humanista universal europeu deu lugar a um pensar latifundiário mercantil de economia e ideologia.

Precisamos de uma política lúcida empenhada na construção da paz que restitua a esperança ao povo.

António da Cunha Duarte Justo

Teólogo e Pedagogo

Pegadas do Tempo

(1)  A “autoridade„ é substituída pelo poder, desenraizado da família e da terra, e, para se afirmar, tem de manter o balanço entre as exigências populares e as dos grupos relevantes para a subsistência do Estado). Na relação familiar ou de grupos acessíveis (onde se consiga uma visão do particular e do geral) torna-se possível uma relação de troca de confiança em que se dá também uma troca de benefícios mútuos e de protecção que pode possibilitar uma pessoa a ser uma autoridade para a outra enquanto no Estado ou grandes instituições as relações  são determinadas pelo ter autoridade sobre uma pessoa sem serem percepcionadas como autoridade, por esta se afirmar a nível do ter que assume um caracter meramente funcional, sendo exercida através de pressão ou poder. Também na escola um professor pode ter autoridade sobre um aluno sem que ele seja uma autoridade para o aluno; para o ser pressupõe-se uma relação não só funcional a nível de papéis, mas sobretudo uma relação empática de reconhecimento, bondade, amor e compreensão. As autoridades no espectro político e económico, porque empenhadas na defesa e imposição de interesses, não assumem o caracter de modelo ou de exemplo a seguir definindo-se geralmente pela mera ordem hierárquica (caracter burocrático). Quer no ser como no ter autoridade se pode influenciar as pessoas de forma positiva ou negativa. Exercer autoridade significa criar as condições para que algo seja feito em conjunto de maneira a se possibilitar desenvolvimento, ao indivíduo e ao grupo. Na carência disto, vamos tendo fartura de arrogância e mal-entender.

 

A MAIORIA DOS JOVENS NÃO CONFIA NOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO SOCIAL

De acordo com um inquérito (estudo da Universidade de Bielefeld) na Alemanha, a maioria dos jovens não confia nos meios de comunicação social.

75,8% não confiam nos jornais e 71,6% não confiam nos jornalistas.

37,9% suspeitam que os meios de comunicação social retêm deliberadamente informações importantes.

32,8% pensam que os profissionais dos media apenas difundem a sua própria opinião.

Entre os adolescentes, apenas 53,9% confiam no governo federal e 54% nas Nações Unidas.

Manifestam mais confiança nos cientistas com 76,1% e na polícia com 79,9%.

Este é um sinal de alarme que deveria levar a um exame de consciência dos Instituições dos meios de comunicação social, difusoras de notícias e jornalistas.

Em vez de se colocar o problema nos jovens já vai sendo tempo de as agências noticiosas se examinarem e mudarem de rumo.

Através do acesso à internet hoje há maior possibilidade de observar e questionar o que se encontra por trás dos grupos de influência.

A juventude pode ter uma ideia mais diferenciada do espectro noticioso porque faz uso da Internet não se limitando ao saber transmitido pelas notícias e telejornal como acontece a muitos condicionados a tais praxes. Os novos meios permitem maior troca de informações, mas não necessariamente saber mais profundo.

De facto, a nível social somos o resultado da informação biológica genética e da informação do meio em que vivemos e não temos tempo suficiente para nos questionarmos sobre isto.

António da Cunha Duarte Justo

Pegadas do Tempo

DESTA VEZ A REVOLUÇÃO É GLOBAL E GEOESTRATÉGICA

Ministérios da Felicidade para Pobres e Carenciados

Num mundo em processo de ser dividido entre USA e Rússia/China já se faz sentir as consequências amargas para os povos e que se manifestam já na carestia dos produtos para o consumidor! Nos mercados, os preços já chegaram a duplicar. Os políticos da União Europeia, em vez de se manterem independentes e de defenderem o bem-comum do próprio povo decidiram abdicar da Europa e prejudicá-la em troca da dependência só dos EUA; isto equivale a um encarecimento brutal de todos os produtos dado o mercado começar-se a confinar aos próprios grupos fechados. Na Europa encontramo-nos no início de uma revolução provocada pelas elites político-financeiras em favor dos EUA e de multinacionais que operam a nível global. Desta vez a Revolução vem camuflada, vem das cúpulas da sociedade e o povo não reage porque os meios de comunicação social se transformaram em altifalantes das elites que nos regem.

 O cúmulo da catástrofe para o povo europeu seria se os EUA conseguissem da UE a mesma atitude perante a China que conseguiram dos políticos europeus em relação à Rússia. Indícios disso já se encontram na política americano-chinesa em torno de Taiwan. Encontram-se lá na mesma dança em que se encontravam Russos e Americanos na Ucrânia especialmente desde 2007.

Ai dos vencidos“, mais concretamente, “triste sorte aquela reservada aos derrotados”! Nesta guerra, entre as superpotências, os vencidos são o povo abandonado de todo o lado. Este mesmo povo que é incitado, dos dois lados, a ser, por decisão e condição, contra o outro povo irmão.

Porque não se criam gestores da felicidade da pobreza? Revela cinismo o sistema democrático que se limita a estruturar a riqueza e a gerir a pobreza num circuito em que o mais forte é compensado de forma desmedida com o que tira ao mais fraco e o tema da pobreza e do sofrimento humano é desviado dos holofotes dos interesses públicos.

Andamos a ser distraídos com narrativas da guerra e tudo a ver quem ganha à custa dela.  A opinião pública transmite-nos a sensação de nos encontrarmos do lado certo, independentemente da realidade factual. Essa satisfação, porém, impede-nos de ver os que de um lado e do outro não têm perspectivas, aqueles que não podem sair do circuito da pobreza e do sofrimento.

Aos pobres foi-lhes tirada a consciência do seu ser e do seu viver! Eles também não incomodam porque são arrumados de maneira a viverem, entre si, na periferia das cidades rodeados de mercados descontentadores e de burocracias cobertas de compaixão cínica. Num sistema que considera as pessoas irrelevantes precisamos de criar gestores da felicidade para os pobres!  Precisamos de muitas arcas de Noé que salvem o povo do dilúvio dos preços e da ganância das elites; precisamos de uma cultura, com lugar para pobres e crianças, onde a má sorte não se torne em fadário aceite (vive-se num sistema em que o bem estar de uns é conseguido à custa do mal-estar de outros quando um sistema justo deveria preocupar-se com o bem e o mal-estar repartidos. A cadeia do declínio social torna-se cada vez mais abrangente.

É verdade que não é fácil governar, mas uma democracia, que mereça o nome, não se poder permitir ver os seus cidadãos cada vez mais polarizados entre perpetradores e vítimas.

No nosso universo social reina a escuridão e, apesar de haver alguns luzeiros, a sombra da frustração escurece grande parte da população que não consegue passar a fronteira da pobreza. Muitos refugiam-se no reino da fantasia onde não haja o “em cima” nem o “em baixo” na procura de uma rota que navegue fora da frieza e da órbitra da crueldade. Embora na escuridão as sombras da realidade pareçam maiores do que são, é preciso resistir pois só na sociedade onde haja luta haverá desenvolvimento.

Precisamos de um ministério que junte os carenciados para que juntos construam um novo planeta com um novo percurso. Uma vez juntos sai-se da cidade em direcção ao interior onde juntos possam construir a própria aldeia onde a fraternidade teça mantos que a todos cubra. Longe da autocomiseração, é mais fácil conquistar o mundo; é preciso construir um novo planeta nem que seja só por algum tempo, doutro modo ficaremos prisioneiros da própria pobreza (material e espiritual) num planeta dos outros. É preciso fazer dos muros da masculinidade e das forças militares, planícies e vales femininos onde jorre a fertilidade e a fraternidade; vamos construir uma aldeia onde a feminilidade não emigre para as cidades ao preço de se tornar masculina. Temos vivido num planeta inflexível, na polis dos homens, longe das árvores e dos campos. Não chega perder-se no sentimento grato de se ser necessário socialmente…

A paisagem precisa de solo fértil, fora do alcatrão e do cimento, onde as plantas possam lançar raízes e as crianças não se firam no asfalto. A crença na própria força precisa de espaços com oxigénio onde o verde das árvores nos deixe pairar.

Ao deixarmos as ruas da cidade, onde as lanternas só deixam ver as sombras de pessoas envoltas em mantos escuros de silêncio, notaremos que nas aldeias as estrelas brilham mais.

No vazio da cidade o clochard (vagabundo) caminha à luz da iluminação do natal que no seu sobretudo cintila de maneira especial ao passar ao lado de vidas reunidas em família por trás das vidraças; ele passa a caminho da gruta onde, coberto de cartão de embalagem, vive com o cão sem máscara! O emigrante não segue as regras rígidas da cidade, ele aspira a viver sob o céu livre onde as estrelas alumiam os sonhos de vida, sonhos mais reais que a existência!

Há muitas máscaras na sua porta de papelão, que devem ser deixadas lá fora porque são sinal de domesticação. Dentro da sua gruta não há para-bocas.

À beira da Europa, à janela de Portugal avisto a saudade do mar e nela procuro ver o meu sonho a pairar! A Europa envelheceu e a vista da vidraça encontra-se embaciada!…

António da Cunha Duarte Justo

Pegadas do tempo,