A LUTA INTERCULTURAL NUMA TERRA AINDA PATRIARCAL

Israelitas e Ismaelitas lutam por Canaã a terra prometida a Abraão

Por António Justo

A guerra faz-se em nome do bem; a luta é sempre feita em nome do “deus” de alguém!…

O conflito israelo-árabe é, em parte, a continuação das lutas e rivalidades entre as tribos das terras da palestina/arábia; agora tem-se a agravante de nos encontrarmos em período de globalização, o que permite transformar os conflitos regionais (tribais, nacionais) em conflitos culturais de caracter internacional ou mesmo mundial. Hoje como ontem trata-se de uma luta pela posse de identidade, de território e de poder hegemónico cultural-político-militar (ontem operava-se, para isso, em nome de uma imagem de Deus, hoje em nome de uma ideologia e de interesses económicos; ontem lutava-se em nome de Deus, hoje luta-se em nome da democracia/povo (valores ocidentais) e no mundo árabe em nome de Alah). O jogo de ontem, como o de hoje é o mesmo, só algumas regras mudam. Cada qual usa o seu trunfo na tentativa de ganhar o jogo, seja a pretexto de tribo, de povo, de nação ou de globalismo, as elites encontram sempre um caminho e um “deus” que o justifique). De observar também que enquanto na África se luta pela identificação no sentido de formar “nações”, na Europa  domina a tendência para voltarmos a um tribalismo que justifique um poder universal hegemónico:  enquanto na África se luta pela identificação cultural na Europa luta-se pela desformatação (desidentificação) cultural e contra os valores que enformaram a cultura europeia e ocidental.

A História testemunha a evolução de sistemas patriarcais (tribais), para sistemas de povo (povo judeu que conseguiu, à luz do Antigo Testamento, a sua identidade em torno do monoteísmo: deus da identificação de Israel (1) que se tornaria depois com Jesus Cristo no Deus pai de todo o ser humano e de todas as nações). O busílis da questão é que um Deus único não discriminaria pessoas nem nações, ao contrário do que a “evolução” quer demonstrar! O que se passa é uma guerra cultural,  uma guerra de raiz de identificações culturais transformada subtilmente numa guerra política intercultural semítica que se poderia tornar no preâmbulo de uma futura guerra mundial entre culturas (A África continua a ser uma zona politicamente vulcânea e a China ainda terá muito a dizer nesta história de competições!). A palestina simboliza a terra das tribos e patriarcas com raízes hegemónicas de Pan-Semitismo, Pan-arabismo, Pan-Asiático, Pan-turquismo (2).

A guerra e guerrilhas entre os povos das terras da “Palestina” é milenária como se pode ver da Bíblia (capítulos 16 e 17 do Génesis): as tribos provenientes do Isaac filho de Abraão e Sara (Isaac foi, por sua vez, pai de Jacob/Israel) e as tribos provenientes de Ismael filho de Abraão e da sua escrava Agar. Ismael será o patriarca das tribos árabes (3).  Neste ambiente conflituoso viveram os diversos povos semitas (4) e ele prolonga-se de maneira anónima entre capitalismo e socialismo, ou em nome de um ou do outro!

O conflito tribal afirma-se e parece desenvolver-se em favor dos interesses árabes que, graças a Maomé, sob a bandeira de Alá reuniu as diferentes tribos descendentes de Agar dando-lhes assim autoconsciência e possibilitando-lhes a identidade cultural árabe em torno da religião e da língua. Quanto a Jerusalém sempre foi cobiçada por diferentes potências e culturas: “Jerusalém” é símbolo e meta que une todos os povos nas suas lutas pela sua posse!

Nesta eterna guerrilha (já que com guerras se criam períodos históricos mais estáveis) tudo se move em torno de interesses de lutas cultuais a pretexto de territórios (datas, mapas e identidades) e de direitos humanos de um lado e culturais do outro.

Enquanto não houver um pacto de paz entre culturas, religiões e os representantes das mesmas, o povo (e seus alegados valores e interesses) continuará a servir de alibi para benefícios das instituições culturais e dos seus líderes.

Nesta luta localizada e concreta a responsabilidade é global, não só bilateral. A nível imediato a autodefesa de Israel e do seu povo é prevalente e não comparável com uma palestina em que o Hamas quer impor um estado policial.

A polarização num conflito tão opaco não pode ser reduzida aos polos de quem está certo-errado ou do bem e do mal como querem os que pretendem que o conflito continue; para isso querem uma realidade pincelada a preto e branco. As opiniões tornam-se monocolores, embora a questão tenha muitos matizes.

Enquanto na palestina se continua a lutar com métodos da guerra antiga na europa encontramo-nos envolvidos numa guerra moderna de conquista de cérebros e de mentalidades; serve para isso as armas da propaganda e da informação a ser feita com elementos altamente comoventes. O discurso altamente emocionante e polarizado corresponde, na nossa sociedade, aos estilhaços das bombas dos velhos campos de batalha. Um povo alarmado perde a cabeça sendo dominado pelo medo e quem ganha são os poucos generais de um globalismo anónimo!…

No campo de batalha israelo-palestinense estão em jogo duas coisas: os interesses de Israel (5) e os interesses do Islão; quanto ao povo esse encontra-se irmanado no “lameiro” dos valores. Deste modo a situação quer-se confusa e dificilmente se pode mediar e ter um efeito moderador, atendendo a tantos interesses conflituosos, no âmbito regional e internacional. Da traição dos acordos, fica a solidão da vida.

Se Israel não estivesse tão armado uma coisa seria certa: o mundo deixaria as coisas seguirem o seu ritmo. Independentemente da geografia e dos regimes, o que o povo espera é pão e paz!

Para muitos dos portugueses é doloroso o que tem acontecido na região, até porque todos nós portugueses temos uma costela judia e outra árabe. Já Jesus, que vivia naquela região, dizia para não se resistir aos maus, mas para os evitar.

O povo é o chão das guerras por onde passam e bem se passeiam os que fazem uso delas!

© António CD Justo

Pegadas do Tempo

  • (1)  Golda Meir, Primeira Ministra Israelense: -“Nunca aceitei a ideia de que o povo judeu é o povo eleito por Deus. Parece-me mais razoável acreditar que os judeus foram os primeiros na história a eleger Deus – e isso foi uma ideia realmente revolucionária”.
  • (2)  A Wikipédia diz: Pan-Semitismo é o nome dado a dois conceitos políticos diferentes, cada um dos quais pode ser atribuído a judeus e árabes, ambos chamados povos semíticos.          A visão de Mosheh Ya’akov Ben-Gavriêl, que defendia a unificação de todos os povos semitas como precursora de uma confederação fraternal de povos asiáticos (Pan-Asiático), foi adoptado pelos judeus que em 1948 tinham sugerido o estabelecimento de um Estado binacional da Palestina em vez de um Estado judeu de Israel, e que continuaram a defendê-lo durante as guerras subsequentes. Isto vem de uma ideologia ou visão pan-árabe da história, que (semelhante à teoria pan-turca) se apropria das civilizações avançadas semíticas do Antigo Oriente Próximo – Akkad, Assur, Babilónia, Fenícia, mas também os Arameanos – como pré-árabes ou árabes do Norte, especialmente porque (de acordo com a visão tradicional) todas as tribos semíticas tinham surgido do interior da Arábia em tempo passados.
  • (3)  Árabes e Judeus são povos da mesma família chamada semita (os chamados descendentes de Sem, filho de Noé, e da linha da descendência de Abraão. Interessante que os principais apoiantes das organizações terroristas islâmicas radicais não são árabes mas sim a Turquia e o Irão: os Mullas estão prontos a lutar até ao último judeu.
  • (4)  Repetem-se os tempos bíblico em que os filisteus (povo de Canaã, politeístas vizinhos dos israelitas) eram inimigos dos israelitas. Segundo a Bíblia os filisteus ter-se-iam originado de Casluim, o qual teria sido um dos filhos de Mizraim, patriarca dos egípcios, e neto de Cam. Ainda, segundo Gênesis 19.30-38, deu-se origem o povo Moabita através de um incesto, promovido pela filha mais velha de Ló, sobrinho de Abraão, logo após a destruição de Sodoma e Gomorra. … Elas embebedaram o pai e conceberam cada uma, um filho do próprio pai.https://www.google.de/search?q=filisteus+sao+descendentes+de+quem&source=hp&ei=J5qjYOitDtGKlwT3lI-ACw&iflsig=AINFCbYAAAAAYKOoNw-30Axq4iwF02_JU3W1wksfOJl0&oq=filisteus&gs_lcp=Cgdnd3Mtd2l6EAEYAzIECAAQEzIECAAQEzIECAAQEzIECAAQEzoICAAQsQMQgwE6AggAOggIABDHARCvAToLCAAQsQMQxwEQowI6BQgAELEDOggILhCxAxCDAToFCC4QsQM6CwguELEDEIMBEJMCOgUILhCTAjoHCAAQsQMQCjoMCAAQsQMQChBGEPkBOgQIABAKOgQIABAeUNoQWO4sYMp1aAJwAHgAgAFwiAHpBpIBAzUuNJgBAKABAaoBB2d3cy13aXqwAQA&sclient=gws-wiz
  • (5)  O Estado de Israel foi fundado por uma decisão da ONU e foi invadido no dia da sua fundação por exércitos de Estados islâmicos vizinhos. Também, em 1967 Israel foi atacado e como reacção recuperou vários territórios, dentre eles, Jerusalém Oriental (Guerra dos 6 dias). O objectivo das guerrilhas do Hamas e do seu braço político, rival da Fatah do Presidente Mahmoud Abbas na Cisjordânia, é o extermínio de Israel, negando-lhe o direito à autodefesa. Outros artigos: Um Beco sem saída: https://antonio-justo.eu/?p=5400; ANTISSEMITISMO – UM CARCINOMA: https://antonio-justo.eu/?p=4499 ; União antissemita alarmante entre extrema esquerda e extrema direita: http://antonio-justo.blogspot.com/2019/10/documentacao-sobre-o-odio-aos-judeus.html?m=1

O que a Terra não dá, promete a Ideologia: https://bomdia.eu/o-que-a-terra-nao-da-promete-a-ideologia/ Das conquistas geográficas para as conquistas ideológicas: https://www.gentedeopiniao.com.br/opiniao/das-conquistas-geograficas-para-as-conquistas-ideologicas

 

 

 

PERSEGUIÇÃO AOS CATÓLICOS NO PAÍS DA LIBERTÉ-ÉGALITÉ-FRATERNITÉ

Nos media não se falou disto: dois pesos e duas medidas

Um caso típico! A 29 de Maio, uma procissão organizada por paróquias parisienses e associações diocesanas para comemorar os mártires da Comuna de Paris (1) foi selvaticamente atacada por Antifas e outros militantes de extrema-esquerda.

“Dos terraços dos cafés, estes indivíduos ameaçaram os paroquianos com a morte. Depois, foram atiradas garrafas, caixotes do lixo e vedações de arame aos fiéis, alguns dos quais foram espancados. Se os fiéis não se tivessem refugiado na igreja de Nossa Senhora da Cruz enquanto esperavam pela chegada da polícia – dramaticamente ausente – poderia ter acabado muito mal… A procissão era composta por famílias, que vinham com carrinhos de bebé, idosos, jovens batedores e acólitos, como observou Le Figaro. “O objectivo era puramente religioso, não havia exigências políticas na nossa abordagem”, disse D. Jachiet, bispo auxiliar de Paris. É, portanto, o ódio à religião cristã e nada mais que está na origem deste ataque extremamente violento”. Ver vídeo documental em nota (2).

A comunicação social, como se tratava de perseguição aos Católicos, não se importa e cala. Certamente se fosse feito o mesmo a outras religiões, franceses seriam apelidados de racistas e os meios de comunicação social teriam falado disso durantes dias. Torna-se desastroso assistir a uma política muda e a uns media comprometidos que não parecem interessados em fazer algo  para resolver a situação mundial contra os cristãos, que são o grupo atual mais perseguido no mundo! Porquê esta diferença de tratamento? O que pretende fomentar o “pensar politicamente correcto”, com isso?

Muitos já se estão a dar conta da união entre a extrema-esquerda e o islão atendendo a ser uma religião política que integra meios semelhantes aos seus.

O cristianismo não deve, porém, cair nessa armadilha de misturar religião com política activa. Por outro lado é fatal assistir-se, de meros braços erguidos ao céu, à decadência ocidental . Não chega implorar a misericórdia e a piedade de Deus para todos… Mal seria se as religiões se unissem umas às outras não para a paz mas para se defenderem contra certo extremismo secular. Este parece só interessado em destruir, sem notar que se encontra a cerrar a haste da árvore em que se encontra!

Torna-se urgente uma reconciliação entre o poder religioso e o poder secular, entre direita e esquerda, dado uma sociedade precisar das duas pernas para andar e para avançar na história; temos dois hemisférios cerebrais, há que atender aos dois para podermos andar como pessoas e como sociedade.

Seria perverso pensar que destruindo as raízes cristãs da Europa, mais fácil seria estabelecer uma oligarquia económico-política num sistema de globalismo centralmente governado; parece bailar em muitas cabeças a imagem de um sistema chinês que soube unir socialismo e capitalismo nas mãos de 80 milhões de comunistas que orientam o resto da China.

Gente sem fé nem lei, movida de interesses ideológicos, apodera-se da praça pública e aproveitando-se dela para semear a discórdia e a delinquência.

Quando estará o Estado disposto a fazer alguma coisa para deixar de ser cúmplice?

António CD Justo

Notas em “Pegadas do tempo”,

 

CURSOS DE PORTUGUÊS

POSSIVEL CRIAÇÃO DE CURSOS DE AULAS DE PORTUGUÊS EM KASSEL, AROLSEN, BAD WILDUNGEN, SACHSENHAUSEN, HESSISCH LICHTENAU, etc. QUEM ESTÁ INTERESSADO?
Mínimo de participação por curso: 12 alunos
A responsável pelo ensino de português no Estado do Hesse, Dra. Maria Cristina Arad, contactou-me dizendo que haveria disponibilidade da Coordenação Geral do Ensino da Embaixada para a possibilidade de criação de cursos de aulas de português na região Norte Hessen (Professor seria enviado pelo Instituto Camões).
Sugeriu que se fizesse o levantamento dos possíveis alunos e possíveis localidades para um arranque dos cursos.
Para a abertura de um curso são necessários 12 alunos. Nestes doze podem estar incluídos vários níveis de aprendizagem. A divisão e o agrupamento serão decididos depois, conforme os casos concretos e competências de cada um.
O coordenador do ensino na Alemanha, Dr. Rui, também disse que os pais podem e devem fazer sugestões em relação à escola que preferem; no entanto, a decisão fica sempre dependente da colaboração com as autoridades alemãs que terão que ceder as salas.
Importante é que em cada terra haja alguém que recolha uma lista de possíveis alunos para se desenvolver uma estratégia.
Em Schsenhausen a Gaby Mourão já começou a fazer o levantamento e em Bad Wildungen prontificou-se o Elísio Silva. Seria bom que noutras terras surgissem pessoas prontas a fazer o levantamento para depois poderem combinar a melhor maneira de organizarem os contactos oficiais.
Não se esqueçam que a língua é a nossa pátria; outros dizem que “a pátria de cada um de nós é a infância”. É importante estarmos preparados e termos assas para, querendo, podermos voar ao sabor de qualquer vento!
Se necessitarem de outras informações para já digam!
Também há possibilidade de contactos directos com Wiesbaden ou com Berlim. Atendendo a que são diferentes cidades a fazerem o levantamento seria bom que depois fosse, entre elas, determinado um dos pais ou encarregado das zona a ficar com a incumbência dos contactos com Wiesbaden e com Berlim! Para já trata-se de saber se há interesse e suficientes participantes.
Agradeço que enviem esta notícia a possíveis pessoas de contacto nas diferentes zonas!
Em breve colocarei aqui o link onde podem ser lidas as informações em relação aos cursos (propina, com os devidos descontos para situações com mais do que um aluno por família ou casos específicos de situação financeira, certificação de aprendizagem, manuais escolares, etc.).
Um abraço amigo
António CD Justo
Pegadas do Tempo

ISRAEL PROÍBE O COMÉRCIO DE PELES

Há uma teoria de que o coronavírus vem da indústria das peles

Há uma teoria de que o coronavírus vem da indústria das peles
 
A tortura cruel dos animais, mundialmente ainda não ilegalizada, brada aos céus!
Israel é o primeiro país a proibir a venda de peles na indústria da moda. A indústria das peles causa a morte de 40 milhões de animais em todo o mundo para o comércio de peles. A crueldade e o sofrimento dos animais andam associadas à moda.
O virologista Christian Drosten considera plausível que Sars-CoV-2 tenha encontrado o seu caminho para os humanos através da indústria das peles. É certo que em 2002 e 2003 o cachorro-guaxinim, tanuki e outros animais peludos chineses foram hospedeiros transitórios do vírus.
As piores condições de alojamento e matança encontram-se na China, onde mesmo animais vadios, tais como, cães e gatos, são presos e mortos.
Segundo o Prof. Drosten, quando as peles são removidas, os animais quase nunca são anestesiados, de modo que a esfola tem lugar de maneira muito dolorosa e são libertados aerossóis, que têm um efeito infeccioso nos seres humanos.
Enquanto a dor da natureza não soar no nosso espírito como um marulho de mar que de longe pede auxílio, os humanos continuarão a ser desnaturados!

 

António CD Justo

Pegadas do Tempo

DIA DE PORTUGAL – Dia de Camões e das Comunidades Portuguesas

Reaprender a ser português

De celebração em celebração vamos empacotando os símbolos vivos da nação, na banalidade da rotina factual comemorativa, como se tratasse de sardinhas embrulhadas em folhas de jornal. Festa de desobriga com golfadas de incenso para o corpo de uma nação quase sempre moribunda.

A 10 de Junho de 1580 morre Luís de Camões, o Homem que cantou o alvorecer e expandir de Portugal. Camões conseguiu, na sua incomparável epopeia “Os Lusíadas”, imortalizar o espírito português. “Os Lusíadas” tornaram-se o livro da identidade portuguesa. Identidade esta, com o tempo desbotada pelo sol desgastante da ideologia e pelas ondas enleantes das revoluções. Camões é o símbolo de um Portugal caminhante que tem de descobrir mundo para se ir realizando através da história.

Os descendentes dos Homens-bons afirmam que, à morte de Camões, Portugal também morreu. Seguramente, uma afirmação certa no que respeita à classe política dos governantes de Portugal. Esta já não entende Camões nem entende a alma portuguesa, hoje residindo no borralho das cinzas do povo. Um governo “fraco torna fraca a forte gente…” escrevia aquele visionário que ao morrer terá dito Morro com a Pátria”! Este vaticínio

Não, Portugal não morreu. Só morrerá quando deixar de possuir aquilo que o criou, ergueu e tornou específico: a fé e a coragem. A grandeza de Portugal foi construída à sombra do cristianismo. O povo assumiu a missão cristã tornando-a sua. Pátria e fé eram uma coisa só, era então Portugal. O povo sabia conjugar o “heroico” com o “imortal”. Assim, os portugueses descobrem o mundo como missionários da pátria. Com o andar dos tempos perdeu-se o povo e com ele a pátria também. Agora, dela pouco mais resta do que massas à deriva e um Estado de abutres que voam sobre elas.

A obra à nossa frente não será menos arrojada e grandiosa do que a dos descobrimentos. Já não chega uma restauração, é necessária uma nova descoberta. Hoje, os Homens Bons” terão de se lançar à missão de, primeiro, descobrir o povo e a pátria, na redescoberta do cristianismo e da energia lusitana que nos deram rosto! Isto se não pretendermos continuar a ser um país a viver, geralmente, de mão estendida e na dependência das maresias de fora!

Para ressurgir terá de descobrir “mares nunca antes navegados”. Terá de ultrapassar a “Taprobana” do materialismo institucional estatal e religioso. Terá de, como os nossos “egrégios avós”, possuir a coragem de se lançar no fluxo da vida, arriscar e ousar “pecar corajosamente” para abandonar as certezas dos “Velhos do Restelo” que, agarrados às velhas ideologias materialistas, fizeram o 25 de Abril, embrulhando, com elas, um povo inteiro. Filhos da escrava, da russa Agar, da gálica Libertas, continuam a enxovalhar, inconscientes, a grei.

Portugal, desembrulhado, voltará a descobrir-se povo e então redescobrirá a missão que o levará à vitória sobre o nevoeiro estranho que embacia o cérebro das nossas elites e tolhe a vida moura do país.

Então, alijará as formas mecanicistas do seu pensar para poder proporcionar o salto quântico da nova física, a nova consciência. Uma nova mundivisão, surgida já não de revoluções de interesses oportunos e subjugadores, mas dum impulso genuíno de verdade, dum desejo de liberdade criadora e universal.

Não teremos a ajuda dum infante D. Henrique que concatenou então saber e engenho e energia universal. Seremos ajudados por um processo paulatino desformatizador das formas do medo, do ganho, da avidez e do poder. O sofrimento e o desespero duma natureza cada vez mais atrofiada despertar-nos-á para uma nova criatividade, um novo pensar. Então sonho e realidade serão as formas do mesmo pensar. Então seremos tão livres que não saberemos onde a liberdade começa nem acaba. Então navegaremos à tona do mar como se esta fosse o seu fundo! Descobriremos no céu do horizonte novos mundos com caminhos diferentes. Nesse mundo da nova consciência a dignidade já não é apenas humana, passa a ser natural!

No novo mar português, o Povo já não descobre; ele pode criar porque a nova cultura já não é poder nem ter, mas sim relação.

Até lá vamos rasgando a cobertura das ideologias do céu português. Das aberturas surgirão novas auroras e do céu baixarão as cores do arco-íris. Então todas as relações e ligações serão libertadoras e benditas porque, entre uns e outros, deixará de haver muros, para nos delimitar chegarão apenas as cores do arco-íris.

António da Cunha Duarte Justo

Pegadas do Tempo,

Publicado a 10.06.2009, in Moçambique para todos: https://macua.blogs.com/moambique_para_todos/