LIBERDADE A SER SUBORNADA NAS DEMOCRACIAS LIBERAIS

A Sociedade europeia aberta autossacrifica-se por negar os Padrões éticos que causaram a sua Evolução e Abertura

A democracia liberal deixa de oferecer garantias de humanidade e de sustentabilidade ao produzir uma crescente atitude político-social autoritária e uma postura de autodefesa autocrata que se serve de medidas legislativas e burocráticas limitadas a corrigir as desfigurações do sistema. Uma sociedade vital não pode limitar-se a ser aberta para o exterior e, ao mesmo tempo, destruir os padrões que a definem e lhe dão coerência a nível interior.  

No início da era digital reconhecíamos nas novas tecnologias de comunicação e informação uma grande potencialidade para democratizar a sociedade e víamos nela a possibilidade de dar também voz aos que não têm voz e, ao mesmo tempo, a possibilidade de moderar e contrabalançar a demasiada influência de elites politico-económicas, regimes políticos, hierarquias estatais e privadas na formação da opinião pública e no desenvolvimento da consciência dos povos. As instituições, porém, conseguiram ganhar a dianteira domando essas potencialidades, na consciência de que quem domina a informação tem o cidadão na mão e naturalmente o poder sobre a ordem estabelecida!

Em particular, não há proteção suficiente contra máquinas de filtragem e de censura arbitrária de plataformas de monopólio como Google, Facebook, etc. Além disso, os direitos civis digitais são relegados para segundo plano no que diz respeito aos interesses da indústria e do governo.

A liberdade de expressão e a liberdade de receber e transmitir informações e ideias sem interferência da autoridade pública e privada é cada vez mais condicionada a interesses de instituições. Mesmo a posição parlamentar sobre o #DigitalServicesAct (DAS) da EU não satisfaz os direitos fundamentais na rede e transmite parte da decisão sobre a liberdade de imprensa e de opinião à direcção do Facebook & Co. A liberdade de expressão como direito fundamental de importância elementar só poderia ser restringida pelo legislador e não deixada aos critérios de uma empresa.

A esperança de que, com a queda da União Soviética, a democracia liberal seria o sistema para o futuro, como anunciava o cientista político Francis Fukuyaman, não se confirma e cada vez deixa mais a desejar.

Entretanto observa-se um maior controlo do Estado com medidas de intervenção na rede a pretexto da defesa de moral pública. Naturalmente terá de haver regulação para se impedir a criminalidade, mas sem que o Estado se promiscue, doutro modo aumenta o processo de entropia da nossa civilização e  amplia a desconfiança num regime que, cada vez mais, põe em perigo a liberdade social e a democracia ao pretender construir um monstro com pés de barro.

Liberdade é o âmago do desenvolvimento humano e da democracia liberal, mas, numa sociedade aberta de valores meramente abstratos, a elite política reconhece-se incapaz de manter socialmente a sua liberalidade e por isso já procura comprometer empresas privadas globais na tarefa política de controlar a sociedade. Bruxelas tem trabalhado em textos tendentes não só a desconstruir a cultura europeia, mas também a permitir uma maior promiscuidade entre estado e privado no intento de diminuir a liberdade do cidadão para mais facilmente mecanizar e burocratizar a sociedade (a burocratização e a administração devem, ao mesmo tempo, substituir a espiritualidade da sociedade) a sociedade. Os nossos tecnocratas decretam já hoje medidas controladoras da personalidade humana que, pouco a pouco, legitimam instalar entre nós o modelo chinês que concebe o cidadão apenas em termos de funcionalidade dentro da máquina estatal! Nesse sentido a máquina de Bruxelas serve-se de agendas devotadas à desestabilização e desconstrução dos fundamentos da cultura europeia minando assim os princípios mais elementares da dita democracia (valores vitais como o da vida e da liberdade começam a ser subjugados aos princípios da funcionalidade, dado o sistema pretender ser a premissa ordenadora dos valores).

A política ao ver-se confrontada com grandes problemas sociais criados pela própria sociedade liberal, reconhece a própria incapacidade de regular uma sociedade humana orgânica, e, para se desviar do problema, aposta no centralismo total implementando para tal o controlo digital da população não tendo sequer escrúpulos em delegar competências de controlo de caracter público às grandes empresas privadas de comunicação social, como Facebook, Google, etc ….

Atualmente o baralho (de realidade, opinião e ilusão) é tal que a liberdade social parece oscilar, como o pêndulo de um velho relógio de sala, movido por forças sociais já indetermináveis porque a rosa dos ventos perdeu a orientação …

Embora todos nós tenhamos direito às nossas opiniões e a decidir do que é importante na nossa vida e do que é nosso, não estamos isentos do enquadramento limitativo do direito do Estado e da sociedade em que se vive. A lógica não tem a última palavra a dizer numa sociedade plural e multifacetada, (porque exige muitas diferenciações), tendo, por isso de ser supervisionada pela Razão de caracter mais abrangente do que a ordenação de factos ou ideias numa linha lógica linear de conclusões inequívocas. O facto de uma democracia liberal – como a sociedade europeia aberta – ter vantagens, por tentar dar resposta à questão da diversidade, a liberalidade não a iliba dos problemas sociais internos que ela mesmo cria e em muitos casos a deslegitimam (imigração desregrada consequência do poder político-económico imperialista transforma-se em cavalo troiano dentro da cultura europeia).

Observa-se na sociedade ocidental a tendência para se insistir na liberdade da heteronomia e por outro lado numa intervenção cada vez mais directa do Estado contra a autonomia e contra a liberdade do cidadão assumir responsabilidade pessoal. Muitos deixaram-se levar na onda contra o presidente dos EUA Trump, o que veio a possibilitar aos administradores das redes sociais expulsá-lo; aqui o que é grave é o facto de se constituir um precedente perigoso e o transfer de poderes do Estado para empresas particulares (este reconhece assim a sua incompetência própria de regulador isento da sociedade) pondo em perigo o cidadão e o sistema democrático.

Assim se cria o pretexto de se poder proibir informação enganosa sem a necessidade de definir o que é enganoso e que parâmetros são usados para chegar a tal. De facto, a pergunta a ser primeiramente resolvida seria: assunto enganoso porquê; enganoso de quem e para quem? Considera-se como factual a informação mais conforme no sentido do regime ou da população e como fack o que as questione ou que seja realmente notícia falsa com objectivos escuros? E quem deve decidir sobre o caminho pré-determinado a seguir? O problema reside na circunstância de muitos factos serem susceptíveis de diferentes interpretações e de serem ordenados para determinados fins que alguns poderão querer que o povo siga. Naturalmente também há notícias construídas, fotos manipuladas, etc. e tudo isso vem complicar a situação, mas há que estar atento a uma paulatina chinesação dos aparelhos do Estado.

Muitos acusam a liberdade de ser  o princípio de muitos problemas (ou de parte dos problemas) mas aí reside um equívoco porque só a liberdade pode dar resposta aos problemas que a sociedade vai apresentando: só a liberdade humana aliada à identidade comunitária chamada a realizar-se e a servir toda a humanidade no respeito mútuo de cada um pode dar resposta aos problemas do nosso tempo e não o erro globalizado do liberalismo arbitrário avassalador deixado às leis do mais fortes numa sociedade considerada mercado de grupos e instituições que tem criado problemas incalculáveis à construção de um futuro mais humano.  veja-se o poder que empresas digitais e empresas globais já têm de determinar disposições e preços sem que os atingidos tenham possibilidade de intervir porque o estado que os devia defender também é sócio na defesa de interesses e na sua especulação porque vê alguns dos problemas resolvidos e também recebe os seus dividendos através dos impostos (quanto maior o custo do produto mais o Estado ganha).

Embora condicionados à morte somos chamados à liberdade! Querer reduzir a liberdade à mera materialidade ou a um mecanicismo de caracter funcional e pragmatista corresponde a uma atitude desumana porque faria da pessoa uma peça; a liberdade e o espírito são o sol que tudo vivifica e estes pertencem à pessoa e não às instituições; estas só têm relevância pelo serviço que prestam e pela memória que possibilitam no andar da história.

Nos últimos anos, a liberdade de expressão tem sido cada vez mais ameaçada, não só por um Estado faminto de impostos e cada vez mais controlador e colecionador de dados, mas também por actores privados, como bancos e corporações tecnológicas ao serviço dos gigantes da economia; por este andar chegaremos a um tempo em que o cartão do banco inutilizará o cartão do cidadão. O controlo generalizado em via e a censura são males, venham eles donde vierem.

Não é de confiar num Estado zeloso que determine a medida do discurso político a ser admissível. As grandes plataformas tecnológicas Google, Face Book, etc., não têm legitimidade para controlar o cidadão e o Estado, ao conceder-lhe competência para tal, está a demonstrar a sua incompetência para governar a sociedade que criou e parece estar a tornar-se ingovernável com meios democráticos; as empresas têm a sua lealdade para com os seus accionistas porque foram criadas com a finalidade  de ganharem dinheiro para eles.

 

Uma limitação de liberdade pelo governo só seria justificável se ocasionalmente limitada no tempo, mas tem de estar sempre sob a pressão crítica de ter de se justificar perante o cidadão. O cidadão crítico desempenha uma função importante na defesa das massas de uma censura indiretamente institucionalizada para reduzir a liberdade de expressão e de opinião. Mas também é de compreender a atitude de muito cidadão que, resignado, cada vez se refugia mais na sua vida privada, como já é de observar em camadas da juventude. A gravidade da situação em que nos encontramos (medidas Corona e propaganda em relação à Rússia-Ucrânia, etc.) conduz a posições extremistas e motiva conservadores a defenderem medidas estatais drásticas e move também os progressistas a defenderem a limitação da liberdade individual e civil como preço a ser pago para se conseguir progresso ou uma reconstrução social no sentido socialista.

Na fase do regimento Corona, a liberdade foi simplesmente subordinada ao valor da saúde e agora que temos o regimento da guerra na Europa tudo passou a ser condicionado à segurança (o comportamento assumido por governantes e média e a maneira indiferenciada como é acatado pela generalidade do povo faz duvidar da capacidade social para defender a liberdade). Isto é também sinal da falta de critério e de maturidade da classe dirigente que se comporta de maneira cínica como dominadora da consciência social e olha só para o momento sem considerar o futuro. A política ao valorizar apenas valias individualizadas falha contra o critério que pressupõe o equilíbrio e a referência integral de todos os valores humanos e sociais a preservar.

Não é suficiente ir-se vivendo nem chegam as ondas sucessivas criadas na sociedade para dar sustentabilidade a um povo e menos ainda a consequente atitude relativista de uma democracia liberal limitada a fazer caminho sem missão nem metas; embora se tenha a impressão que a democracia  liberal seria o sistema político capaz de dar resposta à questão da diversidade nas sociedades europeias, a EU na sua ideologia de sociedade liberalista está a conduzir-nos a grandes problemas porque não chegam o valores abstratos liberais que os nossos tecnocratas nos querem impor como mundivisão  aberta (valores europeus); estes revelam-se incapazes, de darem resposta a uma vida orgânica existencial de cidadãos e de sociedade já despojados num globalismo impulsionador de (e servido por) sociedades anónimas e secretas que, para se afirmarem no Ocidente, se tornam demolidoras da família, da pátria e de um tecto espiritual comum.  O seu radicalismo contra o regionalismo e contra a província desqualificam as suas pretensas boas intenções de criarem uma humanidade sob um só tecto universal materialista e sem metafísica.

A liberdade pela liberdade torna-se insustentável porque levaria a um estado caótico da existência de indivíduos sem instituições nem órgãos ordenadores. A liberdade manifesta-se como factor dinâmico competidor entre o indivíduo e as suas organizações institucionais; esta tensão tem de ser mantida em equilíbrio muito embora pendular.

Creio que o liberalismo democrático, que na qualidade de ocidentais tanto afirmamos, poderá ter a sua lógica linear como método de resposta à diversidade de problemas e exigências criadas depois da segunda guerra mundial, mas, numa ordem globalizante, não resolve os próprios problemas sociais por ele criados e menos ainda outros problemas existenciais e de sentido que este liberalismo mercantilista aberto e sem fronteiras cria. Creio que o problema da razão, nas suas tentativas de alinhamentos lógicos se torna num pau de dois bicos ao apostar numa narrativa de perspectiva unilateral que subordina a vida do cidadão ao aspecto utilitário sociológico-político. Sem abandonarmos a polis teremos de reconhecer a natureza (família, aldeia e regionalismo), como lugar de vida autêntica e de orientação, doutro modo o globalismo servido por democracias liberais terá como consequência lógica a criação de governos autoritários servidos por oligarcas.

©  António da Cunha Duarte Justo

Teólogo e Pedagogo

Pegadas do Tempo

 

Social:
Pin Share

A REDUÇÃO ALEMÃ DO IMPOSTO SOBRE OS COMBUSTÍVEIS É SUBORNADA PELAS GRANDES EMPRESAS PETROLÍFERAS

Depois de muita discussão na sociedade, o Governo em Berlim viu aprovada pelo Bundestag a  sua proposta de redução fiscal de 35,2 cêntimos por litro de gasolina e 16,7 cêntimos por litro de gasóleo, por um período de três meses, a partir de um de junho.

Essa medida está a revelar-se como em parte falhada porque as bombas da gasolina viram baixados os preços apenas nos primeiros dois ou três dias seguidos à redução do imposto mas, logo de seguida, os combustíveis foram, praticamente,  elevados para os preços praticados anteriormente.

A redução do IVA, estimada em 3 mil milhões de euros, não vai aliviar a população nem a economia de mercado, porque o desconto não vai para o consumidor final mas sim adicionar os lucros das companhias petrolíferas…

A Itália para corrigir o abuso das empresas determinou um imposto extra sobre os lucros em excesso das gasolineiras desde Março. Esta medida pode trazer aos cofres do Estado 10 mil milhões de euros. Dizem entendidos que também essa medida se revela insuficiente porque quem tem depois de pagar os novos encarecimentos dos combustíveis, consequentes dessa medida, será o consumidor!

Já pouco depois do ataque de Putin à Ucrânia, a Shell, Aral e outras empresas de combustíveis aumentaram exageradamente os preços nas estações de serviço, embora o petróleo não fosse muito mais caro naquela altura! O seu abuso trouxe-lhes  milhares de milhões em lucros adicionais. As grandes empresas aproveitam-se da guerra e arrecadam lucros dela.

Os consumidores assistem a uma carestia de vida como não há memória e o governo vê-se impotente para dominar a ganância das multinacionais que optimam os seus lucros  com as dificuldades e o sofrimento dos povos. O povo anda distraído num tempo que, por isso, se torna proveitoso para grupos ou nações sem escrúpulo!

António da Cunha Duarte Justo

Pegadas do Tempo

Social:
Pin Share

VIAJAR POR TODA A ALEMANHA COM UM BILHETE MENSAL DE 9€ POR MÊS

A fim de aliviar os consumidores e os trabalhadores, há uma taxa fixa nacional de 9 euros para o passe mensal dos transportes públicos locais e regionais, válido em todo o país!  O bilhete custa nove euros por mês e  :Este benefício especial  tem uma duração limitada a três meses e vai de 1 de Junho até 31 de Agosto.  É válido para todos os autocarros, metros, comboios suburbanos e eléctricos regulares, bem como para comboios locais e regionais de 2ª classe.

Todos podem viajar por toda a Alemanha! O 9-Euro-Ticket é pessoal e válido apenas para a pessoa especificada que o compra.

De acordo com estimativas da Associação das Empresas Alemãs de Transportes (VDV), cerca de 30 milhões de pessoas por mês irão utilizar o 9-Euro-Ticket.

Com esta medida, o governo pretende mudar o comportamento das pessoas nos seus hábitos de mobilidade; este incentivo visa fazer com que as pessoas passem a usar menos o automóvel  e se habituem ao uso do comboio (transportes públicos ecológicos); seria um grande contributo em benefício do clima porque haveria menos emissões de CO2. Se esta iniciativa tiver os efeitos desejados, as autoridades regionais terão de expandir as infra-estruturas e fornecer veículos adicionais.

Quem mais beneficiará, para já, desta medida são os turistas!

António da Cunha Duarte Justo

Pegadas do Tempo

Social:
Pin Share

PARABÉNS PORTUGUESES PELO DIA DE CAMÕES E DAS COMUNIDADES

DIA DE PORTUGAL

A Festa repete-se e Portugal também

…. Em “Viagens na minha Terra”, Garrett faz uma descrição modelo da situação e dos problemas do Portugal de sempre. Nos protagonistas da narrativa, Carlos, símbolo dos progressistas e Joaninha, símbolo dos tradicionalistas, temos uma boa diagnose aplicável à actualidade sobre a situação dos partidos e da cultura portuguesa num Portugal que teima ser irreconciliável.

O romantismo liberal inicial de Garrett e Herculano, tal como, depois, o de Antero de Quental procuram aportuguesar o liberalismo (masculino) e o socialismo político importado (inicialmente bravio depois oportunamente acomodado) e dar-lhe uma perspectiva lusitana (feminina). Constatam o falhanço do projecto de liberalizar e democratizar Portugal. Portugal falha pelas mesmas razões que Carlos e Joaninha falharam…

O desenrolar da democracia do 25 de Abril parece seguir os mesmos passos encontrando-se já na fase da “desistência cívica” …

… O protagonista Carlos, de “Viagens na minha Terra”, símbolo de Portugal do progresso abandona a província (Santarém) e assim enjeita Joaninha (cultura tipicamente portuguesa) incompatibilizado, ao mesmo tempo, com Frei Dinis (antigo regime) e vai à procura de novos ideais para a cidade (liberalismo) envolvendo-se nas lutas liberais (conflitos entre socialistas e conservadores). Neste novo espaço transforma-se e conhece, entre outros bens, a cor da luz dos olhos da Georgina e da Soledade (os belos corpos duma modernidade que permanece alheia). Depois de desenganos e frustrações volta a Santarém (cultura tradicional nacional) mas aí sente-se já estranho; tinha-se mudado e a mudança tinha sido tão radical que já não comportava a integração da memória no seu ser. Entretanto foi-lhe revelado que era filho do padre Dinis (um sinal talvez de que deveria reconciliar a tradição com o progresso ideológico, o pólo masculino com o pólo feminino da nação). Pelo contrário, desiludido da ideologia e da terra, que já na pode amar porque a ideologia e os bens o tinham desnaturado, volta à cidade e faz-se barão. Declara-se perdido. Joaninha enlouquece e falece…

Esta tem sido a perspectiva dum Portugal insatisfeito fatalmente irreconciliável consigo mesmo. Em Carlos podemos ver a masculinidade portuguesa infiel e homossexual que vive dos bordéis estrangeiros e em Joaninha a feminidade portuguesa fiel mas fechada em si mesma quase lésbica. Este é o problema de Portugal. A sua masculinidade e feminidade não se integram num todo. A luta do saber cínico (Carlos) contra a crença ingénua (Joaninha) conduz, segundo a experiência histórica, a uma portugalidade amorfa e indiferente. Isto conduz àquela “apagada e vil tristeza” dum Portugal não vivido mas com a ilusão de viver que lhe vem da sua divisão num Portugal de alguns tantos eremitas e poetas refugiados, de alguns barões da ceita e dum resto lamuriento…

António da Cunha Duarte Justo

Texto completo em Pegadas do Tempo, https://antonio-justo.eu/?p=1335

 

https://www.gentedeopiniao.com.br/opiniao/dia-de-portugal-dia-de-camoes-e-das-comunidades-portuguesas-no-purgatorio-com-o-covid-19-dados-sobre-a-igreja-carolica

 

https://www.triplov.com/letras/Antonio-Justo/index.htm

 

 

Social:
Pin Share

VIVER COM OU CONTRA A RÚSSIA DEPENDENTES DOS USA OU CONVIVER COM TODOS?

Europa por fazer entre Imperialismo americano e russo

A Ucrânia e a Rússia fazem parte da cultura europeia e da Europa. Independentemente do que tem acontecido na Ucrânia, sobretudo desde 2013 e apesar do acto brutal russo de 24 de fevereiro de 2022, nada justifica as campanhas de ódio encenadas pelos Media contra a Rússia. Por um lado, os Media não falam dos antecedentes dos acontecimentos na Ucrânia e nem sequer mencionam as promessas feitas em 1990 à Rússia e nem sequer alinhavam a forma de sujeição da Europa à “potência protectora” América. E a Europa deixa-se instrumentalizar pela ordem política global da América, que se preocupa apenas com a expansão dos próprios interesses políticos e de poder. Quando irá a UE finalmente acordar e desenvolver uma política independente centrada na liberdade, na paz e na compreensão internacional? Que fazemos para superar o ódio e a desconfiança? Esquecemos que uma boa medida de desconfiança em relação às instituições estatais e suas ajudantes é a característica necessária que impulsiona a responsabilidade necessária para o bem comum e para uma sociedade criteriosa e equilibrada!

Quem assiste à demonização de Putin e à divinização de  Zelenskyj e seguiu o desenrolar da política interna ucraniana, encontra uma semelhança crassa de modelos de propaganda usados na Europa e na Ucrânia que fazem lembrar a Série “Servidor do Povo” que fez de Zelenskyj presidente da Ucrânia (1); este candidatou-se depois à presidência, à frente do partido com o mesmo nome: “Servidor do Povo”; nessa série que vi, Zelenskyj é apresentado como presidente inigualável e salvador da Ucrânia. O efeito viral e manipulador que os estrategas de Zelenskyj conseguiram com a elaboração da série televisiva “Servidor do Povo” para ser eleito presidente da Ucrânia, conseguem-no também agora teatralmente na cena política internacional.

 “A quem interessa dividir a Europa?” (2), é a pergunta que se põe desde a guerra militar russa na Ucrânia e desde a guerra política e económica do Ocidente contra a Rússia e que levam ao empobrecimento do povo em geral…. A responsabilidade pode considerar-se dividida devido à luta entre os dois imperialismos que sacrificam a Europa, mas o fulcro da resposta será de encontrar na luta do imperialismo dos USA institucionalizado militarmente depois da segunda grande guerra com a criação da OTAN e na declarada intenção dos USA não permitirem que a Europa se irmanasse com a Rússia. Em 1949 a criação da união militar (OTAN) era óbvia, atendendo à existência simultânea do imperialismo soviético (Pacto de Varsóvia) e à incapacidade da Europa para se defender, tendo, por isso mesmo, de recorrer ao patrocínio dos EUA. O imperialismo soviético (socialismo) e o imperialismo americano (capitalismo) tinham grande parte do mundo sob a sua alçada.

Uma vez desfeita a organização imperialista do Pacto de Varsóvia seria natural, numa perspectiva europeia e de paz, que se desfizesse também o pacto da OTAN. Isso não se deu devido à estratégia americana de se afirmar como imperialismo mundial ímpar, unipolar e, nesse sentido, impedir que a Europa ocidental se unisse à Europa oriental! Numa perspectiva europeia, a Europa está a errar na medida que em vez de se tornar parte da solução tornou-se parte do problema! A argumentação de que a Europa foi ingénua em relação à Rússia é muito relativizada com a correspondente ingenuidade da Europa perante os USA, também eles com interesses próprios, em rivalidade  com os interesses europeus que implicavam maior inter-relacionamento económico, cultural e político com a Rússia e tendo em conta que o Ocidente se comportava mais contra a Rússia, o que a ajudou a tornar-se ainda mais autoritária.

Por outro lado, o imperialismo socialista da União Soviética e o imperialismo capitalista dos USA continuaram activos principalmente em países de África e da América latina através do apoio directo ou indirecto das correspondentes forças rivais dentro desses países: assim dá-se continuidade à guerra fria com medidas de suborno e de desestabilização de grupos rivais dentro de países insuficientemente estáveis (como aconteceu também no caso da Ucrânia); se o imperialismo socialista se afirma nos países usando uma estratégia ideológica divisionista e anti cultura, o imperialismo ocidental afirmava-se numa luta de manipulação económica de subjugação  e com o pretexto da defesa dos valores da democracia liberal.

A campanha generalizada nos meios da comunicação ocidentais contra o Patriarca Cirilo (salvaguarde-se aqui o erro a ele inerentes) é hipócrita porque tende a destruir a identidade cultural russa exigindo-se uma separação entre valores de Estado e valores religiosos numa sociedade em que escasseiam os grandes centros urbanos e simplesmente pelo facto de no ocidente só quererem valer em política os valores sob a perspectiva secular.(https://antonio-justo.eu/?p=7509).

Aquela disputa que se prolongava e prossegue na América latina e em África concretizou-se de forma mais exacerbada na Ucrânia, dado esta ser um estado considerado fronteira de interesses ideológicos, militares e económicos entre o Ocidente e o Oriente. A sociedade ucraniana, atendendo à sua composição populacional e à sua posição geográfica, que poderia ser um estado-federal-ponte privilegiado entre os dois blocos rivais, tornou-se em lugar de confronto entre os dois imperialismos, sendo ao mesmo tempo vítima e cúmplice de imperialismos antagónicos.

Se o apaziguamento (uma política de concessões recíprocas) não tem sido desejado e as duas partes não se respeitarem mutuamente, torna-se impossível a realização de negociações e na consequência dar-se-á o prolongamento indefinido da crueldade. Após a queda do presidente eleito Yanukovych, as regiões do sul e leste da Ucrânia não quiseram alinhar-se com o derrube do governo (derrube apoiado pelos USA) e acentuaram a vontade de conquistar a sua independência com o apoio da Rússia (3).  O regime de Kiev enviou os militares, e como estes não disparavam contra os seus próprios cidadãos, Kiev enviou então unidades voluntárias (4). Durante 8 anos, a Ucrânia ocidental disparou, à sombra do mundo informativo, contra os seus próprios cidadãos no Leste onde 17.000 pessoas foram mortas. Durante 8 anos, o governo de Kiev não implementou o acordo de Minsk (com a tolerância da França e da Alemanha), por interesses óbvios também nos grandes latifúndios ucranianos. Antes, a guerra civil era apoiada pela Rússia e USA e agora os ucranianos orientais estão a disparar contra a Ucrânia ocidental com o apoio directo dos russos.

Exemplo da escalação:  A Rússia intervém militarmente na Ucrânia e a OTAN apoia militarmente a Ucrânia. A EU/OTAN inicia a guerra económica contra a Rússia embora as exportações russas de carvão, petróleo e gás sejam os lubrificantes da economia europeia e deste modo o Ocidente assiste a um encarecimento de vida de que já não há memória; o Ocidente bloqueia as transações bancárias com a banca russa e a Rússia impõe o pagamento das suas matérias primas em rublos, o que originará novos fluxos de dinheiros; a Alemanha interditou a emissora russa em Berlim e a Rússia reagiu interditando a Voz da Alemanha na Rússia; o Ocidente declara políticos russos como pessoas non gratas e a Rússia reage do mesmo modo em reação aos países considerados inimigos!

Na guerra económica a Rússia usa agora os alimentos e os fertilizantes como armas de fundo. A Ucrânia e a Rússia, em conjunto, abasteciam um terço mundial com cereais (trigo, milho, cevada e soja). Agora a Rússia está a responder bloqueando a rota de exportação de cereais e fertilizantes para o norte de África e para o Próximo Oriente, bloqueando os portos no mar negro; nestes países não se farão esperar grandes fomes. Bloqueios económicos, usados como armas de guerra, são abusos ilícitos porque próprios das grandes potências e atingem os fracos e a população e não impedem as guerras.

A natureza é inteligente e por isso mostra-nos que a verdadeira evolução se realiza no viver com. A Rússia faz parte da casa comum Europa como já afirmava Gorbatchov e no princípio também era aspiração de Putin. Querer construir a casa comum sem a Rússia revela-se em miopia política e fanatismo do momento de parte a parte. Um desejo de unidade europeia é hoje também contrariado pela União Europeia que prefere a posição cómoda de se encostar à OTAN; a União Europeia prefere assim ser reduzida ao estilo e interesses anglo-saxónicos.

A derrota   político-económica da União soviética, em termos de guerra fria não justifica a atitude dos EUA, da EU nem da Nato contra a Rússia e contra a inicial boa vontade de Putin. É de constatar que, perante a afirmação do imperialismo ocidental às portas da Rússia, o nacionalismo exacerbado de Putin tenha fomentado nele a velha nostalgia imperial. O comportamento do Ocidente revela querer uma guerra total. Em nome da defesa dos valores ocidentais a Nato assume a estratégia das guerras da religião, próprias da guerra dos 30 anos (1618-1648) entre católicos e protestantes, servindo-se também ela agora, em termos de ideologias, contra a posição do Patriarca Cirilo I (5). Procura-se mover na política e na opinião pública tudo o que possa favorecer uma guerra total .

Os dois blocos em conflito perderam a razão e os políticos desqualificaram-se na qualidade de servidores do bem do povo. Legitimar a guerra ou medidas bélicas com a razão de defesa de valores europeus ou de próprios interesses a defender num país terceiro é tão válido como o argumento da Rússia de lutar contra o nazismo na Ucrânia.

A Europa, se acordar do grande sonambulismo em que entrou depois da segunda guerra mundial, terá de arredar caminho na descoberta dela própria e como tal viver com a Rússia sem viver contra os USA. Um dia, o desenvolvimento histórico levará, um dia, as potências de cunho cristão a unirem-se para melhor subsistirem no concerto de um mundo multipolar (6)!

Num conflito em que nos encontramos todos implicados (Rússia, EUA, EU, Ucrânia e OTAN) não é suficiente limitar-se a andar à caça de um culpado e, ao mesmo tempo, pretender-se ignorar os erros de todos no passado e o facto de nos encontrarmos enredados neles. Também sinal de esperteza, mas não de inteligência, é reduzir todas as falhas de um lado a um só acontecimento (24 de fevereiro) para que ele seja retratado como o único culpado e assim esconder os próprios malefícios…. Encontramo-nos numa situação em que todas as partes se comportam mal pelo que seria irracional que uma das partes determinasse, só ela e por ela sobre a rectidão e verdade da sua posição. Precisam-se conversações embora as partes nao estejam interessadas nelas porque o seu objectivo é só vencer o adversário e ostentar razão para isso.

António da Cunha Duarte Justo

Teólogo e Pedagogo

Pegadas do Tempo

  • (1) Título original: Sluha narodu, ucraniano Слуга народу, russo Слуга народа Sluga naroda) é uma série de comédia política produzida na Ucrânia pelo estúdio Qwartal 95 de Volodymyr Selenskyj sobre uma história fictícia da eleição do Presidente da Ucrânia. Vi a longa série e constatei que os promotores de Zelenskyj conseguiram manipular o povo divinizando Zemenskyj de tal modo que o povo tinha de o eleger; os mesmos métodos de encenação usam os Media ocidentais para demonizar o macabro Putin! O resultado é o mesmo. Por aqui se pode concluir como é fácil trabalhar o povo de maneira a ele pensar como elites querem que pense! Por aqui se vê como é fácil o controlo do povo seja ele de que sistema for!
  • (2) Perguntas: https://antonio-justo.eu/?p=7543; https://antonio-justo.eu/?p=7472
  • (3) “As regiões leste e sul, as mais povoadas do país, possuíam muitos habitantes russos que se opuseram às manifestações a favor da União Europeia. Dentre essas regiões, a Crimeia foi a que vivenciou os maiores níveis de tensão política. O parlamento da Crimeia foi tomado por um comando pró-Rússia, o qual aprovou a autonomia da península e posterior anexação à Rússia. No dia 16 de março de 2014, apesar de forte oposição da Organização das Nações Unidas (ONU), foi votado um referendo popular na Crimeia que decidiu sua separação da Ucrânia e anexação à Rússia, opção que venceu com mais de 95% dos votos. A população ucraniana é muito heterogénea embora de cultura comum!
  • (4) Batalhão Azov: https://antonio-justo.eu/?p=7488
  • (5) Nacionalizações da Ortodoxia: https://antonio-justo.eu/?p=7509
  • (6) Para aqueles que pensam que o meu artigo pode ser considerado pró-russo chamo a atenção que o escrevo sob uma perspectiva europeia que a nossa imprensa não contempla e para mitigar a atmosfera de guerra de informação sobretudo anti russa, uma imprensa que carece da apresentação de outras perspectivas que enriqueceriam a controvérsia.
Social:
Pin Share