A Virtude está no Equilíbrio e prioriza o Altruísmo e a Reciprocidade
O ex-presidente alemão Joachim Gauck pôs o dedo na ferida da sociedade europeia. A sua preocupação com a necessária resiliência (capacidade de resistência) da democracia para superar um clima de incerteza e insegurança em que vivemos, é motivo grave de inquietação porque parte de uma realidade social cada vez mais dividida e antagónica.
Gauck, no Süddeutsche Zeitung, alertou para um “abismo crescente entre as turbas (forças) progressistas que correm o risco de se desviarem para o absoluto e os grupos que se sentem oprimidos pela mudança”. Sob o impacto de múltiplas crises, grupos populacionais “tradicionais e voltados para a segurança” estão cada vez mais tímidos perante a diversidade cada vez maior da sociedade e exigem “lideranças mais robustas”. “Por outro lado, partes de uma elite universitária progressista estão desenvolvendo modelos de progresso centrados em grupos nos quais a universalidade dos direitos humanos é relativizada ou negada e o período do esclarecimento (iluminismo) é apresentado como um elemento do domínio ocidental”. Procure-se, portanto, um caminho “entre a frustração e os receios de alguns e as intenções quase missionárias dos progressistas”.
É crime tudo o que divide a humanidade; mesmo assim, a divisão torna-se cada vez mais presente e agressiva e com razões fundadas para isso.
A sociedade civil, cada vez força mais as pessoas a viverem em uniformidade por meio de agendas. A uniformidade e a conformidade dão, a pessoas simples e mentes ajustadas, uma sensação de segurança, mas os demais sentem-se oprimidos e querem cada vez mais a sua liberdade em critérios que os formadores de opinião determinam. No entanto, o desejo de conformidade continuará a encorajar as partes porque a atração da conformidade já está nos animais do rebanho. Socialmente, o que mais preocupa é verem-se tantos rebanhos em combate de morte uns contra os outros. Domina a intolerância e o jacobinismo entre mundivisões e entre grupos agendados.
Por outro lado, as democracias estão a tornar-se extremadamente piramidais sem terem em conta a aceitação da horizontalidade; têm elites que pensam continuar a poder manter o domínio mediante estratégias de polarização das massas com a ajuda de contracorrentes a actuar na sociedade.
O peso moral do culto pelo novo, o globalismo liberal, o desprezo pela tradição e o desrespeito sistémico pelos idosos é de observar sobretudo na atitude arrogante com que novos figurinos actuam na arena pública criando um clima tenso e insuportável. A política fiscaliza a sociedade sem a acompanhar. Está mais virada para partidocracia, nepotismo, novo-riquismo que são verdadeiros atentados contra a democracia e contra a paz social.
Urge uma mudança de mentalidade, uma reforma básica que preserve a estrutura democrática, actualmente atacada por todos os lados. Urge fazer do mundo um lugar melhor para as pessoas viverem; a luta exacerbada entre progressistas e conservadores só atrasa o desenvolvimento e dá-se à custa do bem-estar de todos. Uma política que polariza o povo é indigna dela porque cria inimizades e destrói a confiança O cidadão precisa de uma política e de uma atitude social que, por um lado, dê às pessoas mais proteção contra abusos e opressão e, por outro, mais responsabilidade pessoal.
António CD Justo
Pegadas do Tempo
Boa análise, António Justo …Essa reflexão sobre a DEMOCRACIA já é feita há anos e …tem-se concluído que, apesar dos seus defeitos, ainda não se descobriu melhor sistema político para governar os Povos! Agora …é imperioso que se reforcem a EDUCAÇÃO dos cidadãos e os valores da tolerância e da solidariedade e que OS POLÍTICOS contribuam, com a sua ação e a sua competência, para ganhar a confiança do Povo e não o contrário !!!
Quim Balecas , muito agradecido pelo comentário. A democracia é certamente o melhor sistema político para governar os povos. Importante é que os políticos das democracias se tornem responsáveis e não se tornem na continuação da atitude política que as elites de outros sistemas derrubados tinham. O globalismo liberal em via tira a autoridade de governos tornando-os executores de agendas globais ou regionais e impede uma relação mais directa com as populações e com as regiões como seria natural em democracia.