Plataformas YouTube, Twitter e Facebook obrigadas a substituir o Poder judicativo?
António Justo
Na mitologia antiga (o eterno hoje), no Olimpo, o Deus Júpiter castigou Prometeu por este ter dado o fogo dos deuses à humanidade.
Como outrora, a posse do fogo constituiu um passo decisivo para o desenvolvimento e independência da humanidade, o acto de Prometeu ter roubado o fogo do Olimpo abria perspectivas para os humanos se tornarem independentes dos deuses e a sua posse constituía uma ameaça ao poderio dos deuses; consequentemente Prometeu foi severamente punido por eles.
Também hoje o acesso do povo ao pensamento livre e a sua liberdade de expressão parecem constituir ameaça ao domínio da classe política que, embora de fraco pensamento, quer controlar a opinião e para isso castigar o novo Prometeu (Facebook, YouTube, etc.), vulgarizador de ideias e opiniões.
Hoje os “deuses” do nosso Olimpo político querem proibir-nos de pensar e de expressar o pensamento, com pseudoargumentos que escondem segundas intenções.
Até a ilusão do fraco povo de desejar pensar por cabeça própria é percebida como ameaça por parte de uma elite débil tão encarneirada nas filas do mainstream, como o povo que dirige.
Os detentores do domínio político, em vez de se dedicarem a uma melhor democratização da economia e da informação, não suportam a democratização do pensamento, arranjando para isso motivos falsos para censurarem as opiniões expostas. Naturalmente que há gente mal-educada que abusa desses meios virtuais tal como a classe dirigente abusa dos Media; também a manifestação emocional popular, muitas vezes, é injusta, mas para isso há leis para castigar os infractores e a elite não precisa de reagir como a Princesa deitada sobre a Ervilha!
As Plataformas YouTube e Facebook estão a ceder à pressão da política no sentido de censurarem previamente mensagens a postar. A “clerezia” e “fiéis” do politicamente correcto querem aos utilizadores menos felizardos lhes seja permitida uma expressão de indignação educada em seu favor, como se não houvesse leis para castigar os infractores. Pode considerar-se sintomática a reacção imediata da plataforma YouTube à influência que o YouTuber Rezo teve no desfecho das eleições na Alemanha em desfavor da CDU.
O Ódio e a má-educação nos meios digitais sociais
A procura de influência é cada vez mais agressiva numa sociedade de concorrência de interesses cada vez mais repartidos. Trata-se de Poder! Assiste-se à radicalização da linguagem política, à falta de nível, por nos encontrarmos cada vez mais distantes das convenções culturais e a responsabilidade social parecer estar a tornar-se numa palavra estranha.
Também é verdade que uma só pessoa, o jovem youtuber Rezo (1), à última hora, conseguiu influenciar as eleições na Alemanha em desfavor de Ângela Merkel. Isto não legitima, porém, o medo exagerado perante os influenciadores que usam da polarização e da emocionalização, para conseguirem o aplauso de pessoas não preparadas.
A intenção agora declarada pela plataforma YouTube (5.06.2019) é impedir “extremismo violento” e “proibir e eliminar vídeos que discriminem alguém pela sua idade, raça, cor de pele, religião ou orientação sexual” (2). A religião política de cariz tecnocrata e democrático pretende uma liberdade vigiada por um clericato laico que excomungue do seu reino (Democracia) quem não professar o credo do politicamente correto; para isso estabelece que sejam jogados para fora dos muros da cidade os denominados “islamófobos”, “xenófobos”, “extremistas”, “populistas” enfim, quem não siga o estatuto dos deuses e não professe uma verdade encarneirada.
Numa perspetiva do cidadão, será de pôr a pergunta: Quem discrimina quem? – a criança que berra para ter a sensação de ser ouvida ou o “irmão maior” que tudo quer sob o seu controlo? O propósito dos temas a censurar é de tal modo abrangente que esconde a soberania e arbitrariedade de interpretação em favor da censura e torna-se num criado de políticos que cinicamente querem ser confundidos como defensores da liberdade. Estamos a chegar a um ponto em que a indignação popular chega a ser considerada crime por não corresponder aos interesses de poder de quem dirige. Porque não se recorre ao poder legislativo? A missão de governar é cada vez mais difícil, mas não se pode deixar o comando superior à técnica e suas plataformas.
À espionagem global através de Google e de outros segue-se a censura globalizada. Naturalmente que tudo o que incita ao ódio, ao assédio, à discriminação e à violência deve ser chamado à responsabilidade e até multado. Para isso há leis e tribunais; doutro modo passamos o foro jurídico da democracia para empresários ao serviço de interesses anónimos. Twitter e Facebook, que foram grandes beneméritos na democratização da informação, estão a tornar-se, devido a pressões políticas e a abusos organizados, em censuradores da liberdade de expressão e a discriminar uns usuários em nome dos interesses de outros!
Os representantes da democracia querem-se legitimar através do povo, mas não parecem querer ser confrontados com a indignação popular desordenada. Cada vez se observa mais que a classe política instalada num Olimpo de deidades intocáveis quer determinar como crime o pensamento não correcto, para tudo o que se encontra abaixo da sua nuvem. É naturalmente necessário prevenir, mas sempre no sentido da defesa da pessoa e da dignidade humana.
Também é de compreender a impaciência dos nossos políticos, em democracias cada vez mais complexas e com ideias à deriva e, como tal, mais difíceis de governar; a democracia sente-se ameaçada e o sistema democrático ocidental encontra-se em rivalidade directa com o sistema ditatorial chinês que se gaba de conseguir mais desenvolvimento, em pouco tempo, do que o que as democracias estão a conseguir agora! Daí não é de admirar que os detentores da democracia se encontrem cada vez mais em apuros e façam dela uma religião!
© António da Cunha Duarte Justo,
In “Pegadas do Tempo”
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(1) YouTuber Rezo bestimmte mit seinem Video „Zerstörung der CDU“ das Finale des Europa-Wahlkampfes in Deutschland. https://www.merkur.de/politik/rezo-gegen-cdu-amthor-verraet-bei-lanz-ersten-satz-seiner-ominoesen-video-antwort-zr-12310822.html
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(2) Observador: https://observador.pt/2019/06/05/youtube-promete-eliminar-todos-os-videos-e-canais-que-incitem-a-discriminacao-e-promovam-desinformacao/?fbclid=IwAR3-j8lUroCt-AvGx4iV381pYM2ZEVEAXZS7WUbif4cceq6jMuCVonvXl-o
Talvez as partam em pequenas empresas para terem o poder de manipular a opinião pública, moldando tudo em redor da forma de pensar deles.
Walter D. Gameiro