Ataque a Igreja na Síria deixa 22 Mortos e mostra a Crise de Cristãos no Mundo islâmico

Um ataque suicida na Igreja do Profeta Elias (Mar Elias), em Duwaila, Damasco, deixou pelo menos 22 mortos e 63 feridos em 22 de junho de 2025. O atacante, identificado como membro do Estado Islâmico (EI), invadiu o local durante o culto litúrgico, disparando contra fiéis antes de rebentar explosivos amarrados ao seu corpo.O atacante, identificado como membro do Estado Islâmico (EI), invadiu o local durante o culto litúrgico, disparando contra fiéis antes de rebentar explosivos amarrados ao seu corpo.

Lawrence Maamari, presente no momento do atentado, contou que “um homem entrou armado e começou a atirar indiscriminadamente. Quando tentaram impedi-lo, explodiu a bomba”. O EI, que já controlou vastas regiões da Síria e do Iraque entre 2014 e 2019, continua ativo em áreas desérticas do país, mesmo depois da sua derrota militar.

O ataque ocorre em meio a tensões geopolíticas na região. Recentemente, o governo sírio — reconhecido pelos EUA após reunião com a Arábia Saudita permitiu que Israel utilizasse o seu espaço aéreo e terrestre para ataques ao Irão, inimigo comum devido ao apoio iraniano ao Hezbollah e ao Hamas. Por seu lado, a comunidade internacional mantém-se silenciosa sobre a perseguição a cristãos em países como Síria, Moçambique, Nigéria e Sudão.

A doutrina islâmica, frequentemente associada à paz por líderes ocidentais, é marcada por contradições e objectivos políticos inalienáveis. Grupos como o EI invocam citações do Corão para justificar violência contra “infiéis”, ou seja, todos os que não são muçulmanos. Trechos como “Morte ao descrente” (contextualizados em suras do Corão) são utilizados para promover a sharia e a supressão de outras religiões.

A União Europeia, cujas raízes cristãs são historicamente fundamentais, merece críticas por negligenciar a proteção de minorias religiosas em países islâmicos. Enquanto a política globalista prioriza acordos económicos, comunidades cristãs no Oriente Médio e África sofrem com a omissão de governos ocidentais que deste modo fomentam o islamismo.

A EU aproveita-se da situação seguindo uma política pós fática e hipócrita orientando-se apelas pelos ventos fortes que sopram sobretudo dos EUA..

De fato, o governo de Bashar al-Assad, apesar de suas controvérsias, mantinha uma política de proteção às minorias religiosas, incluindo os cristãos, que viviam em relativa segurança antes da guerra. A Síria era um dos poucos países do Oriente Médio onde cristãos, muçulmanos e outras comunidades coexistiam sob um Estado secular.

A partir de 2011, potências ocidentais (como os EUA e aliados regionais, incluindo Israel, Arábia Saudita e Turquia) financiaram e armaram grupos rebeldes, muitos deles extremistas, com o objetivo declarado de derrubar Assad. Os bombardeios constantes, as sanções económicas e o apoio a facções jihadistas (como a Frente al-Nusra, ligada à Al-Qaeda) contribuíram para a destruição do país.

Hoje, as áreas controladas por grupos como o Hayat Tahrir al-Sham (HTS) e outros militantes islâmicos tornaram-se zonas de perseguição aberta contra cristãos e outras minorias. Enquanto isso, o governo sírio, mesmo com suas falhas, continua sendo a única força que garante alguma proteção a essas comunidades.

A hipocrisia do Ocidente fica evidente quando vemos que, enquanto acusavam Assad de “opressor”, foram justamente as intervenções estrangeiras que criaram o caos no qual os cristãos sírios hoje são massacrados. A Síria é mais um exemplo de como as guerras por procuração, promovidas por EUA e aliados, resultam em destruição e extremismo, nunca em democracia ou liberdade.

A interesseira falta de acção contrasta com a coesão do mundo muçulmano, onde religião e política são indissociáveis. Se a Europa não reafirmar seus valores identitários, incluindo a liberdade religiosa e a valorização do cristianismo, arrisca-se a ser culturalmente subjugada por um islamismo que, na sua versão original, não tolera dissidências.

António da Cunha Duarte Justo

 

Pegadas do Tempo

O MISTÉRIO QUE NOS TECE: A TRINDADE É O CANTO DO UNIVERSO

A Fórmula do Céu na Terra: Expressa na Dança Quântica e no Abraço Trinitário

Num mundo que insiste em nos dividir — entre ciência e fé, entre eu e tu, entre guerra e paz —, a Santíssima Trindade surge como um sopro de unidade. Não é apenas um dogma, mas um convite ao assombro: um só Deus em três Pessoas, uma dança eterna de amor num mundo feito de sombra e luz.

Celebrar a Trindade é celebrar o poder da relação. O Pai, o Filho e o Espírito Santo não são peças de um quebra-cabeça teológico, mas o coração pulsante da realidade. O Pai, fonte de tudo; o Filho, o Amor que se fez carne no Tu do irmão; o Espírito, o fogo que arde sem consumir, sopro que transforma e une.

Esta não é uma matemática divina para ser decifrada, mas um mistério para ser vivido e vivenciado. Assim como três notas formam um único acorde, a Trindade revela-nos que a essência de tudo é comunhão.

Desde o Pentecostes, o Espírito Santo não é uma ideia, mas uma presença tangível que nos move — um impulso para o bem, um vento que empurra a história para frente. Ele é o Paráclito, o Consolador que sussurra: “Nada está perdido”. Quando o mundo nos diz para competir, Ele lembra-nos que fomos feitos para partilhar.

E o Filho, Jesus Cristo, é Deus connosco (o Emanuel), não em conceitos, mas no rosto do próximo, mesmo no do Jesus abandonado. Ele é a prova de que o divino habita o humano, de que o sagrado se esconde no ordinário. Cada encontro é uma Eucaristia.

Deus-Trindade não cabe em definições. Ele é mais que doutrina, mais que sermão. É o amor que tece o cosmos, a força que mantém as estrelas no céu e os átomos em harmonia. Se a física quântica nos fala de partículas entrelaçadas, a Trindade revela-nos que tudo está ligado pelo mesmo amor. (Charles Darwin legou-nos um ensinamento mutilado: a “sobrevivência do mais forte” tornando-se no hino de uma era violenta. Faltou-lhe o outro lado da moeda: a cooperação, a simbiose, o tecer invisível que une todas as coisas. A arqueologia e a história confirmam que fomos feitos tanto para a luta como para o abraço.

Neste Domingo da Trindade, não celebramos uma teoria, mas um chamamento. Se Deus é relação, então nós — feitos à Sua imagem — só somos plenos quando nos abrimos ao outro. Quando rompemos as barreiras do egoísmo e percebemos: o “eu” só existe no “nós” como cada pessoa divina existe na divindade comum.

Enquanto a humanidade se perde em conflitos, a Trindade segreda-nos: “A paz é possível”. Enquanto a ciência e a religião parecem rivais, Ela lembra-nos que toda a verdade é uma só. Enquanto nos isolamos em medos, o Pai, o Filho e o Espírito estendem-nos as mãos e dizem:

“Vem. Faz parte desta dança. Ama, une e cria.”

Na realidade, a Trindade não é um enigma a ser resolvido, mas um abraço a ser vivido (1).

António da Cunha Duarte Justo

Teólogo e Pedagogo

Pegadas do Tempo

(1) A vivencia espiritual fomenta uma atitude de vida honrosa e enobrecedora.

Ver: https://antonio-justo.eu/?p=9284

A CHAMADA PARA O ENTENDIMENTO COMPLEXO (PENSAMENTO MÍSTICO): https://antonio-justo.eu/?p=8580

O PODER DIGITAL E A PERDA DO AQUI NO AGORA

Reduzidos ao Presente – a mero Entremeio – sem Passado nem Futuro

O mundo digital, na sua vertiginosa dança de luzes e algoritmos, quer-nos reduzidos a funções, engrenagens silenciosas de um mecanismo que celebra o agora sem raízes, sem o aqui. Vivemos na superfície do tempo, como sombras que crepitam na tela, efémeras, sem deixar marcas na terra firme da existência. O ego, inflamado de estímulos, esquece-se do “eu mesmo” e do nós, e assim caminhamos, isolados em multidões digitais, consumindo presentes contínuos sem jamais habitar um lugar.

Ou será que nos deixamos reduzir a ruídos pensantes, partículas minúsculas no universo das mentes, sujeitas à mesma força de atração que mantém os astros em equilíbrio. Mas há uma escada a ser escalada: o pensamento analítico e crítico. Ele é o único meio de elevar-se acima do turbilhão, de vislumbrar, ainda que por um instante, o jogo das coisas sob a luz do sol — não como meros espectadores, mas como participantes conscientes. Num mundo onde a história nos assombra e as massas nos arrastam, é preciso transcender a rotina das instruções de utilização, essa prisão invisível que nos ensina a funcionar como expressões do tempo, mas não a ser.

Crescemos numa cultura de guerra, de utilitarismo rasteiro, onde o sonho é visto como luxo e a fantasia, como fuga. Mas é justamente no reino da fantasia, na filosofia que bebe do cristianismo e do mito, que encontramos o poder criativo — a coragem de aspirar a algo maior que o prático, algo que nos liberte da tirania do imediato. As coisas da vida aguardam o nosso toque pessoal, como notas dispersas que só se tornam música quando ordenadas pela mão do compositor que devemos ser. Criar é responder ao que a vida nos apresenta, é emprestar-lhe a nossa essência, tal como o gesto divino insuflou vida no barro. Sem isso, sem nós mesmos (conscientes), as coisas morrem, e nós com elas.

Urge estarmos alerta (alerta física, espiritual, mental e emocional): as novas tecnologias não são neutras. Elas moldam a nossa percepção, o nosso modo de ver, de sentir, de amar. E se não vigiarmos, tornamo-nos cartões de crédito cerebrais, consumidores de impulsos, servos de poderes anónimos que nada sabem de nós, excepto nossos dados. Desmaterializamo-nos, trocamos a carne pelo algoritmo, o aqui pelo agora vazio. Abandonamos o processo de in-formação — de nos tornarmos forma, de assumirmos uma identidade — para ficarmos presos no em (no processo in), num limbo onde nunca chegamos a ser. Queremos tudo à disposição, e assim nos reduzimos ao que está disponível. Ambicionamos a omnipresença, e, no processo, perdemos o eu que habita o aqui e agora. Contentamo-nos com o agora num mero estar sem ser reduzido a momento.

E assim, construímos um universo de meteoritos errantes — sendo fragmentos sem estrelas, sem órbitas, sem calor. Konrad Paul Liessmann alerta: “se no século XX combatíamos a reificação (a transformação do humano em coisa), no século XXI teremos de combater a desreificação, essa abstração que nos dissolve em pura informação, esvaziando-nos de matéria e alma”. O mercado das opiniões não tem ruas, só becos. E a felicidade, exige esforço. É no atrito que a criança — o novo, o possível — nasce.

Mas preferimos a “ditadura do relativismo”, como bem nomeou Bento XVI, onde tudo vale precisamente porque nada importa. E assim, sem raízes, sem chão, sem aqui, flutuamos no vazio digital (e até social), reduzindo-nos a funções sem rosto, agora sem memória, ego sem eu nem nós.

Por que continuar a deixar-nos reduzir ao fugaz intervalo do agora e, deste modo, sermos condenados ao presente líquido, onde passado e futuro se evaporam, como se fossemos o relâmpago cósmico do acaso: só visível porque a vida, frágil e obstinada, ergueu lentes contra o vazio.

António da Cunha Duarte Justo

Teólogo

Pegadas do Tempo

 

EXTREMISMO E POLARIZAÇÃO SOCIAL NA ALEMANHA

Em 2024, as autoridades alemãs registaram um total de 57.701 crimes com motivação extremista, refletindo um cenário preocupante de radicalização no país. O Gabinete de Protecção da Constituição (BfV) identificou dados alarmantes sobre o extremismo em 2024:

Extremismo de direita: 50.250 indivíduos, dos quais 15.300 são considerados propensos à violência.

Extremismo islâmico: 28.280 pessoas, com 9.540 em risco de adopção de métodos violentos.

Extremismo de esquerda: 38.000 activistas, com 11.200 de tendências violentas.

Tudo isto tem a ver com a polarização social e cultura do confronto.

O relatório não se limita aos números, alertando também para uma degeneração do clima social. A sociedade alemã está cada vez mais dividida, com discursos políticos e mediáticos que privilegiam o conflito em vez do diálogo.

 Assiste-se a um reducionismo perigoso: Debates públicos são dominados por uma visão maniqueísta (“bem vs. mal”), ignorando nuances e aprofundando divisões.

 Guerra e propaganda: Temas complexos, como conflitos internacionais, são simplificados em “a favor ou contra”, eliminando espaço para análise crítica e objectiva.

A falta de coerência política, a hipocrisia, o dogmatismo e o cinismo são factores que alimentam a desconfiança e o radicalismo.

O relatório da Protecção Constitucional Alemã serve como um alerta urgente: a radicalização e a polarização estão a corroer a coesão social. Para combater o extremismo, é essencial promover diálogo, transparência política e rejeição de narrativas simplistas que alimentam o ódio e fomentam o desequilíbrio.

 Segundo um provérbio alemão, “o peixe começa a feder pela cabeça”.

António da Cunha Duarte Justo

Pegadas do Tempo

Dia de Portugal – Um Canto Renascido

10 de Junho de 1580 – Luís de Camões parte, levando consigo o último suspiro de um Portugal dourado.

De celebração em celebração, embrulhamos a alma da pátria em folhas de jornal, como sardinhas de feira popular. Queimamos incenso sobre o corpo ainda quente da nação, enquanto ela, entre golfadas de fumo e discursos vazios, agoniza em festa.

Camões, o trovador do destino lusitano, cantou-nos quando éramos aurora. Nas páginas d’Os Lusíadas, o sangue dos heróis ainda corre, mas secou nas veias dos que nos têm governado. O sol da ideologia queimou as cores da nossa bandeira, e as revoluções, como vagas traiçoeiras, arrastaram para o abismo o que nos restava de identidade.

Dizem que, ao morrer o poeta, morreu Portugal. Talvez. Mas a terra não sepultou a semente. A classe política, sim, é cadáver – um fantasma que vagueia pelos corredores do poder, surdo ao ritmo do povo, cego à chama que ainda bruxuleia nas cinzas. “Fraco torna fraca a forte gente…” E nós, filhos de uma escrava e de revoluções alheias, deixámos que nos vendassem com os trapos da Libertas, da Agar, de todas as quimeras que nos roubaram o rosto.

Mas Portugal não morre apesar de muitas loucuras ideológicas e nos últimos tempos dos interesses do deus Mamon de Bruxelas que suborna os humanos para obter suas almas. Não morre enquanto respirar fé e coragem, enquanto lembrar que foi à sombra da cruz e da espada que conquistámos o mundo. Pátria e fé eram uma só carne, um só destino. Hoje, porém, perdemos o povo no labirinto das ideologias, e sem ele, a pátria é apenas um nome esvaziado, um barco à deriva sob o voo circular dos abutres.

Agora, a missão é outra: não basta restaurar – é preciso redescobrir. Os Homens-Bons de hoje não partirão em caravelas, mas em busca da própria alma. Terão de navegar “mares nunca dantes navegados”, não de água salgada, mas de consciência. A Taprobana a vencer já não é a distância, mas o materialismo que nos engoliu, o Estado que nos devora, a religião que se esqueceu de rezar.

Teremos de ousar, como os “egrégios avós”, mas sem infantes que nos guiem. A bússola será a dor, o desespero de uma terra que já não nos reconhece. E quando acordarmos, talvez descubramos que a verdadeira liberdade não tem fronteiras – é como o mar, que não sabe onde começa nem onde termina.

Então, Portugal não será apenas um lugar no mapa, mas um verbo: criar. Já não conquistaremos terras, mas relações; já não levantaremos impérios, mas consciências. E quando o céu se rasgar por fim, não serão canhões que ecoarão, mas as cores do arco-íris, derramando-se sobre nós como uma nova aliança.

Até lá, seguimos. Entre a névoa e o sonho, entre os Velhos do Restelo e os loucos que ainda acreditam. Porque um povo que já foi mar não pode viver eternamente de joelhos.

Viva um Portugal que se redescubra à luz do bem e da verdade e se empenhe na construção de uma cultura da paz e abandone a cultura da guerra!

António da Cunha Duarte Justo

Pegadas do tempo

Notas explicativas:

Os Lusíadas: epopeia nacional portuguesa, escrita por Luís de Camões no século XVI. Glorifica os descobrimentos e as viagens heróicas portuguesas, sobretudo a viagem de Vasco da Gama à Índia.

Os fracos enfraquecem a forte gente…”: De “Os Lusíadas”, expressão para a decadência moral que mina a antiga grandeza.

Libertas, Agar: Figuras simbólicas. “Libertas” representa um falso ideal de liberdade; Agar, a serva bíblica, é aqui uma metáfora da alienação cultural e da heteronomia.

Mamon de Bruxelas (símbolo da ganância ou dos valores materialistas): Crítica à influência económica da União Europeia na soberania nacional, particularmente através de subsídios, burocracia e lobby. A UE é aqui apresentada tanto como parceira como objecto de escrutínio crítico – particularmente devido à sua política de interesses económicos e à progressiva alienação de identidades culturais.

Homens Bons (Conselheiros do rei): Termo histórico para cidadãos respeitados que participavam nos conselhos portugueses na Idade Média – hoje um símbolo de actores íntegros e responsáveis ​​​​– com integridade moral – na sociedade. (Representavam os interesses populares das regiões no Conselho Real.)

Taprobana: Nome antigo para o Sri Lanka, em Camões um símbolo do desconhecido – aqui como alegoria aos desafios interiores e espirituais da modernidade (metafórica “fronteira final”).

Velhos do Restelo: Figura dos Lusíadas, um velho que profere palavras de advertência na partida da frota portuguesa. Símbolo de pessimismo e hostilidade ao progresso.