INTEGRAÇÃO DOS IMIGRANTES NA EUROPA: UM PROBLEMA MUÇULMANO

Sarrazin provoca uma Tempestade na Opinião Pública alemã

António Justo

A turbulência em torno da pessoa de Thilo Sarrazin e do seu livro“Deutschland schafft sich ab” (A Alemanha abole-se a si mesma) não parece querer amainar. Sarrazin, ex-ministro das Finanças do Estado Federado Berlim, trata, no seu livro o tema da integração dos muçulmanos nas sociedades para onde emigram, de maneira demasiado clara e indiplomática. Um assunto mantido tabu pela classe política, pela opinião publicada e pelos intelectuais, vem mostrar a divisão entre os alemães.


A Tese de Sarrazin

Os problemas da integração “surgem exclusivamente nos migrantes muçulmanos… e isto deve-se ao fundo cultural islâmico”.

É  de opinião que a sociedade alemã se estupidifica mais nas próximas gerações, pelo facto de a população alemã se estar a alhear à cultura enquanto os muçulmanos migrantes geram mais filhos, diminuindo assim o potencial intelectual da sociedade anteriormente liderado pela classe média.

Segundo o autor, “os turcos na Alemanha geram o dobro das crianças do que corresponderia à sua percentagem na população”. “Os Turcos invadem a Alemanha tal como os ‘kosovares’ invadiram o Kosovo: através duma taxa de natalidade superior”.

Vê na fecundidade muçulmana “uma ameaça ao equilíbrio cultural da Europa e um risco para o modelo cultural europeu”. Segundo o relatório 2010 da Conferência dos Ministros da Educação dos estados federados da Alemanha, nas grandes metrópoles Frankfurt, Munique, Colónia e Estugarda, mais de metade de todas as crianças até aos três anos tem base migrante.

Sarrazin lamenta a baixa quota de turcos dispostos a aprender bem a língua alemã prejudicando assim a própria carreira escolar que se reflecte no facto de 54% dos turcos entre os 25 e os 36 anos não terem concluído a formação profissional. Os resultados das escolas alemãs nos estudos comparativos de PISA baixam devido ao insucesso escolar dos turcos na Alemanha. Sarrazin receia assim a diminuição do quociente médio de inteligência da sociedade alemã baseada na vontade procriadora da classe mais baixa. Parece desconhecer porém os factores ambientais. Os turcos certamente não serão mais estúpidos que os outros imigrantes. Estudos provam um nível intelectual inferior das crianças turcas mas não que sejam mais estúpidas.

Com montes de estatísticas apresenta a tese de que os turcos, com muita emigração em busca da assistência social alemã, “certamente não contribuíram para o nosso bem-estar”. Atesta que “em todos os países da Europa, os migrantes muçulmanos custam mais do que a mais valia económica que trazem”.


O autor best-seller atesta e testemunha, com números, o que o povo pensa.

Contrapõe o direito do Estado “a decidir, ele mesmo, quem quer receber no seu país ou na sua sociedade”, ao abandono deste direito aos partidos.

O tema da integração muçulmana (sua resistência à integração) passou a dominar a floresta das folhas dos jornais. Uma Alemanha, que integrou milhões de polacos nos finais do século XIX e 12 milhões de desterrados depois da segunda guerra mundial, sente-se impotente perante 4 milhões de muçulmanos no país. Atrapalha a Alemanha o facto destes parecerem, na sua grande maioria, contentar-se com a prática da religião e o reagrupamento familiar, levando uma vida em contraposição e à margem do país acolhedor. O facto dos problemas da França com os seus 5,5 milhões de muçulmanos é visto pelos alemães como um problema consequente da colonização francesa. Silencia-se que a economia moderna explora, de maneira agressiva, os autóctones da classe média e baixa e os migrantes.

O barómetro da excitação atingiu alta intensidade e não parece haver lugar para uma aberta. Uma opinião pública pautada pela norma da boa educação correcta e pelo tabu social, em que “sobre estrangeiros ou se fala bem ou não se fala”, acorda estremunhada e revela não ter soluções contra o medo sub-reptício da balcanização da sociedade.


Reacção da classe política ao livro de Sarrazin

As elites reagiram com nervosismo e irreflexão: exigiram a sua expulsão da direcção do Banco Alemão e a sua expulsão do partido SPD. A liberdade de opinião é um bem a cultivar enquanto não se pertence à classe privilegiada!… A direcção do partido quer expulsá-lo mas a base compreende-o e mais de 2.000 cartas foram recebidas na central do partido. 90% eram a favor de Sarrazin.

Os políticos temem o escândalo duma realidade que se quer silenciada. Não admitem que um dos seus questione o pensar correcto que é o dogma hodierno das classes dirigentes. Daí a necessidade destas em desacreditá-lo e em declará-lo como apóstata. Conseguiram afastá-lo da direcção do Banco Alemão mediante a sua indemnização duma pensão vitalícia farta, evitando assim perder um processo em tribunal.

O Povo apoia-o e as chefias dos partidos atacam-no. Com a sua crítica, ele atinge o sistema partidário que em vez de o discutir o ataca a nível pessoal. Na sua repulsa primária, a política distanciou-se ainda mais do povo já em dissidência da política (por este andar, o partido dos não votantes atingirá os 40%). Na Europa, cada vez mais se assiste a reacções histéricas entre políticos e povo. Numa sociedade em que as elites se afastam cada vez mais do povo, estas não querem acolher Sarrazin nas suas fileiras, nem um povo que exige vontade de integração aos muçulmanos.

A má consciência política relativamente ao problema da imigração faz-se sentir numa campanha concertada contra Sarrazin, uma crítica virada apenas contra o seu estilo e ignorando a realidade do conteúdo. Mais uma vez se misturam alhos com bugalhos. Com Sarrazin a classe média aproveita para manifestar o seu descontentamento perante uma política que a tem ignorado e manifesta-se o descontentamento perante uma opinião pública dominada pela esquerda liberal que açama a voz da burguesia e da raia-miúde que construiu e levantou a Alemanha pós-guerra!


Na espiral dum silêncio político envenenado surgem brechas que se tornarão explosivas nas campanhas eleitorais. Segundo prognósticos estatísticos, se Sarrazin fundasse um partido receberia 20% de apoiantes.

As opiniões polémicas que Sarrazin expressa sobre a atitude dos partidos, fruto da negligência destes no que toca à imigração turca, que sob o manto da reunião familiar passou de 750 mil turcos para três milhões habitantes de ascendência turca, deixarão rasto profundo na sociedade. Quatro milhões de muçulmanos, em grande parte, vivendo em guetos e em torno das suas mesquitas, com os piores resultados escolares em termos comparativos com outros migrantes e com manifesta falta de vontade de integração, metem medo a muito alemão que se sente atraiçoado pela política e vive com a impressão que a classe política não protege o próprio país nem a própria cultura e se coloca ao serviço de egoísmos e oportunismos individualistas ou de classe.

O medo e o oportunismo têm muito poder numa sociedade habituada a varrer para baixo do tapete o lixo que produz e os problemas não resolvidos desde os anos 60. Assim o CDU/CSU e Liberais fecharam sempre os olhos aos problemas, no que tocava aos estrangeiros, vendo-os apenas como mão-de-obra barata que vinha solucionar os problemas duma economia em expansão. Os Verdes cresceram sob a bandeira dos estrangeiros e da ecologia, colhendo agora os frutos que se expressam nos resultados das eleições; o SPD preocupou-se em integrá-los no partido, atendendo ao potencial que significam em termos de votos para o futuro.

Sarrazin, embora político, não gosta do jogo preferido dos políticos: o Pingue-pongue; gosta mais de futebol! Quer ver a bola na baliza ao exigir medidas reais para a integração dos muçulmanos no país. As suas exigências correspondem, em parte, à legislação vigente na USA, Canadá e Austrália.

No fim de contas, fica a impressão de que os alemães preferem continuar a falar alemão macarrónico com os estrangeiros, não tolerando que Sarrazin, o povo, fale alemão claro. Este descreve um estado de facto mas num tom exaltado e metendo, por vezes o pé na poça. E os seus críticos abusam do moralismo ‘multiculti’ para encobrir os próprios erros e para disciplinar ideias da direita e/ou assegurar resultados eleitorais. O problema em aberto é que os políticos passam e os problemas ficam.

Depois da campanha contra Sarrazin os partidos parecem voltar à normalidade começando agora a pronunciar-se por uma discussão aberta e falando da necessidade de integração.


Europa em efervescência

Thilo Sarrazin provoca na Alemanha uma discussão que já se vai fazendo sentir noutros países europeus. A Holanda que nos anos 80 era modelo nas medidas de acolhimento e apoio aos imigrantes manifesta agora, com reacções xenófobas, que o seu latim chegou ao fim.

Por toda a Europa se sente um fervilhar inquieto no povo. Este vê a pobreza a imigrar para a Europa e sente-se mais depauperado pelos próprios Estados onde as leis e os impostos asfixiam cada vez mais o cidadão laborioso. Uma insatisfação cada vez mais explícita contra o agir da classe política estabelecida terá como consequência a formação de novas forças políticas. A crise económica e financeira leva os perdedores da sociedade a revoltarem-se contra as elites que cada vez mostram mais desprezo pelos de baixo.

As camadas média e baixa da sociedade sentem-se inseguras num momento em que a oligarquia da União Europeia, as famílias partidárias e a sua burocracia se tornam mais fortes.

Os problemas económicos cada vez mais reais, a esterilidade das mulheres europeias e a resistência muçulmana à integração e correspondente vontade procriadora, levam muita gente a sentir o Islão como uma ameaça à própria cultura.

Muitos constatam que os explorados de ontem reagem agora – via imigração e procriação – explorando as leis existentes, a liberdade religiosa e a providência social, vivendo em gueto em torno das suas mesquitas e afirmando-se contra a sociedade acolhedora. Emigram para fugirem à desumanidade social dos países de origem mas temem os valores da nova sociedade.

Entretanto o estrato social inferior autóctone descobre-se como parte da classe social multi-étnica precária entregue a uma concorrência selvagem. Por outro lado uma classe secular vê na atitude muçulmana contra a emancipação, contra o indivíduo e contra o iluminismo uma ameaça às conquistas republicanas. Vê-se confrontada com uma religião eminentemente política, sem política que a confronte. A força ideal reage e aproveita os fracos do poder económico.

A raiva do povo nunca foi boa conselheira mas a incúria política não pode continuar a ser a resposta a problemas a resolver agora, em termos bilaterais.

Os “populistas” terão sucesso porque os nossos políticos revelam menos inteligência do que o Povo em geral.


“Deutschland schafft sich ab” é um livro incómodo para alemães e muçulmanos. O livro reflecte a opinião do povo, a opinião dos que mais sentem os ventos fortes e frios do turbo-capitalismo. Em relação aos outros estrangeiros e seus descendentes concorre para uma discussão mais adequada, uma vez que a imprensa alemã estava habituada a tratar os problemas especificamente turcos sob o manto de “problemas dos emigrantes e seus descendentes”.

Ressentimento por um lado e arrogância pelo outro não resolvem o problema. A integração do mundo turco e árabe na Europa é demasiado complexa para se poder solucionar com simples posições de pró e contra.

Nem a xenofobia nem a arrogância das elites resolverão os problemas de pessoas oprimidas económica e/ou culturalmente. Em tempos de crise todos tendem a sobre-reagir! Na casa em que não há pão todos ralham mas ninguém tem razão!


Na nossa sociedade em ebulição é de preferir um inimigo verídico a um amigo falso.

António da Cunha Duarte Justo

Alemanha, 5 de Outubro de 2010

Instituto de Camões com Excesso de Carga?

DISTRITO DE KASSEL NA ALEMANHA SEM AULAS DE PORTUGUÊS

Instituto de Camões com Excesso de Carga?

António Justo

O ano lectivo começou a 9 de Agosto no Estado de Hessen. Os alunos dos Cursos de Português de Kassel, Bad Karlshafen, Bad Arolsen e Hessisch Lichtenau ainda se encontram sem aulas de português.


A ineficiência duma burocracia, longe dos destinatários e com os relógios da diáspora excessivmente acertados pelo centralismo crónico de Lisboa, deve-se também ao desconcerto inicial entre o Instituto Camões (IC), a Coordenação-Geral do Ensino em Berlim e as Associações de Pais e de Encarregados de Educação.


O IC ocupa-se a desoras com o perfil do professor para o Ensino de Português no Estrangeiro (EPE). A data dos testes de admissão para docentes pretendentes ao EPE e a consequente candidatura do docente para o lugar vago tornam impossível o começo regular e ordenado das aulas.


A legislação não é clara e torna o processo moroso. Desde a selecção do pessoal pelo IC para um país, através de testes psico-técnicos, prova de conhecimento da língua, até ao concurso sem horários e à candidatura do docente para as vagas existentes no país concreto desperdiça-se muito tempo. É um processo tardio em que o IC selecciona pessoal e não sabe se as pessoas seleccionadas concorrem às vagas existentes para o ensino. Além do mais pretende ignorar que as férias escolares de verão na Alemanha são apenas 6 semanas e começam cedo.


Na Alemanha, as aulas começam, geralmente, na primeira semana de Agosto (o começo do ano lectivo varia de Estado federado para Estado federado e de ano para ano; os estados federados do sul da Alemanha, Bayern e Baden-Württenberg começam as aulas mais tarde, geralmente no princípio de Setembro).


As coisas não se fazem para serem levadas a bom termo; conta-se, já de início, com muitos hiatos nas redes a nível de horário e de pessoal, e a música repete-se de ano para ano. Conta-se com a atitude dum povo com espírito de vaca!


No caso concreto acontece que, com o acto da colocação do professor para o cargo de professores do EPE, o/a docente fica abandonado a si mesmo. O novo professor, se não houver alguma alma caridosa privada que o apoie, terá de, em curtíssimo espaço de tempo, procurar sozinho domicílio e tudo o que tem a ver com as necessidades vitais primárias e com a responsabilidade profissional.


O Instituto Camões abriu concurso com 18 tempos lectivos para Kassel, embora, na realidade, o professor tenha de se deslocar a Bad Arolsen (a 42 km de Kassel), Bad Karlshafen (a 50 km) e a Hessisch Lichtenau (a 34 km). Apenas cinco dos tempos lectivos serão leccionados em Kassel.


Fora do tempo e sem apoio institucional, o docente tem de contactar as associações de pais sem que estas tenham sido informadas. Este ano, pelos vistos, até terá que se auto-apresentar às escolas alemãs onde será cordialmente recebido, mas deixando a impressão de entrar pela porta do cavalo.


Um mínimo que se esperaria da Embaixada / Instituto Camões seria que informasse as associações de pais e escrevesse uma carta à direcção das escolas alemãs, que hospedam os cursos de português, anunciando a colocação do novo docente e mencionando o nome de quem o irá apresentar. No caso do Coordenador/a não poder ir às escolas alemãs apresentar o docente, deveria delegar uma pessoa competente que o faça.


Desde 1998 a burocracia, tem vindo a despachar um trabalho de que não parece convencida.


Será que o Instituto Camões se encontra com excesso de bagagem ou apenas falta de experiência no sector que assume?


O Instituto Camões passou a assumir o Ensino de Português no Estrangeiro com uma rede de 1.691 professores e 155.000 alunos da educação pré-escolar e do Ensino básico e secundário.


A Coordenação em Berlim tem uma nova Coordenadora desde um de Setembro. Apesar de tudo, o pessoal da Coordenação e das sub-coordenações deveria estar à altura de poder manter o serviço regular sem atropelamentos.


Urge democratizar a Administração.


António da Cunha Duarte Justo

Conselheiro consultivo do Vice-Consulado de Frankfurt

O SOL DA BOLA BRILHA SOBRE A PÁTRIA


Campo de Futebol – O Altar da Nação

António Justo

O futebol expressa o sentimento das nações; todos içam a bandeira e em cada cidadão rejubila a nação inteira. Nesta altura até a esquerda é patriota. Em nome da Selecção, enquanto a corrida para o título dura, acabam-se as discórdias entre os clubes e as sobrancerias de classes e posições. No reino do futebol, a nação une-se por um momento e até a política consegue passar ainda mais desapercebida. A nação deita-se a pensar em futebol e levanta-se a sonhar futebol.


No canto chão da rua encontra-se o chão da nação. Com o campeonato a mente popular estimula-se dando lugar à perdida memória colectiva da nação. Não fosse Portugal futebol e o Brasil Carnaval e futebol, por onde andaria a consciência de povo e a fama da nação!


Porquê tanto interesse, tanto entusiasmo, tanta admiração, em torno do futebol?


O Homem não é de pau e precisa de festa, precisa de ritos e liturgias, precisa de pontos altos que o eleve da banalidade do quotidiano. A liturgia profana da política é muito circunscrita e reservada só para alguns.


No futebol, o campo torna-se no altar da nação! Aí, a vítima é imolada à imagem dos ritos religiosos dominicais. Cada adepto levanta a sua prece ao seu ídolo, de forma ordenada e recolhida nas bancadas.


No Olimpo das nações, os seus deuses continuam a comportar-se à maneira dos deuses gregos. A nação vitoriosa (Paraguai…) até chega a dedicar um dia sabático para que o fervor do acto seja depois prolongado em acto de memória e como acção de graças aos deuses do poder. A divindade da nação sacrificada (Nigéria…) e ofendida troveja, do alto do seu Olimpo, castigos e actos de reparação para os seus sacerdotes…


Com o futebol, na orgia dos sentimentos, ganham todos: os contentes e os descontentes. Ele integra sentimentos e normaliza as tensões; permite também picar sem fazer doer.


Os jornalistas, satisfeitos, especulam em torno de jogadores e adeptos. Quando a equipa da nação perde chegam até a ir ao arsenal da História procurar motivos para aliviar o desconsolo da derrota.


Uma sociedade ainda não desquitada procura pessoas com quem possa sofrer em conjunto e com quem estar orgulhosa.


No canto da rua apenas uma desafinação: árbitros com atitudes desconformes, mancham o azul do céu. Esperanças desiludidas, as vítimas da canelada e da “febre-amarela” que por vezes chega mesmo ao rubro e das equipas castigadas com apitos arbitrários ou com golos oportunistas dos habituais espertos que jogam bem mas fora de jogo. Afinal também esta liturgia festiva mostra as suas limitações apontando para as carências do dia a dia banal. Enfim, vive-se de gozos precários mas sempre à procura da felicidade.


Também os políticos, com a sua táctica, procuram a proximidade do futebol e dos futebolistas num passe de jogo de alegria selecta baralhada na alegria popular espontânea. A política serve-se, louvando, instigando, comentando. Chama-lhe um figo em campanha da promoção. Neste momento todo o mundo é solidário, oprimidos e opressores cantam a mesma canção. O banho ocasional dos políticos nos sentimentos positivos do povo só traz vantagens além da certeza de serem citados nas notícias e mostrados no telejornal.

O espectáculo torna o governo mais amado e o jugo esquecido. Desvia do dia a dia.


As elites das rasteiras têm mão no jogo e o jogo na mão! Em campo não há crise, todo o mundo joga e ganha. A guerra doce serve a globalização; contribui para a identidade da nação, alivia do saber que faz doer e serve a bolsa da promoção.


Para os críticos resta a demarcação de S. Mateus que dizia: “nem só de pão vive o Homem…”


De resto, a nação cumpriu a sua função: de trabalho e de distracção se faz a ração.


António da Cunha Duarte Justo

antniocunhajusto@googlemail.com

A PRAGA DA DÍVIDA PÚBLICA AMEAÇA OS ESTADOS


Uma Comparação entre a Alemanha e Portugal

António Justo

Situação na Alemanha


A dívida do estado Alemão é de 1.716.987 milhões de euros. Devido aos juros, a dívida aumenta 4.481 € por segundo. A cada um dos cidadãos alemães corresponde uma dívida de 21.003 €. E isto num estado com uma economia forte!…


O Estado não tem reserva. A poupança do Estado não chega sequer para amortizar os juros.

Na Alemanha, até hoje só o chanceler Konrad Adenauer (1949-57) conseguiu uma reserva de poupança de 4.000 milhões €.


O endividamento da Alemanha ainda merece um certo desconto. O preço da União da Alemanha com as transferências anuais de milhares de milhões de euros da Alemanha ocidental para a Alemanha socialista (antiga DDR) é horrendo. Além disso, segundo as estatísticas, um terço do que os alemães produzem, num ano, são gastos com o estado social (assistência à saúde, desemprego, etc.).


Na Alemanha o governo seguia a regra de que as novas dívidas a fazer de ano para ano não podiam ultrapassar os investimentos que o Estado faz. Tem orientado o endividamento ao crescimento do PIB. Entretanto o Tribunal Constitucional alemão exigiu um travão para o endividamento. Como consequência do travão das dívidas imposto pela Constituição, os Governos terão de cumprir o determinado a partir de 2011, isto é, com o tempo, terão de se safar sem recorrer a créditos. A Alemanha federal terá de reduzir até 2016, as dívidas novas, a um máximo de 0,35% do PIB.


A seguir-se a lógica da prática governativa, até agora, isto significarás que, a longo prazo, os governos aumentarão os impostos para contrabalançarem o travão das dívidas. Em vez disso seria necessário um Estado mais magro e políticos menos gulosos!


Por outro lado a situação mundial é mesmo má: a dívida externa total no mundo é de 98% do PIB mundial. Isto imprime, no comportamento dos países, uma dinâmica de endividamento e de inflação crescente.


Situação em Portugal


A dívida pública do Estado português cresce assustadoramente passando de 125,9 mil milhões € em 2009 para 142,9 mil milhões € em 2010 (isto é, para 85,4% do produto interno bruto).


O endividamento privado da economia portuguesa atingiu 115% do PIB em 2009. As pessoas e empresas privadas endividam-se perante os bancos nacionais e os bancos nacionais endividam-se perante os bancos estrangeiros. As nações dos bancos credores, como no caso da Alemanha, vêem-se obrigadas a apoiar as nações à beira da falência para que estas possam amortizar as dívidas dos seus bancos e assim impedir que a insolvência destes atinjam os seus. Quando as dívidas privadas e do Estado se efectuam na circulação interna do país, a situada não é muito má; o problema surge no momento em que as dívidas são contraídas no estrangeiro. Neste caso vale a lógica da economia privada. Por isso, a comparação entre países com dívidas carece de objectividade linear e conduz ao erro. As dívidas do Estado reprimem os investimentos privados. Segundo se pode verificar no diagrama do NY Times ( http://www.nytimes.com/interactive/2010/05/02/weekinreview/02marsh.html ) os empréstimos/dividas são maioritariamente intra-europeus. O mal está para os países que têm de recorrer a crédito internacional. Para a EU (União Europeia) o problema não é grande porque o proveito fica nela (nos países credores).


No que respeita ao PIB per capita com poder de compra, como refere o DN, numa escala dos países, a média europeia situa-se no índice 100; o Luxemburgo atinge o índice 268, a Alemanha 116, a Grécia 95, Portugal 78 e em situação pior que Portugal temos apenas os 8 países europeus do antigo bloco socialista.


Privadamente os portugueses encontram-se super-endividados tal como o Estado. Os portugueses têm investido em produtos consumistas e o Estado tem seguido uma política aleatória de investimentos em projectos de prestígio não produtivos. As políticas em curso são insuficientes e contra-produtivas porque sobrecarregam o consumidor e as pequenas e médias empresas. Portugal permanece incorrigível e os governos são irresponsáveis e não têm competência para governar um país que apesar da sua posição marginal tem grandes potencialidades que continuarão a ser desaproveitadas.


Na Europa, os impostos directos e indirectos são de tal ordem elevados que, feitas bem as contas, 75% do que uma pessoa ganha fica para o Estado.


De ano para ano os Governos recorrem a empréstimos servindo-se deles para descontar parte dos juros dos créditos anteriores. A montanha das dívidas cresce continuamente sem haver amortização mesmo nos anos das vacas gordas. Combate-se a crise das dívidas com novas dívidas. Já ninguém conta com a possibilidade de as pagar. Um princípio financeiro diz que as dívidas de hoje são os impostos de amanhã. O Estado financia-se através de impostos e de dívidas. O endividamento adia a carga para o futuro devido aos juros e amortizações a saldar.


Em cada orçamento de família as despesas não devem superar as entradas. Os governos contam com a falência fazendo valer uma política partidária apenas interessada em adiar a catástrofe! Para dançarinos do poder o stress da dívida conduz a irracionalidades mas não a insónias.


Uma dona de casa que se comportasse no governo da casa como os governos se comportam com o orçamento do Estado, já há muito estaria sujeita ao escárnio dos vizinhos, não teria fiadores e encontrar-se-ia em apuros com a justiça. Os políticos exploram o estado como se este fosse rico; permitem-se mordomias, carros de serviço de luxo, funções acessórias em conselhos ficais de bancos, de empresas, contribuindo assim para a corrupção das instituições.


Não se preocupam com o futuro dos outros, com o futuro da civilização. A bancarrota e a guerra são as soluções conhecidas do passado. As elites não se preocupam porque sabem que as falências e a guerra são pagas pelos trabalhadores e pelos soldados rasos. Os que provocam as insolvências safam-se a tempo!


O Estado e os seus políticos são esbanjadores vivendo em conivência com os poderosos. Apesar do momento crucial em que nos encontramos dão-se, descaradamente, ao luxo de aumentar os seus ordenados! Poupam naqueles que não se podem defender. Com o tempo não restará ao povo outra opção senão sair para a rua em defesa da justiça e da democracia. Infelizmente a lei da vida parece dar razão aos que fazem uso da violência e da exploração.


O preço da falência dos bancos foi a credibilidade da política, o preço da crise dos estados será a democracia.


António da Cunha Duarte Justo

antoniocunhajustp@googlemail.com

REFORMA AOS 70 ANOS

REFORMA AOS 70 ANOS

Previsões sombrias da União Europeia

António Justo

Um Estudo, agora publicado pela EU, prevê a reforma aos 70 anos para quem nasceu a partir de 1990. Com o prolongamento da fase de tempo de trabalho pretende-se compensar a diminuição de contribuições a entrar nas caixas de previdência, devido à diminuição da população activa, e evitar maiores contribuições. Segundo o Estudo, actualmente na EU, a entrada para a reforma dá-se, em média, aos 60 anos e na OECD aos 63,5 anos para os homens e aos 62,2 para as mulheres.


A problemática deve-se ao facto de haver uma grande redução de nascimentos. Hoje três empregados financiam um reformado. A partir de 2030 serão dois a suportar o financiamento dum aposentado e para 2060 prevê-se três pessoas com emprego a financiar quatro pensionistas.


A Comissão Europeia parte do princípio que, daqui a 50 anos, as pessoas viverão, em média, mais sete anos que agora. Pelo que o cidadão, a partir dos 18 anos de idade, deverá dedicar dois terços do tempo restante no activo e um terço no passivo (reforma).


Dentro de 50 anos, segundo uma estimativa da Universidade de Colónia, a expectativa de vida duma mulher será de 93 anos e a dum homem de 88 anos. Entre quatro mulheres, uma atingirá os 100 anos. O Estudo considera como realista a previsão da subida de 2,2 milhões, das pessoas que precisam de assistência actualmente na Alemanha, para 4,5 milhões dentro de 50 anos.


Na Alemanha já vigora uma lei que obriga os trabalhadores, a partir de 2012, a trabalhar mais um mês por ano para em 2030 poder atingir a reforma aos 67 anos. Na Inglaterra a legislacao prevê que a reforma atingirá os 68 anos até 2048. Na Dinamarca também será elevada paulatinamente dos 65 para os 67 anos. Os Estados nórdicos fizeram já o que os do Sul são obrigados a fazer depois.


Muitos governos esperam a regulamentação a partir de Bruxelas (EU) porque se o fizessem por iniciativa própria seriam castigados pelos eleitores.


A juventude de amanhã terá de pagar cara a política individualista de hoje contra a família.


Para o actual sistema de reforma não ir à falência a alternativa seria fazer filhos! O recurso aos filhos dos outros, aos imigrantes de outras culturas além de injusto irá acrescentar conflitos sociais aos económicos e deste modo se radicaliza a tensão entre sociedade acolhedora e sociedade hospedada.


O sistema actual de reforma precisa duma reforma radical. É incompreensível que empregados, a partir dum salário mensal alto, já não sejam obrigados a descontar para o sistema de reforma. O mesmo se diga da divisão entre descontos do Estado/empregados do Estado e os descontos dos restantes para as caixas normais. A classe média é sobrecarregada


A perspectiva do futuro não é risonha e é ainda escurecida pela irresponsabilidade dos políticos que, dia a dia, aumentam a dívida pública já impagável. Si vis pacem para bellum, diziam os romanos! Nós esbanjamos a paz!



António da Cunha Duarte Justo

antoniocunhajustp@googlemail.com